Milenares

12 de setembro de 2047, Cidade de Nova Iorque.


12 de setembro de 2047, Cidade de Nova Iorque. Localização atual: planeta Terra.

Alguns dias haviam se passado desde que Jennie havia dado as caras na clinica da doutora Lis, desde então ela estava reclusa em sua casa, ignorando seu celular, a pedra e as vozes na sua cabeça, em sua concepção estava certa de que havia desenvolvido algum tipo de transtorno. Seu pensamento era comum, já que ser cético em relação ao mundo sobrenatural ou qualquer coisa que demandasse coincidências, era quase uma regra para a profissão dela, que acreditava fielmente na ciência.

Uma batida na sua porta a fez levantar os olhos até a madeira e engolir em seco.

— Jennie sou eu, Lis Beckham, por favor, eu sei que está em casa – fala a mulher do outro lado – abre por favor, preciso de você, eles precisam.

Jennie suspira, estava cansada da outra aparecer por ali todos os dias por trinta minutos, batendo insistentemente. Por isso ela apenas levanta e vai até a porta, a abrindo e encarando a morena.

— Eu não vou voltar para sua clinica – Jennie fala e Lis a encara como se estivesse vendo um fantasma.

— Eles estão alucinando em conjunto Jennie, desde a última vez que os viu – Lis suspira totalmente esgotada – eles gritam por horas, alegam que suas asas estão sendo arrancadas, eu não... – ela suspira novamente esfregando a testa em completa frustração – eu não sei o que fazer, tivemos que liberar todos os pacientes menos graves, porque os gritos ficam insuportáveis a noite.

Jennie se cala por um instante, vendo a outra totalmente esgotada em sua frente.

— Seokjin fica chamando por você e Yoongi por uma tal de Ashee – Lis fecha os olhos e respira fundo – “somos condenados a servir o tempo, mas fomos feitos para proteger o universo, traga-nos o farol da noite e a legião suprema, salve-nos do nosso destino”. É isso que eles repetem todas as noites, enquanto choram, isso está virando uma loucura.

— Eu não tenho as melhores condições agora Lis, estou doente também – Jennie murmura acanhada – estou tendo alucinações auditivas, e não sei qual é a causa.

— Deixe uma das minhas amigas te avaliar, podemos cuidar de você, mas por favor, os veja, por alguns minutos, é o suficiente.

Jennie se dá por vencida e permite a entrada de Lis, que a espera enquanto a morena se arrumava para ir com Lis até a clínica, em cima da mesa de centro de Jennie, Lis pôde ver a pedra que tanto enchia os pensamentos da outra, ela vira a cabeça de lado estranhando as imagens ali dentro, talvez até fosse engraçadas, se ela não houvesse reconhecido um rosto ali, fazendo-a tombar para trás e cair sentada no sofá.

— O que houve? – Jennie pergunta confusa, vendo Lis mais branca que papel.

— Você também vê? A garota... a garota dentro da pedra – Lis fala assustada, aquilo nem mesmo fazia sentido para ela.

Jennie olha para a pedra que percebe que sim, a pedra estava mostrando algo, mas aquilo não estava acontecendo até aquele momento, até porque só ela havia visto aquela pedra e era por causa da presença dela que se sentia estranha o tempo todo, ao ponto de ouvir por vezes o objeto sussurrar.

— Vamos nos adiantar – Jennie fala indecisa entre levar aquele objeto consigo ou não, por fim, ela apenas pega e coloca em sua bolsa.

As duas caminharam pelo mesmo corredor que havia andado a alguns dias atrás, e por incrível que pareça para Lis, ele estava silencioso, de uma forma que não esteve nos últimos dias. Elas passaram pela enorme porta e puderam ver todos eles sentados com as pernas cruzadas, os olhos fechados, enquanto pareciam meditar, mas uma coisa não fazia sentido ali, a enorme sombra de asas na parede, cada uma com um formato diferente.

Elas se entreolharam, se estavam vendo coisas em uma pedra e ouvindo coisas, possivelmente estavam entrando em uma loucura coletiva.

— Você despertou – a voz de Jimin ecoa atraindo a atenção delas.

De onde estavam dava perfeitamente para ver todos eles, já que as paredes laterais estavam claras.

— Eu... – Jennie murmura mas Jimin nega e aponta para o lado, seus olhos se mantinham fechados, mas ele não precisava abri-los para saber que Lis também estava ali.

— Não sei do que você está falando, você pediu para eu trazê-la, agora ela está aqui, com licença – Lis faz menção de sair, mas a voz de Namjoon a interrompe.

— Fique doutora Beckham e traga as suas amigas até nós – Namjoon murmura calmamente e solta um suspiro longo – Jennie, a pedra é a chave para isso tudo acabar.

— Como...

— Eu posso senti-la Jennie, agora parem de ser bobas e adiantem, nós não temos o ano inteiro – Namjoon retruca.

A pose deles não muda, e apesar delas ficarem um tantinho embasbacada com a situação, Lis fez questão de mandar mensagem para suas amigas, pedindo-as que as encontrassem ali. Nenhuma delas entenderam muito bem, mas obedeceram fielmente.

— O que estamos fazendo aqui? – Talita sussurra para a amiga que nem sabia ao menos o que responder, aquilo era loucura demais por um dia, por isso ela apenas dá de ombros.

— Lis, coloque as duas mãos sobre o vidro na frente de Jimin – Seokjin pede assustando a mulher, mas ela apenas o obedece, pois sua curiosidade era maior do que a sua confusão – Talita, faça o mesmo no vidro do Yoongi – Talita pensa em retrucar, mas a voz de Seokjin havia soado tão firme que ela apenas sentiu vontade de obedecê-lo, até latiria se ele pedisse – Alicia, vá até o Taehyung – e assim a mulher imitou o ato das suas duas amigas, encarando o azulado do outro lado, não lembrava do cabelo dele ser azul – Lilian, Hoseok. Eva, Jungkook. Debra, Namjoon.

— O que estamos fazendo? – Debra pergunta, resistindo em obedecer ao homem que mantinha sua pose tão serena, contradizendo sua voz mandona.

— Apenas obedeça – Seokjin dita e ela o faz com o bico emburrado nos lábios – Laura, venha aqui.

— E eu? O que faço? – Jennie pergunta visivelmente confusa sobre o que finalmente aconteceria ali.

— Você é o nosso farol, o farol do sobrenatural – Hoseok explica – mas suas amigas são aquelas que chamamos de Supremas, diferente de tudo no nosso universo, elas nasceram milenares, ou quase isso, mas são mais fortes do que qualquer um dos olimpianos ou qualquer espécie mística.

Aquela explicação em nada fez sentido, aquilo parecia mais um daqueles filmes de fantasia ou jogo de aventura, quem poderia julga-los, talvez estivessem inventando algum tipo de história para lidar com a realidade deles, e se isso fosse ajudá-los a melhorar, então elas os ajudaria, bem, pelo menos era esse o pensamento incomum delas.

— Su... o que? – Eva pergunta confusa, não era novidade para ninguém, ela sempre destoava das outras.

— Supremas, milenares que foram escolhidos e caíram do universo, como anjos caídos – Taehyung explica, mas ela ainda não havia entendido, mas apenas se cala.

— Jennie, pegue a pedra – Jimin fala e ela obedece – agora recite exatamente o que eu te disser.

— Okay – Jennie segura a pedra entre suas mãos e respira fundo ouvindo a voz de Jimin recitar aquele verso tão estranho – eu sou o farol da noite, que trás luz a legião, eu sou a estrela que guia o andarilho na escuridão, nós somos a legião suprema que quebra a sua maldição.

Uma forte luz iluminou aquele lugar, e de repente eles não estavam mais ali, tudo havia desaparecido, elas estavam em uma espécie de torpor, os outros não estavam mais ali e não havia mais quartos, paredes, ou prédio, tudo havia desaparecido, só havia o branco, como uma espécie de névoa.

— Onde estamos? Estamos alucinando? – Lilian pergunta confusa, enquanto olhava de um lado para o outro.

— Tem algo acontecendo – Alicia aponta para alguns metros a sua frente, onde oito garotas estavam reunidas, mas havia alguém a mais ali.

Vocês serão a salvação do nosso universo um dia, aguardem o momento certo e terão a sua glória— a mulher fala diante das oito que estavam ajoelhadas frente a ela.

Mãe, tem certeza? Nós...— uma delas tenta, mas é interrompida pela mulher de pé.

— Eu tenho certeza minhas filhas, por enquanto vivam suas vidas, a cada reencarnação, haverá em vocês uma luz especial que as guiará para o mesmo lugar, mas um dia irão duvidar de tudo que viveram e tudo que acreditam, mas tudo dará certo porque eles vão lhes ajudar no caminho.

Mãe— fala uma ruiva – por que não podemos ser meras milenares?

Porque vocês tem um destino traçado querida, vocês nasceram para serem maiores, nasceram não do Cosmo, mas de mim— a mulher toca-lhe a bochecha com ternura – agora vão minhas supremas, a irmã de vocês será o seu farol.

Sou o farol da noite, que traz luz a legião— fala a primeira delas – eu sou a estrela que guia o andarilho na escuridão, nós somos a legião suprema que será a sua salvação.

Então elas desaparecem, e tudo volta ao normal, a névoa some trazendo as garotas de volta ao mesmo ponto que se encontravam anteriormente, fazendo uma delas cair para trás ao ter sua visão de volta e a outra vomitar com tamanha tontura.

— Eva – Debra faz menção de correr até a amiga, mas algo lhe assusta, fazendo-a dar dois passos para trás.

Elas agora se encaravam, com tamanho espanto, talvez estivessem realmente em uma loucura coletiva, será que o prédio estava tendo algum vazamento de gás? Aliás, se estivesse, elas precisavam dar um jeito naquilo, precisavam de ar livre.

— Isso não é loucura – Taehyung fala alto atraindo a atenção delas, elas podiam ver claramente as asas pretas dele – vocês são especiais, lembrem das palavras de Angelis.

— Angelis? – Jennie pergunta confusa, a única capaz de balbuciar alguma coisa inteligível, já que as outras estavam absortas na cena diante delas.

— Sua mãe, a antiga rainha do universo – Taehyung explica – ela cometeu um erro muitos anos atrás e agora é Arwen quem o comanda, mas isso é conversa para outra hora, precisamos ir embora.

— Eu não... – Laura estava brava – eu não vou pra lugar nenhum, essa é a minha casa, eu pertenço a este lugar.

— Você nunca pertenceu a esse lugar – Hoseok diz a encarando – vocês não existem nesse mundo, é só um paralelo.

— Vocês estão loucos – Laura se levanta do chão, e começa a andar até a porta de saída, desejava sumir dali o mais rápido possível.

— Alguém precisa ir atrás dela – Yoongi informa sem muito interesse.

— Eu vou – Lis fala saindo atrás da amiga, as outras permaneciam quietas, confusas, havia um par de asas nas costas de cada uma, trazendo para elas uma enorme confusão sobre a verdade que estava diante delas e a verdade que viveram por tanto tempo, era confuso acreditar que de uma hora para outra elas não eram mais elas, agora eram supremas, seres que nunca nem ouviram falar, e por falar nisso, o que afinal eram Milenares?

— Somos os primeiros anjos que surgiu no universo – Taehyung fala encarando Talita, já que o pensamento havia vindo inicialmente dela – eu posso ler a mente de vocês – ele dá de ombros como quem responde à pergunta silenciosa estampada nos olhos dela – nós fomos criados pelo Cosmo, feitos para proteger o universo e dar equilíbrio.

— E falhamos miseravelmente nessa missão – e aí está o humor ácido de Yoongi, ele parecia mais mal humorado agora do que antes – cometemos um deslize, e perdemos tudo.

— De quem é a voz que eu ouço? – Jennie pergunta confusa.

— De uma mulher chamada Ashee – Jungkook responde, pela primeira vez desde que aquela loucura começou – ela é a primeira Milenar depois de vocês.

— E onde ela está? – Debra pergunta e franze o cenho confusa, estava mesmo acreditando naquilo? Não podia ser.

Taehyung ri contido, por vezes ler mentes era um fardo, mas estava sendo divertido ver a confusão delas ali.

— Não sabemos – Namjoon fala – nós fomos mandados para cá, depois que Chronos mudou o nosso futuro e não tivemos notícias dela desde então.

— Chronos? Tipo o Titã Chronos, pai de Zeus, Hades e Poseidon? – Talita pergunta exasperada – tipo, o mesmo que foi morto pela lança de Trium?

— Ele não foi morto, foi trancado no tártaro com a lança de Trium – Yoongi debocha – e sim, é ele próprio, aquele miserável.

— Por que ele fez isso? E aliás, se estava no tártaro como você afirma, como ele bagunçou a linha do tempo? – Jennie pergunta curiosa.

— Bem, um dos nossos foi ganancioso demais e acabou o soltando no passado – Jin explica calmamente, de uma maneira que não as confundisse mais ainda – então ele para se vingar bagunçou o nosso destino, nos deixou aprisionado nesse mundo e levou a Ashee embora.

— E como nós ainda existimos? – Eva pergunta.

— Vocês estavam fora do alcance dele – Jimin responde tendo a atenção dela – ele jamais poderia tocar em vocês, Arwen arrancaria a cabeça dele.

— Aliás, quem é Arwen? – Alicia pergunta e recebe um sorriso do Yoongi.

— Vocês já ouviram coisa demais por hoje, melhor descansarem – ele fala e deita em sua cama – vou dormir e quero silêncio.

Todos os outros fazem o mesmo, e elas apenas saem dali, indo para a sala de conferência, precisavam de um tempo para pensar melhor, mas não teriam nem um mísero segundo, pois Lis vinha na direção delas com Laura em seu encalço, enquanto corriam ofegantes.

— O que houve? – Jennie pergunta preocupada.

— Temos um problema – Lis para respirando fundo – eles estavam certos, nós não existimos nessa dimensão, acham que somos pacientes que fugiram, isso aqui é um manicômio e temos que ir embora, agora.

Elas se entreolham assustadas demais para tomar uma decisão instantânea, então retornam ao único lugar que poderiam ajudá-las, o quarto dos douradinhos.