–Sério? Tá tão coplicado assim? –Perguntou John. Cinderela fez que sim com a cabeça o encarando. Os cabelos dele eram castanhos e bagunçados, os olhos eram grandes e escuros e sua pele era pálida. O rosto dele tinha um formato fino, quase sempre estava sério (bem, quase sempre que estavam em público. Aquele garoto era um palhaço, mas era tímido). John era alto e forte, mas não fazia o tipo durão, sempre ficava na dele. Ele era o melhor amigo de Cinderela. Na verdade o único.

–Sim, com meu pai fora aquela mulher vira um demônio! – Ela encarou a almôndega em seu prato. –Quer?

–Pode ser. –Ela rolou a almôndega para prato dele. – E o que é que você vai fazer? Ficar lá e aturar?

–Não, claro que não! Primeiro preciso recuperar meu quarto, mas não vou conseguir dormir lá com aquela decoração bizarra. Posso passar essa noite na sua casa? –Cinderela fez biquinho.

–Sem problemas, a gente dá um jeito. –O sinal bateu. –Droga.

Foram para aula. Cinderela se sentou na última carteira da sala, ao lado da janela. A professora começou a tagarelar sobre Shakespeare enquanto ela tirava meu caderno da mochila e começava a desenhar nas ultimas folhas fingindo estar anotando o conteúdo.

Cinderela estava desenhando um jardim enorme com uma árvore gigantesca no centro. Em volta dela haviam roseiras desenhadas em traço delicado. O céu era nublado e uma fina camada de neve estava cobrindo o belo jardim. Entre as roseiras havia um cachorro que estava perseguindo um...

Ai

Alguém havia jogado uma bolinha de papel na cabeça dela. Olhou em volta e viu John acenando discretamente para ela e para a bolinha. –Ele estava meio vermelho?- Cinderela se abaixou e pegou o bilhete.

Hey! Vai na festa amanhã?

Cinderela Fez sinal que não sabia. Logo depois bateu o sinal e ela teve que correr para casa. Chegando lá entrou no msn. De primeira a janela de John piscou em laranja.

John diz:

Tu vai?

Cinderela diz:

Não sei! Eu já disse! Pq tu quer tanto q eu vá?

John diz:

É q eu...

Eu... =’-‘=

Cinderela diz:

Fala logo!

John diz:

É

Q

Eu

Queria

A janela foi fechada e outra apareceu na tela.

“Conexão perdida”

–Droga! -Cinderela foi olhar a rede. Os fios haviam sido cortados. –Vadia!

Deu um chute na mesa e foi para o quarto. Precisava improvisar uma decoração com aquilo e precisava de roupas. Correu para as estantes e derrubou todas as bonecas de porcelana no chão, correu para o sótão a abriu caixa por caixa até encontrar seus livros e suas roupas. Claro, quando papai voltar ela teria que recuperar meu quarto. Pensou Ela escutou o barulho de motor e viu Verônica saindo com o carro.

Perfeito.

Foi até o armário de seu quarto, tirou dali as roupas ridículas e recolocou suas roupas que tanto gostava. Arrumou seus livros em ordem novamente, como sempre estiveram. Buscou sua bolsa e correu para o mercado. Lá comprou vários Sprays para parede de diferentes cores, pôsteres de suas bandas favoritas e um porta retrato novo.

Voltou para casa e usou alguns Sprays para pintar boa parte das paredes em seu quarto com um xadrez com branco, preto e rosa. Recolocou os pôsteres na parede e botou a foto dela e da mãe no porta retrato novo.

–Hora do troco. Cinderela disse para si mesma.

Correu para o quarto da madrasta e abriu o armário. Vários vestidos de grife super caros e extremamente parecidos. A garota tirou todos do armário e os jogou no chão e disparou tinta sobre eles. Todos os vestidos tão amados por Verônica manchados de tinta. Cinderela pegou um canivete do bolso e rasgou os vestidos, fazendo decotes tortos e saias ridiculamente curtas. Ao se afastar, sorriu com o resultado.

Com certeza, não seria uma boa ideia estar lá quando Verônica visse aquilo.

Jogou algumas roupas na bolsa e foi para casa de John. Lá os pais dele receberam-na e colocaram um colchão no chão ao lado da cama do garoto. Cinderela se deitou sobre o colchão encarando o teto, John estava no computador sentado na cama dele.

–John, meu filho... –Disse o pai dele antes de sair – Não se esqueça da responsabilidade viu? –Ele riu malicioso para o filho e fechou a porta. Cinderela encarou John incrédula e viu que ele estava muito vermelho.

–Desculpe. –Falou com a voz falhando- Meu pai ás vezes faz alguns comentários indesejáveis, não ligue para ele.

–Ok! –Ela tirou os sapatos e se sentou na cama de John á frente dele fazendo perna de índio. – Hoje Verônica cortou a internet lá em casa. O que queria falar mesmo? –John ficou ainda mais vermelho.

– Que... Que seria muito legal se você fosse! Sabe, Eric fez essa festa e só me convidou porque eu vou entrar para o time de futebol, mas eu não falo com ninguém lá e se eu não for não vou me aceitar no time. Eric é o capitão do time de futebol e seria uma grande ajuda se eu parecesse mais legal. Seria muito importante se você estivesse lá. Muito mesmo.

–Acho que vou sim. Não sou muito de festas, mas... Provavelmente eu só vou ficar comendo e conversando. –John riu para si mesmo e a olhou malicioso.

–Comendo o que dona Cindy? – Cinderela riu alto e jogou uma almofada na cara dele.

–Cala a boca!

Ele deixou o computador de lado e pegou o travesseiro atrás de suas costas e bateu com ele na cara de Cinderela. Ela pegou a almofada que havia jogado e bateu nas costas dele ficando de joelhos na cama. John deu uma rasteira nela, fazendo-a cair de costas no colchão. Ele segurou os pulsos de Cinderela e a olhou travesso.

–John, não... –Ele sorriu e começou a fazer cócegas nela. –Não! John! Para com isso! Me larga! –Ela estava chorando de rir - Para! Não! John!

Alguém abriu a porta. Era a mãe de John. Ele ficou vermelho e saiu de cima dela quase voando. Cinderela estava ofegante e ainda rindo. A mãe de John sorriu tímida, claramente sem graça ao interromper a brincadeira dos dois.

–Preparei um lanche.

– Tudo bem, já estamos indo. – Disse Cinderela. Quando a mãe de John saiu do quarto ela se virou para ele – Idiota.

[skip]

Cinderela já havia colocado seu longo pijama e estava sentada no colchão rabiscando rostos. Alguns mais bonitos outros engraçados e alguns um tanto familiares. John estava comendo um pedaço de pizza em cima da cama dele enquanto lia um livro de ação.

A garota deixou os desenhos de lado e pegou um pedaço de pizza. Ela mastigava em silêncio quando o som da campainha ecoou pela casa inteira. E de novo. E mais uma vez.

Então alguém abriu a porta violentamente. Ao erguer os olhos viu Verônica furiosa na porta do quarto. Ela avançou e agarrou o pulso de Cinderela com força.

–Garotinha vagabunda! –Verônica a arrastou até o carro, sem dar importância para a garota que já estava com a circulação da mão sendo interrompida ou para John que gritava com a mulher. A madrasta jogou a enteada no banco de trás e fechou a porta com tudo. Entrou no carro e disparou para casa.

Lá ela trancou Cinderela dentro do quarto, mas não antes de gritar:

–Daqui você não sai nem para ir para a escola até seu ai chegar! Ou viu projeto de biscate?!