Cinderela caminhava de um lado para o outro nervosa. Não comera nada desde que Verônica a trancara em seu quarto na noite anterior. Ainda estava vestindo o pijama que havia colocado na casa de John, seus cabelos estavam desgrenhados e estava com as mãos doendo de tanto bater na porta do próprio quarto.

Mais uma vez, Cinderela foi até a janela do quarto. Poderia tentar fugir por ali, mas sem ajuda com certeza quebraria algum osso do corpo. Ficar presa no quarto com o braço virado para o lado errado não era exatamente seu principal plano para sexta-feira á noite.

Mas que merda! Pensou.

Ela se deitou na cama com as mãos no rosto pela quarta ou quinta vez, se sentindo derrotada. Presa. Cinderela estava presa em seu quarto sem poder fazer nada e logo John teria uma festa e contava com a presença dela.

Escutou o barulho de uma chave e a porta do quarto se abriu. Verônica pôs a cabeça para dentro do quarto.

–Certo. –E saiu trancando a porta novamente. Cinderela percebeu que a cada cinco horas sua madrasta ia checar se a garota ainda estava no quarto. Aquela mulher era louca.

Escutou algo bater no vidro.

A garota foi até a janela e a abriu, se esticando para fora para ver melhor. O sol estava se pondo, então já estava um tanto escuro.

–Hey! –Alguém sussurrou. Ao olhar para baixo viu uma garota de cabelos castanhos amarrados em um rabo de cavalo vestindo um moletom acenando para ela. – Vem! Temos uma festa para ir!

Ela apontou para um garoto ruivo e alto que estava enchendo um colchão de ar de casal. Ele fechou o pino e sorriu ofegante para Cinderela. Seu rosto estava roxo.

–Quem são vocês? Como sabem que estou presa aqui? O que faz vocês pensarem que eu vou pular uma altura de... O que? Quatro metros e meio?

Pula que a gente conversa. – Disse a garota. Cinderela Olhou desconfiada para os dois. A garota rolou os olhos e gesticulou para que viesse logo.

–Mas... Ah, que se foda.

Cinderela sentou no parapeito e virou-se de costas para o chão, se pendurou na beirada da janela e seus pés procuraram as escadas decorativas cobertas por trepadeiras. Quando encontraram, a garota foi descendo pelos degraus até que não havia mais como adiar a queda. Cinderela se virou para o chão lá embaixo, se segurando na escada com os braços arcados para trás, respirou fundo... E pulou.

A garota havia imaginado que a queda seria rápida e dolorosa, mas não. Era lenta e amedrontadora.

Enquanto caía ela pensava “droga! Eu não deveria ter pulado!”, mas não havia volta. Já havia feito. Cinderela se encolheu em uma bolinha esperando finalmente chegar no chão. Quicou algumas vezes no colchão até finalmente estar em terra firme, mas Cinderela se sentia enjoada. Ela se ajoelhou de quatro na grama e deixou o vômito escorrer. Estava mal, não comera nada desde a noite anterior e acabara de pular da janela de seu quarto. Seu estômago não estava pronto para isso.

A garota de cabelos castanhos e o garoto de cabelos ruivos a ajudaram a se levantar, então os dois a levaram para um carro branco (um celta 2009). Cinderela ficou no banco de trás enquanto os adolescentes explicavam o que estava acontecendo. A garota se chamava Victoria e o garoto era Matthew, mas preferia ser chamado de Matt.

–Certo, nossa missão impossível é: Tirar você de casa, te arrumar e te levar para a festa. Tudo antes das 8h. Sim, você terá apenas 2h de festa, mas que se dane. Dá pra aproveitar. –Disse Victoria apressadamente.

–Tá, mas Victoria...

–Me chame de Vick!

–Vick. Como vocês sabiam disso? Da festa, do meu endereço, do que estava acontecendo... –Perguntou Cinderela.

–Um cara da escola nos pagou pra te dar uma força. Você não conseguiria escapar sozinha. –John pensou Cinderela. Ninguém mais faria isso por ela. –Chegamos!

O carro estacionou em frente a uma casa grande pintada de verde-água por fora. Tinha três andares, grandes janelas cobertas por finas cortinas. Vick saiu do carro, pegou uma chave e saiu correndo para a porta. Matt abriu a porta do carro para Cinderela e os dois correram atrás. O garoto se sentou no sofá da sala – muito espaçosa e bem iluminada- enquanto as garotas subiam as escadas. Vick abriu a porta do quarto e foi procurando roupas no armário. Cinderela se sentou e olhou em volta. Paredes pintadas de bege, um alvo com fotos de garotas bem arrumadas cheias de dardos cravados, uma cama bagunçada, um computador, uma coleção de CD’s e filmes e uma pilha de cadernos de desenhos.

Seus pensamentos foram interrompidos por uma blusa que voou em sua cara. Era azul escuro, bem solta com o ombro esquerdo caído. Logo depois Vick lhe jogou uma calça skinny preta estrategicamente rasgada, depois lançou uma bota de salto (médio) preta e um casaco de couro marrom escuro.

Cinderela se vestiu e então Vick começou a preparar a maquiagem e os cabelos da garota. Estava ficando legam, mas nunca conseguira sentir-se confortável quando se arrumava demais.

–Você tem um namorado legal. –Cinderela olhou confusa para Vick.

–Eu tenho um namorado?

–John. Ele... Ele é seu namorado certo?

–Não, somos apenas amigos.

–Aham. –Disse a outra garota com tom sarcástico.

Quando Cinderela se olhou no espelho estava linda. Seus olhos azuis estavam destacados pela maquiagem escura, seus cabelos estavam pretos em um coque bagunçado e pareciam mais dourados do que o normal. A garota nem pôde comentar, pois já estava sendo arrastada de volta para o carro.

–Nós te buscamos quando estiver perto da meia-niote! –Disse Matt antes de deixarem a garota na festa.

–Vocês não vêm?

–Não, se eu pisar aí quebro a cara. Longa história.

–Então porque...?

–100 contos para te trazer aqui e mais 100 para te buscar, minha querida mina de ouro! –Intrometeu-se Vick. Matt começou a dirigir e quando já estavam na metade da rua, ela colocou seu corpo até a cintura para fora da janela. – Comporte-se! –Gritou rindo.

Cinderela se virou para a casa. A música estava alta, havia muitos adolescentes se sua escola e fora dela conversando no jardim, bebendo e se matando de rir. John provavelmente estava lá dentro tomando um refrigerante no canto dele enquanto os outros dançavam e curtiam a festa. A garota respirou fundo e entrou na casa.

Havia passado muito tempo desde sua ultima festa.