Minha

Um sorriso encantador e um sorvete de casquinha


CAPÍTULO 19 – UM SORRISO ENCANTADOR E UM SORVETE DE CASQUINHA

MANHÃ DA SEGUNDA FEIRA PASSADA – BROOKLIN, NYC

Aquela deve ter sido a primeira vez que Elise acordou sem mais nem menos, cercada por uma fragrância capaz de dissolver todas as suas preocupações. Era uma sensação de plenitude tão extraordinária, misturada a mais intrigante confusão de sentimentos, onde nada parecia novo, ou diferente e sim, como uma presença que sempre estivesse pairado ao seu redor. Quase imperceptível, porém sempre ali, esperando por ela.

Seus olhos tentavam se ajustar ao feixe de luz que invadia o quarto pelas frestas da cortina, que balançava displicentemente ao sabor da brisa suave vinda da janela.

Naquela manhã ela se levantou devagar, contrariando a sua vontade de retornar àquelas cobertas macias e ao conforto do aconchego proporcionado junto aquele cheiro tão familiar da cama que havia abrigado suas lágrimas na noite anterior. Caminhando ainda um tanto sonolenta pelo apartamento, Elise finalmente percebeu a pequena figura adormecida no sofá.

–Michele... – a ruiva sussurrou, só então percebendo que sua presença havia ‘expulsado’ a garota do conforto da própria cama.

Se aproximando com cuidado, Elise se ajoelhou ao lado do visivelmente não tão confortável sofá de três lugares. A princípio, parecia ser certo acordar a dona da casa e se desculpar por ter entrado assim sem avisar. Mas agora, observando o semblante tranquilo da pequena morena encolhida sobre o estofado, Elise não tinha coragem para despertá-la. Então, ela retornou ao quarto de Michele e pegou um dos lençóis que haviam consolado suas angustias durante a noite, e cobriu a garota adormecida. Ela suspendeu sua mala pela alça com cuidado, deixando-a no corredor enquanto fechava a porta do apartamento devagar. Mais tarde, ela se desculparia.

...

ESTA MANHÃ – LIMA

Elise suspirou incomodada. Seu olhar parecia distante, perdido em algum lugar e tempo bem longe dali. Ela estava tão distraída que nem ao menos notou que mexia seu café há mais tempo que o necessário. Aquela sensação de ter acordado em meio a um sonho, completamente desnuda de todas as suas preocupações e totalmente envolvida pelo aroma, agora, extremamente familiar de Michele, se repetia.

A pequena morena estava com tanto medo que acabou dormindo abraçada a Elise. E foi exatamente desse jeito que elas amanheceram. Quer dizer, não exatamente abraçadas.

Ao que parece, Michele realmente gostava de dormir aconchegada a outro ser humano. Porque em algum momento durante a noite, um simples abraço amigável, algo semelhante a encostar a cabeça sobre um ombro amigo, evoluiu para Michele totalmente aconchegada junto a Elise, paralisado metade do corpo da ruiva, a envolvendo num ultra-super abraço de urso.

A ponto de Elise poder afirmar com toda a certeza, que os suspiros da morena, fazendo cosquinhas junto ao seu pescoço, haviam sido os culpados por seu despertar precoce. E ela ainda estava um tanto sonolenta, até sentir dedos curiosos deslizarem delicadamente sobre a pele pálida de seu abdômen, ao mesmo tempo que a perna de Michele escorregou sobre sua coxa, se encaixando ainda mais sobre seu baixo ventre e aninhando seus corpos de uma maneira deliciosamente inapropriada. Elise pode sentir seu corpo esquentar, e decidiu sair dali o mais rápido possível.

‘O que era isso agora?’, porque sério? Ter Michele ao seu lado trazia uma sensação de plenitude e contentamento inigualável. Era uma paz de espírito atrelada a uma serenidade completamente diferente de qualquer outro sentimento que ela houvesse sentido antes.

Elise franziu a testa, ainda mais confusa. Os pensamentos pareciam dar voltas em sua cabeça como se um tornado desgovernado estivesse tentando organizar o caos distribuído em sua mente à força, e só estivesse conseguindo aumentar bagunça lá dentro.

Mordendo o lábio, Elise apertou a peça de prata em sua mão, colocando mais força que necessário para continuar mexendo seu café, e arranhando o fundo da xícara de porcelana. O atrito acabou ocasionando um ruído tão irritante, que metade das pessoas no restaurante do hotel parou para olhar na direção dela.

‘Não pode ser. Eu não posso estar...’

E talvez, esse teria sido o momento onde Elise finalmente perceberia aquilo que sua teimosia descomunal não a deixava enxergar. Isso se um pedaço grudento de panqueca não a tivesse atingido em cheio bem no meio dos olhos.

“Que diabos...?” Ela reclamou surpresa, esfregando o guardanapo no rosto e encarando a loira de expressão enfadada, sentada ao lado de Rachel do outro lado da mesa.

“Você atirou um pedaço de panqueca em mim?” A ruiva perguntou numa voz esganiçada, atingindo uma nota inacreditavelmente aguda para ser reproduzida por um ser humano normal naquela hora do dia.

“Atirei! O bacon está muito bom para ser desperdiçado na sua cara. Então, era isso ou um caqui. Você devia me agradecer!” Quinn respondeu arrogantemente, cruzando os braços e erguendo o queixo, desafiando a ruiva a exigir uma revanche.

Elise sentiu o sangue esquentar.

“Você é idiota?” Ela murmurou entredentes, olhando para os outros hospedes presentes no local. Provavelmente eles haviam acordado cedo por causa do maldito evento que havia lotado todos os hotéis das redondezas.

Quinn travou o queixo, notando pela primeira vez os olhares direcionados à elas. Decidindo não chamar mais atenção, ela se inclinou sobre a mesa, e com o olhar fixo em Elise sibilou.

“Não fui eu que colocou requeijão na salada de frutas, sal no café e está há mais de quinze minutos suspirando para o além, arranhando esse maldito o garfo no fundo dessa maldita xícara!”

Elise piscou algumas vezes antes de olhar rapidamente para a comida na sua frente, constatando que a loira tinha razão. Tirando o garfo de dentro da xicara de café, lentamente, para depois colocá-lo elegantemente sobre o pires de porcelana, ela respondeu com toda arrogância possível.

“Meus hábitos alimentares não são da sua conta. Muito menos meus suspiros, e para sua informação, eu tenho pressão baixa!” Mesmo com o rosto tingido de vermelho, ela não deu o braço a torcer.

“Escute aqui sua...”, a loira recomeçou.

“Será que vocês duas podem dar um tempo? O dia mal começou.” Rachel revirou os olhos, cansada demais para intervir na troca diária de ofensas entre elas.

Loira e ruiva assumiram uma expressão culpada no mesmo instante. Chegava até ser cômico de tão semelhante. Rachel suspirou profundamente.

Podia parecer loucura, mas algo lhe dizia mesmo parecendo desejar engolir uma a outra, Quinn e Elise talvez fossem capazes de compreender-se muito bem...um dia. ‘Se elas nãos fossem tão cabeçudas para admitirem que se toleram, tenho certeza que seriam boas amigas.’, pensou a morena.

“Desculpe, Rach.”, Quinn pediu baixinho dando um selinho em sua namorada. Elise franziu o nariz fazendo uma careta para a demonstração de carinho, e enfiou uma colherada generosa de salada de frutas na boca.

No minuto seguinte, Quinn quase derrubou seu chá de maçã sobre a mesa, as gargalhadas, quando viu a ruiva cuspir dentro da tigela a porção empapada de frutas com requeijão, que ela havia abocanhado com tanto gosto há um minuto.

“Problemas com seus hábitos alimentares, Scott?” A loira perguntou ironicamente, controlando o riso.

Rachel jogou o guardanapo sobre a mesa completamente enojada.

“Definitivamente nunca mais vou conseguir comer salada de frutas.” Ela se virou para sua amiga de infância e continuou. “Sério Elise, o que está acontecendo com você? Primeiro você senta na nossa mesa sem nem ao menos notar a nossa presença. Depois começa a brincar com a comida fazendo essas misturas bizarras, que preciso dizer, são inacreditavelmente ofensivas para uma pessoa envolvida em projetos contra a fome mundial como eu. E se isso já não fosse o bastante, ainda tem esse moletom da Wendy! Algo imensuravelmente hipócrita da sua parte, já que meu tão precioso moletom da Princesa Aurora foi vítima de várias ameaças de destruição, todas assinadas por você! Lembra? O meu mais valioso suvenir, um presente da minha mãe, e que guardo com todo cuidado desde os oito anos de idade?”

“Ah, cala a boca, Rachel! Não tem nada de errado comigo, a não ser estar sendo obrigada a aguentar os chiliques dessa sua namorada maluca. E para sua informação, não tenho nada contra moletons da Disney! O problema sempre foi que você mais parecia um disco arranhando, repetindo como aquela era a única lembrança do dia que encontrou sua tão preciosa alm..."

“Bom dia, meninas!” Michele cumprimentou as três sorrindo, se sentando na cadeira vaga ao lado de Elise. No mesmo instante, a ruiva pareceu perder a capacidade de articular as palavras e ficou encarando abobalhada a garota ao seu lado.

Quinn ergueu a sobrancelha.

“Por que você não me acordou, Lise? Não gosto quando você sai de fininho enquanto estou dormindo. Pensei já ter deixado isso claro, depois de você ter me largado sozinha, no sofá do meu apartamento naquela manhã.” Michele reclamou com um biquinho, totalmente alheia as expressões pasmas de Quinn e Rachel.

“E-Eu...é...que...” A pobre ruiva se atrapalhou em responde-la, corando profundamente e tropeçando ainda mais nas palavras, incapaz de se concentrar direito.

Mas, como vergonha pouca é bobagem, Michele se inclinou dando-lhe um beijo suave na bochecha de Elise, sussurrando em seguida.

“Não se preocupe. Vou te perdoar dessa vez, porque você foi extremamente gentil ontem à noite, e porque tomou conta de mim direitinho.”

Instantaneamente, o rosto de Elise assumiu um tom escarlate.

Rachel tossia compulsivamente, tendo se engasgado com a própria saliva. Quinn dava tapinhas nas costas da namorada, ainda encarando Elise e Michele boquiaberta.

“Ah, que fofo! Olha só! Nós combinamos!” A morena de olhos cor de mel exclamou feliz, notando a estampa do moletom de Elise e esticando o tecido do moletom que ela vestia. Um modelo que ilustrava a cena onde Wendy tentava beijar Peter.

Os olhos verdes de Elise acabaram encontrando a pequena fada loira, escondida um pouco fora da cena, agarrada aos cabelos ruivos de Wendy com uma expressão irritada, visivelmente tentando impedir o beijo dos dois. Sem conseguir se conter, Elise olhou para loira sentada do outro lado da mesa.

E lá estava o sorrisinho irritante, estampado em High Definition no rosto de Quinn. As iris cor avelã brilhavam travessas, e Elise constatou naquele olhar o quanto sofreria no futuro por causa da ingenuidade de Michele.

Ainda alheia a confusão, e completamente desatenta ao sentido duplo de suas palavras, Michele continuava comprometendo ainda mais a situação.

“Para quem vive reclamando dos meus moletons, você não perdeu a oportunidade de afanar logo o meu preferido, hein?” E após tomar um gole de café, continuou com um tom provocante.

“Tenho que admitir, Lise. Gosto de você vestida nas minhas roupas. Elas te deixam com um aspecto inocente...” Ela admitiu, batendo de leve seu ombro no ombro da ruiva, que a encarava de queixo caído.

Mas, ao perceber Quinn abrir um sorriso predador, deixando à mostra sua perfeita arcada dentária, Elise fechou a boca trincando os dentes sonoramente. Ela franziu o cenho para a loira, imaginando o quanto ela aparentava um tubarão que acabara de farejar sangue na água.

Ao lado de sua namorada, Rachel assistia a cena totalmente perplexa. Ela já tinha desistido de continuar comendo, tendo a certeza que voltaria a se engasgar ou a cuspir seu café da manhã na cara de alguém caso o fizesse.

Tentando se recompor, a ruiva limpou a garganta, fitando as duas mulheres à sua frente.

“Michele tem pavor a escuridão, e por isso pediu que eu lhe fizesse companhia durante a madrugada. Algo que vocês duas deviam agradecer até o fim da vida, porque graças à ela desisti de gravar o áudio do ritual de acasalamento das duas coelhas ninfomaníacas no quarto ao lado, que estavam exagerando na descaração ontem à noite, sabe? Falando nisso, pensei que chamar o nome do Senhor em vão fosse pecado, Quinnie.”

Rachel cobriu o rosto com as mãos, após ver Quinn se transmutar num tomate maduro.

“Deus, permita que esse não seja um prelúdio de como vai ser o dia...” Ela balbuciou sacudindo a cabeça.

...

UMA HORA DEPOIS

A equipe de audiovisual seguia Noah Puckerman pelos corredores, causando um engarrafamento humano na área junto aos armários. Liderando o grupo, empunhando um microfone personalizado com uma enorme estrela de Davi, estava Jacob Ben Israel, o então conhecido ‘blogueiro das celebridades’ de Lima.

“Então, como é ver o antes amor de sua vida, caminhando como a décima musa de Platão, totalmente convertida ao safismo?”

Puck franziu o cenho.

“Hey Bro, o Puckassaurus chegou até onde nenhum homem nunca mais irá chegar! É lógico que eu tenho orgulho disso! E você já reparou como a Rachel é gostosOUCH...” O rapaz deu um pulo sacudindo o braço direito, surpreso com a força do beliscão que havia levado. Ao lado dele, Rachel Berry cruzava os braços.

“Mais respeito quando falar da minha garota, Noah, ou da próxima vez, arranco seu braço fora.”

Empurrando o garoto que segurava a câmera, Puck abriu os braços e abarcou Rachel, rodopiando a morena em seu abraço.

“Minha princesa judia! Você está uma delícia hoje!”

“Noah, eu estou de saia!”

Ele a colocou no chão, com um sorriso sem vergonha no rosto.

“É uma pena que essa não seja tão curta quanto a de ontem...” Ele disse se afastando as gargalhadas, quando ela lhe deu um tapa no braço. “Ah, princesa! Ninguém pode ser culpado por olhar. Mas, aonde está a Rainha do Gelo? A essa altura, ela já devia ter me congelado com olhar.”

Eles foram se afastando da equipe de vídeo, caminhando pelo corredor. O aglomerado de estudantes, finalmente conseguia se dispersar e retomar sua rotina diária, com Cheerios e jogadores desfilando pelo corredor enquanto os outros alunos só tentavam chegar a salvo em suas salas de aula. Jacob até tentou seguir o par que se distanciava, mas um dos jogadores de futebol, extremamente irritado com a confusão causada pela equipe de ‘reportagem’, atirou um Slushie bem no meio da cara do blogueiro, o deixando literalmente congelado no lugar.

Rachel passou o braço pelo de Puck, puxando o rapaz na direção da cafeteria.

“Digamos que Quinn e minha mãe tinham assuntos pendentes...” Confessou com um sorriso. “Que tal um café? Ainda não tive a chance de consumir minha taxa matutina de cafeína...”

...

Quinn colocou uma caixa grande de papelão sobre a mesa do escritório, bem ao lado de outra caixa que Shelby acabara de pôr sobre a mesma mesa. Elas estavam usando o escritório adjunto a sala do coral, pertencente ao professor Schuester, como ponto de apoio para os poucos arquivos remanescentes que haviam sobrevivido ao incêndio na sala da antiga professora, anos antes, e que ficaram guardados num deposito da escola por todo esse tempo.

“Essa é a última?”, Quinn perguntou a sua ex-professora.

“Na verdade sim. Não sobrou muito. O fogo não chegou a atingir grandes proporções, mas foi o suficiente para dizimar uma boa quantidade de documentos e partituras.”

“Desculpe...”, disse a loira mordendo o lábio inferior. “Eu...”

“Nada disso, Quinn. Sem desculpas, okay?” Shelby se aproximou colocando a mão sobre o ombro dela. “O que aconteceu, é passado. Demorou um pouco, mas entendi que talvez eu não fosse exatamente a pessoa indicada para ajudar você a lidar com aquilo tudo. Na verdade, sou eu quem deve pedir desculpas. Certas feridas demoram mais que outras para cicatrizar, e certamente as suas eram bem mais profundas que as minhas já foram um dia. Você era só uma adolescente..."

Elas se encaravam com lágrimas nos olhos, cada uma perdida em mágoas que apesar de terem ficado para trás há muito tempo, ainda eram capazes de fazê-las sentir uma tristeza incomum. Tanto Shelby quanto Quinn, experimentaram muito cedo a crueldade do mundo, lidando com a perda de suas filhas e a amargura de não ter ninguém com quem contar. Somente agora, com o passar do tempo, elas podiam se encontrar como iguais, e reconhecer a força presente em cada uma delas.

Rindo entre lágrimas, as duas se abraçaram no meio do pequeno escritório, rodeadas por mais ou menos meia dúzia de grandes caixas de papelão, únicas sobreviventes de um passado que as uniu, e de certa forma, as primeiras testemunhas de um futuro que nascia naquele momento.

“Ah, isso sim é embaraçoso.” Shelby se afastou limpando rosto com uma das mãos.

“Com certeza. Mas, se não houvesse drama, você não seria a mãe da Rachel.”

Shelby gargalhou.

“Ah, definitivamente assumo a culpa disso.”

Elas riram mais uma vez, e sem querer, Quinn acabou dando uma cotovelada numa das caixas, derrubando o conteúdo no chão. Com uma careta, a loira se abaixou para juntar os papeis esparramados pelo chão.

“Droga. Acho que não apoiei essa daqui direito, desculpe.” Ela disse mordendo o lábio inferior, apanhando um envelope amarelado e uma foto velha e esticando o braço de mal jeito para enfia-los dentro de uma das pastas sobre a mesa.

“Não se preocupe com isso, Quinn. Deixe-me ajudar você.” Shelby se ajoelhou, pegando algumas pastas e envelopes e os jogando de qualquer jeito sobre a mesa.

Nesse momento, algumas tímidas batidas na porta, interromperam as duas.

“Querem ajuda com a faxina?”

Quinn levantou os olhos do belíssimo, e inapropriadamente alto, Christian Louboutin na sua frente, para encarar a ruiva de sorriso irritante parada na soleira da porta.

“Gostou, Fabray?” Elise perguntou oferecendo a mão para ajudar a loira a se levantar. Quinn revirou os olhos, aceitando a ajuda dela.

“Eu tenho um par igual, Scott.”, Quinn bufou, passando a mão pelos cabelos e se pondo de pé. “Só estava tentando entender o porque de você estar usando algo assim. Não acha que eles são um tanto demais para um ambiente escolar?”

“Diferente de você, eu tenho uma reputação a zelar.”

Quinn respirou fundo, e se voltou para apanhar alguns papeis das mãos de Shelby para que ela pudesse se levantar. Elise limpou a garganta sonoramente antes de continuar.

“Principalmente quando tem uma equipe da televisão local, com uma espécie de repórter metido a blogueiro das celebridades, transitando livremente pelos corredores do colégio, na esperança de vender uma boa quantidade de boatos fresquinhos para a mídia de verdade.”

Quinn cobriu o rosto com as mãos.

“Por favor, diga que nenhum Jacob Ben Israel está metido nisso.”

Atrás da loira, Shelby escondeu o riso ao ver Elise franzir o cenho confusa.

“Você conhece esse cara?” Elise perguntou escandalizada.

“Ah, Deus. Eu mereço.” Quinn saiu pela porta apressada, jogando os braços para cima. Ela já podia imaginar quem seria a primeira vítima de seu antigo colega de turma. “Onde diabos está o Puckerman?”

Sem entender mais nada, Elise entrou na sala e apanhou o resto dos papeis, e a caixa de papelão do chão, os colocando sobre a mesa.

“Essa cidade parece mais um daqueles lugares de além da imaginação, sabia? Sempre foi assim?”

Shelby sacudiu a cabeça, com um sorriso saudoso.

“Você não faz ideia...” Então a ex-professora pegou a pasta que Quinn havia acabado de empilhar sobre uma outra pilha de papeis sobre a mesa. Uma foto antiga, juntamente com um envelope amarrotado caíram no chão, aos pés de Elise.

As duas mulheres se abaixaram no mesmo instante. Shelby alcançou o envelope, enquanto Elise segurava a foto boquiaberta.

“Ei, vocês viram a Quinn?” Rachel quebrou o silêncio, invadindo o recinto com Noah caminhando ao seu lado, segurando dois copos com café.

“Ela acabou de sair, querida.” Shelby respondeu distraída, girando o envelope em suas mãos, estreitando os olhos para a caligrafia borrada, tentando saber se aquela carta seria endereçada à ela. Rachel girou nos calcanhares, ficando de frente para Elise, mas antes que ela pudesse abrir a boca, a ruiva passou por ela como uma flecha, saindo pela porta da sala.

“Que tal ser uma boa menina, e ajudar sua mãe a organizar a bagunça que sua cara metade deixou para trás? É o mínimo que você pode fazer.”

Cruzando os braços irritada, Rachel disparou de volta.

“Qual é o seu problema, Elise?” Mas, antes de ser capaz de executar uma saída digna de um Emmy Awards, a pequena morena quase tropeçou nos próprios pés ao ouviu a tentativa inútil de Noah Puckerman de sussurrar discretamente em hebraico para Shelby, n zevkhr t herch shal khl chilq vigvf shalkh, hemlkhh shal.’

“Como assim, você ainda lembra do cheiro de cada parte do corpo da minha mãe?” Disse Rachel se virando na direção dele com um olhar homicida.

...

Elise atravessou o corredor a passos largos, contendo o impulso de expelir o nó em sua garganta com um grito. Num gesto rápido, ela puxou seu iPhone de um dos bolsos laterais de seu casaco, destravando o aparelho e acessando a internet. A ruiva digitou as palavras o mais rápido que pode, clicando no primeiro link oferecido pelo Google. Seus olhos se arregalaram ao ler a confirmação de suas suspeitas escritas em negrito na Wikipedia, e depois, em mais sete sites de mais respaldo.

Aquilo era inacreditável. Era a mais absurda das ironias já existentes.

Empurrando com força a porta do vestiário feminino, Elise correu até a área isolada onde ficavam as fileiras de armários, próximos aos chuveiros. Não havia mais ninguém no local, e por esse privilégio, ela agradeceu a Deus. Então, tirando do bolso de trás de sua calça, a foto que ela havia escondido consigo no momento que Rachel entrou no escritório, Elise sentou-se num dos estreitos bancos de madeira junto aos armários, podendo enfim deixar suas muralhas caírem.

Em suas mãos estava um retrato antigo de bordas já amareladas pelo tempo. Nele, uma pequena morena extremamente sorridente abraçava uma evidentemente tímida menininha loira. A garotinha sorria feliz, envolvida pelos braços da outra menina, enquanto tentava equilibrar seu sorvete de casquinha com uma mão só. Atrás delas o Castelo da Cinderela aparecia imponente e mágico, tal qual o encontro das duas garotas, registrado naquele papel fotográfico em uma tarde de verão durante um passeio nas férias.

Os olhos de Elise passearam pelo rosto da garotinha à esquerda da foto.

Rachel não havia mudado nem um pouco. A garota que havia roubado seu coração, desde o primeiro minuto que seus olhares se cruzaram, ainda tinha o mesmo sorriso daquela menina da foto.

Porém, o mesmo não podia ser dito da pequena ao lado dela.

A tímida loirinha obviamente estava um pouco acima do peso para sua idade, mas ela ainda tinha o mesmo sorriso irritavelmente encantador, e o mesmo brilho enigmático em seus olhos cor de avelã.

A pequena Lucy... ou mais precisamente, a pequena Lucy Quinn Fabray.

A garotinha meiga, que sem saber, se transformou no primeiro grande amor de Rachel, havia crescido para reclamar novamente o coração da morena, e hoje caminhava ao seu lado sem nem ao menos imaginar que a mulher que lhe dizia ‘eu te amo’ a cada cinco minutos, já havia lhe jurado amor eterno desde a infância.

“Não importaria o quanto eu lutasse por você... Nós nunca estivemos destinadas a pertencer uma a outra, minha estrela...” Elise murmurou entre lágrimas. Sem saber ao certo se doía mais a decepção de saber que durante todos esses anos ela nunca tivera chance alguma, ou de ter em mãos a prova irrefutável de que algumas pessoas realmente são capazes de encontrar a verdadeira felicidade.

Uma pontada gélida pareceu perfurar seu coração, a fazendo se curvar sobre seu corpo fechando os braços ao redor de si mesma. As lágrimas deslizavam livremente sobre sua face e Elise se deixou escorregar pela beirada do banco até o chão do vestuário.

Naquele momento, ela pediu ao destino por uma chance, uma inóspita possibilidade de encontrar sua outra metade. Alguém que também fosse capaz de roubar seu coração numa tarde de verão, sorrindo inocentemente enquanto equilibrava um sorvete de casquinha em uma das mãos.

...

HORAS DEPOIS - RESIDÊNCIA DOS PUCKEMAN

A casa estava lotada, em sua grande maioria por universitários ou recém formados, muitos deles antigos colegas de turma do anfitrião da festa. Somente poucos dos presentes ainda estavam em idade escolar, e boa parte deles pertencia ao time de futebol ou fazia parte da atual equipe de líderes de torcida.

‘Definitivamente, Noah Puckerman sabe dar uma festa.’ Esse foi o único pensamento de Michele no momento em que ela pôs os pés na casa do melhor amigo de seu namorado, ou quase noivo... ou sei lá...que seja.

Os últimos dias estavam sendo um tanto confusos para a jovem atriz. Na verdade, toda essa viagem estava começando a parecer um enorme engano. Daqueles gigantes, com direito a sinais em neon e tudo mais. Ter Finn como hospede em sua casa no dia anterior a viagem, jantar com a família, reunião com amigos, seu ainda não resolvido noivado, e agora, a chegada de Elise, e todas as sensações que surgiram em seguida, era um tanto demais para lidar.

Finn havia surtado quando ela mencionou que havia recorrido a ruiva durante o blackout da noite passada. Os ciúmes do rapaz extrapolaram todos os limites, a ponto de Michele ter recusado vir a festa promovida por Noah, se fechando em seu quarto no hotel. Só nesse momento, Finn pareceu voltar a razão, e se plantou na frente da porta, implorando que ela reconsiderasse, e prometendo se comportar.

Mesmo ainda bastante chateada, Michele resolveu dar o braço a torcer. Era melhor do que passar a noite no quarto do hotel sem ter nada mais para fazer. Além disso, não parecia certo querer deitar na cama, e se perder na suave fragrância de Elise, ainda presente em suas cobertas.

A noite passada junto a sua colega de elenco havia mexido com algo dentro dela. Algo que Michele ainda não sabia ao certo como nomear.

Se remexendo mais uma vez no sofá, os olhos cor de mel se estreitaram, brilhando furiosos, para o casal se afastando do centro da sala. Um dos convidados escolheu esse momento para mexer no CD player, diminuindo o barulho na sala consideravelmente. Nesse minuto, Michele pode ouvir claramente a voz dela.

“Mike querido, você é o melhor dançarino que já conheci.” Elise deslizava a mão sobre o peito do rapaz com quem ela tinha acabado de protagonizar um número de dança extremamente sedutor, arrancando uma salva de palmas de todos os presentes.

De repente, não pareceu ser uma boa ideia estar numa festa na casa do melhor amigo do homem com quem ela deveria estar se divertindo nesse exato momento, ao invés de continuar de cara amarrada, sentada no sofá da sala há mais de uma hora, observando sua colega de elenco arrancar suspiros por onde ia, enquanto virava garrafa após garrafa de wine coolers goela abaixo.

Elise sentou-se elegantemente no balcão que servia de apoio para o bar, cruzando as pernas e aceitando mais uma garrafa de bebida. Ela ria descontraída, com um dos braços displicentemente jogado sobre os ombros de Noah Puckerman, enquanto conversava animadamente com alguns dos outros convidados que se aglomeravam ao seu redor. A ruiva já tinha consumido álcool o suficiente para deixar suas bochechas num tom rosado, e aparentemente, extinguir completamente sua capacidade de discernir qual a distância apropriada para se manter fora do espaço pessoal alheio.

“Você quer algo para beber?” Finn perguntou se aproximando dela pela primeira vez, desde o momento que ele a deixara sozinha no sofá para conversar com alguns de seus antigos colegas de faculdade.

“Não, obrigada.” Ela respondeu com um tom de voz irritado, cruzando os braços. Ao lado dela, Kurt suspirou profundamente, olhando para seu irmão completamente desacreditado.

Enquanto isso, do outro lado da sala, Tina e Mercedes assumiam o controle do aparelho de som montado próximo ao pequeno palco improvisado no canto da sala de estar. Sam Evans pulou no lugar vago ao lado de Michele, e com uma imitação nada fidedigna de Sean Connery, conseguiu arrastar Finn para uma partida de bilhar na mesa que tinha substituído a da sala de jantar.

“Não precisa se preocupar com ela.” Kurt arriscou puxar assunto com a morena ao seu lado, sem desviar os olhos de seu noivo, que havia subido no palco e já tinha roubado o microfone de Tina. A pobre garota se sentou na beirada dos caixotes usados para montar a estrutura, com lágrimas nos olhos.

“O quê?” Michele perguntou, sem entender porque ele havia dito aquilo.

“Elise, não é? Você não tirou os olhos dela à noite toda.” Disse o rapaz, finalmente a olhando nos olhos. “Puck aprendeu a lição há anos. Além disso, duvido muito que ela aceite as investidas dele, ou de qualquer outro, mesmo nesse estado.”

Os olhos cor de mel buscaram mais uma vez a figura extrovertida da ruiva, em meio a pequena multidão de rapazes que havia se juntado ao seu redor.

“Ela já é grandinha o suficiente para saber se defender sozinha.” Michele murmurou entredentes ao ver uma garota abrir caminho entre os rapazes, se aproximando de Elise e reivindicando a garrafa de wine cooler das mãos dela.

Kurt desviou o olhar da cena, voltando a observar seu noivo tentando consolar Tina e oferecendo-lhe o microfone de volta.

“Acho que me enganei, então.” Ele disse se levantando. “Desculpe.”

Mas, então ele se virou novamente para ela, e continuou.

“A propósito, três cheerios se insinuaram para meu irmão nos últimos vinte minutos, mas não creio que isso vá te incomodar mais do que aquela garota sorrindo para Elise nesse momento.” E então ele sumiu no meio do aglomerado de pessoas dançando no meio da sala, deixando a geralmente calma Michele, realmente aborrecida.

Nesse minuto, uma pequena comoção estourou perto da porta de entrada, causada por algumas ex-cheerios, anunciando a chegada de Rachel e Quinn à festa.

O casal estava perto da porta de entrada, de mãos dadas, sorrindo como se tivessem acabado de chegar à um grande evento de gala.

Certamente incentivada pelo número de celulares disparando flashes, e antigas colegas solicitando selfies com elas, Quinn ativou o modo celebridade, caminhando devagar, e acenando polidamente para todo mundo. Rachel tentava escolta-la por entre o grupo de garotas, numa tentativa inútil de cruzar a multidão mais rapidamente, até que sua namorada foi envolvida num abraço.

“Hey, Kitty!” Quinn cumprimentou sua pupila, devolvendo o abraço. “Não vi você na reunião do Glee.”

“Ah, eu só pude chegar hoje. É complicado faltar as aulas na universidade durante essa época no ano. As vezes não sei o que se passa na cabeça do professor Schue. Quer dizer, o cara é professor e está arrumando motivos para nos fazer boicotar nossas aulas!?” Disse a jovem loira revirando os olhos. Depois ela girou nos calcanhares para encarar os curiosos ainda presentes. “Será que vocês podem arrumar o que fazer? Circulando pessoal! Já deu para guardar na memória! E se achou pouco compre um dos filmes dela! Que inferno!”

Rachel abriu um sorriso vendo a garota de cara enfezada, sacudindo as mãos no ar, como se estivesse espantando moscas, e cochichou para Quinn.

“Gostei dela.”

Quinn sorriu para sua namorada e a puxou pela mão, diminuindo a distância entre elas.

“Kitty, quero apresentar minha namorada Rachel. Rachel, essa é Kitty, uma de minhas mais infames pupilas, por assim dizer.”

Rachel sorriu, estendendo a mão para cumprimenta-la.

“Pupila? Agora fiquei curiosa.”

Kitty gargalhou visivelmente orgulhosa.

“Alguém tinha que honrar o legado da lendária Quinn Fabray, não é mesmo? Foi difícil manter esse povo na linha, mas aprendi com a melhor.” Ela respondeu erguendo a sobrancelha, de uma maneira semelhante a de Quinn. E dessa vez, foi a vez de Rachel cair na gargalhada.

“Ah, a tão temida técnica da sobrancelha. Realmente você aprendeu com a melhor, Kitty.”

Quinn sacudiu a cabeça, contendo o sorriso, e dando um beijinho discreto na bochecha de sua pequena morena. Depois, se voltando para Kitty, quis saber mais sobre a vida em Knoxville, já que ela havia ficado sabendo que a garota conseguira uma bolsa integral para lideres de torcida na Universidade do Tennessee.

A música estava alta, as bebidas circulavam em abundância, as loiras ao seu lado conversavam animadamente, sendo assim, Rachel deixou seu olhar vagar pela casa. E acabou avistando à distância alguns dos membros do atual clube do coral ajustando algumas caixas de som ao lado do que parecia ser um palco improvisado do outro lado da sala, num dos cantos da parede.

Uma das amigas de Quinn segurava o microfone e dava ordens aos dois garotos próximos as caixas de som. “Mercedes Jones”, Rachel murmurou lembrando-se do nome dela. E foi tal como se ela tivesse berrado por Mercedes em voz alta, porque logo em seguida, ela apontava o microfone para aonde elas estavam.

"Olha só quem finalmente decidiu aparecer! Hey, Rachel, Quinn!"

Rachel viu Quinn acenar para sua amiga.

"Q-doll! Quer saber? Só faltava você para completar o trio. Santana está enchendo a minha paciência há horas, e há anos não vemos esse seu belo traseiro sacudir ao som da Trindade Profana! Suba logo nesse palco, garota!"

Quinn arregalou os olhos, sacudindo a cabeça para um lado e para o outro. Mas, Santana realmente parecia estar ansiosa por uma performance, aparecendo do nada e arrancando o microfone das mãos de Mercedes, enquanto muitos dos presentes começavam a chamar por elas.

“Isso mesmo, Fabray! Nenhuma reunião da McKingley High está completa sem uma performance da Trindade Profana!” E com isso, o resto dos presentes se juntaram aos demais, erguendo as mãos e chamando pelas garotas.

“Oh, Deus...” Quinn murmurou, escondendo o rosto junto ao ombro de Rachel.

“Ah, Fabray! Larga de bancar a frouxa e traga logo esse seu traseiro enorme pra cá!” Santana berrou no microfone, ao lado de Brittany. “Venha logo! Santana Lopez não desaponta seus fãs!”

A pequena multidão começou a bater palmas, quando Rachel decidiu tomar as rédeas da situação, conduzindo sua namorada pela mão até a beirada do palco. Brittany ajudou Quinn a subir, e logo depois Santana lançou um sorriso malicioso na direção de da pequena morena.

“Prepare-se para babar, Berry. E a propósito, é melhor se apressar para garantir seu lugar.”

Rachel não levou muito a sério o comentário dela, até perceber os convidados se juntando na frente do palco. E quando voltou a olhar para o trio, arregalou os olhos para as expressões nos rostos das mulheres no palco.

As três estavam lado a lado, com Quinn no centro um passo mais à frente de Santana e Brittany. Quando o solo do piano começou a introduzir a melodia da música de Beyoncé, remixada exclusivamente para ‘Os cinquenta tons de Cinza’, o comentário de Santana começou a fazer sentido. Principalmente quando Quinn começou a cantar.

I look and stare so deep in your eyes,

I touch on you more and more every time,

When you leave I'm begging you not to go,

Call your name two or three times in a row,

Such a funny thing for me to try to explain,

How I'm feeling and my pride is the one to blame.

'Cuz I know I don't understand,

Just how your love your doing no one else can.

Elas começaram a mover os quadris no ritmo da batida da música, de uma maneira lenta, sensual e sincronizada. Quinn passava as mãos pelos cabelos, ao passo que Santana e Brittany alternavam carícias leves uma no braço da outra, juntando suas vozes à música.

Got me looking so crazy right now, your love's;

Got me looking so crazy right now;

Got me looking so crazy right now, your touch

Got me looking so crazy right now;

Got me hoping you'll page me right now, your kiss;

Got me hoping you'll save me right now

Looking so crazy in love's, Got me looking, got me looking so crazy in love.

Mais uma vez o solo do piano preencheu o ar, e as três caminham lentamente para beira do palco, suas vozes juntas de uma maneira harmônica, deixando a melodia ainda mais lasciva, com Santana tomando à frente.

When I talk to my friends so quietly,

Who she think she is? Look at what you did to me,

Brittany assumiu a frente, deslizando seu corpo pelo de Santana cantando

verso seguinte.

Tennis shoes, don't even need to buy a new dress,

If you ain't there ain't nobody else to impress,

Quinn voltou a assumir à frente do trio, abraçando a si mesma, deixando sua mão direita subir pelas curvas de seu corpo até seu a altura de seu pescoço.

The way that you know what I thought I knew,

It's the beat my heart skips when I'm with you,

But I still don't understand,

Just how the love your doing no one else can.

Quinn sorriu maliciosamente para Rachel, juntando as palmas como se fizesse uma oração. E as três se juntaram para o refrão.

Got me looking so crazy right now, your love's;

Got me looking so crazy right now;

Got me looking so crazy right now, your touch;

Got me looking so crazy right now;

Got me hoping you'll save me right now, your kiss;

Got me hoping you'll save me right now;

Looking so crazy in love's Got me looking, got me looking so crazy in love.

Erguendo os braços, Quinn se inclinou sobre as costas de Santana, ao mesmo tempo que Brittany, se abaixava em um joelho percorrendo o corpo de sua amiga com ambas as mãos.

Got me looking so crazy right now, your touch;

Got me looking so crazy right now;

Got me hoping you'll page me right now, your kiss;

Got me hoping you'll save me right now;

Looking so crazy in love's Got me looking, got me looking so crazy in love.

O trio terminou o número com Quinn de as mãos na cintura encarando a plateia, com Santana à sua direita e Brittany à esquerda, ambas com uma das mãos no ombro dela, ao passo que a outra deslizava pelo abdômen da loira de olhos avelã.

Uh oh, uh oh, uh oh, oh no no

Pode-se dizer que a casa explodiu em gritos e palmas depois disso.

Puck pulava em seu lugar uivando e gritando. Ao lado dele, Elise estava boquiaberta e de olhos arregalados. A ruiva virou na boca todo o conteúdo da garrafa que segurava, engolindo tudo de uma vez.

“Que droga... essa maldita conseguiu corromper minha mente.” Disse a ruiva. Puck olhou para ela com um sorriso dos mais sem vergonhas estampado em seu rosto.

Elise revirou os olhos.

“Nem em seus sonhos, Puckerman.” Ela completou cutucando a ponta do nariz dele com o indicador. “Ela pode ter conseguido encher minha cabeça com dezenas de cenas inacreditavelmente inapropriadas, mas continuo odiando essa loira uó!”

...

DUAS HORAS DEPOIS

“Eu sou tão feliz com você, sabia?” Quinn abraçou Rachel puxando a morena para junto de si. Agora que grande parte da multidão havia se dispersado, a casa estava mais tranquila, dando a elas o privilégio de ter o quintal todinho só para as duas.

Rachel sorriu se ajeitando junto ao ombro de Quinn. Elas estavam aninhadas numa das cadeiras de sol junto a piscina. A noite estava clara, e apesar de não terem muitas estrelas no céu, a lua brilhava intensamente no céu.

“Eu também. Você não faz ideia do quanto.”

“Okay, então quando vai me dizer o que está incomodando você?

Rachel a abraçou mais forte, suspirando.

“Você me conhece bem demais, sabia?”

“Faz parte do trabalho.” A loira respondeu rindo, e se virando para acariciar o rosto dela perguntou suavemente. “É sobre a carta?”

Rachel se apoiou sobre o cotovelo para olha-la nos olhos.

“Não consigo para de pensar nisso... Nunca imaginei que Richard fosse capaz de me manipular, bem, eu sempre soube o tipo de pessoa que ele era. Tive a oportunidade de testemunhar várias situações onde o caráter dele, ou melhor, a falta de caráter dele era evidente, mas nunca pensei ser o alvo disso.”

Naquela manhã, depois que Elise saiu da sala, Shelby abriu o misterioso envelope em suas mãos. E para sua surpresa, se tratava de uma carta, escrita por Elise há anos. A carta contava tudo sobre o que Richard havia feito a ela, e como ele estava usando Rachel para satisfazer seus desejos de ostentar festas pelo mundo.

“É difícil imaginar alguém capaz de tanto esforço só para afastar duas pessoas...e por quê?”

“Richard nunca gostou muito de Elise. Ele sempre foi muito elitista e o pai dela trabalhava como gerente em um dos hotéis da minha família...Não sei ao certo, é difícil entender como funciona uma mente tão distorcida e preconceituosa... Acho que eu só queria...”

“Ter tido a oportunidade de dar adeus.” Quinn completou mordendo o lábio, vendo o olhar triste de sua namorada. “Não foi justo com nenhuma de vocês duas terminar desse jeito.”

“Eu sei.” Rachel murmurou.

“Você pode consertar isso, Rach... se você quiser.”

“Como assim? Quinn? Eu tenho você, não preciso...”

“Eu sei. E acredite, não posso ser mais feliz ouvindo você me dizer isso. Mas, não se trata só sobre você, meu amor.”

Quinn se inclinou para beijar a morena, e quando se afastou, lançou um breve olhar por cima do ombro dela. Os olhos cor de avelã encontraram os de sua amada mais uma vez antes dela se levantar. Rachel a seguiu com o olhar, acompanhando seus passos até ela cruzar o caminho com um outro alguém. Só então, Rachel percebeu Elise sentada sozinha, encostada numa das três árvores espalhadas pelo quintal da casa. Quinn olhou em sua direção mais uma vez, Rachel pode vê-la articular com os lábios ‘Eu te amo’, antes de abrir a porta que dava para a cozinha da casa.

...

Elise pode ouvi-la se aproximando, e por um instante, pensou que Rachel simplesmente passaria por ela, assim como Quinn havia feito minutos antes. Até perceber a morena sentar-se ao seu lado sobre a relva fria.

Uma nuvem invadiu o antes limpo e reluzente céu noturno, cobrindo a lua por alguns instantes. Elise sentiu o álcool perdendo o efeito em seu sistema, sua mente já estava mais clara, e a tontura que a levara buscar um pouco de ar fresco, já se dissipava. Ela agradeceu por ter bastante resistência a bebidas em geral, porque tudo indicava que o momento pedia por mais lucidez possível de sua parte.

“Eu li a carta.” Rachel disse finalmente.

E depois disso elas voltaram a ficar em silêncio.

“Isso não muda nada.” Elise respondeu depois de alguns minutos.

Para falar a verdade, ela não havia ficado surpresa. De certa forma, quando aquele envelope caiu aos seus pés esta manhã, ela soube. Talvez por isso ela resolveu pegar a foto.

“Isso muda tudo, Lise.” Rachel murmurou, fazendo Elise virar de uma vez para encará-la. A morena a havia chamado por seu apelido, e segurava sua mão, a olhando com carinho.

“Durante todos esses anos pensei que você tinha me abandonado. Ninguém nunca soube explicar porque você sumiu, e isso corroeu meu coração durante muito tempo. Eu te amei muito, Lise. Ainda amo. Mas...”

“Você encontrou a Quinn.” Ela disse simplesmente.

“É… eu encontrei a Quinn.”

Elise sorriu, abaixando a cabeça.

“Ela é perfeita para você...sabia? Sem ironias, ou duplo sentido. Vocês foram feitas uma para outra.”

“Obrigada...” Rachel agradeceu, a abraçando com força. “Você não faz ideia o quanto significa para mim, ouvir você dizer isso. Eu senti tanto sua falta, Lise...”

“E eu a sua, Rach... Mas, ainda doí, sabe? Nunca ter colocado um ponto final? Eu não tive chance alguma...”

“Nós ainda temos tempo... se você aceitar.”

“Como assim?”

Rachel se levantou, estendendo a mão para ela.

“Do mesmo jeito de sempre. Vem, é sua vez de escolher a música.”

...

Quinn foi a primeira a vê-las entrar. A loira estava sentada no sofá, com a cabeça encostada sobre o ombro de Mercedes. Santana e Brittany haviam ocupado a larga poltrona no canto esquerdo da sala, perto das escadas, enquanto alguns membros do Glee continuavam a dançar, embalados pela música lenta que agora tocava mais baixo nas caixas de som. A casa estava uma bagunça, que ficava ainda mais evidente por causa do número reduzido de convidados remanescentes.

Por esse motivo, Rachel e Elise conseguiram chegar sem mais problemas até o palco, onde Puck tinha resolvido deitar. Mas, bastou que a ruiva lhe cochichasse algo ao ouvido, que o rapaz ficou de pé no mesmo instante, correndo para agarrar sua preciosa guitarra.

“Ao que parece, sua namorada vai cantar, garota.” Disse Mercedes encostando a cabeça sobre a de Quinn.

“Eu já devia saber disso...” A loira respondeu com um sorriso.

Sentada à direita de Quinn, aonde permanecera quase toda a noite, Michele se remexeu incomodada, franzindo o cenho para o palco quando as primeiras notas da guitarra de Puck chamaram a atenção de todos. Elise reclamou a frente do palco, e Rachel se manteve um pouco atrás, a observando canta.

(Elise)

It's been a cold, cold, cold, cold night tonight

And I can't get you off my mind

God knows I've tried

Did I throw away the best part of my life

When I cut you off, did I cut myself with the same damn knife

Hide my tears in the pouring rain, had my share of hurt and pain

Rachel deu um passo à frente, se juntando a Elise.

(Elise e Rachel)

Don't say my name, run away, cause it's all in vain

My hearts breaking even, now there's no use we even try

As duas ficaram de frente uma para a outra, dando-se as mãos.

(Elise)

Hey I cried,

(Rachel)

Yeah I lied,

(Elise e Rachel)

Hell I almost died

Don't got a reason, let's just fold the cards and say good-bye

It's all right, just two hearts breaking even tonight

A ruiva soltou a mão de Rachel, se afastando um pouco, mas sem desviar o olhar do dela.

(Elise)

It's been a long, long, long time

Since I've had your love here in my hands

We didn't understand it,

(Rachel)

We couldn't understand it

But, nothing's fair in love and hate

You lay it all down and walk away, before it's too late

We danced all night as the music played

E Elise acrescentou dando de ombros.

The sheets got tangled in the mess we made

(Elise e Rachel)

There in the stains, we remain,

No one left to blame

My hearts breaking even, now there's no use we even try

(Elise)

Hey I cried,

(Rachel)

Yeah I lied,

(Elise e Rachel)

Hell I almost died

Don't got a reason, let's just fold the cards and say good-bye

It's all right, just two hearts breaking even tonight

Então a ruiva se deixou levar pela emoção, e Rachel soube naquele instante que ela realmente estava cantando de todo coração.

(Elise)

Go on, get on with your life, Yeah - I'll get on with mine

Broken hearts can't call the cops,

(Elise e Rachel)

Yeah it's the perfect crime

Twisting and turning the night keeps me yearning I'm burning alive

(Elise)

I'm paying the price again

But I'll see the light again

My hearts breaking even, now there's no use we even try

Mais uma vez, elas olhavam uma para outra. Finalmente podendo dizer adeus. E Elise pode sentir seu coração se libertando de todo aquele sofrimento, de toda a dor causada por Richard.

(Elise e Rachel)

Hey I cried,

Yeah I lied,

Hell I almost died

Don't got a reason, let's just fold the cards and say good-bye

It's all right, just two hearts breaking even…

(Elise)

…Tonight.

Oh, Yeah, Yeah, Yeah, Yeah, Yeah, Yeah, Yeah,

Yeah, Yeah, Yeah, Yeah, Yeah, Yeah, Yeah, Yeah,

Oh, I’m going, gonna walk out the door

Saying you don’t care for me anymore

(Rachel)

That’s all right, just two hearts breaking even tonight

Fechando os olhos com força, Elise deu adeus a sua estrela, podendo dizer as palavras que inevitavelmente seriam ditas há anos... porque Rachel não seria sua. Aquela estrela já estava destinada a brilhar por outra pessoa.

(Elise)

Our love it’s not how it used to do

Baby, I would rather run before being left by you.

Just two hearts breaking even tonight...

E quando os últimos acordes sumiram, elas se abraçaram entre lágrimas e sorrisos, porque finalmente, elas tinham suas amigas infância de volta.

Sentada no sofá, com lagrimas de felicidade nos olhos, Quinn sorria, aplaudindo com entusiasmo as duas mulheres no palco.