Milenares

01 de setembro de 2047, Cidade de Nova Iorque.


Mil anos atrás, confins do universo, Cidadela de Orion. Localização atual: planeta Millenium. Guerra de Millenium.

— Você irá fracassar com uma flechada no ombro esquerdo, tudo por causa daquele infeliz do Kim – a loira rosna para a outra, que parece perplexa ao ver sua cópia em sua frente, com a única diferença marcante, as asas.

— Quem é você? – ela pergunta confusa, recebendo um revirar de olhos da outra – eu nunca fracassaria, eu sou poderosa e inteligente.

— Bem, eu e Chronos concordamos que você é meio sem noção.

Chaeyoung havia chegado do futuro a algumas horas, foi quando ela decidiu que precisava prevenir sua eu do passado e evitar que ela perdesse a pedra, precisava que desse certo, ela queria poder controlar o tempo, acabar com os queridinhos de Millenium e tomar tudo para si, mas isso só seria possível, se claro, ela tivesse disposição para o fazer.

— Não mate Xiumin, ou arranque as asas da Ashee, deixe que eles fiquem livres, só pegue a pedra e saia – Chaeyoung fala firme.

— Eu não recebo ordens de você – Jade retruca, claramente irritada, odiava receber ordens, mesmo que estas houvesse vindo de sua cópia fiel.

— Chronos quer liberdade, e eu quero poder, nós queremos, se você me ouvir agora, poderemos ter tudo.

Jade semicerra os olhos por um momento, não estava certa de que a ela do futuro estava realmente falando a verdade, e até duvidava um pouco das intenções de Chronos, por isso queria tanto a pedra, pois com ela não só poderia libertar o titã, como também poderia controla-lo a fazer o que ela bem quisesse. Mas duas coisas estavam terrivelmente erradas no plano das duas, primeira, aquela pedra não podia ser utilizada a menos que a própria Asterin ou Ashee a utilizasse, era o mecanismo de segurança dela, nunca deixaria um objeto tão valioso nas mãos de qualquer um. E segunda coisa, Chronos definitivamente não daria poder a elas, pois ele o adorava e nunca abriria mão por uma mera milenar.

Mesmo contrariada, Jade apenas concordou com sua cópia e foi ao encontro de D. O., que já havia sinalizado que havia pegado a pedra e que estava no ponto de encontro, então ela simplesmente partiu.

A cena aconteceu exatamente como deveria ter acontecido, a única diferença é que Ashee não havia perdido suas asas e Xiumin não havia morrido dessa vez, sobrando tempo para Jade sumir dali com a pedra em mãos, antes dos outros chegarem. Os outros do futuro não haviam conseguido impedir o que aconteceu, e aqueles que estavam no passado não puderam fazer nada.

E como previsto, Chronos foi libertado, Jade morta e o universo ficou um caos maior do que deveria, transformando a vida daqueles que haviam sobrevivido naquela batalha, em um verdadeiro inferno.

O futuro estava complemente alterado e não havia nenhuma forma de desfaze-lo, eles já estavam sendo levados de volta ao seu tempo e por pior que fosse, as lembranças em suas cabeças elas eram mais do que necessárias, pois apesar de ser dolorosas, também era importante para que eles pudessem compreender o futuro que os aguardava.

01 de setembro de 2047, Cidade de Nova Iorque. Localização atual: planeta Terra.

A garota acordou com uma tremenda dor de cabeça, seus olhos doíam e ela mal conseguia abri-los, tudo que se lembrava era que havia tido um sonho muito louco, onde havia anjos, Titãs, poderes e muitas coisas estranha que não fazia parte da sua realidade. Um verdadeiro conto de terror.

Jennie, ela ouviu sussurrarem em seu ouvido, mas como havia acabado de levantar, apenas achou ser algum tipo de delírio pelo sono recém despertado.

Ela foi direto para seu banheiro, precisava fazer sua higiene e tomar seu café para finalmente ir trabalhar, mas nesse ínterim, ela sentia algo estranho, que por mais que quisesse esconder ou ignorar, apenas não conseguia.

Por isso ela caminhou até o quarto de hóspedes e abriu a porta, dando de cara com um brilho estranho ali dentro, sua curiosidade era tremenda, então ela adentrou o quarto e foi em busca da fonte daquela luz, e o que inicialmente ela achou que era uma lâmpada, ela descobriu ser uma pedra vermelha, muito bonita.

Pegue, a voz disse novamente, fazendo-a se sobressaltar e olhar para os lados, será que estava tendo alucinações auditivas agora? Mas seria muito difícil, certo? Ela não tinha histórico de doença na família e não tinha tomado nenhum tipo de medicamento, nem estava sofrendo efeito de nada, por isso ela apenas deu de ombros e decidiu ir para seu trabalho, largando a pedra em qualquer lugar do seu quarto.

O caminho até o hospital foi feito com tranquilidade, mas a notícia que lhe esperava, estava longe de ser tranquila, e isso se dava ao homem que a esperava.

— Bom dia, doutora Kim – fala sua secretária amigavelmente – o senhor Bang está a sua procura.

Ela franze o cenho completamente confusa, Bang P.D., era ninguém menos que o dono daquele lugar, um hospital psiquiátrico de referência que atendia não só pacientes em tratamento, mas também, em reabilitação e de emergência. O Big Hit Memorial poderia ser considerado único, pois nenhum outro era tão bom quanto ele, sua equipe médica era composta não só por psiquiatras, mas também por médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, nutricionista, entre outros.

A mulher bate à porta timidamente e ouve um “entre”, abafado. Então ela apenas adentra a sala e se curva lentamente desejando um bom dia as pessoas ali presentes.

— Bom dia, doutora Kim – Bang fala e aponta para a cadeira do lado da outra mulher – sente-se por favor.

— Me disseram que desejava a minha presença, o que posso fazer pelo senhor? – a Kim pergunta se sentando na cadeira e sorrindo tímida para a mulher que apenas lhe encarava.

— Hm – Bang pensa um instante, não sabia o que dizer, aquilo parecia loucura até mesmo para ele – os casos da doutora Lis, ela deseja sua ajuda na clínica dela.

A morena olha para a outra completamente confusa.

— Deixe-me apresentar-me, eu sou Lis Beckham, PHD em psicologia, dona da clínica Mind and Body Healthy, e bem, a minha equipe precisa muito de uma psiquiatra para analisar alguns casos meu.

— Mas... – ela olha de Bang para a mulher ao seu lado – eu, já tenho o hospital e...

— É temporariamente Jennie – Bang trata de esclarecer – os seus casos aqui serão cuidados pelo doutor Lee e você pode ajudar a doutora Beckham no tempo que puder.

— Bem, tudo bem – Jennie dá de ombros parecendo não se importar muito com o fato de estar sendo transferida tão rapidamente, mas na verdade ela se importava e muito.

— Okay, agora vamos lá, preciso te apresentar a minha equipe e aos seus novos pacientes.

As duas saíram de lá juntas, sem trocar mais nenhuma palavra, Jennie porque estava imersa nessa mudança radical que sua vida obtivera e Lis porque ainda insistia em pensar em seus casos mais graves.

Assim que chegaram na clínica de Lis, Jennie se sentiu maravilhada, aquilo mal poderia ser considerado uma clínica, o espaço era enorme, com muito verde, um jardim muito bem arrumado, havia pessoas passeando por ali, os prédios separados indicavam que provavelmente um era para tratamento e outro para dormitórios, já que três deles tinha um astral diferente, como se fossem apartamentos. O rol de entrada tinha uma recepção muito bonita em tons claros.

— Isso aqui é mesmo uma clínica? Nossa, eu acho que moraria aqui – Jennie fala e Lis sorri terna.

— Essa é a intenção, que os pacientes que cheguem aqui se sintam assim como você se sente, em paz, aconchegada – ela sorri orgulhosa olhando para frente – esse aqui é o meu legado – Jennie suspira com uma sensação de paz, mas logo algo toma conta do seu peito, a mesma energia estranha que havia sentido pela manhã – bem, vamos lá que eu quero te apresentar imediatamente.

As duas caminharam até o prédio mais largo e logo adentraram, Jennie pôde ver que ali era realmente o local onde o tratamento acontecia, havia muitas salas, duas recepções e espaços abertos, talvez para fazer atividades ao ar livre.

Elas adentraram uma sala de conferência e Jennie viu algumas pessoas já ali presentes.

— Doutora Kim Jennie, essa é a minha junta médica, as melhores nas suas áreas – Lis fala apresentando as mulheres a frente – essas são, as PHD em psicologia, a doutora Eva Marin, Lilian Rivers e Debra Aveiro.

— É um prazer – Jennie sorri e Lis continua.

— Bem, as outras três são Alicia Mavis, a nutricionista chefe, Laura Everton, a fisioterapeuta e Talita Lerman, não é médica, é advogada.

— Seja bem vinda – Talita fala estendendo a mão para ela que aperta gentilmente.

— Já apresentou os douradinhos pra ela? – Debra pergunta com clara diversão na voz.

— Fique quieta, antes que eu lhe demita – Lis ri e olha para Jennie que parecia confusa – vamos lá, vou te apresentar nossos douradinhos.

Jennie queria perguntar quem era, mas por fim apenas se calou e seguiu a mulher pelo corredor, até uma área que não era tão agradável ou tão bonita assim. Parecia sombria, fria.

— Essa é a Ala dourada, nossa ala de segurança máxima – Lis explica – esse lugar não é só para tratar casos leves, ou dar beleza no tratamento, temos casos pesados também, e pra isso temos essa ala, feita para os perigosos.

— Tem muitos pacientes aqui? – Jennie pergunta curiosa, já que elas estavam diante de uma porta de metal enorme.

— Temos apenas onze – ela suspira e coloca o crachá no local próximo ao segurança que estava ali parado – vamos lá – o portão se abre e elas adentram o local revestido em branco, tinha algumas espécies de cela, que na verdade eram quartos, com banheiro próprio, e decorações feita por eles mesmos, cada quarto tinha uma cor e objetos diferentes, apenas a enorme porta de vidro os impedia de sair dali – esses quatro primeiro chegaram para nós afirmando serem os cavaleiros do apocalipse— ela dá ênfase nas últimas palavras, como se fosse uma espécie de zombaria, mas na verdade não era – Lee Yeri e Lee Yumi são gêmeas, segundos elas uma é morte e a outra peste – Lis suspira dando uma pausa enquanto Jennie olhava para as duas que podiam se ver através da parede de vidro interna.

— Essas paredes de dentro ficam sempre assim? – Jennie pergunta.

— Não, eles tem um controle lá dentro que podem dar privacidade a eles – Lis explica e Jennie assente – os outros dois são Park Chanyeol e Byun Baekhyun, fome e guerra, não me pergunte, ainda não identificamos seus transtornos, ou se é que não passa de um delírio em conjunto.

— Há quanto tempo estão aqui?

— Um ano exatamente, vamos conhecer os casos mais graves.

— Eles não são os mais graves? – Jennie parece espantada.

— Ah são, mas os outros são de dar mais medo na alma – Lis fala e caminha a próxima cela, essa estava com as paredes de dentro completamente fechadas – esse é Kim Namjoon, muitíssimo inteligente, e muito sábio.

— O que ele tem?

— Transtorno cleptomaníaco, foi trazido para cá depois de ser pego roubando joias, aparentemente só foi pego porque quebrou um colar muito caro – Lis fala contendo o riso, deveria estar falando sério, mas ao lembrar de Namjoon sendo chamado de Deus da destruição pelos outros, ela só queria rir – vamos ao próximo – ela anda para o seguinte – Kim Seokjin, transtorno alimentar, não identificamos qual porque ele sempre faz joguinhos mentais com a nutricionista, Alicia está cansada dele.

— Ele não parece ter transtorno alimentar, parece saudável – Jennie comenta estranhando o fato de Seokjin não estar se olhando no espelho de maneira negativa, ele estava mais para um admirador de si próprio – ele parece um pouco narcisista.

— Ele é tudo, menos isso – Lis fala e segue para próxima cela, o garoto que lambia a mão como um gato, enquanto encarava Lis com um sorriso de escárnio – esse é Min Yoongi, transtorno depressivo.

Jennie franze o cenho, Lis tinha mesmo certeza de que esses garotos davam medo na alma? Min Yoongi mais parecia um gatinho fofo, enquanto piscava com uma aura inocente.

— Não se engane pela cara fofa, vera quando estiver sozinha com eles – Lis alerta e caminha para a próxima – esse é Jung Hoseok, transtorno obsessivo-compulsivo – Hoseok estava ocupado demais colorindo um desenho de sol, então não fazia questão em prestar a atenção nelas, ele logo que terminou correu para a parede e bateu, chamando a atenção de Yoongi que se sentou de frente para o outro e sorriu terno, as duas caminharam mais à frente – este é Kim Taehyung, transtorno de personalidade narcisista, um verdadeiro ego – Taehyung parecia triste olhando para os outros dois tão próximos do outro lado da cela, então elas caminham mais à frente – esse é Park Jimin, transtorno bipolar – Jimin estava sentado com as costas apoiadas no vidro enquanto sua cabeça recostava e ele respirava lentamente.

— Por que eles me parecem tão tristes? – Jennie pergunta e obtém a atenção de Jimin sobre ela, um arrepio subiu em sua espinha, o olhar dele era penetrante.

— Bem, é uma história confusa, por isso preciso da sua ajuda – Lis fala meio apreensiva.

— Você disse que eram onze, cadê o último?

— Ah, Jeon Jungkook – Lis a leva para o último quarto – transtorno explosivo intermitente, sua raiva sempre entra em pico depois que ele termina um determinado desenho – Lis indica dentro do cubículo e Jennie pôde ver com clareza todos os desenhos espalhados pelo quarto, mas apenas um deles lhe chamou atenção, ela olhou cuidadosamente, se agachando e prestando atenção nos detalhes – o que foi?

Jennie aponta para dentro do quarto, indicando um desenho que estava ali bem próximo. Ela reconhecia aquele rosto, sabia muito bem a quem pertencia, só não sabia o motivo da mulher nos seus sonhos estar diante de si, em forma de desenho.

— Eu conheço ela – Jennie murmura perdida em pensamento, tão perdida que não notou a cara de confusa de Lis – eu sonhei com ela hoje.

A outra não respondeu, não havia palavras a dizer. Jennie olhou para frente e o garoto a encarava como se pudesse ver sua alma.

Farol, fora sussurrado no seu ouvido, mas ela tinha dúvidas sobre ter sido Lis, pois aquela voz era a mesma que havia ouvido de manhã.

— Você a ouve – Jungkook estendeu um sorriso nos lábios, mas não era nada perturbador, e sim nostálgico – precisa nos ajudar.

— Eu não sei do que está falando – Jennie se levanta, e se afasta um tanto da parede de vidro, mas o rapaz da cela ao lado faz questão de grudar as mãos no vidro, chamando atenção das duas.

— Você sabe – ele balbucia – você sabe, e é a única que pode nos ajudar.

Jennie ri nervosa e olha para Lis que parecia confusa, eles nunca haviam falado tanto assim. Só interagiam quando alguém perguntava algo, e mesmo assim, as respostas eram muito vagas, e essas pareciam ser repletas de significado.

— Vamos embora – Jennie fala apressada, tratando de começar a caminhar para fora dali, mas a voz de Jimin a paralisou por completo.

— Você achou uma pedra vermelha hoje, sentiu ela te chamar assim como está sentindo a nós – ele fala e se cala por um instante – pode tentar fugir, mas não poderá se esconder doutora Kim, seu destino foi laçado, e nós sempre estaremos nele.

Mil e uma coisas se passavam na cabeça da morena agora, ela não havia dito seu nome para ele, não havia se quer comentado com alguém sobre aquela pedra estranha que brilhava no seu quarto de hóspedes. Por isso ela tratou de sair dali às pressas, sem ao menos se despedir de Lis, se tinha algo mais estranho naquele dia, ela não desejava nem pensar, por isso seguiu para o único lugar que poderia ter paz, sua casa. Mas, mal sabia ela o que a aguardava.