Minha

Je M'ennuie de Toi Mon Vieux


09hrs AM - Aeroporto Charles de Gaulle – França

Jesse St. James se arrependia profundamente de não ter feito nenhum alongamento, após quase oito horas de viagem espremido em um projeto de poltrona na classe econômica. Ele precisava urgentemente de uma massagem.

“Meu pescoço dói.” O rapaz reclamou com um muxoxo, fazendo Michele revirar os olhos.

“É? E meu ombro ainda está latejando com o peso da sua cabeça!”

“Eu falei que era melhor esperar por dois lugares na classe executiva.”

“Em um voo com escala em Dublin? Saindo de New York quase três horas depois do voo que pegamos? Eram praticamente dez horas de voo, Jesse!”

Jesse cruzou os olhos, parando logo antes do ponto de táxis situados no nível dos portões de chegada do aeroporto e gesticulou ao redor.

“Tanta pressa para quê? Você faz ideia de onde ir, Michele?”

A jovem atriz desviou o olhar, franzindo o lábio. Fazia uma linda manhã. O céu estava limpo, o sol brilhando. E apesar deles estarem há 27km a nordeste de Paris, já se sentia no ar a presença daquele tão difundido charme francês envolvendo o ambiente.

‘Talvez fosse a quantidade absurda de ‘Boujour’ s , ‘Bonsour’ s e ‘Mademoiselle’ recitados por minuto ao redor deles com aquele sotaque que perpetuamente, será reconhecido pelo mundo como meta-mor do romantismo.’ Imaginou Michele

“Na verdade, eu não faço ideia.” Ela admitiu. “Não pensei em muito além de chegar até aqui. Essa é a minha primeira vez em Paris...”

“Eu. Não. Acredito.” Jesse estava boquiaberto. “O que você pensou em fazer? Sentar junto ao Arco do Triunfo e esperar o fandom dela subir um trend no twitter? Hashtag Em que parte da França está Elise Scott?”

“Não exatamente...” Ela respondeu um tanto encabulada. “Pensei que você podia me ajudar com isso quando chegássemos aqui.”

Jesse passou a mão pelo rosto e respirou fundo, vendo a garota diante dele olhar para o chão visivelmente insegura.

“Certo.” Ele disse conformado, fazendo sinal para um dos táxis parados. “Vamos logo. Eu quero um banho. Além disso, é sua primeira vez em Paris, o mínimo que meu cartão de crédito pode oferecer é uma suíte com uma bela vista da Torre Eiffel no Four Seasons.”

Michele olhou para ele agradecida e seguiu seu amigo até o táxi mais próximo.

...

03:00 AM – New York City

Rachel alcança seu celular no criado mudo ao lado da cama, aceitando a ligação mesmo antes de checar quem chamava. Charlie havia voltado a dormir há menos de quinze minutos, e ela certamente não gostaria de acordar nem ele, nem Quinn novamente.

“Rachel Berry.” A morena falou, saindo de mansinho do quarto em rumo a sala.

Do outro lado da linha, Santana Lopez não parecia muito feliz.

“Rachel, escute. Russel Fabray acaba de ser detido enquanto tentava sair do país em um voo para o Canadá em Columbus, há cerca de uma hora.”

Rachel praguejou baixinho.

“Já está em todos os jornais na Costa Oeste e a delegacia onde estou agora está cercada por jornalistas.” Continuou Santana. “Nigel vai pegar o primeiro voo para New York, assim que possível. Vamos fazer uma chamada liberando alguns trechos da entrevista de Judy Fabray no Bom Dia América. Luc vai receber as orientações do pessoal da assessoria da Quinn, mas seria bom ficar em casa e ignorar as mídias sociais por enquanto.”

“Acho que isso não vai ser um problema...” Rachel suspirou, se encostando na bancada do mezanino. “Nós precisamos nos concentrar em cuidar e entreter um...convidado?”

“Há! Britt-Britt já me disse, Berry! Um bebê? Sério? Você ainda nem pediu minha Q em casamento e já fez um filho?” Santana ironizou. “Nesse ritmo vocês só vão dizer ‘aceito’ quando as duas estiverem banguelas e gagás numa casa de repouso!”.

“Santana!!!!” Rachel controlou o tom de voz para não acordar Quinn e Charlie, que dormiam no final do corredor. “Eu tinha planos de fazer isso em Lima, na última reunião do Glee club, com um lindo número musical de ‘Be My Baby’, mas acabei sendo frustrada! Novamente! E nós não adotamos o Charlie, é uma guarda temporária.”

Do outro lado da linha Santana revirou os olhos.

“É, com certeza vai ser bem temporário mesmo...” Então a advogada fez uma pausa. “Okay, eu sei que você tem uma inata aptidão para o drama, e que a Quinn acha isso parte do seu charme, mas quer um conselho? Ao invés de transformar seu pedido de casamento em um elaborado número musical digno da Broadway, que tal só fazer o que qualquer garota perdidamente apaixonada faria e manter simples?”

Rachel inclinou a cabeça para o lado.

“Como assim?” A morena perguntou confusa e Santana praticamente rosnou.

“Você não precisa se esforçar para arrancar a lua do céu, Rachel, porque para Quinn, você já é a própria lua, entendeu?!”

A morena piscou algumas vezes, coçando a cabeça.

“Eu ainda não entendi como isso me impede de cantar meu amor por ela no topo da mais alta montanha...mas, vou considerar seu conselho, Santana.” Rachel deu de ombros, porém realmente guardou as palavras dela para uma nova análise, logo após uma boa xicara de café mais tarde.

“Faça como quiser, Berry. Só não espere até o garoto entrar na universidade.”

“Eu vou desligar na sua cara.” Rachel retrucou fazendo bico.

“Oh. Não precisa fazer biquinho, Berry.”

Rachel arregalou os olhos para o aparelho em sua mão.

“Isso mesmo, Berry. Eu vejo tudo.”

Rachel encerrou a chamada ao som das gargalhadas de Santana Lopez.

“Ela realmente me assusta as vezes.” Murmurou antes de voltar para cama.

...

09:30 AM - Renoma Café – Paris

A garçonete se aproximou da mesa equilibrando uma bandeja prateada, interrompendo a conversa entre as duas mulheres sentadas na área aberta do Renoma Café.

“Voilá, Madame. Jus d'orange, toast à l'avocat, et un pain au chocolat. Bon appétit!” Ela disse servido o pedido de Elise, se afastando em seguida.

“Tem certeza que não vai pedir nada além de um expresso?” Elise voltou a insistir com Lana, que revirou os olhos castanhos por detrás de seu Gucci.

“Querida, estamos em Paris. A definição de café da manhã aqui é um expresso e um cigarro.”

“Você não fuma, Lana. E Sean provavelmente surtaria se você começasse.”

Lana tomou um gole de seu expresso, pensou um pouco e fez uma careta.

“Arrr. Retiro o que disse. Posso até suportar o discurso do Sean, mas definitivamente não aguentaria o de Henry. Adolescentes são um poço sem fundo de argumentos e teorias Googlianas que só servem para assombrar a consciência dos pais.”

Elise sorriu.

“Ainda interessado em cursar medicina?”

Lana suspirou.

“Obcecado, você quer dizer. É só do que ele fala a respeito. Às vezes me pergunto se sou a única mãe no universo que fica preocupada com o filho de 16 anos, que devora enciclopédias e mais enciclopédias virtuais sobre Anatomia Humana e Biologia Celular e Molecular. Mas, chega de falar dos meus amores. Estou mais interessada em saber sobre essa garota que desestabilizou você.”

Elise quase engasgou com o suco de laranja.

“Ninguém me desestabilizou, Lana. Eu só resolvi mudar de ares por alguns dias antes da estreia. ”

Lana gargalhou, roubando uma das torradas veganas com creme de abacate do prato de Elise.

“Se fosse assim, Boston estaria mais bem perto, e, eu conheço você. Seja o que for que tenha acontecido em Ohio mexeu com seu emocional.” Lana descansou o queixo sobre a palma esquerda mordendo a torrada, e depois de um momento declarou. “Você finalmente percebeu seus sentimentos por sua colega de elenco, não foi?”

Até mesmo Elise Scott sabia qual era a hora de desistir. Além disso, ela conhecia muito bem aquele olhar. Lana não era alguém que fazia perguntas desse tipo baseada em suposições. Sua empresária certamente já havia notado o que estava acontecendo muito antes da própria Elise.

“Ela ama outra pessoa.” Elise disse enfim, tentando ser o mais casual possível, empurrando alguns guardanapos na direção de Lana. “Acho que é uma espécie de carma, huh? Elise Scott, não importa o que aconteça, todas as pessoas que você se interessar irão estar apaixonadas por alguém que não é você.” Ela recitou teatralmente. “Seria um excelente tema para uma comédia musical, não é mesmo?”

No entanto, Lana permanecia séria.

“Eu não estaria tão certa disso, chérie. Talvez ela só esteja confusa.”

“Ah, não. Definitivamente não. Ela realmente ama Finn Hudson.” Elise engoliu seco. “E ele não é má pessoa...ela pode ser feliz ao lado dele.”

Lana continuou observando Elise em silêncio por algum tempo, tanto, que a atriz pensou que sua empresária e amiga havia dado o assunto por encerrado e voltou a cutucar seu brunch com o garfo. Seu apetite tinha ido embora.

“Você não fazia ideiam não é mesmo? Só percebeu durante essa viagem à Lima.” Lana concluiu.

Delicadamente, Elise pousou o garfo sobre a mesa, e desviou o olhar para além da visão da movimentada rua parisiense diante de seus nostálgicos olhos esverdeados. Desconhecidos desfilavam pelas calçadas, seguindo com seus planos para o dia, enfeitando toda avenida George V com a uma extraordinária riqueza rostos e estilos, um verdadeiro mix de diversidade cultural digno da Cidade Luz. Seria tão fácil perder-se em meio à multidão de passos, trejeitos e imagens. Esquecer suas dores, deixando seu pensamento mergulhar naquela simplicidade do ir e vir do tempo.

Um casal acabou chamando sua atenção, e Elise acompanhou a delicadeza com a qual um senhor, já na melhor idade, alcançava a mão da mulher de ondulantes madeixas brancas ao seu lado. Ele olhou para os dois lados, mesmo depois da luz verde aparecer no semáforo para pedestres, então beijou a palma da mão de sua amada, antes deles prosseguirem até o canteiro no meio da avenida. Foi um beijo gentil, doce... e impensado para alguém como ela, que nunca provou o frescor da alegria cândida que um gesto de carinho inesperado pode despertar.

‘Existes aqueles que ficam juntos por toda uma vida’ Elise afastou seus olhos da cena, fixando sua atenção no trânsito mundano dos carros de luxo e dos taxis estacionando diante do Four Seasons Hotel, do outro lado da rua, um pouco além do canteiro de frondosas árvores por onde o casal de idosos havia seguido. A fluidez do fluxo de passageiros entrando e saindo dos veículos, subindo de descendo as escadas do hotel, era quase como mais uma das peças desse letárgico quebra-cabeças orgânico que movimentava o dia a dia em Paris. Aquele ritmo autômato tranquilizava seu coração.

Então, ela avistou uma garota de ondulados cabelos castanhos desembarcando de um dos taxis e fechou os olhos, suspirando.

“Houve uma festa...” Ela começou devagar quase com um sussurro. “Eles devem ter brigado por algum motivo. No final, um amigo a descobriu dormindo em um dos quartos da casa. Nós já estávamos de saída nessa hora, mas quando vi Noah descer as escadas com ela nos braços, algo se partiu no meu peito. Só notei que a tinha tomado em meus braços quando senti seu corpo junto ao meu. Foi então que percebi que não queria larga-la mais.”

Elise pausou antes de deixar-se levar por seus sentimentos, recorrendo aos seus óculos escuros sobre a mesa, os colocando no rosto como se esses fossem algum tipo de item mágico, um ornamento capaz de bloquear toda a confusão que a contorcia por dentro.

“Todos esses pequenos detalhes sobre ela pareceram aflorar de uma vez. Como se estivessem sido gravados e catalogados há meses pela minha mente. Eu lembrei como ela sempre franze o cenho quando está tentando se concentrar; de como ela procura uma mesa debaixo do ar condicionado para evitar o frio; da forma irritante como ela come um sanduíche pelas beiradas até chegar no centro, porque segundo ela, o meio sempre é o mais gostoso.” Elise deixou escapar um meio sorriso. “Ela detesta suco com bagaço, gosta de caminhar pelas manhãs porque ouvir os pássaros cantando a deixa feliz, tem o péssimo hábito de passear pelo apartamento enrolada em uma toalha molhada e sempre tem dois livros lidos pela metade sobre o criado mudo ao lado da cama.” Elise sacudiu a cabeça levemente, ela sorria, mas seu olhar era triste. “Ela sempre usa aquela terrível vozinha de bebê para falar com cachorrinhos ou gatos na rua e parece uma criança quando entra em uma loja de brinquedos, o que é surpreendente quando a gente descobre que ela pratica kung-fu aos domingos pela manhã e acompanha o campeonato profissional de wrestling pela internet.”

Isso fez Lana arregalar os olhos por detrás das lentes escuras e Elise deu de ombros antes de continuar.

“Ela é a pessoa mais atenciosa e amável que já encontrei, e talvez, só talvez, se eu não estivesse tão focada em fazer Rachel notar minha presença, eu teria percebido antes o quanto meu coração na verdade só batia mais forte quando ela olhava para mim.”

Lana cobriu a mão de Elise com a sua.

“Desde o início, os abraços dela eram como um porto seguro. Nunca. Nunca mesmo um abraço me fez sentir tão protegida. O que é ridículo considerando que ela mais parece um pingo de gente...”

“É...parece que as baixinhas fazem o seu tipo.” Lana disse com um tom de voz gentil, entrelaçando seus dedos aos dela. Elise exalou de uma vez, quase se engasgando com uma risada seca. Lana ofereceu-lhe um guardanapo, e a ruiva aceitou, enxugando os olhos discretamente.

“Outra noitada rodando as melhores boates de Paris não vai ajudar, não é mesmo?” Sua empresária questionou e Elise fez um movimento negativo com um gesto breve com a cabeça. “Então, só resta uma opção; que tal você se juntar a nós essa noite? Christophe adoraria vê-la novamente e todos sabemos o quanto ele não poupa esforços para mimar você, huh? Toda a vivacidade da sua personalidade insuportável vai retornar em segundos.”

Com isso, Elise sorriu timidamente.

“Perfeito.” Declarou Lana satisfeita, resgatando seu celular de dentro da bolsa. “Agora deixe-me avisar aos homens da minha vida que precisamos de uma carona.”

10:15 AM – Four Seasons George V – Paris

Michele e Jesse desceram as escadarias do hotel em direção à avenida. Ela e Jesse haviam feito check-in há alguns minutos e, Jesse só permitiu que Michele atirasse sua bagagem dentro dos quarto, antes de arrasta-la para a rua.

“Eu estou faminto.” Declarou. “Preciso recarregar minhas energias com algo delicioso e francês.”

Michele segurou Jesse pelo braço, desviando de uma bicicleta.

“E exatamente aonde vamos encontrar tal délicatesse?” Quis saber a pequena morena.

“Renoma Café.” Jesse apontou para um dos estabelecimentos do outro lado da rua, quase defronte ao hotel. Uma visão bem próxima ao que se espera de um café em Paris, com uma área externa repletas de mesas, circulada por jardineiras e um daqueles toldos externos que trazia o nome do lugar em letras estilosas.

“Renoma Café...” Michele repetiu devagar, atravessando a rua.

Eles seguiram pela calçada até a pequena recepção, onde uma moça recebia outros clientes com um belíssimo sorriso e um inglês carregado com sotaque francês. Enquanto aguardavam pacientemente por sua vez, Michele se distraiu ao avistar uma florista guiando uma bicicleta repleta de flores em duas cestas de vime equilibradas no guidom e na cela traseira. Foi então que vindo do nada um rapaz adolescente esbarrou em seu braço, quase a fazendo girar no lugar.

“Ops! Je-sui-Desolé...Pois é, desculpa!” O garoto gritou por cima do ombro, apressado, já agitando um celular no ar. Michele massageou o braço, fazendo biquinho, observando o guri seguir em disparado pela calçada.

‘Encontrei!’ ele gritou indo na direção de uma BMW preta estacionada junto aos carros aglomerados em fileira acompanhando o meio fio. Um homem alto de porte atlético surgiu pela porta do lado do motorista sinalizando para que o garoto entrasse logo no carro. ‘Henry, vamos logo! Não temos autorização para ficar parados durante muito tempo.’

Bonsour. Bienvenue à Renoma.” A recepcionista enfim disse, se dirigindo a eles, chamando a atenção de Michele, que acabou perdendo a chance de ver o jovem Henry escancarar a porta da BMW, se atirando para dentro, e quase sentando no colo da ruiva, que seguia distraída com seus pensamentos confortavelmente acomodada no banco atrás do passageiro.

“Eu simplesmente adoro a toast à l'avocat daqui!” Comentou Jesse absorvido pela oportunidade de desfrutar algo delicioso depois de mais de dez horas de jejum.

“Creme de abacate?” Questionou a pequena morena subitamente interessada, seguindo Jesse e a recepcionista até pela área aberta do café.

...

10:00 AM - NYC

Charlie alternava o tempo entre caminhar, engatinhar e ‘praticar’ pequenas corridas pela sala de estar, acompanhando Quinn ou Rachel, enquanto as duas se desdobravam entre tornar a casa segura para uma criança, e desvendar o manual do berço providenciado por Rachel na noite anterior.

“Isso não faz sentido.” Disse a morena sacudindo o livreto repleto de instruções em praticamente todos os idiomas conhecidos. “Você consegue ver alguma marcação nessas peças?” Ela continuou, se referindo as peças distribuídas na sua frente.

“Rach, não seria melhor levar isso tudo para nosso quarto antes de começar a montar?” Quinn sugeriu, vindo da cozinha carregando um prato com papinha de maçã. Charlie vinha logo atrás dela.

A morena inclinou a cabeça para o lado, analisando a situação.

“Acho que você tem razão.” Ela respondeu enfim, juntando as peças para coloca-las na caixa e levar tudo para o quarto.

“É lógico que tenho.” Quinn emendou, erguendo uma sobrancelha. “Essa é uma regra primordial, meu amor.”

Bem humorada, Rachel simplesmente respondeu; ‘Sim querida.’ , continuando a encaixotar os pedaços do berço e lançando a Quinn um sorriso maroto. A loira revirou os olhos, preparando uma colherada de papinha para Charlie, que havia se distraído com um chocalho de borracha que Luc trouxe junto com as compras, horas mais cedo.

A manhã transcorrera tranquilamente. Quinn seguiu as orientações de seu assessor de impressa e desligou o celular. Caso houvesse alguma necessidade, Nigel e sua equipe entrariam contato com Luc, e se surgisse alguma real emergência, ligariam para Rachel.

Então, elas seguiam com o dia, tentando ajustar a rotina da casa as necessidades de Charlie.

“Rach, você falou com Yumiko?” Quinn sondou, oferecendo mais uma colher de papa ao pequeno de olhos deslumbrados e boca aberta diante dela. Charlie claramente havia gostado do lanchinho, a ponto de ter largado o chocalho de lado e prostrar-se na frente da loira, se equilibrando na ponta dos pés, com as mãozinhas apoiadas nos joelhos de Quinn. “Alguma novidade, sobre o caso do Charlie?”

Não se podia dizer que Rachel não esperava por isso. Logo após acordar, ela ligou para a assistente social para preveni-la sobre as notícias que provavelmente envolveriam o nome de Quinn, por causa da prisão de seu pai. Ela esclareceu a situação, lembrando Yumiko que Quinn não tinha um relacionamento próximo a sua família, algo que já era de conhecimento do grande público, mas que na atual situação delas, poderia prejudicar a condição de guardiãs temporárias de Charlie.

Yumiko foi taxativa. Havia um risco. Mas, ela garantiu que iria intervir junto ao juiz que emitiu a autorização anteriormente. Em relação ao caso, Yumiko não ofereceu muitos detalhes, porém, informou que o pai biológico do garoto e sua família haviam assinado um termo que autorizava a adoção da criança, e considerando o processo por abandono e negligência, movido pelo Estado contra os avós maternos, Charlie estava oficialmente sob a guarda do Estado de New York, e consequentemente, liberado para adoção.

Ela não havia dito isso a Quinn. Não ainda.

“O pai biológico assinou ontem à noite um termo abrindo mão de todos os direitos sobre ele.” Rachel respondeu casualmente, atenta a reação de Quinn.

A mão da loira congelou no ar por alguns segundos, antes de atender aos pequenos pulinhos de Charlie, exigindo mais papa de maçã.

“Entendo.” Ela comentou, limpando a garganta. “Isso é bom, não é mesmo? Ele merece uma família que o ame...”

Rachel percebeu o esforço de Quinn para não deixar seu nervosismo aparente, mas o leve tremor em sua voz não passou desapercebido, nem o jeito que seus olhos marejaram.Rachel não precisava de nada mais, aquilo já disse a morena tudo aquilo o que ela precisava saber.

Se levantando do chão, Rachel caminhou até o sofá onde Quinn e Charlie estavam e se ajoelhou diante deles.

“Eu pensei que ele já havia encontrado uma família...” Ela murmurou e tomou o pratinho das mãos de Quinn, no exato momento que as mãos dela caíram em seu colo. Rachel deixou o prato ao lado dela, segurando suas mãos quando sua amada começou a chorar, e no minuto seguinte, Quinn se atirou no colo de Rachel, que a recebeu de braços abertos.

“Eu pensei...pensei que você não queria...mas eu queria, Rach. Eu quero.. quero tanto. Deus me perdoe, mas eu o quis desde o primeiro momento que o segurei.”

“Amor...Vida...não chore.” Ela tentava confortar a mulher em seus braços. “Foi Deus que o colocou no nosso caminho, Quinn...disso eu tenho certeza. E eu também quis. Só tive medo de não poder tê-lo.”

Quinn se afastou um pouco para olha-la nos olhos.

“Verdade? Você não está se forçando a aceitar isso por minha causa? Porque uma criança muda tudo, Rachel... Um filho...Você sabe o quanto isso significa para mim...”

“Oh Quinn...minha Quinn...” Rachel enxugou as lágrimas dela, sem se preocupar com as que escorriam em seu rosto. “Esse pequeno me ganhou no instante que se agarrou em você. Além disso, ter uma família ao seu lado, é tudo aquilo que eu sempre quis.” E depois de uma pausa, acrescentou timidamente. “Eu me adiantei e pedi a Yumiko para providenciar o pedido de adoção. Tony está cuidando de toda papelada...é só você dizer sim.”

“Sim!” Quinn a beijou. “Sim!” Outro beijo. “Sim...” E ela retribuiu o gesto, enxugando delicadamente as lágrimas do rosto de Rachel. “Nós vamos mesmo fazer isso, não é? Nos tornar mamães?” Ela tinha um sorriso lindo no rosto, e seus olhos brilhavam tanto em meio as lágrimas de alegria. Rachel queria guardar na memória aquele brilho por toda a eternidade.

“Minha paranoia vai chegar a níveis extremos.” A morena admitiu suspirando, e no mesmo instante acariciou docemente a face de sua amada. Quinn se jogou mais uma vez sobre ela, a abraçando com força, movida pela mais absoluta felicidade.

Foi então que as duas candidatas a futuras mamães ouviram uma vozinha melodiosa balbuciando algo incompreensível ao lado delas.

Charlie havia se apropriado do prato com papinha de maçã, e agora estava literalmente coberto dela. Mas, não era só isso, aparentemente ele também havia aproveitado a distração de Rachel e Quinn para exercitar sua criatividade espalhando boa parte da papa pelo sofá, pelo chão e agora ria satisfeito esfregando as mãos sujas da dita papa na cara de Rachel, que até o momento só encarava o garoto de olhos arregalados.

“Você fez isso tudo nesse curto espacinho de tempo?” Rachel questionou o pequeninho, totalmente abobalhada ainda absorvendo a bagunça ao seu redor.

Extasiado em ter conseguido recuperar a atenção das duas como resultado da sua travessura, Charlie soltou um gritinho brincalhão, sinalizando que a diversão só havia começado e disparou para o outro lado da sala em uma corrida um tanto destrambelhada, muito provavelmente com a intensão continuar brincando de esfregar papa de maçã no resto do mobiliário.

“Ei! Charlie! Volta aqui!” Rachel quase tropeçou indo atrás dele.

Quinn tapou a boca escondendo o sorriso quando Rachel ergueu o menino nos braços, fingindo que o repreendia. Charlie, obviamente, não estava levando nada a sério e continuava rindo alto, murmurando vários ‘bus’, ‘bás’ e ‘das’ passando as mãozinhas no rosto de Rachel, espalhando ainda mais a bendita papa na cara da morena.

“Parece que vocês dois vão precisar de um banho.” Quinn não aguentou e começou a rir, se divertindo em assistir os primeiros minutos de cumplicidade da sua nova família.

Rachel parou de simular estar repreendendo Charlie, ajeitando o garoto no colo e em tom conspiratório disse:

“Tá vendo, Charlie? Mama-Quinn acha que pode escapar da vingança da papa de maçã.”

Quinn congelou no lugar ao ouvir Rachel chama-la de ‘Mama-Quinn’ e acabou se tornando um alvo fácil dos dois, acabando subjugada no sofá, reduzida as gargalhadas em um ataque de cocegas promovido por Rachel, enquanto as mãozinhas astutas do pequeno Charlie espalhavam papa de maçã em seu rosto.

Momentos depois, quando Tony entrou no apartamento seguido de Yumiko, Rachel e Quinn estavam deitadas lado a lado no chão, com um Charlie sorridente pulando sobre elas, ainda distribuindo beijos e abraços sabor maçã.

...

10:45 PM – Paris

Eles haviam tomado um delicioso e bem merecido brunch, e já deixavam o Renoma quando Michele girou nos calcanhares para anunciando o começo da sua operação de busca à Elise. Jesse suspirou profundamente e a agarrou pela gola do casaco a impedindo de dar um passo adiante.

“Por algum acaso você está planejando alugar um carro de som e sair gritando por Elise pelas ruas de Paris?” Ele ironizou. Michele se preparava para contestar quando ele a interrompeu. “Você disse que precisava da minha ajuda e é isso que farei, Bergman. Por isso, faça o que digo: vá para o hotel, tome um banho, esqueça o jet lag e tire um cochilo, preciso desse seu rostinho impecável para mais tarde. Nós encontramos as 15hrs no saguão do hotel.”

Michele encarava Jesse boquiaberta.

“Dormir? Jesse! Eu estou em Paris. Pela primeira vez, diga-se de passagem, e supostamente esse deveria ser o lugar mais romântico da face da terra, mas eu nem ao menos consigo pensar nisso porque estou absolutamente furiosa em estar aqui unicamente para fazer Elise Scott deixar de drama, e arrasta-la de volta para New York o quanto antes. Desse jeito tudo vai voltar ao normal e vamos estar no nosso melhor para a estreia do musical! Você realmente quer que eu durma?”

Jesse inclinou a cabeça para o lado, casualmente colocando as mãos nos bolsos da calça.

“Você veio até aqui somente pelo bem do musical?”

“Lógico!” Ela respondeu de imediato. “Por acaso você acha saudável que uma das protagonistas resolva peruar em um milhão de boates fora do país, há três semanas da estreia?!”

Jesse sacudiu a cabeça devagar, completamente incrédulo.

“Okay.” Ele deu de ombros. “Seguimos com o planejado. Até mais tarde, Michele querida.” E ele seguiu pela calçada em direção ao Four Seasons.

Michele quicou no lugar, antes de correr atrás dele.

“O que você quis dizer com isso? Eu não vou ficar...”

“Ela está no Shangri-la.” Ele disse por cima do ombro. “Ostentando o drama, em uma das suítes com terraço, enrolada naqueles roupões de seda branca esvoaçante, apoiada na bancada impersonando a própria depressão, taça de vinho na mão, olhar perdido e a imagem da Torre Eiffel ao fundo.”

Michele puxou o braço dele, fazendo Jesse voltar-se para ela.

“Explique-se.”

“Não há o que explicar. Elise é tão previsível quanto dramática. Quando está em Paris, ela somente se hospeda no Shangri-la. Se você quer encontra-la para pregar seu sermão e eventualmente arrasta-la para o aeroporto, sua melhor chance é tentar o restaurante do hotel, o La Bauhinia. O chef Christophe, é um grande admirador e também um bom amigo dela. Tanto, que sempre que está em Paris, Elise acaba fazendo uma apresentação especial no restaurante durante o jantar. ”

Michele engoliu seco, desviando o olhar.

“Por isso, minha adorada Michele, descanse essa cabecinha, você não vai querer estar com olheiras mais tarde, não é?”

Ele deu as costas, caminhando novamente em direção ao hotel. Depois de alguns segundos Michele o seguiu.

...

17:45 PM – Shangri-la Hotel - Paris

Elise estava apoiada junto a bancada do terraço de sua suíte no Shangri-la, com o olhar perdido no horizonte. Ao longe a majestosa visão da Torre Eiffel certamente seria capaz de seduzir a maioria das pessoas, porém, o humor da ruiva não havia melhorado muito desde sua conversa com Lana.

Talvez ter vindo à Paris não tivesse sido uma boa ideia, afinal. A cidade respirava romance, e seu coração partido só conseguia enxergar o acinzentado em meio ao brilho da cidade luz. Toda a enxurrada de casais circulando pelas ruas em clima de lua de mel realmente só contribuía para sua vontade de se afundar em uma tina de vinho e nunca mais emergir.

Sobre a mesa, seu celular começou a tocar novamente com uma chamada de um número desconhecido. Okay. Ela já tinha ignorado esse mesmo número em todas as VINTE chamadas anteriores, e certamente continuaria ignorando se não já tivesse tomado quatro taças de vinho e sua paciência não tivesse encurtado nos últimos segundos.

“Quem diabos é...” Elise rosnou atendendo a chamada.

“Você andou bebendo, Scott?” gritou a pessoa do outro lado da linha.

Quinn Fabray?

“Quinn Fabray?” Elise tirou o celular do ouvido para olhar para a tela como se esperasse que a loira irritante pulasse para fora do aparelho.

“A única. Sentindo minha falta, ruiva sem sal?”

É sério isso?

“Demônia. Nem estando do outro lado do Atlântico você larga do meu pé! O que você quer?” Elise sentiu a cabeça esquentar queimando todos os resquícios do torpor do álcool. Será que nem mesmo afogar as magoas ela podia?

“Hummm. Nada importante.” Disse Quinn cantarolou casualmente. “Só estou vendo um documentário sobre hienas selvagens e lembrei de você.”

Elise arregalou os olhos. Ah, ela queria poder atirar o celular pela sacada e ele ser capaz de acertar a loira bem no meio da cara lá em New York.

“Deixa eu atualizar meu Twitter com uma foto sua gargalhando que você vai ver a hiena.” Elise grunhiu.

Oh. Então você guarda mesmo fotos minhas no seu celular? Sua Stalker! Rachel bem que me alertou sobre seu possível crush na minha pessoa.” Quinn continuou docemente e a paisagem diante de Elise se tingiu de vermelho.

“Quando eu voltar para New York vou te mostrar a Stalker, sua loira maldita! Vou te esgoelar com uma tira de bacon, Fabray!”

“Ótimo. Quero ver você tentar, Scott. E a propósito, pare de enojar as pessoas com atualizações tão irritantes. Toda essa depressão não faz o tipo da ruiva ridícula que conheço e detesto.”

E antes que Elise pudesse abrir a boca, Quinn desligou.

‘...Je veux te regarder danser et sourire... #Paris’

Foi sua última postagem.

O trecho da música acompanhava uma foto dela no banco detrás do carro de Lana, olhando pela janela, com a Torre Eiffel ao fundo. Henry havia tirado, antes deles a deixarem no hotel esta tarde. Seu rosto estava de perfil, com o olhar distante, a mão apoiando o queixo, a iluminação balanceava bem o contraste de luz dentro e fora do carro. Na verdade, a composição misturava uma todo o glamour da melancolia poética, sem perder o status de foto de cotidiano.

Henry tinha talento. Se seus planos para prestar medicina falhassem, Elise sugeriria uma carreira como fotografo para o garoto.

De qualquer forma, após a segunda taça de vinho, Elise resolveu subir a foto com a legenda. A hashtag marcando a cidade servia mais como um disfarce para o significado das palavras.

Aparentemente Quinn Fabray havia entendido a ‘mensagem por detrás da mensagem’. Ela só esperava que nenhum dos seus fãs fosse tão versado em Edith Piaf quanto Quinn, para reconhecer a referência a ‘Ne Me Quitte Pas’...

Seria problemático se as pessoas parassem para analisar isso.

Elise suspirou pesadamente. Agora não adiantava deletar a postagem. O jeito era tentar desviar a atenção de seus seguidores para algo diferente. Elise sentiu a cabeça pesar, ela realmente não estava se sentindo bem o bastante para adicionar mais nada em suas redes sociais agora...

Foi então que ela viu um dos comentários de destaque da postagem.

Quinn Fabray : ‘Eu vou sorrir bastante se você trouxer uma caixa de macarons sortidos :*

O comentário já contava 50k likes (e subindo) com outras tantas mil respostas e menções de fãs enlouquecidos. Ninguém parecia estar preocupado em desvendar o porquê de sua aparente melancolia. Principalmente porque Quinn havia intencionalmente promovido o caos em seu perfil, ao responder alguns dos fãs com emoticons sorridentes, retribuindo algumas declarações de amor e curtindo comentários de fãs com perfis Quinnlise e Elinn.

“Quem é a stalker agora, sua loira enxerida...” Murmurou Elise sorrindo.

Elise Scott: ‘Se comporte ou só vai ganhar um chaveirinho da Torre Eiffel, sua ousada! ;)Ela respondeu, curtindo o comentário de Quinn.

...

12: 58 – NYC

Quinn revirou os olhos e desligou o celular.

“Mais tranquila agora?” Rachel perguntou com um sorrisinho sem vergonha, tentando segurar um Charlie risonho e de bumbum de fora, que insistia em continuar escapando do alcance de Rachel engatinhando pelo colchão até a cabeceira da cama, dificultando bastante a missão da morena de colocar a nova fralda no garoto.

“Não faço ideia do que você está falando.” Quinn se fez de desentendida, e ao notar a expressão incrédula de Rachel, pegou uma das fraldas descartáveis de Charlie e atirou na cara da morena.

...

18:00 PM – Paris

Michele respirou fundo, antes de ser literalmente atirada dentro de outro provador de outra loja de grife parisiense. Enquanto isso, Jesse desfilava pelo corredor, celular em mãos, perdido em inúmeras ligações e mensagens, tentando organizar sua agenda profissional a distância. Por um breve momento a jovem atriz sentiu-se mal por tê-lo feito desmarcar seus compromissos tão repentinamente, atrasando ensaios marcados com outros membros do elenco e equipe técnica. Mas, todo seu arrependimento evaporou diante do seu atual tormento fashionista.

O vendedor começou a tagarelar em francês, gesticulando amplamente no momento quando ela finalmente puxou a cortina da cabine, já exausta com tantas trocas de roupa. Ele parecia feliz...finalmente.

Compras em Paris sempre pareceu mais divertido em sua imaginação. Talvez o simples fato de seu conhecimento na língua francesa se resumir aos nomes de suas sobremesas preferidas, estivesse desvalorizando a experiência.

De acordo com Jesse, Michele precisava de um vestido de noite, e podia ser não qualquer vestido. Daí a razão deles estarem literalmente varrendo todas as boutiques francesas desde o meio da tarde.

“Ah, esse é perfeito.” Jesse se aproximou, agradecendo ao vendedor. Michele voltou a olhar seu reflexo no espelho logo atrás dela.

De fato, era um belíssimo vestido. O decote era modesto e sem mangas, mas em compensação o corte do modelo acentuava a curva de sua cintura e valorizava bastante suas pernas, com a saia estilizada com maior comprimento atrás e bem mais curta na frente, toda trabalhada com o tecido feito em camadas com tamanhos diferentes, criando um efeito lindíssimo, ondulando o caimento das bordas da saia. Além disso, toda a peça era sobreposta em renda preta sobre a seda que compunha a base. Com um salto, seu cabelo solto, caindo sobre os ombros e a maquiagem certa...

...Bem, ela certamente não passaria desapercebida.

“Michele dá para melhorar essa cara? Parece que estou te vestindo para a forca!” Jesse cutucou as costelas da pequena morena, que apesar de ter adorado o vestido, ainda parecia está sendo forçada a engolir arame farpado.

“Só estou preocupada.” Ela mordeu o lábio. “Você está muito certo que ela estará lá...mas não há exatamente uma garantia disso.”

Jesse deu de ombros.

“Existe uma grande probabilidade. A única certeza que tenho é: Elise pode ter desembarcado sozinha em Paris, mas ela não está sozinha em Paris...”

Michele travou o queixo.

“O que você quer dizer com isso?” Resmungou a pequena cruzando os braços.

“Calma, Bergman.” Jesse se apressou em corrigir-se. “Lana está aqui.”

“E?”

Jesse revirou os olhos.

“Por favor, me diga que você não está sendo tão densa de propósito.” E vendo a garota fechar a cara, Jesse desistiu. “Okay. Lana seria a rota de fuga mais provável de Elise. Ela certamente iria procura-la. Quer dizer, as duas são amigas, além de tudo. Então, como Lana vai tentar reestabelecer a confiança de nossa diva da Broadway, ela vai leva-la ao melhor lugar em Paris para Elise se recuperar com paparicos e aplausos.”

Michele ergueu a sobrancelha.

“Então...Lana planeja inflar o ego dela em uma apresentação no La Bauhinia? É isso?”

Jesse coçou a nuca, desviando o olhar.

“...E provavelmente tentar reaproximar Elise de Jocelyn...”

“Quem?” Michele perguntou imediatamente, sentindo a cabeça esquentar.

“Jocelyn é a filha mais velha de Christophe... a filha que é completamente apaixonada por Elise.”

‘Ok. Essa vontade repentina de esmurrar Jesse a pegou totalmente desprevenida’, pensou Michele literalmente cerrando os dentes em um sorriso assustador. “Jocelyn, huh?” a jovem atriz repetiu o nome devagar.

“E por acaso, Elise tem algum interesse nessa Jocelyn?”

Jesse engoliu seco.

“Eu-não-sei. Mas, Jocelyn vem tentando chamar atenção dela há alguns anos, e pelo que sei, estava bem perto de conseguir antes de Elise retornar aos Estados Unidos.”

“Entendo.” Michele respondeu secamente, dando as costas para ele. “Vamos pagar logo isso. Não quero me atrasar.”

19:45 - La Bauhinia - Paris

O chef Christophe se aproximou dos recém-chegados, abrindo os braços com um sorriso radiante.

“Elise.” Já cumprimentou o chef com um inglês carregado com sotaque francês, puxando a ruiva para um abraço apertado. “Minha adorada Elise! Hoje à noite não podia ser mais especial.”

“Christophe. Também fico feliz em vê-lo tão bem.” Elise retribuiu o abraço.

Ele a afastou um pouco para vê-la melhor. O sorriso ficando cada vez maior.

“Ah, e a belíssima Lana com toda a família!” Ele se dirigiu a Lana, sem tirar um dos braços de sobre os ombros da ruiva, energicamente tomando a mão da empresaria e beijando-lhe a palma.

“Hey, Chris. Se você não devolver logo a mão da minha esposa, vamos ter problemas!” Sean, o marido de Lana, se aproximou do Chef fingindo reclamar.

O Chef riu alto, antes de envolver Sean e Henry em outro abraço de urso.

“Você ainda me deve por ter ensinado como conquista-la! Americanos não sabem nada de romance!” Ele disse em bom tom, cutucando Sean e piscando para Henry. “Quando você precisar, Henry, venha pedir conselhos ao bom e velho Christophe. Seu pai não sabe de nada.”

Henry sorriu, mas suas bochechas ficaram vermelhas.

“É...eu meio que já percebi isso.”

Lana arregalou os olhos para o filho horrorizada. Elise cobriu o sorriso com uma das mãos.

Henry Andrew Mills!”

Depois de outra risada retumbante, o chef apertou Henry pelos ombros.

Papa, pare de criar confusão. Estão precisando do Chef na cozinha.” Uma voz feminina adocicada interrompeu o as intenções de Lana de abrir um inquérito contra seu filho no meio do lobby de entrada do restaurante.

Elise reconheceu a voz e voltou-se para receber a mulher de postura elegante e feições suaves, com olhos tão azuis quanto o mais belo céu de um dia ensolarado, longos cabelos pretos, naturalmente lisos, hoje, meio presos em uma trança com o resto caindo sobre os ombros, e lábios carnudos, como sempre, exaltados pelo vermelho do seu batom.

“Jocelyn.” Elise a cumprimentou.

Te voilà enfin, Ma Elise, Tu m'as manqué.”