Midgard Heroes - A Canção de Glast Heim - Livro 1

Capítulo 2 - As investigações se iniciam! (e um pequeno problema em Payon)


Catedral, Nordeste de Prontera, 6:45 da tarde

Depois de enviar suas cartas, Nicolas destinou-se ao ponto de encontro combinado com Isabela. A igreja reluzia à luz da luz e das estrelas em uma visão magnífica aos seus olhos. Não tinha passado muito tempo em Prontera nos últimos tempos, então aquilo quase voltava a ser inédito para ele. Sentando-se sob uma árvore que formava sombra sobre a grama e recostou sua cabeça por alguns instantes, ele pegou uma de suas adagas, uma Damascus, e começou a analisá-la. Já havia muito tempo desde a última vez que as afiara — até mesmo algumas pontas já começavam a se formar sobre o fio da lâmina. Era necessário que fosse à um Ferreiro o quanto antes.

Alguns sons de passos o recolocaram na realidade. Percebeu uma figura de roupas marrons, as duas mãos encostadas uma à outra na altura do peito, andar para fora da Catedral. Um homem de cabelos claros, bastante grisalhos pela idade, e um olhar preocupado direcionado aos céus.

— Padre Bamph? — perguntou, já identificando quem era, levantando-se de sobressalto. O padre virou assustado para ele, demorando um pouco a identificar quem lhe chamara. — Algum problema?

— Ah, Nicolas não é…? — perguntou, como quem lembrava-se de alguém pelo nome apenas por ter ouvido recentemente. Nicolas não era de frequentar igrejas, mas tinha entrado ali recentemente em uma investigação passada. O padre deu um breve suspiro para acalmar sua respiração, retomando a visão do céu, direcionando-a à lua. — Não sei exatamente o que, mas algo está errado… Muito errado…

O Algoz parou ao lado do senhor para acompanhá-lo. Ficaram por alguns segundos em silêncio contemplativo até que o padre recomeçou a conversa.

— Sabe, meu jovem — Ele virou seus olhos para Nicolas, que ainda mantinha os seus fechados porque aquilo acalmava seu coração, mesmo que não fosse muito religioso. Pegou um lenço do bolso da bata e secou o suor de sua testa que, mesmo no frio daquela noite de inverno, insistia em grudar-se em seu rosto. — Os tempos mudaram. Até pouco tempo, Prontera vivia tempos de paz incontestável. Nem eu, nem Tristan, nem nenhum integrante dessa imensa população. Hoje em dia, tenho dúvidas se isso continua a ser verdade…

Abrindo novamente os olhos, Nicolas ficou pensativo. Sabia que aquilo era verdade, mesmo que fosse apenas uma sensação — um sexto sentido ou, quem sabe, um sinal divino. Bamph era um homem muito sábio, talvez um dos mais sábios daquele mundo, e não devia estar totalmente errado. Passando seus pensamentos por todos os ocorridos, ele perguntou-se se conseguiria resolvê-los sem problemas…

— Não se preocupe, menino — O Algoz virou seu rosto para o padre, assustado. O homem tinha lido seus pensamentos? — Acalme-se, tudo dará certo.

Ele ficou estagnado com a resposta, mas não teve muito tempo para refletir sobre aquilo. Observou que, ao fundo, Isabela chegava com os soldados que ele havia pedido. Bamph também reparou.

— Bem… — ele disse, com um suspiro profundo. — Acho que já vou entrar. O frio está congelando minhas mãos! — E esboçou um sorriso amigável com essa frase, ainda que Nicolas não sorrisse de volta, ainda pensando no que havia ouvido minutos antes.

O padre apoiou a mão em seu ombro, tentando acalmá-lo, antes de continuar: — Boa sorte à você e a seus amigos, filho. Que Deus os abençõe… — E, retomando seus passos, finalmente entrou.

Tentando desviar seus pensamentos, ele voltou os olhos do padre para o pequeno grupo que se aproximava. Isabela era seguida por outras três pessoas: um Paladino, de bandana na cabeça e cabelos loiros muito compridos, armadura prateada, rosário, um Escudo Colossal na mão esquerda e uma Byeollungum na direita; um Sumo Sacerdote moreno de olhos igualmente escuros e roupas azul-claro, um Cajado Restaurador na mão esquerda e uma Bíblia da Magia na direita, e; por fim, uma Atiradora de Elite, de cabelos curtos e azulados, roupas de pena de condor, uma Amarra Dupla na mão esquerda e uma série de flechas em uma aljava presa nas costas.

Parecia que Nicolas havia feito a escolha certa em pedir soldados no castelo do rei, afinal.

— Oi, Nicolas! — Isabela disse, com um grande sorriso no rosto, quando estava perto o bastante para ser ouvida. Ela parecia bastante mais despreocupada que ele próprio, que ficava mais impaciente em resolver e acabar com tudo de uma vez por todas, independentemente dos resultados. — Esperou muito tempo?

— Não muito… Mas tive tempo de ter uma pequena conversa com o padre Bamph agora a pouco. Ele parece preocupado…

— Assim como você… — ela respondeu, aproximando-se dele, envolvendo seu pescoço em um gentil abraço sem força alguma. — Não se preocupe, tudo vai dar certo. Tenho certeza disso… — E, voltando-se aos outros: — Esses são os três que você me pediu para trazer. Podem se apresentar?

Tomando a frente do grupo, o Paladino pareceu o mais confiante dentre os três. Ele mesmo apresentou todo o grupo, no fim:

— Esta à minha direita — E apontou para a Atiradora, que endireitou o corpo para ser devidamente apresentada — é Beatrice, da família Bickel, conhecida pela grande quantidade de arqueiros em seus domínios. Este à minha esquerda — E apontou para o Sumo Sacerdote — é Daniel, da família Groeff, e acho que dispensa apresentações.

— A família mais poderosa de toda Rune-Midgard…? — sussurrou Nicolas. Daniel virou seu rosto, tímido por ter sido reconhecido.

O Paladino, por sua vez, apoiou a mão no peito, por cima da armadura prateada.

— Exatamente. E eu sou Michael Halig, sou o…

— Líder do clã dos Paladinos…? — Nicolas sussurrou novamente, interrompendo-o dessa vez, mas sem mostras muitas surpresa na voz. Seu tom soava como uma dúvida genuína, na verdade. — Vai participar da investigação?

Apesar de ser mais alto que Nicolas e olhá-lo de cima, sua expressão facial amigável evitava que qualquer tipo de arrogância surgisse em seu rosto. Ele respondeu o Algoz com a mesma voz suave de sempre.

— Sim. Prefiro participar para poder vingar o assassinato de um de meus colegas em Morroc. Você já deve estar sabendo disso, não? — O Algoz apenas acenou a cabeça em resposta, ainda impressionado com a altura daquele homem; ele, que costumava ser considerado alto pelos colegas e era inclusive mais alto que Isabela, tinha algo próximo de dez centímetros a menos que ele. — Bem, então dispensemos as explicações. Como você se chama?

— Me chamo Nicolas Ebert, senhor. Sou o encarregado da investigação à mando do general da Cavalaria — Ele curvou-se enquanto falava, tentando mostrar algum respeito ao homem que, de qualquer forma, ainda era superior a ele. — Muito prazer.

— Não precisa me reverenciar dessa forma, Nicolas — Michael respondeu, o sorriso voltando ao rosto. — Eu que sou seu subordinado aqui — E, com um pigarro, continuou: — De qualquer forma, o que quer que façamos?

Nicolas recompôs sua postura e o semblante sério, tentando passar-lhes alguma confiança mesmo sendo tão jovem. Por que o chefe da Cavalaria deixaria ele no comando, afinal? Talvez duvidasse demais que Michael entrasse para a investigação daquela forma. Nem ele mesmo acreditou, afinal. — Acho que, como já está ficando tarde, ganhamos mais nos recolhendo por hoje e iniciando a investigação amanhã.

Todos afirmaram ser o mais correto a fazer, principalmente Isabela, que já duvidava de uma investigação noturna desde o começo. Ela mesma o respondeu, retirando o braço do pescoço de Nicolas.

— Onde nos encontraremos amanhã?

— Acho que nos adiantarmos se nos encontrarmos no centro da cidade, mesmo. O caos pode estar mais instaurado em Prontera amanhã e será bom começarmos cedo para controlar o público. Acredito ser o melhor a ser feito.

Michael acenou com a cabeça positivamente.

— Sim, realmente, então não vamos nos prolongar muito. Vamos, soldados? — disse Michael enquanto se afastava, um risinho saindo de sua boca. — O que há com vocês que não disseram uma palavra a noite inteira?

E foi cada vez se distanciando mais, até tornar-se inaudível.

— Vai dormir na estalagem também? — Isabela perguntou, próxima a ele, retomando sua atenção.

— Acho que sim… É mais prático do que voltar à Morroc já que vamos trabalhar aqui amanhã.

— Então vamos juntos!

— Mas você não mora aqui em Prontera? — ele perguntou, o ar um pouco debochado, um sorriso fino na boca puxado para o lado esquerdo. Suas sobrancelhas mostravam um pouco de sua confusão. — Por que dormir na estalagem se pode dormir na sua cama?

Ela inclinou levemente a cabeça para ele, inconformada.

— Já não durmo na casa dos meus pais há tempos, Nicolas — ela respondeu, bastante ironia em sua voz. — Somos dois viajantes agora, sabe disso — E voltou a abraçá-lo ao redor do pescoço, bastante mais forte dessa vez. — Vai me acompanhar ou não?

Ela largou-o e partiu ao seu destino, deixando Nicolas para trás, que teve de acelerar seus pés para alcançá-la.

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Ruínas da ODP, Centro de Prontera, 6:30 da manhã

Diferente do que Nicolas havia suposto, o dia amanheceu completamente tranquilo. Talvez até demais… provavelmente porque ninguém se atrevia a sair de casa em uma situação dessas. Poucas pessoas transitavam pelo centro de Prontera, a maioria soldados da cavalaria. Atrapalhados, sérios, estranhos… Todos, exceto o próprio líder da cavalaria, que provavelmente estaria à procura de Tristan ou algo assim.

No centro, além disso, claro, também estavam Nicolas e seu pequeno grupo, que chegaram cedo para inciar as investigações.

— Preciso que procurem pistas nos arredores — pediu Nicolas, tentando exercer alguma liderança, para os guardas em posição. Sentia um imenso frio naquele dia, muito por conta do vento que chegava pelo sul, atravessando os portões de entrada. O sol também não havia saído naquela manhã e nem ameaçava das as caras, mostrando que, provavelmente, o dia passaria todo daquela mesma maneira. — Qualquer detalhe é importante. Podem passar as informações para qualquer um de nós, mas deixarei Isabela no comando dessa vez, então os detalhes devem ser passados primordialmente à ela.

— Eu, na liderança? — indagou ela, interrompendo-o. Avançou em sua direção, confusa; era talvez a que tinha menor prática naquilo… Por que colocá-la na liderança?

— Sim, Isa, quero que fique na liderança. É a pessoa com quem mais tenho intimidade e também a que mais confia em mim. Pode parecer ridículo, mas ainda não tenho total confiança dos outros, ainda estou ganhando-a. Tenho certeza que você irá me dizer exatamente o que encontrarem, não vai?

Ele esboçou um sorriso tímido no rosto, bastante padrão para suas conversas. Ainda que já se conhecessem à muito tempo, ele sempre ficava constrangido próximo à ela. Acabou por tornar-se uma mania.

Ela entendia o que ele queria dizer, de qualquer forma. Nem Michael devia confiar plenamente em suas capacidades ainda, visto que era bastante mais velho que ele. Ela era, mesmo, a mais capacitada para o papel.

— Entendo… — afirmou, respirando profundamente. — Ok, sigam-me. — e saiu, a horda de soldados à suas costas.

O garoto, por sua vez, avançou em direção às paredes derrubadas uma sobre as outras, ajoelhando-se logo à frente delas. Logo atrás de si, Beatrice se aproximou também, bastante silenciosa, mas movimentando o ar o suficiente para ser notada. Fez o mesmo que Nicolas, ajoelhando-se e observando a estrutura derrubada.

— Ali — ela apontou à um dos muros.

Para Nicolas, a garota parecia simplesmente não sentir frio. As roupas de Atiradora de Elite eram realmente curtas, mas ela não as cobria com nada. Ele estranhou, mas preferiu não comentar. A garota continuou sua analise:

— As bases ainda estão presas ao solo. Foi derrubada de cima, não por baixo, senão teriam sido arrancadas.

Realmente, aquilo era um ponto a se considerar, o qual ele não tinha reparado. As vigas de sustentação estavam rachadas pelo impacto, expondo barras de metal levemente enferrujadas, mas ainda inteiras. Ele aproximou-se do objeto para observá-lo melhor, sendo acompanhado por Daniel que fez outra observação.

— Como há uma cratera, eu julgaria que foi uma habilidade de um bruxo bastante poderoso… Estamos andando num imenso buraco, afinal.

Nicolas deu um risinho daquela anotação, bastante baixo para não ser percebido. Era uma observação desnecessária, bastante óbvia. Preferiu continuar a andar na direção das vigas à responder algo que já sabia.

— Garoto — chamou-o Michael, a voz bastante alta para ser ouvido. — Creio que, como não sou tão observador quanto vocês, minha melhor função nesse grupo seja usar meu nome… Vou dar algumas voltas pelas redondezas para ver se descubro algo. Se precisar de mim, basta pedir que alguém me procure. Não estarei longe.

— Tudo bem, Michael — ele respondeu, enquanto tirava seu casaco pelo calor e tensão de ser responsável por tudo. O frio que sentia começava a desaparecer agora que começava a trabalhar. Talvez fosse responsabilidade demais para uma pessoa como ele…

Enquanto Michael saía, Nicolas voltou a aproximar-se de Daniel, tentando detalhar o campo onde estavam. Supostamente, ninguém teria escutado o desabamento da casa, apenas a explosão, mas isso só descobririam quando Michael voltasse a se juntar a eles. Ele virou seu rosto novamente às hastes de metal depois disso, percebendo que a pouca ferrugem sobre elas não seria suficiente para um desabamento natural.

Era uma informação definitivamente óbvia, mas era um detalhe que ele resolveu considerar. Talvez a estrutura pudesse estar ameaçada e por isso tivesse caído facilmente… Mas não era o caso.

— Precisamos definir o que exatamente a derrubou para sabermos com quem exatamente estamos lidan…-

Nicolas foi interrompido por um som estridente, seguido de um grito, logo ao seu lado. Beatrice tinha tocado em uma das barras de metal e foi jogada para longe, desacordada, atingida por uma enorme quantidade de energia elétrica. Nicolas, em um impulso, correu para jogar-se de joelhos em sua direção, agarrando-a pelos ombros e apoiando-a em seu colo. Tentou pedir ajuda, mas sua voz não saiu, assustado como estava. Contentou-se com o grito de Daniel, ao seu lado, bastante próximo aos seus ouvidos, que apitavam sem parar.

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Arredores, Payon, 7:30 da manhã

Um clima amenos pairava sobre a floresta dos Lobos, com árvores apoiadas à sudoeste da cidade de Payon. Sentado sob uma delas, descansando, recostava-se um Atirador de Elite e seu falcão, que usava uma fitinha vermelha presa ao seu pescoço, pousado sobre seu ombro direito, igualmente relaxado. Era um bonito dia para se ter uma folga, definitivamente; um ligeiro calor vinha dos céus, enquanto a luz do sol atravessava a copa das árvores, caindo sobre o chão e o colo do arqueiro. O homem parecia totalmente sossegado, mas não o bastante para cochilar.

Ele continuou igualmente em paz quando ouviu os ruídos de uma pessoa se aproximando, surgindo entre as árvores. Sem movimentar-se, ele apenas assentou seus olhos castanhos na pessoa: uma Lady, de cabelos compridos e apoiados sobre sua armadura de bronze enferrujada, que já prontamente retirava sua lâmina de uma bainha presa à suas costas. Era uma simples Katana, mas a fina lâmina de metal parecia tão bem afiada quanto era possível ser.

Ela o apontou a arma, colocando-se em posição de esgrima, como forma de intimidação.

— Eu sabia que viria — afirmou ele, endireitando-se e retirando a Flor Romântica dos lábios, jogando-a longe. — Depois do que aconteceu em Morroc… Eu sabia que seria o próximo.

— Sabia, é? — respondeu ela, com um tom bastante irônico, enquanto retirava o capuz da cabeça, apoiando as mãos na cintura em seguida. — Poderia não ser você. Poderia ser qualquer um dos outros. O que o fez pensar isso?

— Você ainda pergunta? — ele perguntou, retoricamente, no momento em que se levanta de uma forma bastante desajeitada, apoiando-se no tronco de árvore. Enquanto pegava seu arco e colocava sua aljava nas costas, deu leve cutucadas no pescoço de seu falcão, acordando-o, e roçando-lhe o topo da cabeça depois disso. — Quem foi o único que dispensou a guarda do rei para que não tivesse tropeços na luta? Acho que você já sabe bem a resposta… Aliás… deve estar pensando nesse exato momento o porquê de ter sido escolhida para tal tarefa, sendo que eu aparento ser o mais fraco dentre a guarda Real. Estou certo?

A Lady só fez resmungar e abaixar levemente a espada, olhando para abaixo. Ela abria sua guarda sem perceber. Só notou quando sentiu a dor surgir em seu tronco. A flecha, direcionada pelo adversário, só não a atingiu em um ponto vital porque desviou na armadura — do contrário, estaria morta antes de sua luta ao menos começar.

— É, eu imaginava — o arqueiro continuou, abaixando um pouco seu arco. — Mas você está totalmente enganada… Sabe, uma pena eu ser tão subestimado… Acho que estou entre os guerreiros mais fortes de Tristan…

Recobrando a consciência e a postura, a mulher finalmente fez seu primeiro movimento. Não aceitaria ser atingida daquela forma, com a guarda baixa, sem uma pronta resposta. Com uma rápida aceleração e um golpe veloz de sua lâmina, ela evitou que o adversário pudesse desviar totalmente. Seu golpe não o atingiu em cheio, mas marcou sua bochecha com um belo corte e um punhado de sangue que começou a vazar logo depois.

— Pode ser forte — ela afirmou, com um guincho de dor quando tirava fora a flecha que a tinha atingido. — Mas não é nem um pouco modesto…

— Modestia? — o Atirador respondeu, com um sorriso no rosto, quando pulou sobre o tronco de árvore à suas costas. Ele passou a mão na ferida, tocando em seu próprio sangue, antes de armar outra flecha em seu Asas de Ixion, preparando-se para atirar novamente. — Desconheço esta palavra.

Dessa vez, a Lady conseguiu desviar facilmente do ataque. Com um berro, seu corpo começou a reluzir amarelo, forçando seus músculos ao extremo. Afastou-se com um salto, seguido de um leve deslize, levantando terra aos ares.

— Hm… O que é isso? — indagou, e seu tom soava bastante retórico, visto que ele devia saber do que se tratava. — Tinha me esquecido completamente desta habilidade. Vocês Lordes são criaturas interessantes, sabia?

— Eu chamo isso de “subestimar o adversário” — ela respondeu, preparando o corpo para avançar novamente.

Desafiando sua velocidade anterior, a Lady deu um imenso salto, proporcionado por uma curta corrida em solo. Ela alcançou o tronco que o Atirador repousava sem nenhuma dificuldade, acertando em cheio seu arco, que ele usou na defensiva para desviar a lâmina da espada. Ambos equipamentos foram jogados no ao ar com o impacto.

Apesar disso, mais rápida que ele, a mulher aproveitou-se de suas mãos livres para desferir-lhe um soco, que bateu em cheio contra sua bochecha. Ele foi jogado ao chão e ela caiu sobre ele, continuando seus golpes em sequência, sem parar.

— É… isso… o… seu… melhor…?! — ela berrava entre os socos lançados ao rosto do homem. A cada movimento, o rosto do Atirador tornava-se mais ferido e roxo, quase colocando-o inconsciente.

Porém, ao dobrar o corpo, ele conseguiu uma brecha para chutá-la para longe. Com uma rápida corrida, ele jogou-se ao chão perto de seu arco, ficando apoiado sobre seus braços por alguns instantes, tossindo muito sangue e pedaços de seus dentes, que caíram por conta dos punhos da mulher contra seu rosto.

Isso foi tempo suficiente para observar a Lady entrar em seu frenesi. Seu corpo, que transbordava em uma aura amarela, agora tornava-se completamente vermelho. Ainda atordoada, mas recuperando-se por conta da habilidade, ela tentava alcançar sua Katana, que estava jogada à uma pequena distância de seu corpo.

Uma flecha, entretanto, atingiu a espada, jogando-a ainda mais longe, próxima a uma rocha. O atirador, que também tinha suas habilidades, sentiu o corpo ficar mais ágil por conta de seu arco, aproveitando a chance para atingi-la. Tirando de sua cintura uma Adaga Sinistra, que mantinha em seu cinto, ele avançou contra a outra, que corria em direção à sua espada novamente.

O sangue jorrou…

Uma fenda abriu-se no abdômen do Atirador. A Lady, ainda de costas, alcançou sua espada e fincou-a no corpo do adversário, que corria em sua direção sem proteger sua própria guarda. Ele caiu e, finalmente, a batalha se encerrou.

Enquanto observava seu inimigo ir ao chão, a Lady, igualmente esgotada, ainda teve tempo para uma última frase, antes de sumir por entre as árvores:

— E ainda se diz… Forte…