Midgard Heroes - A Canção de Glast Heim - Livro 1

Capítulo 4 - Uma missão perigosa, planos que dão errado e o Labirinto da Floresta


Estalagem, Prontera, 11:25 da manhã

— Será que não vamos ter um momento de paz nessa cidade?! — exclamou Daniel, abrindo com força a porta do quarto e direcionando-se à saída de estalagem. Mesmo pertencendo à uma classe teoricamente pacífica, Daniel sempre tinha momentos explosivos quando via algo dar errado. Talvez, com tudo o que estava acontecendo, esse não fosse o melhor momento para isso.

O quarto mergulhou no silêncio nessa hora porque ninguém sabia realmente como reagir àquilo. Isabela era a única que se movimentava até então, andando com curativos e sedas de um lado para outro, limpando o ferimento de Nicolas, preparando-o para ser enfaixado. Ao lado da cama de Nicolas, Beatrice estava deitada. Michael, ao seu lado, apenas a observava em seu silêncio contemplativo.

Em determinado momento, também um tanto explosivo, Nicolas não se conteve.

— Beatrice, pode me dizer o que raios estava fazendo em cima do telhado?!

A Atiradora levantou o corpo, igualmente descontente, para encará-lo.

— Eu os salvei, não? Qual a importância de ter subido no telhado? Já ouviu a máxima “a melhor posição para um Atirador de Elite é quando ele não pode ser visto”? Pois então, é o lema de minha família. Se eu não subisse até o telhado, a sacada talvez não fosse o suficiente.

— Seu lema não importa se você estiver entre a vida e a morte — ele respondeu, com dureza na voz, movendo-se tanto que dificultava o trabalho de Isabela, que tentava de todos os jeitos terminar de limpar sua ferida. — Imagine se a sacada não existisse? Teria caído direto no chão e poderia até estar morta agora. Isso não ajuda em nada…

— Podem parar de discutir, por favor? — interrompeu-os Michael, ríspido, levantando-se da cama. — Temos assuntos mais importantes à resolver do que decidir se o que Beatrice fez foi inteligente ou não.

Direcionando-se à porta, o Paladino fechou-a lentamente enquanto terminava de falar.

— Vou ver onde Daniel foi…

Isabela continuou organizando os curativos no abdômen de Nicolas, que soltou guinchos devido à dor do corte, que era bastante profundo. Felizmente, não parecia estar envenenado ou coisa assim; o pior que ele sentia era mesmo o vazio no local da estocada.

— Vai com calma… — pediu, gentilmente, à menina, logo após um gemido, tirando a mão dela do local e fazendo-a parar por um momento para respirar. Depois de puxar o ar profundamente, deixando-a voltar ao seu serviço, ele virou-se mais uma vez para Beatrice, convencido que Michael tinha razão em suas palavras. — Ele tem razão. Eu estava sendo estúpido e temos mais com o que nos preocupar — E, com a voz mais suave, terminou: — Obrigado, Beatrice, por salvar a nossa vida.

— Pronto! — exclamou Isabela, impedindo que Beatrice pudesse responder àquilo. Finalmente, Nicolas estava todo enfaixado. Era um pouco desconfortável porque forçava suas costas, mas ainda era melhor do que sentir a ferida aberta com toda certeza. Levantando-se, ele esticou um pouco o corpo, fazendo-o estalar, tentando se habituar ao curativo novo. — Está melhor?

Ele sentou-se novamente na cama antes de responder.

— Sim, muito melhor, Isabela, muito obrigado — agradeceu, sentando-se novamente. — Agora que todas as feridas estão devidamente cobertas, podemos voltar ao trabalhar e unir o que descobrimos até agora?

Beatrice moveu-se em sua cama também, sentando-se na beirada, e Isabela fez o mesmo. Ficaram ambas à frente de Nicolas, que começou a teorizar em voz alta.

— Primeiramente, Beatricee foi eletrocutada na primeira parte da investigação. O que derrubou o prédio onde isso aconteceu foi algo direcionado apenas à ele, visto que não destruiu muita coisa ao seu redor. E foi algo que veio de cima, também, por conta da cratera. Eu diria Tempestade de Raios ou Trovão de Júpiter… São fortes o bastante para derrubar um prédio e manter suas bases carregadas daquela forma.

— Sim, habilidades de um Bruxo ou um Sábio — continuou Isabela, confirmando e concordando com o que Nicolas dizia. — Mas quem quer que tenha feito isso não o fez de maneira correta, afinal… Bem, aquele desordeiro voltou para te caçar.

— E tem algo em comum entre as vítimas recentes, também — atestou Beatrice. — São ambos da Guarda Real. Talvez seja coincidência, mas seria jogar muito seguramente achar que não há relação entre eles.

Aquela informação era um tanto nova para Nicolas, mas, depois de pensar mais um pouco, reparou que fazia bastante sentido no contexto como um todo. “O Desordeiro tinha liberado um Bafomé sobre o castelo de Prontera…” lembrou, o que indicava que talvez quisesse capturá-lo ou matá-lo também. Assassinar os guardas de Tristan era um bom meio de alcançá-lo sem resistência, afinal.

Nesse momento, Michael Halig retornou ao quarto, seguido de perto por Daniel, que parecia bastante mais calmo. Nicolas sorriu para os dois, mas foi Isabela que se pronunciou em resposta:

— Oh, conseguiu encontrar ele?

— Sim — retorquiu Michael, passando pela entrada e sentando-se na cama de Nicolas. — Conversamos um pouco, acho que não vai acontecer de novo.

Ele largou sua espada e seu escudo na parede ao lado antes de voltar o corpo à frente novamente e continuar a falar.

— Ouvi rumores enquanto andava por Prontera, vindos de Geffen. Aparentemente, Tristan está por lá.

O espanto foi geral.

— Em Geffen? — A voz era de Beatrice, que curvava o corpo para ficar mais próximo de Michael. — O que ele está fazendo lá?

— Nós não sabemos — interrompeu Daniel, abrindo a boca pela primeira vez desde que saiu. Apesar disso, parecia fingir que nada havia acontecido, soando o mais calmo que sua voz lhe permitia. — Na verdade, era apenas um casal conversando sobre um boato — E encolheu os ombros —, não sei se vale realmente a pena acreditar nisso.

Nicolas voltou a colocar a mão sobre o queixo, pensativo, procurando encaixar os pontos descobertos até agora.

— Bem, já sei o que faremos — disse, enfim, com um plano em mente. — São mais três guardas reais, certo? Precisamos descobrir onde eles estão, e formaremos três grupos para isso: Michael irá com Daniel porque se entendem melhor entre si; eu irei com Beatrice, pois posso lhe dar a cobertura que precisar…

— Já eu…? — questionou Isabela, um tanto retoricamente, já sabendo onde aquilo ia terminar.

— Você, bem, é nosso terceiro grupo. Vai atrás de Tristan.

Isabela pareceu um tanto espantada com a escolha dos grupos.

— Como é? Michael é mais experiente que eu em batalhas. Por que não o manda em meu lugar?

— Não, Isabela, você não entendeu. Você é a segunda melhor em luta em nosso grupo, e talvez a melhor em velocidade e, o mais importante, em rastreamento… Achar Tristan não vai ser um trabalho fácil, considerando que ele não quer ser encontrado. Se alcançá-lo antes que faça algo estúpido, você conseguirá salvá-lo. Entende o que eu digo?

Ainda um pouco confusa, ela refletiu sobre a explicação dele. Ele tinha razão, afinal. Com um rápido movimento de cabeça, ela confirmou que tinha entendido seu papel e o cumpriria sem mais contestação.

Voltando-se aos planos, Nicolas virou-se para Michael e Daniel.

— Vocês dois sairão na frente. Devem saber que os soldados do rei são divididos por força, e os três que sobraram são os mais fortes.

Michael assentiu em confirmação — era fato conhecido por todos que, apesar do rei ter buscado por pessoas de nível parecido em sua guarda, alguns se destacavam mais que outros.

— Pretendo que vá atrás de dois deles, os dois mais fracos entre os restantes, que costumam trabalhar juntos e não estão em Prontera no momento. Meu trabalho aqui, com Beatrice, será de dar apoio ao guarda mais forte do grupo, que com certeza também será o alvo do inimigo mais forte.

Enquanto Michael levantava-se de seu lugar com um semblante bastante sério, pegando seus equipamentos de volta, Nicolas encerrou-se:

— Pode partir quando achar-se pronto. Boa sorte, Michael.

— Tudo bem — respondeu, apenas, antes de sair do quarto para conseguir informações. — Vamos, Daniel, não podemos perder mais tempo.

Quando os dois saíram, Nicolas virou-se para Isabela, que entendeu o recado apenas com o olhar amigável que ele deitou sobre si. Ela levantou-se de súbito, ajeitando as Katar presas à cintura, certificando-se que tinha todos os itens necessários para sua missão de rastreamento antes de voltar a olhar para ele.

— Voltarei viva, é uma promessa — Apesar da voz séria, ela sorria gentilmente para ele. — Espero que cumpra sua parte também, Nicolas. Quero vê-lo novamente…

— Não se preocupe — ele respondeu. — Estarei vivo quando isso tudo acabar.

Isabela sussurrou um “certo”, direcionando-se à saída, sumindo no longo corredor em direção ao centro de Prontera.

Beatrice, por outro lado, que ainda estava no quarto à sos com Nicolas, direcionou-se à sua aljava para certificar-se que tinha flechas suficientes. Como a resposta era afirmativa, ela apenas colocou-a nas costas, empunhando novamente seu arco, apertando as cordas dele para garantir que estariam bem firmes para a luta.

— Estou pronta, quando quiser.

Com apenas um aceno, visto que tinham perdido tempo demais com conversas, os dois saíram também, em direção ao castelo de Prontera.

Quando entraram, foram recebidos por alguns guardas, bastante cautelosos pelo que havia acontecido anteriormente na cidade. Não era para menos, visto que um Bafomé tinha surgido, vindo de lugar nenhum, perigosamente perto do castelo. Quando descobriram de quem se tratava, entretanto, deixaram de lado a cautela, permitindo sua passagem sem maior resistência.

— Preciso falar com o responsável pelo castelo — pediu ele, tentando ser o mais polido possível. — Sei que Tristan não está, mas também sei que alguém ficou para ocupar seu lugar. Tragam-me esta pessoa, por gentileza.

Os quatro soldados que os abordaram trataram logo de responder ao pedido. Estranhamente, o sub-lider da guarda, logo depois do Chefe da Cavalaria, foi quem os atendeu.

— A que devo a honra, senhor Ebert, senhorita Yamada? — questionou o homem, ligeiramente robusto sob seus trajes de couro cozido.

Porque era ele o responsável, Nicolas não fazia ideia, mas, confuso, não conseguiu formar palavras em sua boca. Foi Beatrice a responsável pela pergunta seguinte:

— Onde está o líder da Guarda Real? Não é ele quem deveria tomar conta do castelo quando Tristan está fora?

O homem virou um olhar bastante amigável para Beatrice, sorrindo para ela.

— Oh, sinto muito, mas o senhor Gerhard não se encontra. É ele o responsável por acompanhar Tristan em sua viagem dessa vez.

Nicolas virou-se para Beatrice no mesmo momento, o ar de decepção incorporando-se em sua surpresa.

— Falhamos, Beatrice. O plano deu errado.

—---------------

Labirinto da Floresta, 3° andar, 1 hora da tarde

A calmaria que sempre se colocava naquele lugar já não existia mais. Vários soldados haviam sido derrubados e os que sobraram já não estavam mais em condições de lutar.

De um lado, um Mestre e um Professor, ambos consideravelmente esgotados, preparavam-se para voltar a luta. Do outro, uma dupla, provavelmente a mais forte dentre os adversários encontrados até o momento. De uma sincronia que beirava a perfeição, quase divina, um Menestrel e uma Cigana preparavam-se para o próximo movimento. Os dois, de alguma forma, pareciam compartilhar dos mesmos pensamentos.

— Uma pena que isso tenha de ser… — iniciou a cigana, armando seu chicote.

— … tão entediantemente fácil… — continuou seu parceiro, manejando habilmente seu pesado instrumento de cordas.

Depois disso, poucos segundos foram suficientes para que uma série de flechas se materializassem e caíssem sobre os dois. Ainda assim, os atingidos também eram mais fortes do que aparentavam — o Professor conjurou uma barreira de cor esverdeada ao redor de seu corpo e, em um piscar de olhos, o Vulcão de Flechas disparado pela Cigana foi engolido antes de atingí-lo. O Mestre, por sua vez, com habilidades proporcionadas por seus tempos constantes de meditação, movimentou-se tão rápido, quase um teleporte, quanto a natureza lhe permitia, desviando do local onde as flechas do Menestrel caíam.

— Sim, será fácil… — respondeu o Mestre, cerrando os olhos e criando cinco novas esferas, imitando o modo de falar da Cigana.

— … Para nós — completou o Professor, criando uma área protegida no chão para bloquear projeteis, imitando o Menestrel.

Gerando uma imensurável quantidade de energia ao redor de seu corpo, que chegava a gerar descargas elétricas, o Mestre criou mais esferas para circularem-no, preparando-se para seu próximo movimento. Ao mesmo tempo, o Menestrel fez um arpejo em seu violão e iniciou uma musica que ecoou no lugar. Um som bastante amigável, não fosse a situação em que se encontravam, o qual ele usou para começar a recitar palavras já conhecidas pela história: o Poema de Bragi.

A melodia, tão bem tocada, colocou a Cigana em êxtase. Suas pupilas dilataram enquanto ela dançava freneticamente ao redor do Menestrel, criando infinitas flechas de uma só vez, que caíam novamente acima de seus adversários.

O professor, um pouco menos ágil, chegou a ser atingido por algumas delas, mas o Mestre ainda era constante em desviar de todas. Com o mesmo movimento de antes, ele aproximou-se da Cigana. Perdida em seu êxtase, ela não tinha mais condições de se defender, recebendo um soco diretamente em seu rosto.

O Mestre acreditava que aquilo seria suficiente, mas, de alguma forma, não tinha sido. O Menestrel ao seu lado, igualmente hábil, iniciou outra canção durante o movimento do punho de seu inimigo, criando um escudo azulado extremamente resistente sobre o corpo de sua parceira, salvando sua vida. Não fosse isso, esse certamente seria seu fim.

— Boa jogada — afirmou a garota, com um sorriso, armando novamente seu chicote, unindo suas habilidades às do outro. — Não tão boa assim, aparentemente.

Exatamente no momento do disparo do chicote, a mulher sentiu algo segurando seus movimentos. O Professor, já recomposto das flechadas, desabilitou o golpe da Cigana com uma habilidade sua. O Mestre voltou a se mover velozmente, aproximando-se do amigo mais uma vez.

— Obrigado por me salvar, Benjamin… — agradeceu, sorrindo enquanto limpava o próprio suor da testa.

— Não se preocupe, Jean. Estou aqui exatamente para isso — respondeu, com uma expressão séria.

O atrito recomeçou logo depois. Sem que a dupla de guardas do rei notasse, o Menestrel, puxando um baralho de cartas, escolheu uma para o Professor, que começou a sentir sua energia esvair-se de seu corpo. Ele caiu no chão, consciente, mas completamente incapaz de se mover.

A dupla se separou em seguida: o Menestrel disparou em direção ao caído; a Cigana, por outro lado, mantinha sua arma apontada para o Mestre.

A primeira situação que aconteceu impediu o Menestrel de finalizar o Professor. Um Paladino se colocava entre ele e o inimigo, barrando o instrumento com sua espada, ambos chocando-se no ar. Daniel estava ali também, mas parcialmente escondido.

Jean, aproveitando-se disso, com um sorriso no canto da boca, balançou a cabeça…

— Esse foi seu maior erro… — sussurrou.

—---------------

Glast Heim, Jardins, 2 horas da tarde

O rei e seu subordinado andavam sobre a escura grama da cidade fantasma com passos bastante calmos e compassados. Ambos suavam constantemente, tentando recuperar-se das batalhas que travaram com inimigos pelo caminho. Não foi um trabalho muito difícil para os dois, mas tantas gárgulas se tornavam um incômodo bastante grande.

— Lutar com gárgulas é um trabalho bem maior do que eu poderia imaginar… — explicou Gerhard, passando a mão sobre seus compridos e morenos cabelos, bastante molhados pelo suor. — Não sabia que umas velharias como essas flechas poderiam doer tanto.

— Fale baixo, Gerhard! — respondeu o rei, sussurrando de uma forma ríspida. — Quer acordar Glast Heim inteira?

Engolindo a saliva nervosamente, o Lorde aquietou-se, continuando seu movimento vagaroso e escondido até a porta da abadia. À princípio, a calmaria parecia reinar no lugar, mas os passos que eles ouviram ecoar do lado de dentro tiraram aquela sensação.

Duas botas prateadas atravessaram o arco onde um dia houveram as grandes portas de entrada da Abadia de Glast Heim. Uma armadura, que reluzia à pouca luz do sol que atravessava as nuvens constantes sobre a cidade amaldiçoada, escondia o corpo feminino de uma Paladina.

Estranhamente, o rei já parecia conhecê-la, e isso era bem visível pela expressão que colocou em seu rosto ao percebê-la.

— Anna… — sussurrou, espantado, os olhos ainda arregalados. Por um momento, sentiu suas pernas bambearem, e Gerhard percebeu isso.

— Você a conhece?

A Paladina, que parecia já tê-los visto, foi quem respondeu a pergunta.

— Não é da sua conta, idiota — disse, em alto e bom som. O sorriso em seu rosto estava completamente diferente do que Tristan se lembrava.

Furioso com a resposta, Gerhard investiu sobre a mulher, que se defendeu sem o mínimo de esforço. O choque entre as armas dos dois não foi capaz nem de movimentar o corpo dela, ainda que Gerhard fosse o mais forte integrante da Guarda do Rei.

Quando Tristan viu-o sair de seu esconderijo, ele gritou, um sonoro “não!”, disparado com toda a força que tinha em seu peito.

— Não se preocupe, Tristan. Nós dois sabemos que você não pode perder mais tempo aqui — E, com mais uma estocada, que a Paladina teve de usar seu imenso escudo para desviar dessa vez, continuou: — Vamos, passe! Você ainda tem um longo caminho pela frente. Minha vida não é nada se for necessária para salvar Rune-Midgard.

Por um momento, o rei hesitou, mas sabia que ele tinha razão. Com passos rápidos ao redor dos dois, ele alcançou a entrada do edifício principal. Anna tentou atingi-lo quando o fez, mas foi impedida por Gerhard, que desviou o ataque da lança da Paladina inimiga com um rápido corte de sua espada em direção ao chão, gerando faíscas com o impacto do metal e a pedra que tinham sob seus pés.

— Seu adversário sou eu.

—---------------

Região Sul, Geffen, 12:05 da tarde

Sem ideia alguma de onde começar, Isabela ainda dava algumas voltas pela cidade procurando por pistas de onde Tristan teria ido. Já devia ter se passado horas desde que ele passara por ali, portanto, todos que o haviam visto já teriam provavelmente ido embora. Nem os mercadores, nem as Kafras, ninguém fazia a menor ideia de onde ele pudesse ter ido. Os poucos que sabiam sobre, comentavam coisas sem importância alguma, como o que ele estava vestindo ou comendo, mas nada que lhe apontasse uma direção. Ela precisava ao menos de um ponto de partida para começar seu trabalho, e aquilo dificultava bastante.

Já quase desistindo da busca, resolveu se sentar em um dos bancos ao redor da torre da cidade. Jogou-se desleixadamente ali, com um ar de desânimo estampado em seu rosto. Não havia o que pudesse fazer naquelas circunstâncias — sair despejando todo seu estoque de produtos ao longo daquela cidade enorme estava definitivamente fora de cogitação.

Foi nesse momento que uma mulher se aproximou dela. Um leve sorriso no rosto e um cabelo azul bastante emaranhado, preso atrás da cabeça.

— Acho… que posso ajudá-la — ela disse, vestida como uma bruxa.

— Uh… Pode? — Isabela perguntou, cheia de dúvidas bastante visíveis. — Quem é você?

— Me chamo Catarina, sou a líder da Ordem dos Bruxos aqui de Geffen.

A Algoz se espantou com a informação, porque, claro, não esperava conseguir conversar com alguém assim. Era incomum que a Líder dos Bruxos descesse de sua torre para qualquer coisa que não fosse de muita urgência…

Pensando bem, aquilo era mesmo um assunto de muita urgência.

— Posso me sentar? — a mulher questionou, apontando o assento em que Isabela se colocava. Quando Isabela liberou algum espaço para ela, ela continuou com suas palavras, tão doces quanto possível: — Bem, vamos direto ao ponto porque não quero tomar seu tempo: tenho motivos para suspeitar que Tristan foi para Glast Heim. Estava acompanhado de um de seus soldados da Guarda Real. Gerhard, se não me falha a memória.

— Motivos para suspeitar?

— Sim — ela respondeu, assertivamente —, e ambos foram para oeste da cidade. Eu os estava observando do alto da torre quando saíram. Não há outra opção que não a cidade abandonada.

— Oh! — Isabela respondeu, bem mais animada, levantando-se de súbito, apertando os dedos contra a mão em forma de punho. — É isso! Preciso sair o quanto antes, então.

Já preparando-se para sair, ela hesitou por um instante, lembrando-se que deixaria a mulher para trás sem ao menos um obrigado pela informação que ela havia lhe dado. Ainda tinha um pouco de educação, afinal.

— Você… vem comigo?

— Não, não — respondeu Catarina, com outro sorriso no rosto. — Não é meu dever e não ousaria deixar Geffen numa situação como essas. Prontera foi a primeira, mas nada impediria de Geffen ser a próxima a receber novos ataques. Se alguma ameaça cair sobre esta cidade, vão precisar da minha ajuda e da minha liderança. — Ela levantou-se e ajeitou o longo vestido amassado, também pronta para sair. — Não se preocupe comigo, parta o quanto antes. É um longo caminho até lá.

— Certo, obrigada pela ajuda.