Naquela manhã, Regina recebe a comunicação de que teria de depor novamente no caso de agressão. Decide aproveitar-se da ocasião e pedir de forma charmosa a companhia de Amintas, além de sua advogada. Ele viria como seu segurança, para que ela não surgisse como uma figura indefesa e desprotegida diante do batalhão de advogados de Wael.

O local vira um circo. Repórteres em busca de informações, torcida a favor e contra o cantor, muitos flashes e até pessoas com cartazes entrando em conflitos de opiniões.

Orientado, Wael tenta reverter a situação a seu favor e faz uma declaração de amor para Regina, canta em sua homenagem e mostra-se arrependido a ponto de exibir lágrimas nos olhos. Uma estratégia que visava trazer a opinião pública para seu lado, o que não surte o efeito desejado, porque existe sempre alguém com o “espírito de porco” e que faz questão de trazer à baila todos os casos de agressões às outras mulheres e a prisão por porte de droga.

Horas depois do espetáculo circense, Regina se encontra no restaurante de um hotel, conversando e almoçando com Amintas. Sentia-se serena e totalmente protegida ao lado de seu querido e seu amado amigo. Durante a conversa, seus questionamentos continuam e ela ainda se pergunta porque não conseguia ter um sentimento tão forte a ponto de assumir um romance com ele.

Amintas, sempre disposto a estar ao seu lado, sereno, apaixonado, ótimo amante, um homem experiente e protetor, como dizia o próprio nome dele. Alguém que seria bom companheiro, ótimo marido e já demonstrava ser excelente pai, mas que não tinha o poder de persuadi-la a ser sua esposa. Qual seria o ponto obscuro naquilo tudo?

Lá pelas tantas, em sua conversa e observação dos traços bonitos do homem, Regina se depara com algo que não havia percebido em meio a tanta confusão daquela manhã: uma aliança grossa e dourada no dedo anular da mão direita de Amintas! Ele estava usando uma aliança de noivado? Ou seria apenas um adorno? Mas nenhum anel de graduação tinha aquele formato!

— O que é isso? – ela altera seu tom de voz.

— Uma aliança simbolizando um compromisso. – ele sorri. – Você não me pediu em casamento?

— Está brincando??

— Claro que estou. Juliette e eu ficamos noivos no último fim de semana. – ele bebe um gole de seu vinho.

— Mas você não a ama! Juliette é apenas parte do pacote de seu acordo do investimento do Senador Gold em sua carreira! Mas é preciso casamento para isso?

Amintas coloca a taça de vinho sobre a mesa e inclina a cabeça para o lado, observando Regina com aquela expressão que as pessoas fazem, quando nos acham imbecis.

— Por que você precisa se casar com ela? Juliette é uma mulher cosmopolita e não foi talhada para ser a esposa de político e mãe de família!

— E você foi talhada para isso?

Regina abre e fecha a boca, mas não fala nada. Claro que não tinha nascido para ser a mulher tradicional! Nunca havia cogitado ter filhos e sequer havia se comprometido com alguém a ponto de querer casamento, a menos que fosse com David! Mas David estava fora do mercado! Ela nega com a cabeça.

— Não falo por mim...ocorre que Juliette é uma mulher com os mesmos traços de personalidade que os meus e...

— Por isso que ela me atraiu. Ela é independente, inteligente, cosmopolita e isso me excita. Eu sou um homem que quer ser o conquistador, mas que precisa saber que desperta o desejo de ser conquistado. É o jogo da sedução entre os sexos.

— Ela o conquistou?

— Juliette é o tipo de pessoa que ama desafios e quando percebeu que eu não estava disponível a meras relações sexuais, iniciou a luta para minha sedução. Mas o resultado seria muito mais do que apenas algumas noites. Teria de levar o Combo!

— Combo?

— Amante, Namorado, noivo e marido. – ele sorri e ergue a mão, mostrando a aliança.

Regina se inclina para frente e prende as mãos de Amintas entre as suas.

— Prometa-me que enquanto sentir amor por mim, não se casará com Juliette! Prometa-me!

— Sim, eu prometo.

E o tempo continua sua trajetória rumo a algum lugar que somente ele sabe.

Regina viaja para a China, para conhecer o Mercado de Casamento de Pessoas e ter contato com as chamadas “mulheres que sobraram” ou “ sheng nu”, como são conhecidas as jovens com 27 anos de idade que não conseguem estar casadas, por terem se dedicado aos estudos e à profissão. Queria criar uma reportagem sobre a pressão social das famílias para que suas filhas consigam casamento.

Numa das entrevistas, Regina é informada por uma mulher mais velha, que seu filho também estava com mais de 30 anos e ninguém o queria.

— Ele é um jovem normal, mas não é bonito. Ninguém o quer. A senhora não poderia fazer uma entrevista com ele? Quem sabe as moças do seu país o queiram! – diz a tradutora.

— O que posso falar dele?

— Apenas dê atenção para a senhora e para o rapaz, mas sugiro que não seja muito receptiva com ele, porque já está encantado com você.

Ao final daquele dia, depois de participar de um chá da tarde na casa daquela senhora, Regina recebe uma caixa aveludada, e sem hesitar a segura em ambas as mãos, antes que a tradutora pudesse impedi-la de fazer aquilo.

— É um anel!

— Você deveria ter esperado que eu tivesse aberto, Regina. Você acaba de receber o anel que está na família há várias gerações!

— Estou noiva desse menino feio? – Regina sorri ao achar graça na própria fala.

A mãe do jovem e o rapaz sorriem, maneiam afirmativamente com a cabeça, como se estivessem entendendo o idioma da repórter.

— E o que farei agora? Posso devolver o anel?

— Sorria e devolva a caixa fechada. Seja cortês e talvez consigamos sair sem magoar o seu admirador.

Um longo tempo depois, Regina é conduzida pela tradutora, para fora do prédio de apartamentos. Com muito diálogo, consegue convencer a mãe desesperada de que uma noiva precisa de alguns dias para organizar seu casamento. Regina teria vinte e quatro horas para sair daquele lugar.

— Espero que Killian jamais saiba disso ou não terei mais paz.

Antagonicamente a isso, dias depois, Regina é convidada para conhecer a comunidade de Mosuo, no sudeste da China, onde as mulheres tomam a maioria das decisões de negócios e gerenciam as famílias. Conhecido como Reino das Mulheres é uma das últimas sociedades matriarcais do mundo. Regina se encanta com a maneira comunitária com que as crianças são criadas, com os pequenos sendo educadas por todas as famílias. Ali, as mulheres podem escolher livremente seus parceiros, mas não precisam ficar ligadas a eles e podem ter quanto amantes quiserem.

Dali, daquele país, Regina e sua assistente embarcam para Portugal. Regina queria oferecer um roteiro agradável para suas leitoras que desejassem viajar para encontrar outros solteiros para amizade. As duas percorrem uma parte encantadora do interior do país, o Vale do Dão. Um roteiro perfeito para quem gostaria de encantar-se com as maravilhas do campo, a culinária e o vinho, além de criar algum vínculo com algum apreciador da liberdade dos solteiros.

A assistente de Regina se entretém com um homem de meia idade e ambos encontram alguma ocupação naquela noite, para divertimento. Já Regina permanece sozinha até determinada hora, quando é elegantemente abordada por um homem velho, que lhe se oferece para fazer-lhe companhia.

Regina aprova a ideia e os dois ficam juntos por várias horas. Despedem-se e marcam um encontro para a noite seguinte e seguinte. Durante toda a estadia dela naquele lugar, o homem a acompanha e mostra-se desinteressado em ter algo mais íntimo com ela.

Naquela noite, Regina deixa sua assistente no restaurante e decide retornar mais cedo para o apartamento. Caminha cansada pelo corredor, abre a porta do quarto e ao acender a luz do cômodo, depara-se com um homem deitado no chão da sala.

Era seu amigo português e ele estava deitado e completamente nu, com os olhos fechados. Aproximando-se do homem, ela o chama várias vezes e não obtém resposta. Ajoelha-se e toca nele, percebendo que o cara estava morto.

“Recepção, boa noite!”

— Tem um homem deitado duro no meu tapete e sem roupas!

“E a senhora quer alguma sugestão ou produto de sex shop?”

- O cara não tá duro, duro de dureza, filha! Ele está duro por rigidez cadavérica!

Algum tempo depois, a polícia científica e alguns investigadores estão colhendo evidências no cômodo, enquanto Regina conversa com um dos policiais, oferecendo informações para as investigações.

— A senhora tem onde ficar esta noite?

— O gerente ofereceu-nos outro quarto em outro andar. Mas eu tenho de retornar ao meu país em dois dias. Como farei?

— Iremos colher seu depoimento na delegacia e depois ficará liberada, mas terá de retornar ao país, quando for convocada.

— Sabem do que ele morreu? – Regina observa o corpo ser retirado pelos profissionais.

— Não há marcas de violência, então somente os exames poderão responder. – o policial entrega seu cartão de visitas para Regina e sorri amável. – Caso precise de algo que não esteja ligado ao caso, poderá ligar-me. É o número de meu telemóvel.

Regina observa o nome do policial e sorri. Depois levanta os olhos e percebe a mensagem que estava no sorriso dele.

— Uma coisa eu posso afirmar: minha vida não é monótona!

Largada no sofá de seu apartamento, dias depois, Regina recebe uma taça com vinho da mão de Cora.

— Você é um para-raios, Regina. Como consegue atrair tanta confusão?

— As câmeras mostraram que eu estava fora do quarto, quando Dimas invadiu meu quarto para morrer. Estão direcionando a investigação para saber como ele conseguiu a chave e não foi barrado pela recepção.

— Ele a nomeou herdeira.

— É um louco e eu quero distância disso! Os filhos que fiquem com tudo!

Cora acha graça na maneira como a filha refuta o presente.

— E o tal policial gato? Fidalgo é o nome, certo?

— Ele e eu conversamos apenas. Eu o convidei para passar alguns dias aqui em nosso país e vamos curtir um pouco. – Regina se ajeita no sofá e sorri. – Há novidades em nossa família e com os nossos amigos?

— Mary está grávida e desta vez o pai do bebê é o David. – Cora percebe o sorriso da filha, desvanecer. – Killian está empenhado no novo trabalho e na administração da ONG com Emma. Deixe-me ver...Zelena terminou mais um namoro e a tenho visto sempre em companhia de Corfu. Penso que devem entender-se.

Um sorriso sem graça surge nos lábios bonitos de Regina. David terá um filho com Mary? Mais um meteoro caindo como sinal de que nenhuma chance havia restado? Por que seu coração ainda doía quando o nome de David era pronunciado? Algo precisava ser feito! Mudar o toque dos ponteiros do relógio, tirando o tica-tac para David-David? Assim acostumaria seus ouvidos aquele nome e não mais sentiria choque ao ouví-lo?

Bom, tinha algo mais fácil: a visita do belo policial português que poderia ser usada como modo de desanuviar sua angústia. E naquela noite, depois da saída da mãe, Regina visita uma gaveta secreta em seu quarto e permanece várias horas em nostalgia, admirando as fotografias que ainda não tivera coragem de rasgar. Que bosta!

Duas semanas depois, Regina recebe o policial português como seu convidado e apresenta a ele, os eventos realizados em boates e mais badalados da noite da região. Durante a estadia do homem, os dois são frequentemente vistos juntos e algumas especulações sobre um novo romance da jornalista, surge em algumas colunas de revistas.

— O homem é lindo mesmo! Será que é confiável? – Zelena mantém os olhos presos na tela do seu computador.

— Espero que sim. Mas não vou permitir que invada tanto a minha vida, como permiti que Wael fizesse.

— Faz muito bem. Agora, pode deixar que terminarei o expediente e vá oferecer atenção ao seu português!

— Você teve notícias de Amintas?

Negando com a cabeça, Zelena não demonstra interesse em falar sobre o homem.

— Ele tem vindo ver Johnathon e Mary?

— Mary mora longe de nós. Não sei como é o cotidiano dela. Mas acredito que Amintas venha sempre visitar o menino ou Mary envia o garoto para ficar com o pai. Não sei, mesmo! – ela apanha o telefone e o empurra para Regina. – Ligue para ele!