Meu estranho amor
Agora é guerra, minha filha!
— Eu avisei você! Dei conselhos, mas você queria provar que todos estavam errados! – Charlotte sorri ao observar o cuidado com que Corfu hidratava seus pés.
— Eu me sentei de frente nas coxas dele e não aconteceu nada! Foi um beijo faminto e ele não refutou, mas também não se exaltou!
— Queria que o homem ficasse excitado em sua sala de reuniões? – pergunta o grego.
Sim! É obvio que sim! Mas não posso afirmar isso com testemunhas!
— Claro que não! O que meus funcionários iriam pensar? Que a diretora da revista é uma Messalina?
— Isso não, porque nem todo mundo sabe quem é essa tal de Messalina. Mas iriam pensar que a mulher enlaçou um belo homem. – Charlotte sorri feliz. – E quando irão anunciar o namoro?
— Ele já está namorando a filha do Senador Gold.
Charlotte e Corfu se entreolham e começam a rir.
Podem rir! Eu também ri muito da minha situação. Escolhi, esnobei e somente acordei para a festa, quando a porta já havia se fechado. Isso seria cômico, se não fosse trágico! Perder um homem daqueles para uma garota que deve apenas ter aberto seu falso sorriso inocente!
— O que pretende fazer agora? Aceitar seu namorado dublador de cachorro, de volta? Correr atrás do David ou do Killian? Pode esperar que eu morra e se casar com Corfu. – Charlotte ri da própria piada. Mas para de sorrir quando vê o jovem marido se retirar da sala. – Sugiro que siga meu exemplo e corra atrás de quem ama você, para não deixar aumentar o vão entre vocês. Tchau!
A mulher mais velha sai acelerada por onde o marido havia seguido.
Correr atrás de quem me ama e não deixar aumentar o vão? Mas isso é o máximo! Eu vou isso mesmo! As mocinhas das comédias românticas é que estão certas, quando decidem recuperar o tempo perdido ao longo de todo o filme!
A festa organizada por Killian em um bar de um conhecido, serviria para comemorar o seu noivado com Emma. Seus amigos estariam ali e já estavam avisados de que tristeza não combinaria com aquele momento.
Sem hesitar e sem ter companhia masculina, Regina arrasta Zelena para a festa. Queria mostrar-se bem e animada para começar a impressionar Amintas e mostrar todo o material que ele iria perder, caso continuasse a namorar aquela fedelha, provavelmente esquálida e de braços finos.
Mesmo em sua cadeira de rodas, Charlotte estava animada e permitia ser levada para todos os cantos do bar, por quem quisesse conversar e rir. Sempre agarrado ao marido jovem, não refutava carinhos e companhia. Estava proibida de beber coisas alcoólicas, mas quem conseguia segurar aquela mulher?
Mary e David tinham deixado o pequeno Johnathon com os avós maternos e estavam prestigiando a alegria maluca de Killian. De certa forma, o homem tinha contribuído para que o casal ficasse junto.
Emma estava radiante em um vestido branco rendado, exibindo sua excelente forma física, constantemente acariciada e desejada por Killian, que não se refutava a abraçar e beijar a noiva, dançando mesmo sem música.
Zelena e Regina estavam em uma das mesas, observando os homens que desfilavam pelo bar, trocando olhares com alguns deles. Quem sabe um deles...
— Será que Amintas virá com a namorada? Caso venha, procure ser cordial com ela, Regina.
— Desde que ela não seja como aquela peituda que me roubou a coluna da revista.
— Lembre-se de que a moça não tirou Amintas de você. Ela entrou numa vaga vazia. – Zelena alfineta e bebe um gole de sua bebida. – Você tem a opção de empurrar o carrinho dela para fora da vaga ou convencer Amintas de que vale a pena colocar você no banco do passageiro do carro dele.
— Filosofia de almanaque. Vou apenas mostrar que uma mulher madura tem mais do que oferecer, do que uma ninfeta filha de senador. É o único trunfo dela!
— Creio que ela deva ter mais trunfos do que apenas o sobrenome.
Regina olha para a irmã e a encontra observando um ponto do bar. Mas o que era aquilo? A mulher não era uma ninfetinha curiosa e deslumbrada! Era uma mulher de cabelos castanhos avermelhados e belos olhos grandes, com mais de trinta anos! Elegante em sua simplicidade!
Sem precisar dizer uma única palavra, Killian informa pelo olhar, o quanto estava indignado e solidário com alguma reação futura de Regina.
— Nem pense em ser cúmplice de Regina. – Emma aperta o braço do noivo e ele volta à realidade. – Ela teve todas as chances! Agora, terá de usar as armas físicas e espirituais de uma mulher! Não se meta nisso!
— Mas eu...
— Mas eu, nada! Vamos até lá recepcionar Amintas e a convidada dele! Agora!
Momentos depois, na mesma mesa de Regina, o casal recém-chegado conversavam de qualquer assunto que fosse citado. Todos riam e Regina tentava mostrar-se alheia ao relacionamento do novo casal. Queria mostrar-se indiferente ao bem estar de Amintas e Juliette.
Estou bem! Sou independente e bem sucedida em minha profissão! Posso ter o homem que eu quiser e não me incomoda ver Amintas com uma mulher com cabelos sedosos e pele de pêssego! Sou maior que isso!
— Pois foi assim! Perdi o emprego porque o meu diretor me chamou de ultrapassada! Mas na verdade, ele queria presentear a amante jovenzinha com um lugar de destaque na revista.
— Isso é sacanagem. – comenta Juliette. – Por ser um lugar de destaque, merecia alguém com conhecimento e experiência.
— E era eu. Mas fui chutada e fiquei batendo cabeça como se fosse aquela bolinha do pimball.
Amintas pede licença e sai da mesa para ir ao encontro de Charlotte, que mesmo na cadeira de rodas, dançava e dançava com quem a convidasse.
— O que você faz da vida, Juliette? – pergunta Zelena, amável.
— Sou auxiliar de docente titular na Universidade onde estudei. Depois que fiz minha pós-graduação, participei de uma seletiva e consegui a vaga.
— Nada do que o cargo de seu pai não tenha ajudado, não é?
— Ele não era Senador ainda e não estava no país. Morávamos minha mãe e eu, apenas.
— Mas por ser amigo de políticos, poderia muito bem ter feito alguns telefonemas. – Regina sorri.
Juliette bebe um gole do suco e dá de ombros.
— Eu fiz todas as etapas de seleção, caso ele tenha me ajudado, ótimo!
— Mas você não precisaria disso, não é querida? Afinal, além do sobrenome, você tem competência!
Os olhos grandes de Juliette se voltam para Regina e a encontra sorridente.
— Sim! Competência, cabedal de conhecimentos diversos e em idiomas, experiência em congressos...
— E uma ótima posição profissional! – Regina alarga um sorriso. – É o sonho de muitos profissionais serem auxiliares de docentes titulares de cargo.
Zelena apoia o queixa em uma das mãos e sorri sem exibir os dentes.
— Em que você trabalhava quando tinha a minha idade? – Juliette alfineta.
— Com 35 anos? Eu já ocupava um cargo de destaque na Magazine Caeazzatto e já assinava alguns editais de literatura, como também alguns prefácios de obras.
— E agora perdeu esse lugar de destaque na Magazine Caeazzatto para uma mulher mais jovem?
Regina acha graça.
— Exatamente! E isso me impulsionou a lançar um livro que foi Best Sellers em apenas cinco edições e depois a ser convidada para reerguer a revista, destruída por um velho que se iludiu com um belo par de seios jovens e grandes artificiais.
— Pelo menos, isso nós duas não poderemos usar tais artifícios!
Cobrindo a boca com a mão, Zelena ri.
— Por que não pedimos algo para comer, meninas? – a ruiva sugere e chama a garçonete. – Comer é sempre um prazer e provoca bons pensamentos.
— Como eu não tenho problemas com a balança, vou pedir um sanduíche recheado com tudo! – Juliette fala e ri do que falou.
Provocada, Regina encara a rival, como se estivesse conseguindo ver as adagas que vinham com as palavras dela.
— Boa pedida, Juliette! O meu deverá ter muita maionese e alface, além de tudo. Vou acompanhá-la nesse exagero gastronômico!
Algum tempo depois, as duas belas mulheres continuam sua conversa afiada e cheia de pontas peçonhentas, com comentários ácidos e rudes, escondidos atrás de belos sorrisos encobertos por batons caríssimos.
— Como você conheceu Amintas?
— Quando ele começou a trabalhar para meu pai. – Juliette tira um pedaço do sanduíche com a ponta dos dedos. – Eu me encantei por ele e joguei meu charme. Tomei a iniciativa e o convidei para jantar.
— É mesmo? Amintas estava muito carente e jogava o laço para todos os lados. Até flertou com Charlotte!
Sem segurar o riso, mas com a boca cheia de suco, Zelena cospe e imediatamente cobre a boca com o guardanapo. Encara a irmã.
— Você não sabia, Zelena? Antes de flertar com você, ele aceitou flertes da vovó! – Regina também tira um pedaço do sanduíche com as pontas dos dedos, delicadamente. – Exceto por Emma, ele apontou a flecha dele para todas as mulheres aqui presentes. Mas como nenhuma a quis...
— Talvez, ele tenha ido buscar qualidade em outra parte do país e encontrou.
— Apenas não especificou qual tipo de qualidade. – Regina franze o nariz sorrindo.
— Uma pessoa com um histórico de poucos namorados e mais pudica, talvez. – Juliette leva o sanduíche à boca e tira um pedaço com os dentes.
Continuem! Quero saber aonde essa brincadeira irá terminar!
— Eu torço para que Amintas seja feliz. – Zelena opina. – Ele é um homem íntegro, gentil e preocupa-se com o semelhante. Ele precisa de uma família para cuidar e ser cuidado.
— Amintas precisa de uma mulher forte e que o faça crescer ainda mais profissionalmente, além de protegê-lo contra políticos oportunistas.
— Ele não está contratando os serviços da Wonder Woman! – Juliette ri da própria piada. – E meu pai o quer no meio político sim, porque será um nome a ser construído para as próximas eleições! Com o apoio do Senador Gold, teremos um novo senador em breve no partido!
Regina quase espreme todos os ingredientes para fora do sanduíche, leva-o à boca para calar-se ou seria muito ríspida da resposta. Ocorre que o sanduíche quis ser mais ríspido e dificulta ser mordido, espalhando alguns ingredientes para fora. Quando Regina puxa sua porção de mordida, apenas uma atrevida, ousada e desaforada folha de alface suja de maionese chega à sua boca e cola no seu queixo.
Sem conter o riso, Juliette se torna sonora e indiscreta. Inclina-se para trás e ri com muito gosto, debochando da situação, porém acaba por desequilibrar-se da cadeira e escorrega dela, indo parar embaixo da mesa.
Um tempo depois, parado em pé ao lado de Killian e de Zelena, com os braços cruzados e uma das mãos cobrindo a boca, Amintas apenas observa as duas mulheres sentadas à mesa e bebendo como se disputassem uma competição para saber quem seria mais ridícula. Ainda discutiam e pareciam filosofar.
— O que irá acontecer? – comenta a ruiva. – Elas estão irritantes e vão fazer besteiras!
— E eu nem ofereci nada a nenhuma delas. – Killian sorri. – Nunca se viram e já se odeiam.
— Agora vão para onde? – Zelena se preocupa, mas se acalma quando as vê caminharem para o meio da pista. – Apenas dançar e ao som de Deee-lite!
Amintas fecha os olhos e faz uma careta com se estivesse sentindo dor.
— Não perco isso por nada! – Killian corre para o meio da pista e não titubeia em começar os passos mais bizarros, mesmo para quem não tinha o mínimo conhecimento de dança.
— Bom...é uma festa e eu vou me divertir. Com licença! – Zelena faz o mesmo.
Em poucos minutos, a pista está tomada pelas mais criativas figuras dançarinas e seus passos horripilantes, retirados sabe-se lá de onde. Inclusive Charlotte estava entre eles.
Por algum tempo, Amintas observa Regina ao lado de Juliette dançando e competindo para descobrir quem receberia a coroa da mais ridícula da noite. Agachavam-se, levantavam-se, rebolavam, rodopiavam, chutavam e socavam o ar, o que mais se assemelhava ao treinamento de kick-boxers.
— Poderia me dizer o que elas estão fazendo? – Cora entrega um copo com coquetel de frutas para o inevitável futuro genro.
— Isso se chama preparação para um dia seguinte de muita ressaca e arrependimento.
— Isso se chama competição. As meninas fazem muito disso...quando estão com quatro anos de idade.
O policial acha graça e ri. Observa um pouco mais, quando seu sorriso se desfaz com horror, porque agora as duas mulheres estavam deixando de dançar para começar a trocar ofensas e empurrões. Trocam algumas palavras ríspidas e desarticuladas, depois começam a trocar bofetadas e somente param com a briga ao caírem por cima de Charlotte, virando sua cadeira de rodas.
Cora e Amintas correm para pequena multidão que tentavam afastar as brigonas e auxiliar Charlotte, que ria sem conseguir conter-se.
— Acho que quebrei meu braço! – a mulher mais velha gargalha e já dava mostras de seu descontrole devido à grande quantidade de margueritas ingeridas ou de algum complemento alimentar a mais.
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