Sangue manchava a areia por onde aquele ser passava. Pedaços de sua armadura prateada caíam naquela área escura que Morroc havia se tornado, antes uma das cidades mais belas de toda Rune-Midgard. Diferentemente daquilo que havia destruído a cidade, no entanto, o que seria testemunhado dessa vez seria algo muito diferente, algo sem nenhuma explicação aparente, ao menos até este dia em especial.

O paladino deu mais alguns passos pesados antes que suas pernas cedessem e jogassem seu corpo contra o chão. Sua aura, aquela adquirida apenas pelos guerreiros mais fortes do planeta e que alguns imaginavam ser apenas um mito, espirrou de seu corpo com o impacto, misturando-se com o avermelhado de seu sangue. Com o que restava de suas forças, o homem tentou se levantar, mas algo surgiu sobre suas costas, empurrando-o de volta ao chão com aquele calçado macio de tecido leve. Seu tronco quebrou um espeto grudado no que restava de sua armadura, que também começava a perder o brilho, quando chegou ao chão, denunciando o responsável por sua morte.

— O… O que você… quer de mim…? — questionou, com a voz trêmula e ofegante, sem força suficiente nem para mostrar o medo em sua voz.

O homem apenas riu. Sua dor era engraçada para ele.

— Acho que você sabe o que eu quero… — ele respondeu, voltando a fechar seu sorriso. Ele ficou em silêncio por alguns curtos instantes, talvez esperando que o outro dissesse mais alguma coisa, mas recebeu apenas uma respiração cada vez mais ofegante em resposta. — Ok, se você não tem últimas palavras… — Armando sua balestra, ele apontou para a cabeça do paladino caído — Vamos acabar logo com isso.

— Você sabe que… nunca vai conseguir o que quer, não é…? Devia desistir…

Surpreso com as palavras audaciosas do homem caído à sua frente, o atirador abaixou seu corpo. Esticando a mão até a cabeça do paladino, ele puxou seu cabelo para levantar seu rosto e poder olhá-lo mais de perto, interrompendo suas palavras.

— Desistir? Tá brincando com a minha cara, não é? — perguntou entre os dentes, a voz bastante irritada. Levantando seu olhar para o horizonte, ele reparou na subida do sol no horizonte. Ele voltou a ficar de pé. — Acabou, Anthony. É o fim da sua jornada. Espero que tenha se divertido…

Com um sorriso bastante debochado no rosto, o arqueiro voltou a mirar sua arma para o paladino. Houve apenas o movimento do puxar do gatilho e tudo estava acabado: a flecha dourada atingiu em cheio a nuca do caído, preenchendo-se lentamente do líquido vermelho que saía de sua nuca. O paladino, inconsciente, não esboçava mais reação.

Olhando para o cadáver, o Atirador ficou em silêncio. Seu rosto, que agora era progressivamente iluminado pelo sol da manhã, parecia, de alguma forma, arrependido… Após alguns segundos assim, ele abaixou-se para agarrar o rosário preso ao pescoço do morto. Partiu logo em seguida, deixando a cidade antes que alguém o notasse.