Meu amado é um lobisomem

Capítulo 14: Uma nova história


Era primavera e o aniversário de Haru havia chegado.

Se me perguntassem se sou feliz por ter a família que tenho, eu diria que sim. Minha família não é comum e mesmo assim tem os problemas que toda família pode ter. Porém é minha família e eu a amo principalmente por isso.

Era sábado e Haru logo chegaria. Ela havia se formado como professora e voltado para a cidade depois de ter passado quatro anos na cidade de Kyoto, em Kansai. Minha irmã agora era professora, e trabalhará no colégio onde vou estudar. O colégio da nossa cidade a contratara e seria ótimo para ela. Isso é bom, porém eu sabia que se ela fosse minha professora me cobraria mais nos estudos do que aos outros alunos. Haru amava ensinar desde quando éramos pequenas. Ela sempre me ajudava nos deveres de casa quando mamãe não podia.

Quando soube que Haru voltaria para casa, pensei que ela voltaria para nossa casa. Mas infelizmente não foi assim. Esperávamos por Haru porque ela ainda organizava suas coisas no novo apartamento. Ela morava perto do parque da cidade, num prédio de quatro andares e no segundo andar, apartamento 3A. As coisas haviam mudado quando meus irmãos cresceram.

Papai era metade lobo e para mim era normal dizer isso já que nós herdamos esse traço. Shouya, Haru e eu. Quando Shouya se formou no colégio, ele escolheu ir para a floresta. Eu o visitava quando tinha tempo, sempre o achando como um grande lobo negro de olhos amarelos. Às vezes o confundia com papai, eles eram tão parecidos. Mas ele nos visitava sempre, assim como nos nossos aniversários. Haru, pelo contrário, escolheu ficar como humana e estudou muito. Me lembro de ela ter virado lobo apenas uma vez, quando brigou com Shouya. Eu tinha oito anos e eles discutiram, o que levou a se transformarem em lobo e atacarem um ao outro. Foi o dia mais assustador da minha vida. Pensei que nossa família acabaria. Porém eles se reconciliaram e depois pareceram ficar mais próximos.

Eu ainda não sabia o que escolheria. Estava com 16 anos e começaria o ensino médio na segunda-feira. Meus irmãos escolheram quem queriam ser ainda crianças. Shouya quis sair do colégio com oito anos e apenas ficou por causa dos meus pais. Haru não gostava de ir para a floresta, mas gostava de ser humana. Eu esperava que logo escolhesse meu caminho, pois ainda não fazia ideia do que fazer. Eu amava a floresta, mas também amava ser uma pessoa. Então... Pode-se dizer que estava em dúvida.

— Ame. – mamãe cantarolou no fogão – Me ajude com o bolo.

— Hum. – assenti.

Colocamos o bolo sobre a mesa enfeitada. Papai pendurou enfeites na parede e uma faixa de “Feliz aniversário” estava presa sobre o arco da porta que dava para a cozinha. Olhei para trás e vi Shouya chegando, acompanhado de Hanabi.

Shouya é alto, mas para mim ele sempre fora alto. Seus olhos amarelos vieram em minha direção assim como seu calmo sorriso. Hanabi por outro lado mostrava sua expressão séria de sempre. Ela tinha longos cabelos loiros que chegavam até sua cintura. Seu cabelo era apenas um pouco mais curto que o meu cabelo castanho, que chegava até meu bumbum. Hanabi usava uma blusa e saia jeans.

— Hanabi. – sorri – Veio com Nii-san?

— N-Não. – ela abaixou o olhar – Eu vim pela trilha, nos encontramos no caminho.

Alguns anos atrás a prefeitura mandou expandir a trilha da floresta para tornar mais fácil a ida dos moradores até o centro da cidade, embora muitos ainda usassem o caminho mais longo. A trilha agora ia até a cidade, bifurcando-se diversas vezes e se ligando com as ruas das casas distantes. Era um belo atalho, passávamos por dentro da floresta.

Eu costumava usar esse caminho para ir à escola e agora continuaria, pois o colégio do ensino médio também era na cidade. Fiz exames para outras escolas e passei em todos, porém preferi ficar na cidade. Era meu lar e eu amava passar por dentro da floresta, principalmente pela ponte de madeira sobre o grande rio. Era comprida, feita de madeira maciça e nos ajudava a chegar mais rápido na cidade, pois ficava há dez minutos de lá. Normalmente quando chovia a correnteza ficava forte e era impossível de atravessar o rio nadando. Então foi ótimo quando construíram a ponte.

— Vi Hana-chan de longe. – Shouya sorriu – É impossível não reconhecer seu cabelo.

Hanabi corou, desviando o olhar.

— Não sou mais criança. – resmungou ela – Pare de me chamar de Hana-chan, Shouya-kun.

Shouya sorriu. Mamãe pôs alguns pratos sobre a pia e olhou para Hanabi.

— Hanabi está tão bonita. Muitos meninos devem estar querendo namorar você.

— Obrigada. – Hanabi sorriu – Mas não tem.

— Ah... Sério? Você é tão bonita e educada.

Hanabi sorriu singelamente, pondo um pé a frente do outro. Ela não gostava de nenhum garoto do colégio. Ela gostava de meninos mais velhos, especificamente do meu irmão. Custou tempo para Hanabi me contar que gostava dele, porém finalmente contou há dois anos. A única coisa ruim é que Shouya não a enxergava como mulher, mas como minha amiga e a “Hana-chan” que ele conhece desde pequena.

— Hanabi gosta de meninos mais velhos. – falei, sorrindo para ela.

— Ame! – Hanabi corou.

— Ah. – mamãe cantarolou – Hanabi gosta então de jovens maduros.

— E-Eh... Sim. – gaguejou ela.

Hanabi desviava o olhar de Shouya, que nem ao menos prestava atenção no assunto. Ele procurava por algo dentro da geladeira e quando desistiu, se aproximou do bolo sobre a mesa.

— Não, não. – disse minha mãe – Espere sua irmã chegar.

Ele riu e roçou levemente o dedo no bolo, comendo um pouco de glacê e correndo da minha mãe ao fazê-lo. Ela pegou uma vassoura e estava preparada para proteger o bolo de Shouya.

Chamei Hanabi para o quarto e fechei a porta. Peguei meu vestido verde de mangas curtas dentro do armário e troquei de roupa. Hanabi olhava para uma foto na parede onde estava Shouya, Haru e eu. Tínhamos 14, 13 e 6 anos. Eu estava no meio com os braços para o alto e os dois sorriam.

— Eu sinto falta deles. – falei.

— Mas Haru e Shouya-kun sempre vêm aqui.

— Mas não é a mesma coisa. Tenho o quarto só pra mim, mas sinto falta de quando brigávamos para ver quem iria dormir em qual cama. Era divertido. – sorri, olhando para a foto – Por que não conta a ele?

— Tenho medo.

— Então prefere esconder isso? Até quando?

— Ame... – ela se virou e encostou as costas na parede, abaixando o olhar até seus pés – Prefiro olhá-lo de longe ao invés de contar e ter a certeza de que nunca vou tê-lo pra mim.

Dei um passo à frente e curvei-me um pouco para olhar seu rosto. Hanabi era cinco centímetros mais alta que eu.

— Você é tão séria. – cantarolei.

Ela sorriu levemente.

— Na verdade estou um pouco triste.

— Por quê?

— Porque acho que não vou ver mais Shouya-kun. E se ele for embora?

— Pode apostar, ele não vai. – ri – Shouya ama a floresta.

— Gostaria de saber onde ele mora.

— A casa dele é perto da montanha, ele não gosta que ninguém vá lá porque é um pouco íngreme.

Shouya na verdade morava numa caverna próxima às montanhas. Ele já me levou lá algumas vezes quando passeávamos como lobos pela floresta. Suas roupas ficavam lá, guardadas dentro da caverna e sem preocupações de algum animal pegá-las. Shouya era lobo a maior parte do tempo. E eu o admirava por isso e muitas coisas. Ele protegia a floresta com meu pai e graças a eles, muitos animais ficavam protegidos não apenas de caçadores – que já não apareciam há anos –, mas também das catástrofes naturais. Muitas tempestades derrubavam árvores e machucavam animais. Eles estavam lá para ajudá-los. Sempre.

— Me desculpe. – falei.

— Pelo o que?

Neguei com a cabeça e voltamos para a cozinha. Na hora seguinte, Haru finalmente chegou. Ela ficou maravilhada pela festa surpresa e pelo nosso grito de “Parabéns” quando chegou. Vovô veio com ela, os dois conversavam. Haru vestia uma camisa rosa e calça jeans. Seu cabelo castanho estava preso em um rabo de cavalo, possibilitando ver claramente seus olhos amarelos mesmo com sua franja.

— Não acredito que fizeram tudo isso. – disse ela, docemente.

— Claro que fizemos! – exclamou mamãe, feliz.

Haru sempre nos visitava nas férias da faculdade e feriados. Porém eu notava como minha mãe e meu pai estavam contentes por ela ter voltado. Não era o mesmo sem todos juntos.

Comemos, bebemos e conversamos. Ao anoitecer, cantamos parabéns para Haru e comemos o bolo. Shouya pegou um pouco de glacê e sujou o rosto de Haru, que exclamou e fez o mesmo. Me juntei aos dois e sujamos o rosto um do outro. Mamãe tirou uma foto de nós três, sorrindo e com o rosto coberto de glacê. Depois Hanabi tirou uma foto de nós cinco.

No final da festa meu avô já havia ido para casa e mamãe embrulhou um pedaço de bolo para Hanabi. Ela agradeceu, sorrindo levemente e Shouya a acompanhou pela trilha, fazendo-a corar ao dizer que não a deixaria ir para casa sozinha.

Mamãe e papai conversavam enquanto arrumavam a cozinha. Nos disseram para lavar o rosto no banheiro ao invés de arrumar tudo primeiro. Haru e eu os espiamos por alguns minutos, eles sorriam um para o outro e começaram a se beijar. Quando se abraçaram, fechamos a porta do banheiro, rindo. Haru lavou o rosto assim como eu, que também secava com a toalha algumas mechas do meu cabelo que foram molhadas.

— Está nervosa com o primeiro dia de aula? – perguntou Haru, sorrindo.

— Um pouco, mas todos vão estar lá. Bem que você poderia me contar quem ficou em cada turma.

— Nem eu sei, Ame. As listas saem depois da cerimônia de abertura.

— Hum. – concordei – Né, você namorou alguém em Kyoto?

— Por quê? – ela riu.

— Porque eu nunca a vi com garotos.

— Isso porque eles nunca vinham aqui. – ela sorriu – Eu namorei um menino no primeiro ano do ensino médio e outro no último ano. Namorei um rapaz na faculdade, mas terminamos no terceiro ano.

— Por quê?

— Ele quis se casar comigo.

— Eh?! – arregalei os olhos – E por que disse não? Não estavam juntos há... – contei mentalmente – Três anos?

— Isso não quer dizer muita coisa. – ela sorriu docemente – Ele era ótimo, mas se me casasse não voltaria para Okayama.

— Sim, mas... Haru.

Ela prestava atenção.

— Não é por causa do lobo, certo? – perguntei com receio.

Ela abaixou o olhar e assentiu com a cabeça, sentando no chão ao lado da banheira e eu a acompanhando.

— É por isso mesmo.

— Mas... E se ele a aceitasse? Mamãe aceitou papai e...

— Ame, somos três. E nós três herdados o lobo. Eu não contaria nunca esse lado que tenho, mas se me casasse com alguém e tivesse um bebê, com certeza esse bebê herdaria o lobo.

— Seria seu marido... – entristeci – Por que não contaria?

— Você contou à Hanabi? À Hayato? Não os conhece desde pequena?

— É diferente.

— Não é. – ela sorriu – Temos medo. É só isso. Se eu encontrasse alguém como nós, talvez contasse. Mas não existem pessoas como nós.

— Como pode ter certeza? O Japão é enorme!

Ela concordou, sorrindo, porém ao mesmo tempo triste. Abaixei o olhar. Haru me olhou e sorriu feliz, tocando meu cabelo.

— Seu cabelo cresceu mesmo, não é?

— É. – sorri – O seu também.

Ela sorriu.

Haru foi embora, papai a levou de carro para casa e eu continuei a arrumar tudo com minha mãe. Olhei-a por um momento enquanto guardávamos a louça, ela sorria. Mamãe sempre estava sorrindo de forma singela e contente. Ela parecia ser feliz todo o tempo.

Na segunda-feira, segunda semana de Abril, eu me arrumava no quarto. Terminei de amarrar minha gravata borboleta vermelha e vesti meu colete. Pus uma mecha do meu cabelo castanho atrás da orelha e me vi no espelho. Minhas meias que chegavam até a canela e meus sapatos eram pretos. Minha saia era cinca e escura, minha camisa de mangas curtas era branca e o colete era num tom escuro que chegava a ser roxo. Sorri diante do espelho, nervosa.

— Ame. – mamãe cantarolou – Venha comer, se não vai se atrasar... Ah. – ela me observou – Está tão bonita.

Sorri.

— Obrigada. Mas a senhora também usou esse uniforme, não é?

— Sim. – ela sorriu, pondo a mão na bochecha – Eu, sua irmã... Mal me lembrava. Bem, venha.

— Hum.

Após o café da manhã, me despedi dos meus pais e corri em direção à floresta. Segui pela trilha e minutos depois, encontrei-me com Hanabi. Ela também usava o uniforme e seu cabelo loiro estava amarrado sobre o ombro. Ela sorriu ao me ouvir chamando-a e continuamos juntas.

Conversamos sobre como seria o primeiro dia de aula e os professores. Brinquei com ela, dizendo que deveria ter algum professor com idade próxima a nossa que ela iria gostar e Hanabi revirou os olhos para o outro lado. Chegamos na ponte e eu vi Shouya com os braços cruzados sobre a madeira do parapeito, curvado. Ele nos viu e sorriu, endireitando-se e vindo até nos. Shouya pôs o braço ao meu redor, afagando minha cabeça e bagunçando meu cabelo.

— Nervosa com o primeiro dia de aula? – cantarolou.

— Shouya! – exclamei, fazendo-o me soltar – Meu cabelo!

Ele riu.

— Hana-chan. – cumprimentou-a.

— Oi, Shouya-kun.

— Nervosas com hoje?

— Claro que não. – falei – Já tivemos um primeiro dia de aula antes.

— Mas é o ensino médio. – ele cantarolou, abaixando até minha altura – En-si-no mé-di-o.

— Idiota. – pus a mão em seu rosto.

Ele riu e passou por nós.

— Boa sorte.

— Hum. – sorri e voltei a andar.

Shouya foi embora, entrando na floresta pela trilha, e Hanabi o olhava ir embora. Me virei ao notar que ela ficou para trás.

— Hanabi, vamos!

Ela despertou e corou, apressando-se.

A cerimônia de abertura foi como Haru e mamãe disseram quando passei na prova de admissão do colégio. Todos os professores estavam enfileirados de frente para o mar de alunos sentados na plateia. O diretor falava à frente dos professores, nos dando boas vindas e discursando para nos motivar sobre os três anos em que estudaríamos no colégio.

Após a cerimônia, todos os alunos foram para os corredores de seus respectivos anos. Os veteranos do último ano foram para o terceiro andar ver no quadro do andar as listas das turmas, os alunos do segundo ano foram para o segundo andar e os alunos do primeiro ano – nós – foram para o primeiro andar.

Hanabi e eu tentávamos enxergar o quadro, porém era impossível com tanta gente. Hanabi suspirou e invadiu o espaço, empurrando vários meninos, que ficaram assustados com sua expressão aterrorizadora. Enquanto Hanabi procurava por nossos nomes, Hayato se aproximou de mim com a bolsa escolar sobre seu ombro.

— Hanabi é tão bruta. – cantarolou ele.

— Que susto. – franzi as sobrancelhas – Chegou agora?

— Sim, perdi a hora. Minha mãe quase me matou.

— O seu celular tem uma coisinha chamada despertador.

Ele me deu língua, voltando-se para o quadro e para Hanabi, que retornava. Os dois eram da mesma altura, me sentia um pouco baixa ao lado deles.

— Estamos na mesma turma. 1-B. Você também, Hayato. Aproveitei e vi seu nome.

Ele caminhou em direção ao quadro e olhou para os alunos por um momento. Quando se virou, pôs os braços em volta de nossos pescoços e exclamou:

— É isso aí! O ensino médio!

— Hayato! – exclamei.

— Idiota! – exclamou Hanabi.

Os dois primeiros meses de aula foram mais legais do que imaginei. Hayato e Hanabi estavam na mesma turma que eu e isso era ótimo! Fizemos amizades com todos na turma e percebemos que Hayato começara a gostar de Ina Mai, uma garota de médios cabelos pretos que passavam de seus ombros. Ela era calma e seu ar doce encantava a maioria dos meninos, assim como seu bonito rosto. Porém ela gostava do nosso professor de matemática, Satoru Takashi.

Ele era um excelente professor e todas as alunas gostavam dele. Cabelos pretos médios, bonito e seus olhos tinham cores diferentes. O direito era preto e o esquerdo marrom. Porém apaixonar-se por um professor não era tão incomum, isso já que a maioria dos garotos gostava da minha irmã. Haru era professora de literatura e pelo visto os garotos gostavam muito de literatura agora. E por que não? Haru era linda e mesmo usando sempre uma saia comprida que chegava até os joelhos e camisa de mangas curtas, ainda dava para notar que seu corpo era lindo. E os meninos com certeza notavam.

Durante a aula de Haru de manhã, Hayato observava Mai, que olhava pela janela, sonhando acordada. O cutuquei com o lápis, chamando sua atenção. Ele me olhou, desanimado.

— Por que não fala com ela? Já estamos no final de maio. Daqui a pouco são as férias de verão.

— Não. – ele abaixou o olhar – Três garotos já se declararam pra ela e ela não aceitou nenhum. Eu só vou ser mais um, ela gosta de Satoru-sensei.

— Isso não quer dizer nada, ele é o professor e ela uma aluna. Não vai acontecer nada entre eles. Apenas fale com ela.

Ele olhou para frente, pensando. Permaneci o olhando, tentando pensar em alguma forma de ajudar. Se é que isso era certo. Haru falava, dando sua aula e me olhou, pondo a mão na cintura como se eu fosse a única que não prestava atenção. Os garotos prestavam mais atenção nela do que em sua aula e o que ela explicava.

— Yoshiro-san.

— S-Sim! – arregalei os olhos.

— Vá para a sala dos professores no final da aula.

— Sim... – abaixei a cabeça.

Depois da aula, Haru me deu uma leve bronca na sala dos professores. Eu queria rir, não sabia como encarar uma bronca da minha própria irmã. Quando terminou, ela voltou a sua expressão normal e sorriu.

— Idiota, você não me leva a sério mesmo, não é?

— Desculpa. – ri.

— Tudo bem. Pode ir.

Deixei escapar uma risada novamente e saí da sala, porém Haru me pediu para levar uma papelada até a turma do segundo ano onde Satoru-sensei estava. Vi que eram testes que ele iria corrigir e fiquei aliviada por não ser da minha turma.

Ao chegar no segundo andar, vi os meninos do segundo ano. Bonitos, encantadores. Alguns me olharam e me senti desejada pela primeira vez. Nunca ninguém havia se declarado para mim, então meninos me olharem dessa forma fazia eu me sentir bonita.

Satoru-sensei estava na 2-C, sentado à mesa do professor. Me aproximei, o olhando e cumprimentando-o.

— Satoru-sensei.

— Hum, sim. Yoshiro-san. – ele sorriu – Me desculpe, você é tão parecida com sua irmã.

— Os olhos dela são mais bonitos. – sorri.

— Não diga isso. As duas são bonitas.

— Obrigada. Haru me pediu para lhe entregar isso.

Pus a papelada sobre a mesa, o que fez algumas mechas do meu cabelo caírem sobre meu ombro. De relance, vi Satoru-sensei arregalar ligeiramente os olhos, abaixando o olhar. Me endireitei, sem entender.

— Algo errado, sensei?

— Não. Claro que não. – ele sorriu estranhamente – Haru, não é?

— Hã?

— O nome da sua irmã. Eu apenas a chamo de Yoshiro-san, então quando a chamo também, isso me confunde.

— Me desculpe. – achei graça.

— Yoshiro-san.

— Sim?

Saturo-sensei ficou me olhando de forma estranha, como se analisasse meu rosto.

— Você mora aqui há muito tempo?

— Ahm... Minha vida toda. Nasci aqui.

— Sua família é daqui?

— Sim... Por quê?

— Por nada. – ele sorriu – Me mudei para cá há dois anos e ainda estranho algumas coisas na cidade. Seria ótimo uma ajuda.

— Claro. Haru poderia lhe mostrar o que o senhor não conhece.

— Hum. – concordou – Claro. Obrigada por isso e pela papelada.

Assenti e me retirei. Fui para o pátio do colégio, encontrando Hanabi e Hayato num dos bancos. Eles almoçavam, conversando sobre algo. Me aproximei e sentei ao lado de Hayato, suspirando.

— E sua irmã?

— Não consigo vê-la como professora. – falei – Ela me dava bronca e eu ria.

Os dois riram.

— Só você.

— E Mai? – sorri.

Hanabi me olhou.

— Como assim Mai?

— Ah, Hayato não contou? Ele gosta de Ina Mai, mas ela gosta de Satoru-sensei. Então ele tem medo de se declarar pra ela.

— Esquece isso! – exclamou Hayato – Você é tão chata.

Deixei um sorriso escapar.

— Se não disser nada, ela nunca vai saber.

Ele bufou, virando o rosto. Hanabi sorriu levemente e me olhou, dizendo:

— Estão dizendo que um aluno novo vai se transferir pra cá.

— Jura?

— Um menino. Acho que ele é de Tokyo.

— Como sabe?

— Seiko da 1-A tem uma prima que trabalha na administração.

— Nossa. – comentei – De Tokyo para Okayama? Minha mãe sempre me disse que Tokyo é bem diferente daqui. É uma mudança e tanto.

— Verdade. – Hanabi olhou para a extensão do pátio.