Minguante

Don't Let The Color Of My Eyes Fade


O toque no seu pulso é leve e gentil, Hae Soo sabe; ela já o sentiu antes. Quando a sua doença ainda era apenas um desconforto eventual no seu peito e sua maior preocupação era não chamar atenção no palácio, ela se perguntava como o homem conseguia sentir alguma coisa com um toque tão sutil. Mas agora, não importa o quão cuidadoso o antigo médico real seja, os dedos dele parecem ser duas barras de aço no seu braço frágil.

Desde o nascer do sol ela sentia o corpo todo doer, os arrepios subindo e descendo sua espinha indicando claramente sua febre, e suas pálpebras pesadas lutavam para continuar abertas. Ela sentia como se alguém estivesse martelando pregos na sua cabeça, e ela queria ficar com os olhos fechados pelo resto do dia. Ela não queria nem se levantar do colchão e o conforto de seu lençóis, mas a visita do médico era uma emergência.

O problema, no entanto, não eram os seus músculos que protestavam, a febre súbita, muito menos sua cabeça que ameaçava explodir. O verdadeiro problema foi a longa noite em claro que ela teve porque seu peito não parava de se comprimir em uma dor extrema.

O Rei tinha ordenado que alguém trouxesse o médico quando começou a entrar em pânico depois que percebeu que sua crise estava demorando mais que o normal para passar. O ancião não estava no palácio e levou o resto da noite para chegar. Até lá, ela teve que aguentar a dor e a respiração débil, chegando ao ponto de pensar que ia mesmo morrer naquele instante.

Agora que a dor tinha ido embora, seu corpo estava reclamando. Todos os sintomas agora eram mais um protesto por ter passado a noite toda acordada do que uma evolução de sua doença. Logo seus músculos iriam relaxar, sua febre iria baixar, e seus olhos e cabeça ficariam melhor depois de um cochilo.

A dor no peito, por outro lado, era uma coisa completamente diferente.

Soo observa o homem o mais atenta o possível, tentando sondar sua reação e entender o que passa na sua mente. Ela tenta contar seus batimentos cardíacos também, mas só para se manter acordada. O seu corpo já tinha lhe contado tudo há um tempo, e ela entendeu o que tudo aquilo queria dizer imediatamente.

Depois que o médico solta seu braço ele fica em silêncio, olhos fixos no chão.

— Por favor, fique à vontade com suas palavras, — Soo pede, mas não para si mesma; para o homem atrás dela, apoiando-a contra seu peito. Se o médico não falar claramente, ele vai continuar tentando encontrar curas e inventar soluções. Aquele teimoso precisa ouvir em voz alta.

Há um momento de silêncio antes que o ancião finalmente diga seu diagnóstico, seus olhos imóveis e sua voz hesitante enquanto tenta encontrar as palavras certas.

— A senhora terá sorte e a benção grandiosa dos Céus se conseguir ver a próxima lua cheia.

So teria se levantado de vez e começado a andar em círculos pelo quarto, tentando encontrar um jeito de mudar a situação, se Soo não estivesse se apoiando nele. Ele fica parado, mas ela consegue sentir sua ansiedade quando seus braços ficam mais tensos em volta dela. Atrás dela, o coração de So acelera, batendo violentamente contra suas costelas e martelando nas costas dela. Quando o silêncio se prolonga, o médico se sente à vontade para continuar.

— Vou preparar um pó para que a senhora tome com seu chá todas as manhãs. O tratamento vai ajudar com a dor e a fraqueza, e você vai poder dormir à noite e viver seu dia com atividades mais leves. Também vou pedir que as damas da corte tragam um remédio para sua febre imediatamente.

Soo meneia a cabeça levemente, agradecendo-o sutilmente e sem dizer nada. Ela está cansada até para um sorriso fraco. Mas So não se conforma com essa conclusão.

— Isso é mesmo tudo o que pode fazer? — A voz dele não ressoa pelo quarto quando ele fala e suas palavras saem baixas de sua garganta contrita. Ela não consegue ver o rosto dele, mas a voz devastada faz lágrimas se acumularem nos seus olhos.

Apesar de não ser uma ordem nem uma repreensão do Rei, o médico se curva, pedindo perdão.

— A doença progrediu demais, — ele explica lentamente e dolorosamente, — E a gravidez tirou muito de sua força. — Ele ergue a cabeça e olha diretamente nos olhos de Soo, tristeza e lamento no seu semblante, — À essa altura a única que poderia salvá-la seria um coração novo.

Depois de se ajustar ao estilo de vida de Goryeo, Hae Soo não parava muito para pensar nas comodidades da vida moderna. Ela se contentava em viver um dia de cada vez e simplesmente aproveitar o presente na sua segunda chance de vida. Mas desde que ela recebeu o seu primeiro diagnóstico, ela não parava de imaginar se a medicina do futuro poderia salvá-la. Um novo coração, no século XXI, seria difícil, mas não impossível. Em Goryeo, era só um jeito educado de anunciar a morte iminente.

Soo não nota quando o médico vai embora. Ela está muito focada em So para prestar atenção em outra coisa.

Ela acaricia os braços que a envolvem, que estão com medo de abraçá-la com força demais e, ainda assim, loucos para trazê-la ainda mais perto. Depois de alguns momentos de silêncio, ela reúne todas as suas forças para se virar e se ajoelhar na frente dele, segurando seu rosto gentilmente e secando as lágrimas silenciosas. Soo quer sorrir também, lhe dar ânimo, mas o sorriso não vem. Ela só envolve os braços no seu pescoço e o puxa para um abraço mais apertado, deixa ele chorar em silêncio enquanto eles se apoiam um no outro, que nem no dia que ela lhe contou da sua doença.

Parece que uma eternidade se passou quando ela finalmente ouve a voz dele de novo.

— Eu te daria meu coração se eu pudesse, — sua voz baixa sai abafada pelo tecido de suas roupas, mas ainda consegue arrancar um sorriso dela, mesmo que seja triste e amargo.

Ela beija o topo da cabeça dele, fazendo carinho e dando tapinhas nas suas costas, esperando que ele se acalme.

— Eu sei que daria.

Baek Ah era ótimo com crianças, ele sabia disso.

Ele conseguia fazer sua sobrinha rir e sabia o que cada um dos choros dela queria dizer. Ele sabia como dar comida para ela, dar banho nela, trocar suas roupas, e o jeito certo de brincar com ela e lhe dar atenção, mas sem mimá-la demais. (Mesmo que ele sempre a mime demais, de propósito, apesar dos avisos constantes de Soo que, no futuro, isso vai se voltar contra ele).

Dito isso, ele ficou muito irritado com seu décimo-quarto irmão por ter contratado uma ama – uma mulher claramente bem preparada, mas que não tinha nada com os pais ou parentes da menina – ao invés dele. Claro, ele nunca diria isso em voz alta. E, obviamente, ele usaria todas as oportunidades possíveis para cuidar de Seol.

Ele só saia do quarto da bebê se Soo ou So (ou os dois) estivessem com ela, suprimindo seu desejo de brincar com sua sobrinha para dar um tempo a sós para os pais. Caso contrário, ele só entrava no quarto e passava seu tempo livre (que era muito) com a menininha.

Dito isso, ele ficou meio revoltado quando descobriu que Jung tinha levado Seol para passear naquele dia.

— Tem certeza disso? — Ele pergunta à ama mais uma vez, talvez a terceira, só pra ter certeza.

— Sim, Wangjanim, — a garota responde, claramente se perguntando se é melhor se irritar com ele por causa das perguntas constantes ou ficar com medo do seu olhar penetrante.

Baek Ah suspira frustrado, já que ele nunca imaginou que Jung faria algo tão arriscado quanto tirar Seol do quarto para um passeio pelo palácio. Especialmente depois que Yeon Hwa tinha visitado para destilar veneno. Ele começa a ir embora, pronto para sair correndo pelo Cheondokjoen inteiro procurando por eles, mas então ele pára e se vira, volta para a ama que já estava deixando os ombros relaxarem de alívio.

— Ele disse quando ia voltar? — A pergunta faz a mulher se curvar mais uma vez.

— Lamento, Wangjanim, — ele fala sem lamentar nem um pouco, mas Baek Ah decide ignorar isso, — O Príncipe ficou com ela a manhã toda, e depois que eu a alimentei, ele disse que ia passar a tarde com ela e me liberou.

— Para onde ele foi?

— Eu não sei. — E se ela soubesse, Baek Ah tem certeza que ela não contaria. Mais porque suas perguntas estavam enchendo o saco, do que por causa de alguma ordem ou aviso de Jung, — Eu imagino que ele queria levar a pequena Seol para ver alguém, já que ele me pediu que a vestisse em suas roupas festivas.

E então, depois que ele conclui que não vai tirar mais nenhuma informação da ama, Baek Ah vai embora fazendo birra, quase grunhindo de desconsolo. Se ele a vestiu em roupas festivas, então é muito provável que eles tenham ido visitar os pais dela, e não é como se ele pudesse se intrometer num momento desses.

Voltando para seu quarto, o 13º Príncipe se resigna a uma tarde de tédio e solidão.

Jung precisa de todo o seu autocontrole para não sair correndo pelo palácio enquanto vai para o quarto de Soo. E o único motivo de ele conseguir conter sua empolgação não é a etiqueta ou os olhares curiosos, mas a criança leve e delicada nos seus braços.

Seol parece gostar do passeio, já que ela ri sempre que ele sobe as escadas com pressa, fazendo pular no seu colo, e simplesmente aprecia a vista quando ele anda mais devagar sempre ao cruzar caminho com alguém. Ela também aponta para as coisas, tentando dizer os nomes e chamá-las para brincar. E mesmo que Jung ache isso muito fofo, ele não pode parar para ela conversar com seus novos amigos.

Dentro de seu peito, seu coração dispara como as asas de um beija-flor.

Finalmente, ele chega ao seu destino, sua respiração errática depois de carregar Seol tão rápido e tão longe – ela está ficando mais pesada à medida que os dias passam – mas ele consegue manter-se calmo e sereno na frente do quarto de Hae Soo.

E é aí que ele nota e se surpreende com o silêncio.

Diante da porta, ele consegue sentir uma aura estranha cercando o quarto, e ele hesita por alguns momentos antes de bater. O fato de que é So que responde do lado de dentro, falando que entre, não o surpreende. O que o surpreende é a voz de seu irmão, alta só o bastante para ser ouvida do lado de fora.

So nunca fala desse jeito quando está com Hae Soo.

Jung abre a porta relutantemente. Ele está com medo de entrar, mas ele precisa. E Seol está começando a se inquietar e choramingar em protesto no seu colo, então ele não tem muita escolha. O quarto está na penumbra, apesar do sol já estar alto no céu, então demora alguns segundos para seus olhos se ajustarem e verem direito. Quando ele finalmente vê, seu coração afunda um pouco.

Soo está deitada no colchão, seu corpo frágil e debilitado, as olheiras contrastando acentuadamente com sua pele pálida. Os olhos dela estão fechados, e pelo ritmo de sua respiração ele sabe que ela está dormindo, mas ela não parece estar em paz ou descansando.

Já faz um dia desde que ele a viu, e ela mudou tanto assim.

— Ela...?

Ela está bem? Ela vai ficar boa?

A pergunta dele para na metade. Hae Soo não está bem, ele pode ver. Não há motivo para fazer perguntas inúteis. So está sentado ao lado dela. Seus olhos estão focados na pessoinha nos braços de Jung, mas seu semblante está abatido e desgastado.

— Ela teve uma febre de manhã e agora está descansando, — ele responde a pergunta inacabada de Jung assim mesmo, tentando sorrir pelo bem da garotinha, — Melhor acordá-la, ela vai querer te ver.

Ele toca nela como se ela fosse de porcelana: com carinho porque ela é preciosa, com cuidado porque ele tem medo que ela quebre. Ele sacode o ombro dela de leve, receoso de machucá-la e se sentindo mal por ter que atrapalhar seu sono.

— Uma visita especial chegou, — So sussurra quando os olhos dela se abrem lentamente e então a ajuda a se sentar.

— Hm? Wangjanim? — A voz de Soo soa fraca, mas ainda assim ela consegue sorrir e manter um tom animado, então, a todo custo, Jung precisa ignorar o seu semblante abatido e enfermo e sorrir com ela, — Oh, e Seol também!

Ela começa a se levantar, se apoiando no irmão dele, mas antes que ela se ajoelhe, Jung se lembra do que foi fazer ali e rapidamente ergue a mão livre para impedi-la.

— Espera, não se mexa. Fique aí. — Soo o encara, estranhando seu comportamento, mas parando assim mesmo. Ela observa, confusa, ele se ajoelhar e colocar a sua filha de pé no chão, virada para os seus pais, — Agora chame ela.

So e Soo piscam algumas vezes, intrigados, ao mesmo tempo. Ele inclina a cabeça em dúvida e ela tenta formular uma pergunta, mas está sem palavras.

— Wangjanim?

— Anda, — Jung a incita impaciente, — Estenda os braços e chame ela.

Ainda sem saber ao certo o que ele quer, Soo obedece, estendendo os braços e sorrindo vibrantemente para a garota que já está com os dentes de fora, alegre em ver a mãe, e conversando com sua vozinha aguda. Então, num tom animado, Soo chama o nome de sua filha.

— Seol-ah!

O que acontece a seguir deixa os dois chocados, e transforma suas expressões de confusão em maravilhamento e espanto. A garotinha sorri para a mãe, esticando seus bracinhos, e então, finalmente, dá um passo na sua direção. E depois outro. E depois outro.

Seol caminha para fora dos braços de Jung, dando passos vacilantes e firmes, até chegar na mulher. Ela ri divertida, louca para brincar um pouco mais, e já sabendo muito bem que Soo é a melhor pessoa para brincar. Enquanto isso, So e Soo finalmente superam o choque e começam a rir maravilhados.

Quando ela alcança Soo e cai nos seus braços, eles finalmente se viram para ele, a pergunta mais óbvia escrita nos seus rostos.

— Eu comecei a treinar com ela, — Jung responde, mesmo que eles não tenham dito nada, — Hoje ela finalmente pegou o jeito.

A verdade é que ele queria que Soo visse os primeiros passos de Seol, mas a menina decidiu andar pela primeira vez tarde da noite e ele não tinha como ir buscá-la para testemunhar o marco. Então ele decidiu só contar quando a menina aprendesse a andar direito, ou pelo menos mais direito do que os passos hesitantes que a faziam parecer um pato. Ele se perguntou diversas vezes se essa era uma boa escolha, mas só um olhar para como o rosto doente de Soo ganhou um pouco mais de vida e cor alivia seu coração.

— Olha só pra isso! — Ela exclama admirada, mas seus olhos ainda estão fixos na sua filha, que ela faz cócegas e abraça com força, dando seu melhor para fazê-la rir sem usar brinquedos, — Seol-ah, consegue andar de novo?

So só precisa de um olhar para entender o pedido dela, e rapidamente se afasta alguns passos e se agacha, esticando os braços para a garota.

— Vem, — é tudo o que ele diz, e Jung pensa na sorte dele por Seol amar aquela coisa brilhante na sua cabeça. Honestamente, ele não vê mais nada no homem que o torne atrativo e divertido para um bebê. Especialmente quando Seol vai até ele com o mesmo rosto animado de quando caminhou até Soo.

Mas então, quando ele finalmente chega nos braços dele, So ri, segura-a por debaixo dos braços e a levanta o mais alto possível do chão. O tempo todo Soo sorri afavelmente para eles, e Jung faz um lembrete mental: Seol ama altura e ficar pulando.

So gira algumas vezes, fazendo sua filha rir bem alto e encher o quarto escuro e sombrio com alegria e conforto, e então volta para Soo, que consegue levantar e pegar a menina no colo.

— Eu te vi andar! Seol, eu acabei de te ver andar! — Soo ri e chora ao mesmo tempo, enterrando seu rosto na cabecinha da garota, beijando sua testa e acariciando seu cabelo, — Eu te vi crescer, mesmo que um pouquinho, mesmo que você nunca soubesse que eu sou sua mãe. Estou tão grata, Seol-ah! Estou tão grata por te ver sorrir, ouvir sua risada e escutar sua voz. Eu estou tão feliz! Estou muito feliz por você!

Depois de ir de Jung para Soo, Seol ainda caminha mais algumas vezes do pai para a mãe e vice-versa, até que ela decide que já caminhou demais. Ela se senta assim que é colocada de pé, e sempre que eles tentam fazê-la se levantar, ela reclama e se joga em quem quer que a esteja segurando. Soo ri com o protesto da garota, e não briga com So para continuar segurando-a quando ele a tira de seus braços. Ao invés disso, ela se ocupa com um jogo improvisado com seus grampos de cabelo coloridos para deixar a menina feliz e contente.

— E no fim das contas, meu plano foi excelente, — Soo finalmente fala, sorrindo para a garota, que manuseia, deslumbrada, os objetos brilhantes nas suas mãos, — E a ideia de Jung-nim foi ótima.

O olhar carinhoso de So não muda, mas seus lábios franzem em desagrado quando ela menciona O Plano, claramente incomodado pelas memórias que estavam melhor escondidas no fundo da sua mente.

— Seu plano foi muito extremo, — ele reclama, mas não ergue o tom de voz, — E eu mesmo podia ter tido a ideia que Jung teve.

Ela sabe que ele ainda está magoado e ela não o culpa. Mas ela não consegue deixar de provocá-lo, um sorriso se abrindo no rosto quando ela se vira para olhar para ele.

— E por que nosso supremo planejador não pensou nisso antes? — Soo pergunta com um tom falso de maravilhamento e espanto, se curvando lentamente e se esforçando ao máximo para não começar a rir.

— Estávamos os dois com medo naqueles dias, — So responde honestamente, sem se importar com a tentativa de Soo de rir às custas dele, e ignorando seu sorriso ele continua, — E também tinha aquela conspiração pra te assassinar.

Ela para de sorrir quando ele a lembra disso, e desiste de brincar com ele. Ao invés disso, ela volta a se preocupar.

— Eu não devia ter te contado, — ela se encolhe quando se lembra do impulso que veio sobre ela a fez contar para ele, — Agora você tem um ministro a menos.

— Já coloquei outro no lugar dele, — ele dá de ombros, completamente concentrado na tarefa de não deixar Seol enfiar os grampos na boca, — E agora que Jung tem os títulos e a posição de volta, os Yoo e seus aliados não vão ousar começar outra conspiração. Enquanto isso, as opções dos Kang são me apoiar ou entrar em guerra com os Yoo novamente, e com o novo arranjo para o movimento financeiro, eles não poderiam pagar uma. Com a aliança com os Hwangbo fiquei intocável, — ele diz tudo de uma vez só, mas então sorri de novo quando a menininha se levanta para colocar os grampos no cabelo dele, — Embora eu ainda não possa mudar muita coisa, posso fazer algo aqui e ali. Você está completamente segura.

Nós estamos completamente seguros.

So enfim olha para ela quando ela faz a correção, surpreso e confuso.

— O quê?

Ela ri da expressão dele e da bagunça que Seol está fazendo no seu cabelo, e então decide se juntar a ela e colocar mais grampos de flores e borboleta no coque.

— Não é só eu quem precisa estar segura, — ela diz distraída quando Seol analisa os grampos que restam nas suas mãos, — Você também precisa estar seguro.

Vocês dois.

Eu posso morrer sem arrependimentos desde que vocês dois estejam felizes e seguros.

Eu não posso mais perder ninguém aqui. Pelo menos vocês dois, precisa me prometer que vocês dois serão felizes.

Soo sempre tentou não pensar assim sobre o futuro – sobre ela morrendo e eles dois continuando a viver sem ela – mas depois de sua última crise e sua última visita ao médico essa preocupação vinha crescendo mais e mais. Ele parece notar, já que sorri tranquilizadoramente para ela, mesmo que haja uma certa tristeza nos seus olhos.

— Nós estamos completamente seguros, — ele tira um grampo do cabelo dele e coloca no dela, fazendo um penteado simples com o qual Seol ri de alegria, — Nós estamos completamente seguros e você não precisa mais se preocupar com a gente.

— Você não devia estar aqui fora. — A bronca de So a tira de seus pensamentos profundos e a traz de volta para a realidade. Ela estava muito absorta na sua mente e nem percebeu quando ele se aproximou, e foi preciso ele falar para chamar a sua atenção. Quando ela finalmente olha para So ela encontra seu olhar reprovador, mas ainda não consegue deixar de sorrir, apesar de ele estar certo, ela realmente não devia estar do lado de fora.

Ela teve que se arrastar da cama e pedir ajuda a Min Kyung para se vestir. Os passos que ela antes dava com tranquilidade se tornaram pesados e extenuantes, e o caminho uma vez agradável até suas pedras de oração parecia mais distante e íngreme. Ela precisou de toda sua força para chegar ali, e acabou ficando sem fôlego, então ela decidiu passar um tempo a mais para a jornada valer a pena.

So deve ter entrado em pânico quando foi para o quarto dela e não a encontrou, então o sorriso dela é uma forma de tranquilizar a ansiedade do seu coração. E ela indica as pedras para responder a pergunta que ele não tinha feito.

— Eu estava grata por algumas coisas.

— Grata pelo quê? — Ele soa incrédulo, mas isso era de se esperar. Ela continua a sorrir, se sentindo mais aliviada do que se sentia em anos.

— Por Seol estar crescendo saudável. Por você ainda estar próximo de Baek Ah-nim e Jung-nim apesar de tudo o que aconteceu, — lágrimas se acumulam nos seus olhos, mas não são de tristeza nem desespero, — Por eu poder ter conhecido nossa filha e saber que ela vai ter você quando crescer.

Ele ainda está sério, mas seus olhos estão menos duros do que antes e sua voz soa mais leniente quando ele fala.

— Isso é tudo?

O sorriso de Soo cresce ainda mais e ela vai até e segura as suas mãos. Os olhos dela estão cheios de lágrimas, mas ela não se importa. Ela deixa o homem à sua frente ocupar sua visão, até que ele seja a única coisa que ela pode ver.

— Também estou grata por ter te conhecido, por ter sido sua amiga e por me apaixonar por você. — Por um segundo ela está de volta ao primeiro encontro deles, com ele a tratando como um saco velho e ela lhe dando uma bronca pela sua atitude. Então ela se maravilha com o quão diferentes as coisas são entre eles agora, — Por você ter me amado.

Se ela tivesse que suportar tudo mais uma vez – a traição e as dívidas injustas em Seoul, as mágoas e os lutos em Songak, o fardo de viajar mil anos no passado e saber demais, ver demais, interferir demais – para vê-lo mais uma vez, ela iria. Não importa o quê, ela nunca se arrependeria da decisão de ficar com ele, mesmo que isso tivesse acabado por matá-la.

So não reage por alguns momentos, mas então ele a puxa para o seu peito e a abraça pela cintura, trazendo-a para ainda mais perto. Ele aperta sua bochecha na sua testa e inala profundamente antes de falar.

— Eu também sou grato. Eu sou grato por você ter vindo ao meu mundo e me salvado, — ele sussurra gentilmente, suavemente, saudosamente.