Milenares

01 de setembro de 2047, Cidade de Nova Iorque


01 de setembro de 2047, Cidade de Nova Iorque. Localização atual: planeta Terra.

Panda das montanhas:

Vocês estão sendo intimadas para beber.

Isso não é um convite, eu sou advogada.

Dona Flor de Lis, responda essa droga.

Dona do pecado:

Ela tava terminando de apresentar os douradinhos.

Soube que a doutora Kim não suportou a pressão.

Serpente venenosa:

Até parece que a Talita liga pra isso Eva.

Eu falei que era cedo demais.

Panda das montanhas:

Parem de falar de mim como se eu não estivesse aqui.

Quem avisa amigo é.

Flor de Lis:

Já deu para entender, agora parem.

Não sei se ela volta, liguei mil vezes e o celular só dá caixa, o Jimin fez aquilo de novo.

Elas sabiam muito bem do que se tratava, Jimin havia as assustado inicialmente quando falou tudo que elas haviam feito naquela manhã incluindo o teste de gravidez de Eva, que ela ainda nem tinha contado para as amigas.

Flor de Lis:

Onde está a unicórnia? Preciso dos dons dela.

Esquila:

Fazendo uma receita de muffin saudável com os pacientes.

E ela não vai te salvar dessa confusão do Park.

Panda das montanhas:

Parem de falar de trabalho e pessoas paranormais, espero vocês a noite, sete em ponto, naquele pub que a gente gosta, não ousem não aparecer.

Perigo constante:

Estaremos lá chata.

Flor de Lis:

Até mais.

Assim ela bloqueou o celular e suspirou, precisava marcar uma reunião e decidir como iria proceder com os casos que tanto lhe tiravam o sono. Ela abre a porta e encontra sua secretária cochilando com o rosto apoiado na mão.

— Gwen – Lis chama com cuidado, fazendo a garota sobressaltar assustada.

— Desculpe doutora, meu Deus, eu dormi de novo – Gwen respira exasperada, era a segunda vez que Lis pegava ela dormindo no horário de trabalho, mas não que alguém pudesse culpá-la, a garota trabalhava das oito da manhã até as seis da noite e fazia faculdade à noite.

— Tudo bem Gwen, eu preciso apenas de um favor seu, depois pode ir para casa.

— Mas doutora, ainda são quatro da tarde e...

— Sem mais Gwen – cortou-a firme, mas com leveza – marque uma reunião com toda minha equipe, para hoje, as quatro e meia.

Gwen franze o cenho olhando do relógio na parede para a mulher a sua frente, ela nunca pedia reunião urgente, aquilo era completamente fora do comum, então a garota apenas assentiu e se apressou para fazer o que Lis queria. Enquanto a morena retornou ao seu escritório, apenas para pegar sua agenda e uma caneta, se precisava descobrir o que aqueles onze tinha de tão especial, ela faria imediatamente, porque Lis Beckham não brincava em serviço.

A reunião ali convocada trazia muitos membros confusos, estavam todos se perguntando a procedência daquela reunião tão repentina, já que não havia nenhum problema a ser resolvido, a reunião mensal já havia sido realizada e não havia nenhum boato maldoso sobre ninguém ali ou sobre o centro, então por qual motivo precisavam estar ali?

Assim que Lis passou pela porta, tratou de acomodar os outros e esclarecer as dúvidas silenciosas de cada um. Ali estavam além das três psicólogas que a ajudava nos tratamentos, também estavam sua advogada, suas duas amigas próximas e o resto da equipe.

— Bem, o real motivo de eu ter chamado vocês aqui é pelo seguinte – começou – como sabem, eu fui atrás de uma nova psiquiatra para o MBH, já que a nossa última apenas desapareceu sem deixar um sinal de fumaça – ela suspira completamente frustrada – mas ela acabou fugindo, então eu preciso da colaboração de vocês, me deem ideias de como trazer a doutora Kim de volta.

Ouve alguns burburinhos ali, é claro que todos conheciam a doutora Kim Jennie, ela era uma das psiquiatras mais famosas da sua era, contribuindo para tratamentos experimentais de transtornos, com métodos alternativos que se comprovaram eficazes.

— Deixe-me adivinhar – Alicia se pronuncia calmamente, ela ainda não havia visto as mensagens em seu celular, mas tinha noção de que para a mulher ter fugido, algum dos douradinhos havia dito algo – Park Jimin afugentou ela.

Pela cara de Beckham, ela nem precisou externalizar que aquilo era exatamente o que havia acontecido.

— Não somos babá de psiquiatras Beckham – fala Paul, um homem de meia idade, líder da equipe de enfermeiros daquele lugar, Lis conteve a vontade de revirar os olhos e se direcionou a ele, sabendo o quão difícil era lidar com aquele homem, que só estava ali porque era muito bom no que fazia e ainda faltava um ano para a sua aposentadoria.

— Eu sei o que somos e o que não somos doutor Jillian – retruca pacientemente –mas somos profissionais da saúde, e temos um caso que se o senhor não percebeu, ninguém consegue acessar ou ao menos lidar, a doutora Kim esteve com eles por dez minutos e eles disseram mais coisas do que em um ano inteiro conosco. Estamos aqui para cuidar desses indivíduos adoecidos.

— Os seus douradinhos só estão com tédio Lis, pare de fingir que isso tem alguma importância além da fama que pode gerar para a clínica por meio da imagem da doutora Kim – Gerry fala, enfermeiro chefe, será possivelmente que ela teria que ter paciência com todos os enfermeiros ali ou todos eles concordavam em infernizar seu juízo?

— Se mais algum enfermeiro quiser me afrontar, podem dar meia volta, eles estão precisando de ajuda e nós precisamos da Kim, além do mais, é imprescindível que ninguém saiba da estadia dela aqui, então Talita, por favor, eu quero um novo documento, um novo contrato para todos assinarem, desde funcionários a pacientes, silêncio total e discrição – Lis fala perdendo a calma anterior, a equipe de enfermagem era sempre difícil daquele jeito e mesmo que alguns deles merecessem perder seus empregos por serem desrespeitosos com ela, a morena sabia que eram bons e insubstituíveis.

— Sim senhora – Talita assente anotando algo em sua agenda.

— E quem vai convencer a doutora a voltar? – Lilian pergunta interessada.

— Eu mesma, mas eu vou precisar da ajuda de vocês.

As três assentem e Lis trata de encerrar aquela maldita reunião, todos ali se despedem e voltam aos seus afazeres. Assim que sozinha, Lis liga para o número que Jennie havia deixado e mais uma vez acaba ouvindo apenas a caixa postal da morena.

A noite às sete, elas se reuniram em um pub não tão longe da clínica, o lugar cheirava a madeira e whisky, apesar disso, era belíssimo, com uma decoração antiga, bancos confortáveis, um balcão de bebidas revestido em madeira de Nogueira, com luzes de led colorido, dando um contraste na parede repleta de bebidas diversas.

Lis fora a última a chegar, como sempre, e as amigas nem pareciam abaladas com isso, sabiam que Lis só saía do trabalho depois de garantir que estava tudo acertado.

— Até que fim a princesa Flor de Lis chegou – Talita grita recebendo um sorriso divertido da amiga, que parecia completamente diferente de quando a tinha deixado, tensa e preocupada, ali naquela noite, a intenção dela era apenas se divertir e talvez se embriagar.

— Só por causa disso, você paga a bebida hoje – Laura fala levando o copo de cerveja meio vazio.

Cada uma ali tinha gostos e personalidades diferentes, mas elas se complementavam perfeitamente. Talita Lerman por exemplo, dona de uma nacionalidade brasileira-americana, havia optado por seguir carreira em direito, em uma família também podre de rica, na mesma profissão, ela era a sócia de Lis, aquela clínica era tão sua quanto da morena. A dona dos cabelos castanhos tinha uma personalidade engraçada por vezes, irônica por outra, mas era sempre uma pessoa séria quando estava em seu local de trabalho.

Laura Everton ao contrário de Talita, mas tão parecida quanto, com seus cabelos encaracolados e cheios, era americana pura, dona de um lindo sorriso e a especialista em fazer as amigas rirem de suas inúmeras palhaçadas, Laura tinha uma personalidade extrovertida e usava disso para que seu trabalho como fisioterapeuta fosse o mais leve possível, ela e Lis eram vizinhas quando crianças e assim faziam parte daquele grupo exclusivo de amigas de infância.

Eva Marin, Lilian Rivers e Debra Aveiro, haviam conhecido Lis na faculdade. Eva continha cabelos pretos e longos, casada com um educador físico, ela era a responsável por fazer as amigas pagarem mico, dona de uma personalidade extravagante e um pouco mimada. Eva fora criada pela mãe, que é uma socialite, que estava em seu quinto casamento. Apesar disso, todas ali gostavam muito da morena, pois ela se mostrava muito solidária com todas suas amigas.

Lilian Rivers, tinha cabelos castanhos claros, olhos também claros beirando o verde. Sua personalidade divergia um poucos mais das outras, pois apesar de ser extrovertida, Lilian tinha algo nela que nenhuma outra possuía, um altruísmo genuíno, não que as outras não fossem, mas Lilian era em excesso, por vezes colocando os outros acima de si mesma, o que não necessariamente era um problema, mas as vezes fazia as pessoas se aproveitarem dela, sobrando para as amigas tomarem as rédeas e protegê-la. Como precisaram fazer com o ex-noivo da castanha que estava se aproveitando do seu dinheiro, Lilian assim como as outras também pertencia a alta classe.

Debra Aveiro, era a mais livre em questão de personalidade, a mais extrovertida de todas, responsável pela diversão, nunca deixavam suas ficarem entediadas e estava sempre cuidando para que nenhuma delas arrumasse encrenca, o que poderia ser uma completa ironia já que ela era a primeira a se encrencar, principalmente se houvesse homem envolvido. Debra apesar de gostar dos seus cabelos naturais, por vezes liso, por vezes mais volumosos, ela sempre gostava de usar mais as belíssimas tranças.

Alicia Mavis, apesar de fazer parte do passado de Lis, sempre foi a mais calma entre elas, tinha um filho de dois anos, chamado Apolo, uma nutricionista de peso, não nasceu em berço de ouro como as outras, mas ainda fazia parte da classe média, seu marido um empreendedor da área musical estava começando a fazer seu próprio nome. Alicia possui cabelos loiros escuro, e olhos castanhos claro. Dona de uma personalidade fofa e encantadora, mas que não enganava as amigas que sabiam muito bem o quão obstinada era Alicia.

E por fim, Flor de Lis Beckham, cabelos pretos, olhos castanhos escuro, latino-americana, um pouco introvertida, mas muito amigável com quem se ocupava em conhecê-la, ao contrário, ela era fria e irônica, o que condizia perfeitamente com a sua dificuldade em ser vista com bons olhos pela sociedade, já que sua família tinha a mesma arrogância. Apesar de tudo, ela não dava motivos para que falassem mal dela.

— Fiquem quietas e me sirvam – ela diz impaciente enquanto se senta, as amigas sabiam bem do que ela gostava de tomar, por isso sua bebida já estava sobre a mesa, Gin com tônica, e muito gelo.

Laura tomava cerveja com Alicia, Talita whisky, Lilian e Eva gin puro e Debra uma bebida cor de rosa com um morango de enfeite na ponta.

— Que pedrada você deu na doutora Kim hoje, hein – Talita fala tomando um gole do seu whisky, mal de advogados.

— Quem a recebeu foi eu, quem imaginaria – ela toma um gole da sua bebida e deposita o copo na mesa – doutora Kim Jennie fugindo, pelos deuses.

— O que acha que está acontecendo com os meninos? – Debra pergunta confusa.

— Não faço ideia – Lis responde, estava temerosa com aquele caso, todas as células do seu corpo diziam que havia algo muito errado e que ela iria se arrepender mortalmente de ter mantido o caso – mas vamos esquecer disso no momento, eu quero esquecer meu nome hoje.

As outras comemoraram alegres, sabiam do peso que a amiga carregaria, e a ajudaria no que pudesse, mesmo que no momento isso fosse se embriagar.