Meu amado é um lobisomem

Capítulo 32: Surpresa - Shouya e Hanabi - Parte II


Quando Mai e Ame chegaram, as três conversaram e Hanabi percebeu que ela e Shouya cometeram um grave erro. Deveriam ter se precavido desde o início. Decidiram que Hanabi deveria fazer o teste para confirmar sua suspeita, mas como a moça da farmácia contaria à sua mãe se ela comprasse ali, Mai e Ame foram de bicicleta para a cidade mais próxima.

Ao voltarem, Hanabi ficou surpresa e espantada pela quantidade de testes que as duas compraram. Se pelo menos um de três desse negativo, ela tinha esperança de não estar. Hanabi fez o teste e as três esperaram os cinco minutos passarem.

Quando acabou o tempo, ela hesitou, mas pegou o primeiro teste em cima da pia. Quando Hanabi viu o primeiro positivo, não ficou triste e nem com raiva. Na verdade ficou feliz, dando um sorriso. No segundo positivo, começou a ficar nervosa, era mesmo real. Ao pegar o último, as três já sabiam o que viria.

— Positivo. – disse Hanabi.

Ela respirou fundo, recostando as costas na parede do banheiro. Seus olhos marejaram, Hanabi realmente teria um filho.

— Não é de todo ruim... –disse ela, olhando para as meninas – Eu já queria ter uma família, principalmente com Shouya. Sempre foi o que eu quis. Só veio mais cedo né...

Elas sorriram.

— E agora? – Ame perguntou, abraçando os joelhos – O que vai fazer?

Hanabi olhou para ela com seus grandes olhos verdes cheios de lágrimas acumuladas. Limpou as lágrimas antes que caíssem, e disse:

— Contar para Shouya.

Ao descobrir que teria um filho de Shouya, Hanabi ficou surpresa, espantada e feliz ao mesmo tempo. Mas agora teria de pensar em como exatamente contaria para ele que estava grávida. De acordo com suas contas, as primeiras vezes com certeza foram certeiras, Hanabi logo faria quatro meses em janeiro. Sua barriga logo começaria a ficar visível, ela precisava contar logo. Ele logo perceberia que a barriga dela não estava crescendo por causa de doces, mas por causa de um bebê.

O ano-novo chegou após cinco dias e todos foram para o templo. Diante do lugar, rezaram por um bom novo ano e por coisas boas. Hanabi estava entre Shouya e Ame, que estava ao lado de Ichiro. Ela rezava para que tudo desse certo e a criança que carregava nascesse saudável. E principalmente que ela conseguisse encontrar uma forma de contar à Shouya que estava esperando um filho dele.

Na semana seguinte, Hanabi perdeu o sono logo quando o sol nasceu. Levantou e foi até o espelho, levantando a blusa de seu pijama. Ficou de lado para ver o tamanho de sua barriga e viu a leve saliência arredondada que se formava. Abaixou a blusa, respirando fundo e deitou na cama. Enquanto tentava voltar a dormir, pôs a mão sobre sua barriga, sabendo que havia mesmo uma vida ali dentro. Ela sorriu.

Hanabi sabia que naquele dia era folga de Shouya, então depois da escola ela fora até seu trabalho e pedira ao chefe uma folga, pois não se sentia bem. Ichiro e Ame estavam com ela e a acompanharam pela trilha.

— O que você tem? – Ichiro perguntou.

— Ahm... Não estou me sentindo bem. Mas vou ver Shouya antes de ir pra casa.

— Não é melhor ir direto pra casa?

— Preciso falar com ele sobre uma coisa.

Ichiro e Ame se entreolharam. Assim ela descobriria o plano de Shouya, mas não tinha como convencê-la de ir para casa. E Ame sabia bem o que ela queria conversar com seu irmão.

O caminho foi longo para os três, por diferentes motivos. Ao chegarem à casa de Ame, Hanabi notou que o terreno vizinho estava diferente da última vez em que esteve lá. Ela não ia muito para a casa de Ame, mas a mudança era nítida. Ela via o lugar capinado e em seu lugar grama cortada e verde, bem cuidada. Há alguns metros de uma entrada recém-construída, como a entrada do quintal de Ame, estava a construção de uma casa com algumas paredes levantadas e Shouya serrando tábuas de madeira em frente.

Ela arregalou os olhos e virou-se para Ichiro e Ame, que correram para dentro da casa de Ame. Ela franziu as sobrancelhas, com certeza Ame já sabia. Voltou-se para onde Shouya estava e caminhou em sua direção, passando pela entrada. Ao se aproximar, o viu de calça jeans, camisa e suado, como se estivesse trabalhando desde cedo. Ao esperá-lo terminar de serrar a tábua, ela o chamou em dúvida.

— Shouya?

Ele paralisou com a serra em sua mão e se virou, vendo Hanabi em seu uniforme escolar e a bolsa no ombro.

— Oi... – sorriu sem jeito.

Ela olhou para a construção e voltou a olhá-lo.

— O que é isso? O que está fazendo?

Ele pensava, sem saber o que dizer exatamente.

— Esperava terminar antes que você visse. – pensou – Você quase não vem aqui agora, pensei que teria mais alguns meses. Pelo menos até o aniversário de Haru.

— O que...?

— É uma casa. Bem, vai ser uma casa. – ele sorriu – Para nós.

Hanabi o olhou, abismada.

— Você...?

— Eu disse que também queria construir uma vida com você. – ele achou graça.

— Por isso começou a trabalhar. – disse ela, surpresa.

— Precisava de dinheiro.

Ela sorriu, seus olhos encheram d’água. Shouya ficou surpreso, pensou que ela ficaria feliz, porém estava prestes a chorar. Ao se aproximar, a abraçou sem entender.

— Está triste? Não gostou?

Ela negou.

— Não... Eu amei. – disse ela, olhando-o – Você é incrível!

Ele sorriu.

— Então por que está chorando?

— Porque... Eu também tenho que contar uma coisa.

— Fala. – ele disse, preocupado.

— Hum... – fechou os olhos, não conseguia – Podemos ir para trás da casa?

— Ahm, tá.

Ao irem, Hanabi olhou para baixo, hesitante enquanto Shouya ficava cada vez mais nervoso. Ela tirou o casaco, abriu sua blusa escolar até a metade e abaixou um pouco a saia. Ao olhar para a expressão de Shouya, o viu de olhos arregalados.

— Shouya?

— Eh... Isso não deveria ser surpresa, né? No começo não fazíamos com camisinha, então não deveria ser surpresa. – disse ele sem parar – Eu sabia que isso ia acontecer, me desculpa. A culpa é minha. Isso não deveria ser surpresa.

— Shouya! – disse ela, pondo as mãos em seu rosto e sorrindo – Calma.

Ele assentiu, mesmo não ficando calmo em nada. Ela abaixou as mãos, achando graça por ele ter ficado mais nervoso que ela.

— Quanto...? Quanto tempo? – ele perguntou.

— Acho que vai fazer quatro meses.

— Quatro meses. – ele deixou o ar escapar, sorrindo – Não acredito.

Hanabi sorriu ao ver sua felicidade.

— Eu... Eu vou ser pai? Eu vou ser pai mesmo? – ele perguntou.

— Vai. – ela sorria – Vamos ser pais.

Ele riu, mais feliz do que podia demonstrar e a abraçou, levantando-a. Ambos riram por alguns momentos. Quando Shouya a pôs no chão, Hanabi fechou a camisa e subiu sua saia, pondo o casaco de volta. Ele passou a mão pelo cabelo e sorriu, dizendo:

— Casa comigo.

— O que? – ela o olhou.

— Eu ia pedir quando terminasse o colégio, mas não tem mais por que esperar.

Ela o olhava, surpresa e sem conseguir responder.

— Você tem 17 e eu 25. Pra mulheres precisa ter mais de 16 e homens mais de 18. Está tudo certo.

— Mas eu ainda preciso do consentimento da minha mãe.

— Não tem por que ela dizer não. – ele sorriu.

Hanabi riu, até que assentiu.

— Vamos. – disse ele, pegando em sua mão.

— Pra onde?

— Contar para os meus pais.

— O que? Agora?

— Se esperarmos mais, eles vão descobrir do mesmo jeito.

Hanabi hesitou, porém não teve como negar. Shouya a levou para dentro de casa, subindo os degraus com ela, que nunca havia o visto tão animado e feliz. Ao entrarem, Ame e Ichiro conversavam com Tsuki. Yuzo saía do quarto naquele momento, arrumado para sair com Tsuki e vender o que colheram da horta naquela semana.

— Oi, Hanabi. – Tsuki sorriu.

— Oi, Yoshiro-san.

Tsuki sorriu de forma contente para Yuzo, que achou graça. Claramente eles sabiam que Hanabi vira a construção de Shouya.

— A gente tem uma coisa pra contar. – disse Shouya.

Hanabi encolheu os ombros, olhando para Ame, que já sabia o que era. Porém enquanto Shouya procurava pelas melhores palavras, seus pais e Ichiro tentavam imaginar o que queriam contar – crendo na opção de casamento. Ele nunca fora o tipo de rodeios, então escolheu a forma mais curta para contar.

— Hanabi e eu... Vamos ter um bebê.

Tsuki pôs as mãos sobre a boca, chocada, mas não tão surpresa. Yuzo se mostrou feliz e preocupado ao mesmo tempo. Ichiro arregalou os olhos e Ame sorriu.

— Shouya! – exclamou Tsuki.

— E a gente vai casar. – ele concluiu.

Duas notícias de uma vez, vindas de seu filho mais velho, foi demais para Tsuki. Ela se sentou, processando as informações. Mesmo Shouya já sendo adulto, ela ainda o via como seu bebê que amava ir para a floresta com o pai. Porém agora, seu bebê teria seu próprio bebê.

— Ahm... – ela olhou para Yuzo, que se aproximou e segurou sua mão, voltando-se para os dois – E... Sua mãe já sabe, Hanabi?

— Ahm, não... – ela abaixou o olhar – Acabei de contar para Shouya, então...

— Vamos contar pra ela, juntos. – disse Shouya, fazendo-a sorrir ao encolher os ombros.

— Isso é ótimo, mas comecem devagar. – Yuzo achou graça.

— Desculpa, mãe. – Shouya se aproximou, abraçando sua mãe.

— Tudo bem. – ela sorria, quase chorando.

Ame levantou e correu até Hanabi, abraçando-a forte. Ichiro fez o mesmo, parabenizando ambos. Porém a parte difícil agora seria contar a notícia para a mãe de Hanabi. Dias depois, Hanabi fora de novo para sua nova futura casa, onde Shouya estava trabalhando. Ao chegar, ele a abraçou, beijando-a.

Como antes ele não havia lhe mostrado a casa, agora Shouya lhe mostrou todos os cômodos que faria. A casa tinha o tamanho e os cômodos parecidos com a casa de seus pais. Shouya amou crescer em sua casa, porém disse a Hanabi que mesmo sendo parecida, aquela seria a casa deles e o lugar onde viveriam e criariam seu filho ou filha.

Após mostrar os cômodos, que nem possuíam paredes ainda, se sentaram no chão de madeira onde seria o quarto deles e conversavam. Shouya estava com a cabeça deitada no colo de Hanabi, beijando sua barriga enquanto ela mexia carinhosamente em seu cabelo preto.

— Tenho medo. – disse ela.

— De que?

— Do parto, do bebê... Não sei se vou ver uma boa mãe.

— Vai sim. – ele segurou sua mão – Por que medo do bebê?

— Ah, porque... Tenho medo de deixar cair, esquecer de trocar fralda ou deixar ele passando fome.

Shouya gargalhou.

— Você não vai deixar cair. E com certeza não vai deixar de alimentar ele. Ou ela. – sorriu – E com a fralda eu te ajudo, meu olfato é muito bom.

Hanabi achou graça.

— Obrigada.

— Você não vai fazer isso sozinha, tá?

Ela assentiu, feliz.

— Tenho que contar pra minha mãe. – disse ela – Não pensei em nada ainda.

— Vou estar com você. Então pensei em começarmos a dizer que tínhamos uma notícia chocante. Porque é chocante mesmo.

— Ela vai enlouquecer.

— Mas vamos casar, isso é bom, né?

— Sim. – Hanabi pensou.

— Hanabi... – ele pensou – Eu sei que seu pai e sua mãe se separaram. Mas nunca perguntei, então... O que houve com eles?

— Hum... – ela recordava – Meus pais vieram para Okayama quando eu era um bebê. Minha mãe nasceu, viveu e conheceu meu pai em Kansai. Eles decidiram que seria bom me criar em uma cidade não muito grande. Mas meu pai ganhou uma promoção no trabalho quando eu tinha quatro anos e passou a viajar de vez em quando, ficando até quase um mês fora. Lembro que sentia falta dele, e principalmente pela expressão triste da minha mãe quando ele ia para Kansai.

Shouya prestava atenção.

— Depois do meu aniversário de seis anos, eles me disseram que meu pai não iria mais morar conosco. Eu não sabia o motivo, mas meu pai estava deixando minha mãe por causa de uma mulher mais jovem.

Shouya se sentou, olhando-a contar. Por mais que se conhecessem desde os oito anos dela, ele nunca se perguntou por que ela tinha apenas a mãe. Agora que descobrira, estava chocado.

— Ele deixou vocês? – perguntou.

— Sim. Algum tempo depois o divórcio saiu e ele se casou com a outra mulher.

— Não tem interesse em vê-lo? Sabe...

— Ele veio me ver alguns anos depois, acho que eu tinha treze anos. Me pediu desculpas, disse que me amava e que se eu quisesse poderíamos manter contato.

— E o que você disse?

— Que o perdoava, mas não sabia se queria manter contato. Mas ele sempre me manda um presente e um cartão no meu aniversário. Eu guardo todos os cartões numa caixa.

— Quer chamá-lo para o casamento?

— Não sei. Talvez sim... Hum, não sei.

Shouya sorriu, beijando a bochecha de Hanabi.

Ela chegou em casa antes do anoitecer e acompanhada por Shouya. Ele a levou para casa, porém durante o caminho decidiram contar de uma vez para a mãe dela. Ao entrarem, ela estava na cozinha, preparando o jantar. Hanabi se aproximou com Shouya logo atrás dela.

— Oi, Shouya. – ela sorriu – Vai ficar para o jantar?

— Não sei ao certo... – ele sorriu.

— Mãe, precisamos conversar com você. – disse Hanabi.

Ela assentiu, terminando de preparar o jantar. Ao irem para a sala de estar, sua mãe sentou na poltrona quando os dois se sentaram no sofá. Ela achou graça pela seriedade de suas expressões e perguntou:

— O que foi?

— Ahm... Temos uma coisa séria pra contar. – disse Hanabi.

— Mas também é algo bom. – concluiu Shouya.

— Grávida? – ela sorriu.

Os dois se entreolharam sem entender e a olharam.

— Mãe... Como...?

— Os mesmos absorventes estão no armário do banheiro. Você é atrasada, mas não tanto. E eu tinha quase certeza que isso ia acontecer. Você sempre amou esse menino, não é surpresa nenhuma.

Hanabi corou, abaixando o olhar ao passo que Shouya sorriu.

— Quantos meses?

— Ela fez quatro. – ele disse – Pelo menos o que achamos.

— Quatro... – sua mãe pensou – Então foi logo quando voltaram, né? – ela achou graça.

— Desculpa...

— Ora, pare com isso, Hanabi. Eu vi que Shouya está construindo uma casa no terreno vizinho da casa dos pais.

— Como sabia? – ela perguntou.

— Fui devolver uns livros que Tsuki me emprestou há alguns meses e vi. Então, você planejava se casar com Hanabi. – disse à Shouya.

— É... – ele sorriu, acabara de ser descoberto – Pediria depois da formatura.

— Que ótimo. – ela sorriu, feliz.

— Mas agora como Hanabi engravidou...

— Vão se casar logo. Entendo.

Hanabi achou graça ao mesmo tempo em que não entendia a tranquilidade da mãe. Era tão esperado essa gravidez? Ou era esperado que ela dormisse com Shouya? Ou o seu claro descuido? Claramente era esperado o pedido de casamento de Shouya em breve. Mas após a notícia, os dois souberam que não precisavam ter ficado tão nervosos.