Allen POV

Abriu os olhos lentamente, tentando se situar. Estava encolhido na sua cama, em um ninho fofo de cobertas. Olhou para o relógio que ficava no criado mudo, que marcava 7:00 da manhã. “Ainda está cedo”. Virou-se para o lado preguiçosamente, planejando voltar a dormir, quando todas as lembranças da noite anterior bombardearam sua mente.

Levantou-se em um pulo, chutando as cobertas para fora da cama. Procurou qualquer sinal de Kanda no quarto, mas não o encontrou. A única coisa que indicava que ele esteve ali era o outro lado da cama que continha um cobertor perfeitamente dobrado. Allen nunca conseguia dobrar qualquer roupa de cama de forma tão alinhada. “Será que ele já foi embora?”

Antes de fazer qualquer outra coisa, decidiu ir ao banheiro pelo menos lavar o rosto. Ainda estava meio sonolento. Sentiu seu corpo congelar um pouco ao fechar a porta do cômodo, pois pendurada no gancho atrás dela estava uma doma do Kanda impecavelmente passada. “Ele ainda está aqui!”

Ouviu alguns barulhos vindos da cozinha, e agora sentiu seu corpo pegar fogo. Se encarou no espelho e seu reflexo não parecia nada com o que estava acostumado. Tirando o cabelo bagunçado, o que era normal dado que havia acabado de levantar, suas bochechas estavam coradas e seus olhos mais brilhantes. Quando foi a última vez que se sentiu assim? Alguma vez já havia se sentido assim?

— Está tudo bem, Allen, é só ir até a cozinha e agir normalmente. – Disse encarando seu reflexo, tentando passar confiança – É apenas o Kanda, seu chefe estupidamente lindo e surpreendentemente carinhoso que você estava beijando ontem a noite. Nada para se preocupar.

Contrariado suas palavras firmes, suas pernas pareciam ter virado gelatina. Não que estivesse bêbado na noite anterior, mas o álcool o deixou mais leve. E se Kanda tivesse se arrependido? E se ele não se lembrasse de nada?

— Vamos lá Allen, pense na coisa mais assustadora que já teve que enfrentar. – Se lembrou da única vez em que viu seu pai realmente furioso, logo após ele voltar da viagem de trabalho em que tinha aproveitado para sair para beber. Obviamente Mana havia descoberto sobre sua noite de rebeldia, afinal Nea e Tyki eram amigos, e também havia descoberto sobre os motivos para ele fazer isso. Seu pai ficou furioso por dois motivos. Primeiro, não havia contato que estava tendo problemas na escola. Por mais que seu tio tivesse “resolvido” isso, Mana queria ter estado presente e preferia ter sabido disso por Allen. Segundo, ele havia conseguido identidades falsas para si e seus colegas saírem para beber em lugares desconhecidos colocando todos em risco. Havia sido realmente imprudente, e nem queria saber o que poderia ter acontecido se Tyki não estivesse lá – Ok, Allen, nada é mais assustador do que Mana Walker furioso. Você consegue lidar com isso.

Caminhou com passos decididos até a cozinha, onde encontrou Kanda terminando de preparar o café da manhã. Sobre o balcão estavam alguns pães doces e salgados, que pareciam recém saídos do forno, algumas fatias de bolo simples e duas xícaras. O moreno estava de frente para o fogão, onde tinha uma chaleira.

— Bom dia Yu! – Disse se aproximando, tentando soar o mais calmo possível, mas seu coração estava extremamente acelerado – O que faz de pé tão cedo?

— Bom dia Allen. Eu quem deveria fazer essa pergunta. – Kanda virou-se para si, estendendo a mão livre em sua direção, em um convite silencioso para que se aproximasse, enquanto usava a outra para terminar o chá – Eu tenho que trabalhar daqui a pouco, mas é seu dia de folga, então imaginei que dormiria até mais tarde.

Não se fez de rogado e se aproximou do outro, circulando sua cintura com os braços e enterrando o rosto contra seu peito. Sentiu Kanda o abraçar de volta, enquanto deixava um beijo suave em seus cabelos. Ainda ficava abismado com o conforto que aquele gesto lhe passava. Poderia ficar o resto da vida naqueles braços.

— Quando acordei sozinho fiquei com medo de você já ter ido embora. – Murmurou a contra gosto. Não gostava de se sentir inseguro – Por falar nisso, como fui parar na minha cama? Não me lembro de ter ido para o quarto.

— Eu te disse que não ia fugir, moyashi, não confia em mim? – A pergunta fez seu coração acelerar ainda mais e parecia que a qualquer momento ele iria sair por sua boca. Nunca havia se sentido assim – Eu apenas desci por alguns minutos para buscar meu uniforme e algumas coisas para o café da manhã. – Sabia que Kanda estava se referindo aos pães, que eram do tipo que eles mantinham congelados para emergências – E eu te levei para a cama, já que você acabou pegando no sono no tapete. – Se afastou um pouco, dando espaço para Kanda terminar o chá, ficando apenas com as mãos dadas – Minha intenção era voltar e dormir no sofá, mas você se agarrou na minha camiseta e não soltava. Quem diria que uma pessoa tão pequena pudesse ter tanta força nas mãos? – Viu o sorriso sarcástico se formar nos lábios do maior, enquanto esse lhe provocava. Então decidiu devolver na mesma moeda.

— Da próxima vez que você precisar me carregar para a cama, espero estar consciente para poder fazer melhor uso das minhas mãos. – Piscou de lado, se afastando e indo para o balcão, mas não sem antes ver Kanda ficar mais vermelho do que um tomate, e com os olhos arregalados em choque, derrubar a chaleira de água, agora vazia, dentro da pia.

— Você é impossível, Allen Walker! – Ouviu o moreno bradar enquanto se aproximava do balcão com o chá, servindo as duas xícaras antes de se sentar – E pensar que meu pai estava preocupado com o que eu poderia fazer com você, mas ninguém parece preocupado com o que você pode fazer comigo! - O tom cínico e horrorizado de Kanda o fez cair na gargalhada, que segundos depois foi acompanhada pela risada leve do outro.

O café da manhã foi tranquilo, eles conversaram sobre o planejamento do dia, riram de algumas histórias da infância, falaram sobre a faculdade e sobre planos para o futuro. “O que você pretende fazer depois de se formar?” Essa pergunta que Kanda fez ainda martelava sua cabeça depois que o moreno saiu para trabalhar. O deixou sem uma resposta, porque simplesmente não havia pensado nisso. Esteve tão focado em se formar, principalmente desde de que chegou ao Japão e perdera metade do semestre devido à diferença do inicio do ano letivo entre as duas universidades, que não havia planejado nada. E contrariando a lógica, estava tranquilo com isso. Era algo importante, mas não desesperador, afinal depois de se formar ainda teria um mês de trabalho na cafeteria antes de ter que decidir alguma coisa.

Passou a manhã toda terminando alguns trabalhos da faculdade, aguardando ansiosamente que a diferença de fuso horário se tornasse aceitável para ligações. Precisava conversar com alguém sobre o que aconteceu entre ele e Kanda, ou iria surtar. E sua primeira vítima seria Howard Link.

Kanda POV

— Yu, que surpresa você me ligar! – Ouviu a voz do pai antes mesmo de vê-lo. Sabia que ele estaria empolgado, pois era extremamente raro ligar para convidá-lo para almoçar a menos que fosse alguma ocasião especial.

— Boa tarde, pai. – Disse de forma polida. Dois meses de convivência com Allen foram o suficiente para aplacar sua fúria por seu pai ter feito as coisas pelas suas costas. E estava particularmente de bom humor depois da noite anterior – Vamos almoçar na sala dos funcionários, já está tudo pronto.

— Você está bem, Yu? – Notou o tom de preocupação do mais velho e precisou conter um sorriso. Sim, estava esplendidamente bem – Será que ficou doente? – Ouviu o pai murmurar enquanto se aproximava e tocava sua testa para checar sua temperatura.

— Estou perfeitamente saudável, pai. – Interrompeu o contato de forma delicada – Vamos comer antes que esfrie.

Após finalizarem a refeição, onde seu pai aproveitou para atualiza-lo sobre todos os quadros que havia vendido nos últimos dias, as recentes escolhas de decoração de Miranda e Marie para o casamento, vários elogios sobre o acontecimento do dia anterior e vários resmungos do tipo “Claro que Cross foi correndo te contar sobre isso”, Froi parecia ter sido vencido pela curiosidade, pois o encarou de forma séria antes de falar.

— E então, Yu, por que me chamou aqui? – Respirou fundo para criar coragem antes de responder.

— Estou apaixonado pelo Allen. – Nunca foi um homem de rodeios e seu pai já estava acostumado com isso. Mas talvez tivesse sido melhor ter preparado o terreno para essa conversa antes, porque Froi parecia ter quebrado.

— Como isso aconteceu? – A pergunta veio depois de vários minutos.

— Sinceramente? Não faço a mínima ideia. Só aconteceu. – Quando havia deixado de ver Allen como o afilhado do seu pai que havia sido forçado a invadir sua cozinha, contra a sua vontade, para vê-lo como o homem incrível, forte, fofo e desejável que ele era? Também não tinha uma resposta para isso.

— E ele sabe disso? – Seu pai parecia estar lidando com isso com mais tranquilidade do que esperava.

— Acho que ele tem alguma ideia sobre isso. – Havia passado metade da noite e uma parte da manhã enchendo o menor de abraços e beijos. Tinha certeza de que ele entendeu o recado.

— E você acha que é correspondido? – Seu pai parecia genuinamente preocupado com isso, o que o deixou feliz. Ele estava preocupado com os seus sentimentos e pôde notar o medo que ele estava de que seu filho se magoasse. Apesar de toda a sua postura e de todos os comentários e brincadeiras, era reconfortante que seu pai se preocupasse tanto consigo.

— Não posso falar por Allen, mas acredito que sim. – Relembrou tudo o que havia acontecido desde a manhã do dia anterior antes de responder – Nós nos beijamos, ficamos abraçados, comemos juntos. Isso significa que ele também sente o mesmo por mim, certo?

— Também não posso falar por ele, mas se esse é o caso, acredito que sim. – Viu o sorriso estampado nos lábios de seu pai e sorriu de volta – Estou feliz por vocês! São dois homens incríveis que merecem, mais do que tudo, viverem um grande amor.

— Ele me contou. – Seu sorriso morreu ao se lembrar da história que Allen lhe contou – Sobre o motivo para ele ter se mudado. Agora eu entendo toda a preocupação.

— Me surpreende ele ter te contado. – Froi também estava sério agora – Ele costuma ser bem reservado sobre seus problemas. Eu soube por Mana que a única pessoa com quem ele realmente se abre sobre esse assunto é um amigo do Nea, que é psicólogo. Eles não têm um vínculo de médico-paciente, mas são bons amigos e Allen parece confiar bastante nele. – O sorriso estava de volta – E isso me deixa ainda mais feliz, porque parece haver algo sólido entre vocês, além da atração física.

— Eu disse que estou apaixonado, pai. – Bufou indignado – Não é apenas atração física!

— Eu sei que não, filho. – Os olhos do mais velho brilharam com orgulho – O homem que eu criei está além disso. Você nunca foi do tipo superficial e que trata os sentimentos alheios de forma leviana. Se você disse que gosta dele, eu sei que fará de tudo ao seu alcance para que isso dê certo.

Não conseguiu responder. Sentiu suas bochechas corarem e se amaldiçoou por isso. “Desde quando sou tão emocional assim? Mas que inferno!”.

— Mas e agora, como isso vai funcionar? – Seu pai voltou a ficar sério. As oscilações de humor dele sempre eram difíceis de se acompanhar.

— Isso o que? – Havia se perdido dentro da sua própria mente e se desligado da conversa.

— O relacionamento de vocês. – Froi pontuou como se fosse óbvio – Como vai funcionar?

— Eu não sei. – Sua sinceridade havia chocado seu pai mais uma vez – Não conversamos sobre isso, não diretamente.

— Talvez seja melhor irem com calma. – Seu pai se levantou, olhando para o celular – Se apaixonar é como andar de bicicleta.

Nem tentou entender a analogia, porque quando se tratava do seu pai, na maioria das vezes era um caso perdido e não fazia sentido nenhum.

— E Yu. – Froi chamou ao chegar na porta – Boa sorte!

— Por quê? – Ele não parecia estar se referindo ao relacionamento com Allen.

— Mana e Nea estão do outro lado do mundo e vão ter tempo suficiente para digerirem a ideia de que o bebê deles está com alguém antes de te encontrarem. – Viu o sorriso sádico de seu pai e sentiu um frio percorrer a sua espinha – Mas apenas alguns minutos de carro separam você e Cross, e pode ter certeza, ele não vai gostar nada disso.

E com essas doces palavras, seu pai se foi, deixando-o com um gosto amargo na boca. Tinha prometido para Allen que não fugiria, mesmo depois de saber de tudo. Agora esperava de todo coração, que pudesse sobreviver para cumprir a promessa.

E como havia sido “profetizado” por seu pai, assim que o relógio marcou 19:00 horas e Daisya e Krory foram embora (era dia de folga do Lavi), saiu da cozinha e encontrou Cross Marian sentado em uma das mesas, com cara de poucos amigos.

— Você tem um minuto, Kanda? – Aquilo estava longe de ser uma pergunta, era claramente uma ordem para que se sentasse. Não que tivesse medo do ruivo, longe disso, mas sabia que apesar da sua atitude ruim e de todo o resto, ele era importante não apenas para o seu pai, mas para Allen também. Então achou melhor resolver isso de uma vez.

— Claro. – Sentou-se de frente para o homem, que parecia assustadoramente sóbrio.

— Eu vou direto ao ponto. – Era a primeira vez que estava sendo alvo do olhar sério de Marian e finalmente entendeu a razão pela qual ele sempre era chamado para resolver os problemas com os encrenqueiros – Quero que fique longe do Allen.

— Não creio que essa decisão seja sua. – Para azar de Cross, ele não é do tipo que se assusta fácil.

— Não, não é. E não dou a mínima para isso. – Viu uma veia saltar na testa do mais velho. Isso seria interessante – Se afaste dele.

— Por quê? – Obviamente não iria se afastar de Allen a menos que ele próprio pedisse, mas viu ali uma pequena oportunidade de entender mais sobre como funcionava a sua família. Sempre viu tudo da perspectiva de filho do Froi, mas sabia que a dinâmica envolvendo o outro rapaz era completamente diferente.

— Porque eu estou mandando? – A pergunta retórica o fez fechar a cara e estalar a língua – Olha Kanda, eu particularmente não tenho nada contra você – Cross continuou após um suspiro – Inclusive até te acho uma pessoa descente. E é por isso, e por consideração ao seu pai, que estou aqui te pedindo educadamente ao invés de estar desovando o seu corpo em um rio qualquer.

— Você não está aqui para me fazer um pedido, Cross, está ordenando. – Vestiu sua expressão mais fria e fez menção de se levantar antes de continuar – E eu não vou ouvir mais um segundo sequer dessa baboseira a menos que me dê um motivo plausível.

— Você se parece muito com ele. – Parou o movimento no meio do caminho, curioso – Seu pai. Froi Tiedoll pode ser o homem mais doce e gentil que eu já tive o prazer de conhecer, mas também é forte e não se deixa intimidar facilmente. Você herdou essas características dele. – O sorriso singelo na face do mais velho o desarmou completamente, fazendo-o sentar outra vez – Ouça Kanda, Allen ainda é apenas um garoto...

— Ele não é um garoto. – Cortou a fala de Cross com irritação – Desde que meu pai me disse que ele viria para morar aqui e me ajudar na cozinha, todos têm o tratado como se ele fosse de cristal. Allen Walker não é um garoto frágil e delicado, é um homem forte e incrível, que a cada dia me surpreende mais com sua determinação. Eu sei que ele teve um passado difícil e que recentemente tem lidado com mais coisas do que o suportável, mas mesmo assim ele continua se levantando todas as manhãs, vindo trabalhar com um sorriso enorme, indo para a faculdade e dando o seu melhor. Claro que não está sendo fácil, mas ele continua seguindo em frente, caminhando. Nenhum de nós teria tanta força de vontade e você sabe disso. Então não venha ofender todo o esforço que ele tem feito chamando-o de garoto.

— Você é mesmo tudo o que Froi vive se gabando. – Ao contrário do que esperava, Cross estava rindo – E o que você vai fazer se eu disser que não vamos aprovar esse relacionamento?

— Continuo com a certeza de que a única opinião que importa é a do Allen. – Finalmente entendia o que o pai havia visto no ruivo: as oscilações de humor deles era exatamente igual. Apenas um louco pode entender outro – Quando disse ao meu pai que estou apaixonado, não estava exatamente pedindo permissão. Assim como eu, Allen é um homem adulto que pode tomar suas próprias decisões. A menos que ele diga que não me quer, eu não vou me afastar.

— Agora eu entendo o que ele viu em você. – Com mais uma risada, Cross se levantou – Você deve estar pensando que foi o seu pai quem me contou sobre isso, mas não foi. – Estava realmente surpreso – Mana e Nea me ligaram há algumas horas, completamente desesperados, porque pela primeira vez, o pirralho os desafiou. – Além de surpreso agora estava confuso – Allen sempre foi um garoto gentil e obediente, e salvo raras ocasiões, nunca contrariou as vontades do pai. Mas quando Mana e Nea disseram que ele ainda é muito novo para se envolver em um relacionamento, a resposta dele foi a mesma que a sua.

Ainda tentando processar essa informação, viu o mais velho se dirigir para a porta.

— Allen pode ser um homem forte e independente como você disse, mas ele ainda é o nosso pirralho. – Essas palavras foram ditas em um tom frio e cortante – E se você ousar quebrar o coração dele, Yu Kanda, tenha certeza de que nem mesmo Froi vai ser capaz de me impedir de te enterrar tão fundo que nunca conseguirão encontrar os seus restos.

Depois que Cross saiu, ainda ficou uns 10 minutos encarando a porta tentando assimilar tudo. Se Marian era a maior ameaça que tinha que enfrentar naquele dia, talvez as coisas fossem ser mais fáceis do que imaginava.

Pelo menos foi o que pensou até entrar no apartamento de Allen. Havia decidido passar por ali antes de ir para casa, para ver como ele estava lidando com tudo isso, e a resposta foi encontrar o menor tremendo em frente ao notebook, sentado no tapete da sala.

— O que aconteceu? – Perguntou preocupado, se aproximando.

— Eu sinto muito, Yu. – O albino tinha os olhos lacrimosos, como se pudesse cair no choro a qualquer momento.

— Allen, o que aconteceu para você estar assim? – Sentou-se ao lado dele e o puxando para um abraço.

— Quando eu contei ao meu pai sobre você, bem, eu imaginei que ele iria surtar um pouco. – O menor começou a falar ainda agarrado ao seu corpo e tremendo levemente – Mas eu não achei que seria tanto a ponto de mandar o tio Cross ir falar com você. Eu apenas soube disse agora, quando o tio me mandou uma mensagem dizendo que passou por aqui para ter uma “conversa de ex delegado de polícia, que tem um álibi e uma pá, com o interesse amoroso e provável futuro cadáver”.

— Está tudo bem. – Tentou tranquilizá-lo fazendo um leve carinho em suas costas – Meu pai havia me avisado que isso aconteceria, então eu já estava preparado para lidar com ele.

— Ele te ameaçou? – Quis rir com a preocupação dele. Era extremamente fofo.

— Ele tentou. – Deu de ombros.

— E então? – Percebeu o medo oculto nessa simples sentença e por isso puxou Allen para um beijo. Foi um selar de lábios delicado e casto, mas tentou passar todos os seus sentimentos através desse gesto.

— Quando você vai parar de pensar que eu vou fugir? – Perguntou sorrindo, acariciando a bochecha do menor levemente – Allen, apenas a sua opinião importa pra mim. Nossos pais e seus tios têm sido amigos por quase toda a vida e eu entendo e compartilho de todo o cuidado que eles têm com você, mas isso não significa que eles podem tomar essas decisões no seu lugar.

— Então você vai ficar? – O sorriso ainda seria a causa da sua morte, porque sempre que o via, sentia que seu coração sairia pela boca.

— Enquanto você quiser que eu fique. – O tranquilizou, sorrindo de volta.

Ficaram abraçados por vários minutos, apenas apreciando a presença um do outro. Mas em depois de um tempo, como se um interruptor tivesse sido ligado, Allen se afastou em um pulo.

— Espera, você contou para o padrinho? – Ele estava mais pálido do que o normal.

— Ele ficaria sabendo de qualquer forma. – Respondeu ao seu recuperar do susto pelo movimento abrupto do outro – Você sabe que Cross e ele não tem segredos, então era só questão de tempo. Apenas quis que ele soubesse por mim. Não gosto de deixar as coisas mal resolvidas.

— E como ele reagiu? – Observou com incredulidade Allen se levantar e começar a andar de um lado para o outro – Ele ficou com raiva? – Havia sido completamente ignorado, porque agora Allen parecia estar murmurando consigo mesmo – É claro que ele deve estar bravo. Quer dizer, eu cheguei a pouco tempo e já estou assim com o filho caçula dele. Ele deve pensar que eu sou algum tipo de sedutor barato. Não posso deixar as coisas ficarem assim. Uma coisa é controlar meu pai e o tio Nea, mas se o padrinho for contra eu não sei o que fazer. – Ficou impressionado com a quantidade de baboseiras que o albino conseguia proferir por segundo. Aqui era ridículo. Levantou-se com a intenção de interromper aquela enxurrada de besteiras quando Allen parou de andar e virou-se para si com a expressão determinada, puxando-o por uma das mãos até a porta.

— Allen...? – Tentou chama-lo, mas ele parecia concentrado demais procurando sua carteira e a chave da porta – Allen! – Ofereceu alguma resistência parando ao lado da porta antes que o menor pudesse abri-la – Você pode me explicar o que diabos está fazendo?

— Estamos indo até a casa do padrinho. – Ele parecia estava assombrosamente sério.

— E o que exatamente vamos fazer na casa do meu pai a essa hora? – Perguntou delicadamente, tentando entender o que estava acontecendo.

— Eu vou pedir sua mão para ele. – De todas as respostas que esperava receber, nenhuma delas passava nem perto dessa. Quase caiu de costas pelo choque.

— Você vai o que? – Estava tentando processar a informação. “Eu devo ter ouvido errado, não é possível”.

— Vou pedir a sua mão! – Aquilo soou ainda mais absurdo da segunda vez. Se obrigou a continuar respirando ou iria surtar – Ele precisa saber que eu estou sério com relação a você.

— Você não está fazendo sentido, Allen! – Exasperou-se.

— Você disse que não vai fugir.

— Sim, eu disse.

— Isso significa que você gosta de mim como eu gosto de você, certo?

— Sim...

— Eu posso lidar com o meu pai e o tio Nea, mas sem o apoio do padrinho para controlar o tio Cross, ele vai transformar nossa vida em um inferno, então eu não posso arriscar que o padrinho continue me odiando.

— Mas Allen, ele não...

— Eu sei que ele deve estar chocado e magoado, mas tenho certeza de que posso convencê-lo de que não pretendo brincar com os seus sentimentos.

— Você entendeu tudo errado Allen, meu pai...

— Claro que seria melhor se eu tivesse um anel para a ocasião, mas está tudo fechado agora, então ele vai ter que confiar na minha palavra. – E mais uma vez Allen estava preso no próprio mundo. Agora que finalmente estava entendendo o que se passava na mente do menor, se permitiu relaxar um pouco. Antes que ele pudesse continuar seu monólogo sobre como não poderiam se casar imediatamente por causa da faculdade, puxou-o para outro beijo. Dessa vez mais intenso, mas não menos carinhoso. Moveu uma das mãos para a cintura do albino enquanto a outra se embrenhou em seus cabelos. Suspirou quando o sentiu corresponder de imediato, levando as duas mãos ao seu pescoço para poder puxá-lo para mais perto. Separam-se apenas quando o ar se fez necessário, ambos corados e ofegantes.

— Você pode, por favor, me escutar por apenas um segundo? – Sorriu quando Allen concordou automaticamente, ainda meio aéreo por causa do beijo – Eu não sei o que se passa na sua cabeça para sequer cogitar a ideia de que meu pai poderia te odiar. – Viu os olhos do menor se arregalarem ligeiramente ao ouvir as suas palavras – Ele está completamente bem com isso, de verdade. – Levou as mãos ao rosto do menor, vendo-o sorrir – E também não precisa se preocupar com o Cross, nós conversamos e de alguma maneira, também estamos bem. Então não precisa surtar, moyashi. Por mais que ideia de me casar com você seja encantadora, seria melhor irmos com calma, não acha? – Allen agora parecia completamente constrangido pelo surto, enquanto processava sua fala – Eu odiaria ter que passar a nossa lua de mel em um hospital porque forcei demais os limites do seu pai.

Allen caiu na gargalhada, e aquele era o melhor som do mundo. Conseguiu trazê-lo de volta para o tapete, que parecia ter se tornado o local favorito de ambos, e o puxou para seus braços.

— Desculpe por surtar, Yu. – Allen pediu deixando um beijo em seu rosto – É a primeira vez que eu me envolvo com alguém assim e não sei muito bem como lidar com tudo. – Entendia o outro completamente – Principalmente por sermos praticamente família.

— Não precisa se desculpar, isso tudo também é novidade para mim. – Encarou as orbes prateadas com um sorriso. Não havia nada mais belo no mundo do que aqueles olhos – Nós vamos aprender juntos, um passo de cada vez, tudo bem? – Allen concordou com um sorriso que poderia iluminar toda a sua vida – E veja pelo lado bom, já que somos praticamente família, não vamos passar por todas aquelas situações constrangedoras em que nossos pais vão querer se conhecer.

— Isso é verdade! – Ambos estavam rindo agora – Mas Yu, o que é exatamente “isso”?

— O que você quer que “isso” seja? – Devolveu a pergunta com outra. Estavam mais sérios agora.

— Eu literalmente estava te pedindo em casamento há alguns minutos atrás, bakanda! – Allen soou emburrado e constrangido ao mesmo tempo, o que o suficiente para que voltassem a rir – Mas você tem razão, vamos com calma, um passo de cada vez.

— Então se ontem nós deixamos a linha de largada, o próximo passo é... – Olhou para Allen da forma mais séria que conseguiu, segurando uma de suas mãos – Allen Walker, você quer namorar comigo?

— É claro que eu quero Yu! – Allen se jogou em seus braços com tanta força que ambos caíram no tapete entre risos e beijos.

Ficaram assim por mais algum tempo e quando finalmente se separaram, após o estômago do Allen roncar alto, decidiram comer alguma coisa, pois nenhum dos dois havia jantado.

Passaram as próximas horas sentados em frente ao piano. Allen havia dito que queria o ouvir tocar e ele só concordou sob a condição do menor tocar consigo. Era a primeira vez que tocava em muitos anos, e a sensação foi libertadora. Sorriu várias vezes, pois Allen ficava magnifico em frente ao instrumento, com os olhos fechados, deslizando seus dedos pelas teclas bicolores como se elas fossem uma extensão do seu próprio corpo. Era emocionante. Teve certeza de que chorou em algum momento, pois o menor exalava seus sentimentos através das notas. Por fim, antes de ir embora, ajudou Allen a gravar as últimas modificações da sua composição, para que pudessem analisar melhor no dia seguinte.

Mais tarde, já em seu próprio apartamento, enquanto tomava seu banho, sentiu-se o mais sortudo dos homens. Riu ao constatar que todos naquela família eram um pouco loucos, incluindo Allen. E riu ainda mais ao perceber que amava isso nele. Aquela mistura de doçura com determinação e uma pitada de loucura, Allen Walker era a criatura mais perfeita que já havia conhecido. E ele era todo seu.

Allen POV

Foi a primeira vez em muito tempo que acordou antes do despertador. Pulou da cama tão animado que nem parecia que era segunda-feira. Estava completamente ansioso. Tomou um banho e fez seu chá enquanto cantarolava pelo apartamento. Mal podia esperar para ver seu namorado.

Desceu para trabalhar pelo menos 30 minutos antes do horário, de tanta empolgação. Achou que teria que esperar o outro chegar, mas ficou feliz ano notar que a porta da frente já estava destrancada e a luz da cozinha acesa.

— Bom dia, Yu!!! – Passou pelas portas duplas sorrindo, indo direto até o chef que estava no canto com o caderno de pedidos em mãos.

— Bom dia, Allen. – Ele respondeu com um sorriso, e céus, devia ser proibido alguém ser tão bonito às 5:30 da manhã – Também não conseguiu dormir? – A pergunta veio acompanhada de um leve selar de lábios.

— Não muito. – Admitiu sorrindo, se afastando um pouco para poder olhar o caderno nas mãos do moreno – Como estamos hoje?

— Nada fora do normal, por enquanto. – Kanda lhe mostrou os pedidos – Mas vai ficar um pouco mais corrido perto do Natal.

— Está tudo bem. – Pegou na mão do namorado, sorrindo ainda mais – Não importa se a cidade toda resolver encomendar seus doces de Natal aqui, nós vamos conseguir!

A resposta que recebeu foi um beijo apaixonado, que o deixou completamente derretido e com as pernas bambas. Antes de se afastar para começarem a trabalhar, Kanda ainda sussurrou em seu ouvido “Se todos os dias começarem com seus beijos e terminarem com você nos meus braços, não me importo de trabalhar até cair pelo resto da minha vida”, e foi sua vez de ter um enorme gay panic enquanto o moreno ria.

Já estavam perto da hora do almoço quando sentiu uma súbita onda de inspiração. Estava há algumas horas escutando o mesmo trecho da sua composição em looping, tentando entender o que faltava. Seu trabalho em uma espécie de autobiografia, onde passaria através de uma música, todas as fases da sua vida até então. Havia começado compondo essas partes separadamente, e agora tinha que juntá-las de forma harmoniosa em uma única composição. E esse era justamente o problema. Havia mudanças abruptas de emoções entre esses trechos, que estava com dificuldades para liga-los. Então na noite anterior, enquanto tocavam, Kanda lhe disse para levar a cópia das partituras para a cafeteria, para poder anotar qualquer ideia que tivesse, mesmo que não fosse boa, e isso poderia ajudar. E foi exatamente o que fez. E nesse momento, enquanto terminava de lavar algumas louças, as ideias chegaram. Secou as mãos e foi até a partitura, pausando a música e começando a escrever. Estava tão concentrado que mal notou Lavi entrando na cozinha.

— Yu! – O ouviu chamar pelo moreno, mas nem se virou – Tem mais chantilly pronto?

— Não me chame pelo primeiro nome, usagi! – Mesmo sem olhar, conseguia visualizar a expressão raivosa de Kanda – Allen fez um pouco agora de manhã, deve estar na geladeira.

Ouviu o ruivo ir até a geladeira e depois até a pia, mas não poderia estar menos interessado. Encarou a partitura com as alterações por alguns segundos, e por mais que estivesse melhor, ainda não era o bastante.

— Yu, você poderia dar uma olhada aqui para mim? – Chamou pelo chef, ainda encarado a folha em cima da mesa, como se a resposta para o seu problema fosse aparecer magicamente.

— O que houve? – Escutou a voz do namorado mais baixa e tranquila, atrás de si. Sorriu ao sentir uma das mãos dele cercar sua cintura, em um abraço, enquanto apoiava a outra na mesa, ao lado do papel. Recostou-se contra o corpo dele, se apoiando em seu peito, antes de apontar as alterações que havia feito.

— Eu mudei algumas coisas, mas ainda não sei, não parece tão suave como eu gostaria. – Mostrou o trecho de ligação entre duas “estrofes”. Estava trabalhando naquilo há dias, sem resultado. Estava na parte que remetia à sua adolescência, especificamente quando teve o problema com os boatos na escola. Era um trecho forte, cheio de angústia e dor, mas também foi quando conheceu Tyki, que se tornou alguém especial em sua vida, e esse era um trecho mais calmo, nostálgico. Precisava ligar tudo isso e não era algo simples.

— Por que você não troca essas notas aqui? – Yu parecia bem concentrado, apontando para algumas linhas da partitura – Acho que pode ficar mais parecido com o que você quer.

Analisou o que ele disse, montando a melodia em sua cabeça e tocando a música mentalmente, visualizando o resultado.

— Você tem razão, vai ficar perfeito! – Sorriu se virando para o mais velho – Se eu tivesse você me ajudando desde o começo, já estaria com tudo pronto meses atrás!

— Eu estou aqui agora, então não se preocupe. – O sorriso presunçoso de Kanda fez seu coração errar as batidas. “Céus, estou completamente rendido por esse homem”.

— Pode ter certeza de que eu vou abusar muito dessa sua boa vontade. – Rebateu de forma inocente, mas com um sorriso malicioso nos lábios. Simplesmente amava ver como Kanda podia ficar completamente corado com qualquer provocação, e até teria feito mais alguma, se não tivesse sido arrancado da sua bolha de felicidade com o barulho de algo caindo no chão.

— Vocês... – Havia se esquecido completamente da presença de Lavi na cozinha. E pela sua expressão de choque, Kanda também – Como... Vocês... Quando... – O ruivo balbuciava com os olhos arregalados apontando para os dois – VOCÊS ESTÃO JUNTOS????

Antes que qualquer um dos dois pudesse responder, Krory apareceu na porta.

— Lavi, você conseguiu o chantilly? – Sua voz era sempre calma e educada.

— KURO-CHAN, O ALLEN E O YU ESTÃO NAMORANDO!!!! – Allen quis rir da mistura de espanto e empolgação nas palavras do amigo, mas achou melhor ficar em silêncio, porque depois de se recuperar do choque, Kanda estava perigosamente pendendo para o lado irritado.

— Se me chamar pelo primeiro nome outra vez eu vou te usar como recheio de torta, usagi maldito! – Tinha que dar algum crédito ao moreno, apesar do estresse visível, ele ainda parecia estar tentando se controlar.

— Ora, meus parabéns! – Krory sorriu olhando para si – Vocês formam um belo casal.

Mas não teve tempo de agradecer, porque Daisya escolheu esse momento para entrar na cozinha, empurrando o corpo de Krory completamente para dentro também.

— Cadê a porcaria do chantilly, Lavi? – Bradou irritado – Faz duas horas que você veio buscar e até agora nada!

— Eu me distraí aqui, mas já... – Allen sempre achou engraçado como Daisya era o único que conseguia colocar o Lavi na linha quando se tratava de trabalho – NÃO, ISSO NÃO IMPORTA! ALLEN E KANDA ESTÃO JUNTOS!

— Não adianta tentar me distrair, Lavi! – Daisya agora parecia muito indignado, e Allen decidiu apenas observar tudo em silêncio – Se você não é capaz de pegar um simples pote na geladeira e passar o conteúdo para vidro, apenas diga e eu peço para o Krory fazer isso, mas não fica inventando história.

— Eu não estou inventando, é verdade!!! – Agora era Lavi que estava indignado – Pergunta para o Kuro-chan, se não acredita em mim!

— Eu apenas sei o que o Lavi me disse! – Krory ergueu as mãos em sinal de rendição, ao receber o olhar raivoso de Daisya – Mas olhando bem agora, eles estão bem próximos, e Allen está segurando a mão do Kanda desde que eu cheguei aqui, então é bem possível.

Sentiu Kanda ficando cada vez mais tenso ao seu lado. Ele estava prestes a explodir, e ainda estava se decidindo se tentava o acalmar ou se apenas via o circo pegar fogo.

— Eles se conhecem desde criança, não é estranho que sejam próximos. – Daisya pontuou.

— Allen o chamou pelo primeiro nome e ele não surtou! – Lavi argumentou.

— Froi e Marie também tratam Kanda pelo primeiro nome. Isso não é estranho. – Krory parecia estar pensando seriamente no assunto.

— Mas eles são família, isso não conta! – Lavi estava completamente vermelho agora, quase bufando.

— Mas o Allen é afilhado do Sr. Froi, então isso faz dele e Kanda praticamente família. – Nesse momento Allen já não sabia mais se Daisya estava falando sério ou apenas sentindo prazer em contrariar o ruivo.

— MAS ELES ESTAVAM ABRAÇADOS E QUASE SE BEIJANDO! – Lavi parecia cada vez mais fora de si.

— Por favor Lavi, é do Kanda que estamos falando! – O tom debochado de Daisya acendeu um alerta vermelho na mente de Allen. Se antes Kanda estava irritado e levemente constrangido, agora ele estava furioso. Quase mandou os meninos calarem a boca e saírem da cozinha enquanto ainda estavam vivos. Quase.

— EU SEI! E É POR ISSO QUE EU ESTOU CHOCADO! – Lavi ainda estava berrando, e a cada palavra podia sentir a paciência de Yu se esvaindo – Allen por favor, nos conte qual o seu segredo para amansar essa fera! – E se as palavras ditas em tom de súplicas não foram a gota d’água, o fato de o ruivo ter se aproximado e pego na sua mão, puxando-o para si, foi. Quase pôde ouvir o som de algo estourando antes que Kanda praticamente rosnasse, com sua aura ameaçadora e olhos faiscantes direcionada para os outros três.

— Vocês têm dois segundos para darem o fora daqui. – Seu tom de voz baixo, contrastando com a sua fúria o deixou ainda mais ameaçador – Depois disso nem mesmo Allen vai ser capaz de impedir que eu jogue todos vocês no triturador de lixo.

A ameaça, somada com o fato de que finalmente os três perceberam que a sua mão, que antes segurava uma das mãos de Kanda, estava agora espalmada em seu peito, tentando impedi-lo de se lançar contra eles usando a caneta que segurava fortemente como uma arma, foi o suficiente para que em tempo recorde a cozinha fosse esvaziada.

Assim que ficaram sozinhos, se permitiu cair na gargalhada, puxando o namorado para um abraço.

— Lavi é sempre tão exagerado! – Riu enquanto fazia um leve carinho na nuca do maior, tentando relaxá-lo.

— E o Daisya ainda joga lenha na fogueira. – O ouvir dizer ainda com o tom de voz irritado, mas já mais calmo, enquanto afundava o nariz em seus cabelos, como se isso o ajudasse a se acalmar.

— Mas estou impressionado com o seu autocontrole! – Pontuou realmente impressionado – Não achei que deixaria eles irem tão longe.

— Lidar com o Lavi é como arrancar um curativo. – Sentiu os músculos do Kanda finalmente relaxarem – Foi melhor deixar ele surtar tudo de uma vez, ou depois ele iria ficar o resto da semana aos berros sempre que entrasse aqui.

— Você tem razão. – Suspirou se afastando um pouco para poder fitar os olhos do maior – Mas ainda tenho a sensação de que vou ter mais uma dose dessas de surto mais tarde, quando ele for contar para a Lena.

— Não se preocupe. – Kanda sorriu – Ela sempre foi a mais sensata de nós três, e sabe melhor do que ninguém como manter o usagi na coleira.

Ambos riram com essa afirmação, porque era a mais pura verdade. Allen conhecia Lenalee a pouco tempo, mas como sempre comiam juntos no intervalo das aulas, podia observar como funcionava o relacionamento dos dois, e era mesmo incrível como ela conseguia domar o ruivo apenas com o olhar. E o fato de eles serem completamente apaixonados um pelo outro deixava tudo ainda mais incrível. Era até emocionante de presenciar. “Será que algum dia as pessoas vão olhar para Yu e eu e pensar a mesma coisa?”.

— Mas agora que o furacão já passou. – A voz de Yu o trouxe de volta para a realidade – Você quer alguma coisa especial para o almoço? – Ainda estavam abraçados e ver a expressão carinhosa que o namorado dirigia para si, fez seu peito inflar de alegria.

— Acho que o que eu quero seria inapropriado para você fazer na cozinha, Yu! – Amava ver as bochechas do namorado serem tingidas de vermelho, e amava ainda mais saber que era a pessoa que causava isso nele – Então pode você pode escolher hoje.

— Você realmente não tem jeito, moyashi! – O ouviu resmungar antes de deixar um beijo em seus lábios e se afastar para começar a preparar o almoço de ambos.

Ficou ali parado, no meio da cozinha, com um sorriso enorme nos lábios. Tinha muita sorte em ter encontrado alguém como Yu. E quando finalmente se virou para voltar a fazer suas tarefas, se deparou com Lavi debruçado na janela que separava a cozinha da parte de dentro do salão da cafeteria, onde os meninos preparavam os pedidos. O ruivo estava com um sorriso semelhante ao seu, com o queixo apoiado em uma das mãos e o semblante sonhador, e isso aqueceu ainda mais seu coração. “Talvez as pessoas já pensem.”