Papai, o mais alienado que todos nós, afastou calmamente da mesa, não fazendo ideia de como me ajudara a ter algo para provocar meu irmãozinho pelo resto do fim de semana. “Vamos lá. ”

E assim que eles passaram pela porta, solto uma longa gargalhada que, com certeza, pagará por todo o trabalho que tive ao voltar para casa.

(…)

Já era fim de tarde quando paramos para descansar. O dia se resumiu em passar a manhã ajudando nossos pais com as coisas, porque claro, aquela não seria nossa mãe se não resolvesse ajeitar mais malas, com coisas que dizia ser extremante essências, bem na hora de ir para a viagem. Levou praticamente toda a manhã para que mamãe ficasse satisfeita novamente, porém demorou mais algumas horas para que conseguíssemos uma nova passagem para eles.

“Tenham cuidado com a casa, por favor. ” Consegui ouvir mamãe sussurrar para Jeong quando o abraçava. “São só dois dias, mas para mim, será como uma eternidade...” Ela finalizou dramática.

“Duvido que se quer pensará na casa enquanto estivermos naquele resort chique…” Papai me confidencializou baixinho, e nós rimos juntos do drama de mamãe. “E juízo vocês dois…” Voltou a falar sério para todos nós, e neste momento ouvimos o anúncio que seu voo estava prestes a sair. “…. Vocês podem ser adultos, mas a casa é minha, e vocês podem pagar caro por qualquer coisa que aconteça com ela. ” Ditou.

“Sim, papai. ” Eu e Jungkook respondemos em uníssono.

“Tomem cuidado. ” Mamãe insistiu, e logo papai já voltava a abraçá-la e depois de checarem algumas vezes se ainda estávamos os assistindo sair do hall de embarque, eles acenaram em saída.

(…)

“Vamos pedir pizza para o almoço? ” Perguntei assim que chegamos em casa, vendo gukk se irritar ao tentar fechar direito a porta velha do antigo Celta 2003 do papai.

“Pensei …” e quando se voltou para mim, rir ao notar que acabara prendendo sua roupa ao fechar a porta do carro. “…. Que iria cozinhar para a gente…” E eu simplesmente não conseguia parar de rir ao ver ele lutando para puxar o tecido preso naquela velharia. “Mas que droga de casaco! ”

“Agora eu entendo sua aversão por roupas, elas de detestam...! ” Me esforçava para parar de rir, e fui em direção ao carro, para ajudá-lo a sair dali.

“Ah, e mamãe disse que éramos para comer bem, sem porcarias. ” Jungkook ditava enquanto tentava alinhar novamente seu casaco amassado pela porta.

“Pizza não é porcaria, e vamos comer ela muito bem…” Sorrir ao lembrar de como convencê-lo a não reclamar. “.... Ou, você quer que sua querida noona, prepare uma comidinha para você? ” Fiz minha voz mais melosa para correr em direção a ele que já se afastava de mim. “Hein? Você estava com tanta saudade de sua noona assim? Quer que sua noona lhe retribua o carinho que você deu ontem à noite, hum? ” Conseguindo alcançá-lo, e já lhe apertava as bochechas – como eu sabia que ele detestava – e fazia uma careta ridícula para ele. “Quer que eu lhe dê comida na boquinha? Lhe dê banho? Essa noona é todinha sua! ” Gargalhei enquanto o prendia em um abraço que ele se esforçava em sair.

“Ah, meu Deus! ” Ele me empurrava para o lado e eu insistia em agarrá-lo. “Tudo bem, faz o que você quiser, só me solta de uma vez, sua maluca. ” E enfim eu o deixei se soltar de mim.

“Mas você ama essa sua irmã maluca, não é? ” Sorri enquanto via ele entrar apressado para dentro de casa.

“Amo, infelizmente. ” Pude ouvir ele resmungar antes de fugir cozinha a dentro.

(…)

Já pela tarde, Jeongguk e eu resolvemos que iriamos para a quadra do bairro para ao menos jogar uma partida de basquete que acabei incitando esta manhã. Não admitirei em voz alta, mas, aqueles músculos realmente ajudaram gguk com a partida desta tarde, pois além dele ter ficado consideravelmente mais alto – rápido, ágil e irritante – do que eu, que falando sério, nunca joguei basquete de verdade, mas era algo que, como irmã mais velha, era bom de se fazer e ser admirada por seu irmão mais novo, que obviamente teve mais tempo para se aperfeiçoar no jogo do que eu.

E se não fosse por sua clara melhora nas jogadas diria que seria por ter me deixado muito distraída, com suas marcações excessivas, que chegavam a ser com maior frequência que o necessário.

E independente disso, no geral, toda a sua desenvoltura no jogo teve um enorme resultado; resultado esse de ter me deixado quase morta de cansaço já no final da primeira partida.

No final do primeiro jogo, eu já implorava por uma pausa, e jungkook, malandro como sempre, se fazia de desentendido, para que de alguma forma descontasse a vergonha que o fiz passar naquela manhã.

(…)

“Quer um refresco? ” Ele já me estendia uma garrafa gelada – que comprara em uma máquina de multibebidas — bem em frente ao meu rosto.

“É claro…” Disse assim que peguei uma das garrafas de suas mãos. Ficamos alguns minutos sentados em um dos pontos de ônibus – em frente a quadra que usávamos a instantes atrás – para nos abrigar do sol e recuperar o fôlego perdido no jogo.

Após alguns instantes observando o lugar, não pude evitar em suspirar ao relembrar algumas coisas que me veio à mente, depois de certo tempo que insistia em esquecer.

“Está pensando nele? ” Jungkook cutucou meu braço com seu frasco gelado, me assustando, ao flagrar minha expressão pensativa encarando a aglomeração de prédios ao nosso lado a mais de cinco minutos.

“Talvez…” Não consegui ser completamente sincera com meu irmãozinho desta vez. “…. Você já…” arrisquei a esclarecer ou acalmá-lo, mas gguk me cortou antes disso.

“Nunca tive, e nem quero ter notícias daquele idiota novamente. ” Falou seco, e pelo canto do olho, pude notar como seu punho se friccionou com a leve menção daquele cara. “… E eu espero que você também não, a única coisa decente que ele fez até agora, foi fazer o favor de não dar mais as caras nesta parte da cidade, depois… Daquilo.” E a maneira como gguk me encarou, me fez sentir como ele estava decidido sobre isso; me fez lembrar que Jeong não era mais aquele garotinho super protetor que chorava todas as vezes que via sua irmã magoada, ou, aquele irmãozinho bobo que vinha correndo para meus braços toda vez caçoava dele.

Vi que Jungkook agora era o homem que seria o meu grande apoio, e que, sem dúvida, me protegeria de tudo que poderia me machucar. E esse pensamento me deixou muito orgulhosa.

“Não se preocupe…” Esbocei um sorriso aliviado, ao finalizar meus pensamentos. “Não irei perder meu tempo com isso. ”

“É assim que se fala…! ” Voltou a sorrir novamente ao ficar de pé, oferecendo a mão para me levantar. “…. Pronta para outra partida? ” Questionou desafiador.

“Com toda certeza! ” Me apoie em sua mão ao me levantar. “Se prepare, pois desta vez, quem vai ganhar, sou eu. ”

(***)