Minha

Esperando por uma boa explicação.


"E eu te encontrei? Foi isso o que ela disse?"

"Eu já disse que foi, Lopez...Quantas vezes você pretende me fazer repetir isso?"

Santana bufou e deu mais uma dentada em seu cheeseburger.

Já havia se passado uma semana desde o GLAAD e desde então, Quinn não teve nenhum outro contato com Rachel. Ela não queria aceitar, mas isso estava realmente mexendo com ela. Tanto, que nos últimos dias a loira estava com o humor a flor da pele.

'Entenda como um eufemismo para extremamente mal humorada e verdadeiramente frustrada.'

Quinn mordeu o lábio inferior.

'Eu te encontrei' Bastava lembrar daquele instante, da voz da morena ressoando suave junto ao ouvido e Quinn sentia uma onda quente se espalhar por seu corpo fazendo seu coração bater mais forte.

"Arrrrrrr...porquê?"

Depois de envolve-la daquele jeito Rachel sumiu. Nenhum sinal. Nenhuma tentativa de contato. Nada. A socialite simplesmente largou Quinn de lado totalmente confusa, e cada vez mais irritada.

"Como eu pude me deixar levar assim? Como? Eu nunca senti isso antes. Muito menos por uma mulher...não que eu tenha problemas com isso, mas como eu pude? Como eu posso estar tão desapontada? Foi um leilão, Quinn...só isso..."

Provavelmente devido o alvoroço do público e da mídia, George e Luc, resolveram intervir e separaram as duas bruscamente. O apresentador se apressou em chamar ao palco Katy Perry, anunciando o início do pocket show da cantora, ao mesmo tempo que Quinn estava sendo escoltada para o backstage por Luc, e mais cinco seguranças, em meio a um cordão de isolamento humano para impedir que os fotógrafos e repórteres se aproximassem dela. A atriz não teve chance alguma para, ao menos, se despedir de Rachel.

E as coisas só pioram.

Dali em diante pareceu que o mundo conspirava para afasta-las. Por mais que Quinn buscasse uma saída, entre as ligações de seu empresário (diga-se de passagem; surtando no celular), a mídia e todos os fãs ensandecidos que ocupavam o recinto, não houve uma só brecha para a atriz procurar pela socialite. E Rachel...Bem, Rachel não procurou por ela...

"Hmm... ai..." Quinn fechou a mão contra o peito, se curvando levemente.

"O que foi?" Perguntou Santana.

"Nada..." Ela mentiu. Não havia motivos para compartilhar com sua amiga que Quinn agora sentia pontadas no coração todas as vezes que pensava em como havia sido 'abandonada' por Rachel.

'Esse complexo de abandono faz sentido?'

'Não.'

'Se você falar a respeito, Santana ficaria furiosa?'

'Sim.'

'Vale a pena ser o alvo da raiva e do sermão dela?'

'Nops.'

'Então, esconderemos isso pela eternidade?'

'Yeap.'

'Fechado.'

Santana arqueou a sobrancelha, observando atentamente Quinn soprar discretamente o chá antes de arriscar um gole.

"Sei..." Ela disse casualmente, fingindo acreditar na obvia mentira e voltou a devorar seu cheeseburger.

Quinn estava de novo a beira das lágrimas e aproveitando da momentânea distração de Santana passou as costas do indicador pelo canto dos olhos.

"Você é uma estúpida dramática, Quinn...deixar seu coração ficar palpitando desse jeito por uma pessoa que brincou com seus sentimentos..."

Santana continuou a fingir não perceber as ações dela.

Já fazia uma semana que ela fingia.

Fingia não ver o quanto Quinn agia como uma garotinha nervosa, aguardando a ligação da pessoa que gosta.

Fingia não notar como sua amiga checava o celular de cinco em cinco minutos. Algo que só demostrava o quanto ela estava ansiosa, já que Quinn nunca foi muito apegada ao celular quanto era aos livros.

Fingia não saber que o motivo pelo qual o aparelho tornou-se uma extensão das mãos de Quinn. E a deixava furiosa saber que sua amiga tentava esconder a todo custo o quanto estava esperando por ela...por Rachel. E exatamente por ter consciência disso, Santana continuava a se esforçar para continuar fingindo. Principalmente agora enquanto Quinn enxugava discretamente os olhos, tentando impedir as lágrimas de caírem, porque a cada minuto ficava mais óbvio que a ligação, que ela tanto esperava, não viria.

"Se esse sapa-anão-Berry continuar a mutilar o coração de minha Q, ela vai ter que gastar outro milhão em plásticas porque eu vou definitivamente encontrar esse Troll... e daí.. ha-ha...daí tia Snixx vai mostrar como All LimaHeights style funciona."

"Q...se você quiser..." Santana arriscou, em um tom de voz menos brusco.

Nesse momento, uma loira, alta e de belos olhos azuis, com um gato obeso nos braços, desabou numa cadeira ao lado da garota de traços latinos, roubando a atenção da mesma.

"Britt Britt, finalmente!"

Britanny deu um selinho em Santana.

"Desculpe San, foi culpa do Sr El Mariachi..." Disse Britt se inclinando na direção de Santana cochichando "Acho que ele voltou a usar anti-depressivos... Quase não consegui acorda-lo..."

Quinn revirou os olhos, obviamente tendo escutado tudo.

Santana, Britanny e Quinn estudavam juntas em Ohio, na pequena cidade de Lima. As três podiam ter seguido caminhos diferentes, mas suas vidas pareciam estar enroscadas uma nas outras, e o trio, acabou junto em LA.

Britanny era coreografa e dançarina profissional, vivia em studios ou viajando em turnês com artistas famosos e consagrados. Ela era uma das melhores e mais respeitadas profissionais do ramo. Santana, sua namorada desde os tempos da escola, poderia ter optado por qualquer faculdade no país para concluir seu curso de direito, mas acompanhou sua Britt-Britt para UCLA. E apesar da história de Quinn ser um pouco mais difícil, ela acabou chegando a LA e assinando um contrato que a levou ao estrelato da noite para o dia. Santana geralmente se referia ao ocorrido como: " O puto-dia da mais puta-sorte do puto-mundo".

"O que eu perdi? Do que vocês falavam?" Britanny perguntou, oferecendo uma batata frita do prato de Santana ao gato em seu colo. Ela havia insistido em marcar o encontro delas na burgueria, pois segundo ela, o bichano estava com desejo de fritas e milk shake de morango.

"Nada de novo. Só como Quinn vomita o arco-íris todas as vezes que juntamos: pequena, morena e beijo na mesma sentença..."

Quinn fechou a cara.

Bem ou mal, Santana estava tendo seus dias de pleno regozijo. A mídia não deu espaço para a Quinn Fabray respirar. Todos os meios de comunicação deram destaque ao acontecimento. Durante toda a semana sugiram novas teorias. Algumas realmente fizeram a latina rir. Muito. Apesar da vontade de esbofetear Rachel Berry crescesse cada vez mais, quando ela via a tristeza nos olhos de Quinn.

Bem, entre várias teorias existiam três que eram as mais populares:

"1- Rachel e Quinn já namoravam, e que essa foi a maneira que elas escolheram para a atriz sair do closet com estilo...um milhão de dólares em estilo."

"2- Que a coisa toda não passava de uma estratégia de marketing político, para pressionar o governo a aprovar o casamento gay e que o lance de um milhão, na verdade havia sido o cachê de Quinn..."

Santana achou essa a mais ridícula de todas as teorias, mas Britanny achou engraçada.

"Será que ninguém notou? É obvio que Quinn beijaria Rachel de graça..." a dançarina havia comentado. E, de acordo com uma pesquisa de opinião 'Sim, fizeram várias pesquisas de opnião', essa teoria apesar de ser uma das mais divulgadas, era a menos querida pelo público.

E a terceira teoria...

A preferida da advogada - 'e de Quinn, para falar a verdade' - era um pouco semelhante a primeira, mas tinha uma cereja no topo...principalmente porque era a teoria mais popular.

"Rachel Berry, que sempre fora homossexual assumida, havia sido a responsável pelo fim do falso relacionamento de Quinn Fabray com Alex Brandon" Sim, porque o público passou a acreditar que o relacionamento de Quinn com Alex, não passava de uma fachada para esconder a homossexualidade da atriz desde o princípio. Mas a cereja da teoria era que Alex aceitou o relacionamento por também ser gay e pela garantia de ter uma projeção na carreira.

Santana não podia negar que ela confirmaria esse boato se tivesse oportunidade.

"Eu achei extremamente romântico o que ela disse a Q..." Britt comentou displicentemente retomando o assunto. "Aquilo de 'eu te encontrei' é romântico."

Santana quase engasgou na pressa de falar.

"Britt-Britt, isso foi há uma semana! Como você acha que nossa nova Miss do The L Word está se sentindo? Ninguém "encontra ninguém" e depois larga de mão..."

Quinn desviou o olhar. Os guardanapos de papel tornaram-se algo bastante interessante de repente e Santana suspirou, indicando com a cabeça a reação de Quinn para Britanny, mas a dançarina não se deixou abalar.

"Talvez porque...dessa vez, seja a vez da Q encontrá-la..."

Quinn suspirou. Santana sorriu ao ver a inocência do olhar de sua namorada e deu um selinho em Britanny.

A atriz remexeu a salada em seu prato. Ela realmente havia perdido o apetite e Rachel não saia de sua mente. Ela ainda não entendia o que havia acontecido e nem o porquê a conexão entre elas foi tão imediata, intensa e incontrolável.

Quinn tinha varado noites pensando nisso. No início ela repetia para si mesma que só havia ficado nervosa por causa do lance de valor surreal. Isso até a convenceu durante alguns nano segundos, até ela lembrar da força que parecia atrair seu corpo para o da morena e da sensação que tomou conta dela no momento em que seus lábios se tocaram. A necessidade de mais... de mais proximidade, mais beijos, mais pele, mais Rachel. Era loucura, mas parecia que Quinn havia finalmente encontrado um pedaço seu.

'Isso é ridículo.'

'Não exatamente.'

'Ah, tá. Vai dizer o quê? Que Rachel Berry é sua alma-gêmea? '

'Você costumava acreditar nisso!'

'Essa fase passou, amada. Pegou o expresso 'me arrependo' junto com aquelas caixas de brownies que você guardava debaixo da cama?'

'Hey! A ideia foi sua!'

'Você tem provas?'

Quinn apoiou a cabeça entre as mãos. Ela estava perdendo o juízo. Definitivamente.

"As lentes estão maiores... e agora são tantos...como vamos pagar café para tantos, San?" Britanny se referia aos paparazzi do lado de fora da burgueria. E ela tinha razão, a quantidade tinha aumentado consideravelmente.

Quinn já era famosa o suficiente para ter um bom grupo de fotógrafos lhe perseguindo, mas depois do GLAAD, parecia que a atriz havia se tornado alvo de uma legião de foto-perturbados aonde quer que fosse.

"Talvez eles pensem que ela vai aparecer...e que eu vá me jogar nos braços dela assim que a vir." Quinn murmurou, decidindo terminar pelo menos seu chá.

"Q?" Santana chamou, percebendo a magoa da amiga.

"Oi..." Quinn respondeu sem tirar os olhos do liquido dentro da xicara que ela segurava com as duas mãos. A salada jazia intocada no prato diante dela.

Britanny cobriu a mão de Santana com a sua e sorriu.

"Quinn, talvez isso tudo assuste um pouco..." a dançarina gesticulou indicando os paparazzi do lado de fora do estabelecimento.

"Rachel é conhecida hoje em dia por ser uma pessoa reclusa. Não sei se você sabe muito a respeito dela, mas contam muitas histórias e uma delas é de que depois do acidente...bem, ela já não gosta muito de ter sua cara em revistas e sites de fofoca...acho que ela precisa de um tempo para assimilar de novo tudo isso..."

"Acidente? Que acidente?" Quinn perguntou confusa. Só recentemente ela soube quem era Rachel, mas ainda haviam muitos detalhes da vida da morena que eram desconhecidos.

O pouco que ela sabia era que a morena era filha de dois dos homens mais ricos dos EUA; que teve um passado bem badalado, mas que atualmente não era muito de aparecer socialmente. Tendo se dedicado nos últimos anos a várias atividades filantrópicas. Quinn não procurou aprofundar muito sua 'pesquisa'...ela não se sentiu à vontade fuçando sobre a vida dela."

Britanny coçou a cabeça e continuou.

"Ela sofreu um acidente de carro aqui em LA há alguns anos...o melhor amigo dela morreu nesse acidente. Rachel estava ao volante...e... ela mesmo sobreviveu sabe se lá como..."

"Dizem que a retiraram quase morta das ferragens do carro...ela teve 3 paradas cardíacas...e numa delas só conseguiram traze-la de volta com quase dez minutos..." Intercedeu, Santana. "É um milagre que ela tenha um cérebro...Arrr..." Ela fez uma pausa ao ver a expressão mortificada de Quinn. "É...não é algo bom para se pensar, nê?"

Quinn sentia seu coração apertar. Só só imaginar...

"E-eu... p-podemos não falar sobre isso..." Ela tentou conter o tremor em suas mãos.

Britanny a observou durante um momento e pareceu decidir algo.

"Hoje à tarde vou visitar uma ONG que trabalha música e dança com crianças. Sempre que vou, me sinto muito bem, porque me lembra nosso Glee Club. Você quer vir ao ensaio comigo, Quinn? Talvez seja exatamente o que você precisa para espairecer um pouco..."

...

Naquela Tarde

O lugar era um grande galpão reformado próximo a periferia de LA. Uma grande placa e um muro multicolorido, no estilo street art, sinalizava o centro cultural para crianças especiais New Direction.

Quinn sorriu. O mesmo nome do Glee Club de sua antiga escola.

A atriz acabou aceitando acompanhar a amiga ao serviço voluntário na ONG qual a dançarina participava. Britt havia insistido tanto, e ninguém conseguia resistir a chantagem emocional em forma de irises azuladas.

As duas entraram no prédio e Quinn se surpreendeu ainda mais com o lugar.

Na parte de fora, a estrutura era a de um simples galpão, que podia abrigar um vão ou no máximo pequenas salas com paredes pré-montadas, mas para o espanto da atriz, a parte interna do prédio era uma impressionante replica da área interna de um dos Teatros da Broadway.

Uma vasta área para recepção bem iluminada, com paredes altas e portas largas de madeira, davam acesso a uma grande plateia com cadeiras confortáveis e um palco maravilhoso.

Várias crianças e alguns adolescentes já ensaiavam no palco, enquanto outros aguardavam sentados nas poltronas ou na boca de cena do placo. Porém quando notaram a chegada de Britanny, eles correram na direção delas. Os primeiros a alcança-las se penduraram no pescoço da dançarina obviamente bastante felizes e cheios de entusiasmo.

Só quando diminuíram o ritmo eufórico e a gritaria, perceberam a presença da atriz. Daí Quinn virou o centro das atenções. Todos queriam abraços, beijos e atenção. Quinn se desdobrava em atender a todas as solicitações de carinho, uma sensação maravilhosa de alegria preencheu seu peito ao ver crianças que provavelmente seriam excluídas da sociedade, interagindo entre si, e com outras crianças tidas como normais. E todas, absolutamente todas, pareciam saudáveis e felizes.

A ONG era uma extensão de uma fundação que servia de lar e Day-Hospital para várias crianças carentes e portadoras de necessidades especiais. No projeto New Directions, elas eram introduzidas a um ambiente cultural, e podiam desenvolver suas habilidades artísticas.

Crianças com síndrome de down, paraplégicas, portadoras do vírus HIV, órfãs, ou simplesmente de baixas condições financeiras, faziam parte do projeto. Britt garantia que apesar de todas as adversidades, todas elas sempre estavam sorrindo e orgulhosas de fazerem parte daquilo.

"Carmen Hola, ¿cómo estás? Lista para la cirugía?" Perguntou Britt a uma menina latina numa cadeira de rodas. Quinn notou que ela trazia um pequeno tubo de oxigênio acoplado a cadeira, provavelmente para oferecer mais suporte de oxigênio a garota.

"Sí, Dinda me dijo que todo saldrá bien. Los médicos me dará un corazón nuevo. Ella me dijo que pronto voy a ser capaz de correr y jugar."

Quinn tinha um bom nível de compreensão em espanhol. Santana sempre a ajudou nas lições. O que sempre foi muito útil quando ela precisava entender o que a amiga resmungava, principalmente quando a latina estava esbravejando palavrões e insultos durante suas brigas.

A pequena olhou para ela e sorriu.

"Eres muy hermosa. Mi Dinda me dijo que eres la mujer más hermosa del mundo..."

Quinn a olhou com curiosidade e sorriu sem compreender exatamente a quem a pequena se referia, e se ajoelhou para ficar na mesma altura da garotinha.

"Su Dinda?"

"Sí, mi madrina..." Respondeu a pequena.

A dúvidas começavam a surgir na mente da atriz, e ela se preparava para disparar mais perguntas para a pequena quando ouviu.

"Carmen, no te exijas tanto. Acabo de dejarte venir porque me prometiste que estarías tranquila, ¿recuerdas?"

"Essa voz..."

Quinn se virou lentamente.

"Rachel..." Ela sussurrou.

Rachel saia da coxia na direção delas. O mesmo sorriso de satisfação no rosto. O sorriso que fazia o coração de Quinn bater mais forte.

Os olhos castanho-chocolate miravam fixamente os castanho-esverdeados, enquanto ela se aproximava. Quinn se levantou de uma vez, se arrependendo na mesma hora, por pouco suas pernas não a traíram...ela mal conseguia sustentar seu corpo.

Rachel tinha um sorriso torto nos lábios. Ela parou na frente de Quinn, invadindo seu espaço pessoal e dando um beijo suave no canto da boca da atriz.

"Você está linda, Quinn."

O queixo da loira caiu.

"Como é? Mas de onde? Ah...ela não está pensando que..."

Quinn juntou todas as forças que tinha, fechou a cara, ergueu as sobrancelhas no melhor estilo HBIC, e disparou com a voz mais firme que conseguiu.

"E você me deve uma boa explicação, Rachel Barbra Berry."