Cinderela entrou na casa nervosa. Metade das pessoas ali ela não conhecia. A outra metade não conversava com ela. A garota foi abrindo caminho em busca de seu amigo. A casa estava lotada, havia gente em todo canto. Resolveu então subir as escadas. Péssima ideia.

O segundo andar estava mal iluminado e praticamente vazio. Havia apenas uma garota vomitando no carpete, provavelmente graças a bebida. Antigamente Cinderela se ajoelhava ao lado dessas pessoas e procurava ajudar, mas depois começou a ignorar. Não estava lá como enfermeira.

Entrou em um quarto vazio e viu a porta para uma sacada aberta. Cinderela foi até lá na esperança de encontrar John lá, mas encontrou apenas um garoto de costas, com cabelos desgrenhados negros e um casaco cinza de capuz. Ele estava com uma garrafa na mão e estava distraído demais olhando para baixa para perceber a presença da garota.

Cinderela estava indo embora do cômodo quando seus pés se prenderam em alguma coisa e ela caiu de costas no chão. O garoto olhou para ela surpreso, como se tivesse acabado de acordar, então sua expressão mudou para incredulidade e Cinderela não deveria estar diferente.

– O que tá fazendo aqui?! –Perguntaram quase em uníssono. O garoto estendeu a mão para Cinderela, mas ela recusou e se levantou sozinha.

É impossível! Pensou a garota.

Aquele era Ian. Ex-namorado de Cinderela. Nunca houve exatamente uma separação oficial, mas ele simplesmente entrou em um intercâmbio para a Europa e nunca mais entrou em contato. Foi um idiota na época e provavelmente continuava um idiota.

– Voltei a uma semana, mas logo vou me mudar novamente. –Disse Ian. – Só passei pra pegar minhas coisas antigas. Quando descobri que havia uma festa resolvi passar aqui, mas... Não esperava te ver aqui.

– Eu vim por causa de um amigo. Falando nisso, com licença. – Ela virou de costas para ir embora, mas Ian segurou seu braço. –Com. Licença.

–Você mudou.

–Graças a Deus. – Cinderela se soltou de Ian e andou o mais rápido possível para o andar de baixo.

Quando chegou até os fundos da casa, viu uma piscina enorme e John sentado no bar improvisado olhando em volta nervoso. A garota correu até ele e o cumprimentou com um sorriso, porém ele não mudou a expressão.

–Ian, o babaca da França...

–Sim, eu o vi.

–Se quiser ir embora...

–Não. Eu to bem. Qualquer coisa eu afogo ele na piscina. – John soltou uma risada breve e baixa. Cinderela tomou um gole de cerveja, mas quase cuspiu. Não estava acostumada a álcool. –Que merda, ele ta vindo aí.

John se virou para ver Ian andando irritando até eles. Seus olhar era feroz, encarou Cinderela com desdém.

–Já arranjou um namorado novo? –Perguntou. – Podia ter pelo menos pego algo melhor.

–Ian, cala a boca e vai embora! Eu não... –Começou Cinderela, mas John a colocou atrás de si.

–É, sou sim o namorado dela. Inveja? –Ian deu um soco na cara dele e olhou em volta com cara de “Sou foda”, mas John deu outro no estômago e o jogou na piscina.

O garoto saiu da água tossindo e cuspindo (não só água como palavrões). Cinderela esperava que fosse começar a espancar John, mas apenas encarou Cinderela com olhos frios e raivosos.

–Beije-o. Prove que esse idiota não é só um substituto imprestável. Convença-me. – Cinderela deu um passo á frente.

–Namorando ou não, eu não te quero por perto e eu não preciso provar nada a ninguém. –John puxou Cinderela pelo braço para perto de si.

–Mas eu preciso. –John a beijou. Era um beijo cheio de vontade, ele não deixava nenhum espaço entre os dois, a abraçava de forma protetora e a fazia se sentir acolhida. Quando se afastou, disse baixinho apenas para Cinderela: - Precisava provar para mim mesmo que eu conseguiria fazer isso.

Cinderela não teve reação alguma. Apenas ficou ali parada enquanto John se afastava lentamente e ia à direção das pessoas que o chamavam. Só então a garota notou que Ian sumira.

As outras pessoas da festa começaram a cumprimentar John. Cinderela se sentou no bar e ficou sentada ali sem fazer nada, observando p garoto desfrutar na nova e instantânea popularidade. É impressionante como as pessoas amam o vencedor de uma briga.

Estava quase dormindo sobre a mesa do bar quando John se aproximou e ofereceu a mão a ela. Cinderela ergueu os olhos e viu que seu amigo estava convidando-a para dançar. A música que tocava era animada (cold play – Charlie brown), então porque não? Ela segurou a mão dele um pouco trêmula e os dois se misturaram ao grupo que dançava na sala de estar.

John segurou as duas mãos da garota e começou a dançar, enquanto Cinderela continuava travada, envergonhada de dançar na frente de todos. Seu amigo movimentou os braços dela obrigando-a a se mexer no ritmo da música.

– Ninguém vai prestar atenção se você não souber dançar. Estão todos bêbados. –Cinderela riu. Logo os dois estavam dançando de forma empolgada. Quando sabia a letra, a garota até cantava um pouco.

Quando começou a tocar uma música mais tenta (Under the bridge), ela se virou para ir se sentar, mas John segurou sua mão. Lentamente ele colocou a s mãos em volta da cintura dela e ela pôs as mãos nos ombros dele. As outras pessoas foram se afastando e indo se sentar. Em pouco tempo, os dois eram um dos poucos em pé dançando. John guiava Cinderela no ritmo preguiçoso da música e sorria para ela quando a garota se mostrava envergonhada ou cogitava ir embora.

Somos... Apenas amigos. Certo? Dizia Cinderela para si mesma em sua mente. Espera, amigos não se beijam apaixonadamente em frente a todos. Mas... Não somos namorados.

–O que nós dois somos? –Perguntou para John.

–Por enquanto somos amigos privilegiados. De fato temos algo um pelo outro, mas ainda não está claro da sua parte.

–Como pode dizer que tenho algo por você? –Perguntou Cinderela irritada. Logo depois se arrependeu imaginando ter magoado John, mas ele apenas riu.

–Se não tivesse não estaria dançando comigo agora.

John fixou seu olhar no dela. Eles ficaram se encarando por um tempo, então Cinderela se afastou rapidamente e saiu correndo. Já eram 11:55h. O carro de Matt estava na frente da casa. A garota se jogou no banco de trás e o carro disparou.

Vick virou-se para trás com um sorriso malicioso no rosto.

–Como foi a festa? –Cinderela se deitou de barriga para cima, apoiando os pés na porta do carro, e pôs as mãos sobre o rosto incrédula.

–Ai meu Deus... Eu fui beijada pelo meu melhor amigo!