Allen POV

Assim como Kanda havia dito, quanto mais se aproximavam do Natal, mais trabalho tinham. Então não poderia estar mais agradecido pelo fato de que os formandos foram liberados alguns dias antes para o recesso, e estava de “férias” desde o dia 21.

Com o namorando o ajudando na parte prática do seu trabalho, que consistia em ele dar algumas sugestões e ter passado os últimos dois sábados a noite tocando consigo, já estava com o seu trabalho final praticamente pronto. Já havia inclusive enviado a parte escrita para Marie corrigir, e o mesmo estava realmente impressionado com a sua súbita empolgação nas últimas duas semanas.

Claro que não teve coragem de contar que isso era devido às ameaças que havia recebido de Mana e Nea desde que havia comunicado que estava com Kanda. Quando a última esperança deles, Cross Marian, não foi o suficiente para amedrontar Yu, eles resolveram apelar para os métodos tradicionais, que consistiam em “Você não pode namorar se isso te prejudicar na faculdade” ou “Se ele for mesmo um bom namorado, vai saber o que deve ser prioridade na sua vida, e isso significa TERMINAR A FACULDADE”. Então para evitar futuros problemas, aproveitou que estava se sentindo bem melhor e que não havia tido qualquer crise para adiantar tudo o que podia.

Em todos esses quase 20 dias em que estava namorando, havia encontrado o padrinho e Cross algumas vezes, e fora a expressão zangada que o ruivo lançava à Kanda em todas as oportunidades possíveis, Froi parecia extremamente feliz com o que ele chamou de “finalmente juntarmos as nossas famílias”. Soube por Cross, no almoço do último domingo, que de padrinho estava ajudando na parte de acalmar Mana e Nea, usando o fato de Kanda ser seu filho como um trunfo. Nenhum dos dois teria coragem de dizer na frente de Froi que o moreno não era um bom partido. Eles poderiam ser loucos, mas não a ponto de provocarem a própria morte. Pois Froi Tiedoll podia ser um homem tranquilo e equilibrado, mas poderia passar para um estado de ira suprema quando se tratava dos filhos.

Estava tudo indo maravilhosamente bem com a sua nova vida. Depois do surto inicial, do qual se recuperou na mesma velocidade, Lavi havia virado o maior stan do “novo casal”. Lenalee também havia ficado completamente empolgada com a notícia. Embora a rotina corrida de Yu tivesse os afastado um pouco, eles ainda eram muito amigos e com alguma frequência ela ia até a cafeteria para o visitar. Então quando soube sobre o namoro, chegou a chorar de alegria. Em meio às lágrimas, havia confessado para Allen que Yu era como um irmão mais velho para ela, e que temia que ele se impedisse de aproveitar as boas oportunidades da vida. Chegaram inclusive a marcar um passeio, com os quatro, assim que passasse a virada do ano e que as coisas estivessem mais calmas no trabalho.

Claro que na primeira semana de namoro, ainda tinha pequenos surtos de insegurança, mas depois de horas conversando com Link e Tyki, havia finalmente superado isso.

“– Allen, o que está te deixando tão inseguro? – Link havia perguntado pela décima vez naquela semana. Era sábado a tarde, então estava em casa. Deveria estar estudando, como havia dito para Kanda que faria, mas mesmo após uma semana perfeita ao lado do moreno, ainda estava um pouco nervoso com o relacionamento.

— Eu não sei, Link! – Suspirou novamente. Depois de uma ligação demorada no domingo anterior, quando havia contado ao loiro tudo o que havia acontecido no sábado a noite, conversaram a semana toda por mensagens, algumas com ele surtando de amores com alguma coisa que o namorado havia feito, outras com ele surtando de medo de tudo dar errado – Eu só fico com essa vozinha no fundo da minha cabeça dizendo que ele vai desistir e ir embora.

— Vamos lá Allen. – Foi a vez do loiro suspirar, encarando a câmera de forma séria – Kanda não é o tipo que foge de um desafio. Foi você mesmo quem me disse que ele encarou seu tio Cross. E raios, Allen, estamos falando de Cross Marian! Não são muitas pessoas que não tremem na frente daquele homem!

— Você tem razão Link, mas mesmo assim... – Não conseguiu terminar de falar. Sabia que estava sendo ridículo, mas não conseguia evitar.

— Isso não é sobre ele, é? – Odiava a forma como Link havia aprendido a ler suas emoções pelas entrelinhas em tão pouco tempo – O que aconteceu no passado para te deixar tão receoso? Achei que Kanda era seu primeiro namorado.

— E ele é. – Encarou a própria expressão derrotada na tela do aplicativo de videochamada – E também é a primeira vez que eu me apaixono, mas...

— Mas você já teve alguns encontros. – O loiro completou a sua frase. Sentiu as bochechas ficarem quentes com isso – Por favor, Allen. Você é um homem adulto. É perfeitamente normal e aceitável que ele não tenha sido seu primeiro... humm... beijo. – Agora Link também estava constrangido. Acabou rindo um pouco da situação – E o que aconteceu com essas outras pessoas? Fora o fato de você não estar envolvido emocionalmente, o que deu errado?

— Teve essa garota, no ensino médio. – Era horrível lembrar de tudo, mas talvez se externalizasse suas inseguranças, conseguisse lidar melhor com elas. Tyki sempre dizia que reconhecer o problema é o primeiro passo, e normalmente ele estava certo – Nós éramos amigos desde o fundamental e sempre nos demos muito bem. Depois de muito tempo, ela teve coragem para se declarar, e mesmo que eu deixasse claro que não correspondia seus sentimentos daquela maneira, ela insistiu para que tentássemos um relacionamento. Durou uma semana e foi mais como uma amizade colorida. Apenas nos beijamos alguma vezes, mas acabamos sendo descuidados e um colega nos viu. O que nenhum de nós sabia na época, é que ele era apaixonado por ela. Então quando chegou a segunda-feira, ele havia espalhado o boato de que eu era gay, e antes do almoço, havia reunido vários amigos para confirmarem a história. Alguns inclusive alegando que eu os havia assediado.

— Isso é horrível, Allen! – Link estava com um misto de incredulidade e raiva. Se sentiu obrigado a sorrir numa tentativa de consolá-lo.

— Isso foi a muito tempo, já não importa mais. – Deu de ombros, tentando aliviar o clima – Mas essa amiga se sentiu ofendida com a história. Eu não sei exatamente o que esse cara disse, mas depois de conversar com ele, ela parecia ter certeza de que eu estava apenas brincando com os seus sentimentos. Acabamos brigando e nunca mais nos falamos.

— Eu sinto muito. – Sabia que o loiro estava sendo sincero, e isso aqueceu seu coração. Havia feito tantos amigos incríveis nesses meses que ainda se perguntava como podia ter tanta sorte.

— Como eu disse, isso faz tempo. – Suspirou – Mas por causa disso não deixei mais ninguém se aproximar de mim até chegar à faculdade. Não confiava mais nas pessoas do colégio, porque muitos tentaram me pregar algum tipo de peça – Bufou um pouco ao se lembrar disso. Adolescentes podem ser ridículos às vezes – E para o meu azar, quando decidi estudar na mesma universidade em que meu pai e o tio Nea haviam se formado, não sabia que Nea Walker tinha uma espécie de reputação por lá.

— Eu tenho até medo de perguntar. – Link já havia entendido que sua família podia ser um pouco extrema e ligeiramente louca em algumas ocasiões, tendo ele mesmo conhecido seu tio Cross.

— Ele era conhecido por ter de assustador o que tem de charme. – Riu ao se lembrar das expressões de choque de todos ao descobrirem que ele era sobrinho do temido décimo quarto – Tem essa fraternidade na universidade, conhecida como Noah, que tem como membros apenas os alunos que mais se destacam e que são extremamente inteligentes. Além de respeitados, os membros desse grupo são muito temidos, principalmente pelos calouros.

— E seu tio fazia parte dessa fraternidade. – Link concluiu, ligando os pontos.

— Exatamente. Não apenas ele, mas Tyki, meu pai e o tio Cross também. – Sorriu cansado – E bem, digamos que o sobrenome Walker é bem conhecido por lá. Então meus poucos encontros duravam apenas tempo suficiente da pessoa descobrir meu nome completo.

— E aqui temos a raiz do problema, não é? – O loiro pontuou com a expressão séria – Todos fugiam ao saber quem você é.

— Exatamente. – Seria cômico se não fosse trágico a quantidade de vezes que as pessoas fugiam de si ao saberem seu nome. E não apenas parceiros de encontros, outros colegas também.

— Eu entendo seu receio, Allen, de verdade. – Link ainda estava sério – Mas você se esqueceu de um pequeno detalhe.

— Qual? – Perguntou realmente confuso.

— Kanda conhece eles. – Nem conseguiu argumentar – Mesmo que ele não se lembre bem do seu pai e do seu tio, ele ainda é filho do Froi, que é um grande amigo deles, e convive há anos com o Cross. Ele meio que já faz parte da sua família, então não tem motivos para preocupação.

— Eu sei, mas... – Ainda era difícil se convencer por completo.

— E mesmo que esse não fosse o caso... – Link agora tinha um pequeno sorriso nos lábios –

Se você acredita mesmo que tenha alguma coisa capaz de assustar Yu Kanda, é poque você ainda não o viu e um domingo a noite, depois de uma semana exaustiva, parado no meio da cozinha com uma faca na mão enquanto Lavi o está atazanando. – Agora os dois estavam rindo – Estou falando sério, Kanda é a pessoa mais assustadora que eu já conheci, então não tem com o que se preocupar. E o mais importante, Allen. – Depois da risada, Link estava com a voz mais macia e amena – Ele está apaixonado por você.”

Depois dessa conversa, havia finalmente se acalmado. Então enquanto se arrumava para ir trabalhar, na manhã do dia 24, não conseguia parar de sorrir ao constatar que nunca havia se sentido tão feliz em sua vida. Pelo menos não desde a morte da mãe. Apenas faltava a presença de Mana e Nea para que tudo ficasse perfeito, mas ambos haviam prometido que viriam assim que conseguissem uma folga. Claro que ainda tinha noites que acordava suado e preocupado, tentando conter o choro ao se lembrar de tudo o que estava acontecendo em Londres. Ainda estava preocupado, machucado e irritado com tudo aquilo, mas com a ajuda de Kanda, sua família e amigos, estava tentando deixar isso tudo de lado um pouco e se permitindo viver aquela porção de felicidade que a vida estava lhe servindo.

Kanda POV

Já era praticamente hora de fechar quando ouviram o celular de Allen tocar. Dificilmente ele recebia ligações durante o serviço e por isso ambos encararam o aparelho com curiosidade.

— É o Tyki. – Pela expressão confusa do menor, sabia que ele não estava esperando uma ligação – Sinto muito, Yu, ele sabe que eu estou trabalhando até mais tarde esses dias.

— Está tudo bem. – Achava extremamente fofa a forma como Allen podia ser extremamente profissional. Para começo de conversa, o menor nem deveria estar ali até aquele horário. A cafeteria estava ficando aberta até mais tarde aquela semana, porque ficaria fechada no dia seguinte, que era Natal, e embora seus funcionários estivessem recebendo hora extra, Allen não precisava ficar até fechar. Mas obviamente ele se recusava a ir embora antes de ver tudo pronto, e como a demanda de serviço estava realmente maior e ele não estava tendo aulas, não tinha uma desculpa boa o bastante para expulsá-lo da cozinha. E claro, tinha aquele seu lado que simplesmente amava cozinhar enquanto o outro estava ali, então ficava extremamente grato pela companhia do namorado – Deve ser importante. É melhor atender na sala dos funcionários.

Observou Allen deixar o local enquanto atendia a ligação ainda confuso. Ia aproveitar esse tempo para terminar de organizar as coisas. Já haviam entregue os últimos pedidos e tinha certeza de ter ouvido Lavi e Daisya terminarem de organizar as coisas no salão. Estava até que impressionado com a eficiência deles, já que normalmente sempre faziam corpo mole quando Krory não estava. Mas assim como nos anos anteriores, Krory havia viajado para a Romênia, sua terra natal, para passar o feriado com seu avô. Ainda ficava chocado ao se lembrar de quando descobriu que aquele jovem estranho e extremamente inocente, que seu pai havia indicado para a vaga de atendente, era o neto de um barão. De acordo com o que seu pai lhe disse, Krory, ou Arystar Krory III, que era seu nome completo, é o único neto de um barão romeno e foi criado completamente trancado dentro do castelo em que viviam. Froi o havia conhecido em uma de suas viagens, e acabou fazendo amizade com o seu avô. Então quando Krory atingiu a maioridade, com muito custo, Froi convenceu velho amigo a deixa-lo fazer faculdade no Japão, com a promessa de que sempre ficaria de olho nele. Krory era muito tímido e desajeitado no começo, e precisou de toda a sua paciência para não o usar como amolador de facas. Mas com o tempo ele foi se soltando e fazendo amizade com Lavi, e agora eram como melhores amigos. Tinha que admitir que de alguma forma iria sentir falta do rapaz quando ele voltasse de vez para a Romênia, após sua formatura, para trabalhar como botânico nas estufas da família.

O relógio marcava 19:50 e isso apenas aumentava a sua ansiedade. Havia combinado com Allen de passarem a ceia juntos. No dia seguinte almoçariam na casa do seu pai, como era tradição na sua família, mas essa noite seriam apenas os dois. Havia passado a semana toda planejando tudo e sentiu uma pontada de orgulho ao perceber que estava quase tudo pronto. Tinha achado melhor fazer o jantar na cozinha da cafeteria, porque era mais espaçosa, e deixaria apenas para finalizar os pratos no apartamento. Não era nada muito sofisticado, porque Allen havia deixado claro que queria algo simples o bastante para poderem comer na mesinha de centro da sala, sentados no tapete. E estava dando o seu melhor para que ficasse tudo perfeito.

Quando o relógio deu 20:00 horas, Lavi e Daisya vieram se despedir. Deixaram seus votos de Feliz Natal para Allen, que ainda não havia retornado, e foram embora, apagando as luzes do salão e fechando a porta. Começou a ficar preocupado com a demora da ligação. Não que se importasse de esperar, mas estava com uma sensação estranha. Estava prestes a ir checar se estava tudo bem, quando ouviu os passos do menor. Allen adentrou a cozinha meio cambaleante, com os olhos cheios de lágrimas. Não demorou nem dois segundos para chegar até ele, amparando-o antes que caísse.

— Céus Allen, o que aconteceu? – Achou mais seguro ajoelhar-se no chão com ele. Allen não parecia ter condições de se manter em pé e estava tremendo muito.

— Acabou Yu. – As palavras saíram com dificuldade dos lábios do menor devido ao choro.

— Sobre o que você está falando? – Tentou manter o tom de voz calmo, na tentativa de tranquilizar o namorado. Mas dentro do seu peito seu coração estava completamente acelerado. Manteve uma das mãos firmes na cintura de Allen, lhe dando algum suporte e usou a outra para tentar secar um pouco das lágrimas que escorriam com tanta abundância

— O processo. Toda aquela guerra emocional e judicial. – Allen agarrou sua doma com uma das mãos, enquanto a outra ainda segurava o celular – Finalmente acabou.

Demorou alguns milésimos de segundo para entender do que ele estava falando, mas quando entendeu o puxou para seus braços em um abraço apertado. Havia compreendido o motivo do colapso. Allen estava livre de toda aquela merda. Deixou que ele chorasse contra o seu peito até que se acalmasse, enquanto acariciava suas costas. Estavam assim há vários minutos quando percebeu que a chamada no celular do menor ainda não havia sido encerrada.

— Já está mais calmo, shounen? – Ouviu a voz, que deduziu pertencer a Tyki, saindo do aparelho – Não me diga que desmaiou? – Ao perceber que Allen ainda estava completamente aéreo, embora mais calmo, achou melhor falar com o outro. Retirou o celular das mãos do menor sem encontrar qualquer resistência.

— Aqui é o Kanda. – Se forçou a soar tranquilo, mas no fundo também estava meio fora de si – O Allen está bem, só em estado de choque.

— Eu acho que ele ainda vai levar algum tempo para assimilar tudo. – O homem respondeu – Tenho certeza de que ele vai ficar bem, mas é bom que você esteja com ele. – Ouviu um som como se Tyki estivesse soprando alguma coisa – De qualquer maneira, amanhã eu ligo para saber como ele está.

— Tudo bem. – Era estranho conversar com alguém que sabia quem era, mas não conhecia.

— Talvez seja melhor avisar seu pai que ele vai receber hóspedes para o almoço. – Ficou surpreso. Não estavam esperando ninguém – Mana odeia aparecer sem avisar, mas ele ficou sem bateria no celular antes de entrar no avião.

— Eu aviso o meu pai. – Ainda estava surpreso, mas ficou feliz com a notícia. Sabia que por mais que não admitisse, Allen estava um pouco triste por passar o aniversário longe do pai.

— Certo. – Tinha certeza de que o outro estava sorrindo, mesmo sem entender o motivo – Foi um prazer, Kanda.

Não teve a chance de responder, porque a chamada foi encerrada. Colocou o aparelho no próprio bolso e pegou Allen no colo. O menor parecia mais calmo, mas ainda chorava um pouco.

Carregou-o até o apartamento. Agradeceu por a porta estar destrancada, já que haviam passado a tarde toda levando as comidas da janta para cima e organizando tudo nos pequenos intervalos que tiveram. Deixou Allen sentado em sua cama, enquanto foi a banheiro preparar o banho para ele. Quando já estava tudo pronto, voltou ao quarto e encontrou o namorado na mesma posição que o tinha deixado. Ajoelhou-se na frente dele, para facilitar o diálogo.

— Allen, olha pra mim. – Puxou seu queixo delicadamente, para que se encarassem – Eu preciso descer e trancar a cafeteria. Não vou demorar. – Falou pausadamente e de forma clara, tentando ver se o menor estava entendendo – Já preparei seu banho, só falta pegar a sua roupa. Você acha que consegue fazer isso sozinho?

Depois de alguns segundos, foi como se pudesse ver as engrenagens do cérebro do Allen girando e voltando a funcionar.

— Sim, não se preocupe, já estou melhor. – E como se para provar suas palavras, lá estava seu tão amado sorriso.

— Tudo bem. – Levantou-se e colocou o celular do Allen em suas mãos – Eu realmente não vou demorar, mas se acontecer alguma coisa pode me ligar.

— Eu vou ficar bem, bakanda, não vou cair no banheiro nem nada do tipo. – Allen se levantou rindo, acompanhando-o até a sala antes de se virar para entrar no banheiro.

Quando já estava quase chegando na porta, ouviu o barulho de passos e então dois braços o agarraram pela cintura. Sentiu Allen apoiar seu rosto contra suas costas, em um abraço apertado.

— Obrigado por tudo, Yu! – E no segundo seguinte, ele se foi, deixando-o sozinho outra vez.

E nem toda a neve e frio do lado de fora seriam capazes de esfriar o seu coração nesse momento.

Allen POV

Já era quase 23:00 quando terminaram de arrumar a mesa para comerem. Apesar de todos os protestos que ouviu, havia ajudado Kanda a finalizar a ceia.

O banho tinha o ajudado a relaxar e esfriar a cabeça. Ficou vários minutos apenas sentado submerso pela água quente e cheirosa, assimilando tudo. Pra ser sincero não se lembrava muito da conversa com Tyki, só de ficar parado ouvindo o que o amigo dizia. Será que tinha ao menos respondido alguma coisa? Lembraria de se desculpar no dia seguinte por isso. Mas aquelas palavras haviam causado um choque tão grande no seu sistema, que quando realmente entendeu o que significavam, apenas conseguia pensar em ir até Kanda. Foi automático, instintivo. E então sua próxima lembrança era de estar nos braços do maior, sendo acolhido.

Ainda estava processando a informação, mas quanto mais tempo passava, mais a ideia se fixava. Quando Kanda voltou e foi tomar banho, já havia aceitado que o processo tinha acabado. Enquanto terminavam a ceia, entendeu que seu pai e seu tio estavam em um avião á caminho do Japão para passarem seu aniversário consigo, enquanto comemoravam. E quando colocou a última travessa de comida na mesinha, deixou-se saborear a felicidade de saber que agora não tinha mais nenhum assunto mal resolvido, nenhum problema, nenhum fantasma, absolutamente nada que o prendia ao passado. Podia finalmente ser livre para se permitir viver o presente e planejar um futuro.

Então é claro que estava nadando em um mar de alegria quando se sentou ao lado do namorado para comerem.

— Você está radiante. – Kanda pontuou, enquanto servia o vinho em sua taça.

— Sinto que vou explodir de felicidade a qualquer momento! – Respondeu eufórico.

— Se for explodir, que seja depois da meia noite, moyashi. – O moreno tinha uma falsa carranca – Fazer isso tudo deu muito trabalho. É bom que você aproveite.

Riu da provocação e pela primeira vez não quis retrucar. Ao invés disso se dedicou a observar as mãos ágeis do namorado enquanto esse servia os dois pratos.

Após comerem, sentaram-se confortavelmente em meio às almofadas e cobertas, naquele canto de frente para a sacada que passaram a gostar tanto. E enquanto observavam a neve cair, aproveitou para explicar o que tinha acontecido para Kanda.

— Segundo Tyki, assim que eu vim para o Japão, meu pai e o tio Nea aproveitaram para fechar o cerco em torno dos irmãos do meu avô. – Nem mesmo se lembrar de toda essa situação desagradável poderia estragar seu bom humor – Como eu não estava mais lá para ser afetado, eles não precisavam mais agir com cautela. Então enquanto meu pai começou a pressionar o juiz para encerrar o caso por falta de provas, tio Nea entrou com um processo paralelo de calúnia e difamação.

— Isso foi bem esperto da parte deles. – Kanda concordou – E fico ainda mais aliviado por você estar aqui, longe de tudo isso.

— Sim. – Mana havia deixado claro mais de uma vez que a sua mudança tinha sido uma excelente ideia, e que se não tivesse decidido isso por si mesmo, eles acabariam o obrigando a se mudar de qualquer maneira. Mas saber que isso havia sido útil de alguma forma, era reconfortante – E com isso, a família do meu avô acabou metendo os pés pelas mãos. Em poucas semanas meu pai e Nea conseguiram informações o suficiente para provar que eles estavam por trás dos boatos sobre a minha família e que tinham forjado todos os documentos apresentados tentando provar que eu não era filho legítimo da minha mãe. A demora foi por causa da burocracia e eles não me contaram que estava tudo indo tão bem porque queriam me fazer uma surpresa. Mas como a decisão saiu hoje de manhã, eles nem conseguiram me ligar, porque do fórum foram direto para o aeroporto. Tyki quem conseguiu organizar tudo e vai ficar em Londres nos próximos dias para ter certeza de que todas as determinações do juiz vão ser seguidas.

— E o que ficou decidido? – Kanda parecia ligeiramente preocupado, mas não o culpava.

— Bem, basicamente o que meu avô já havia deixado decidido no testamento. – Deu de ombros – Eu continuo sendo o único herdeiro, e agora com o final do processo, todos os bens dele vão ser passados para o meu nome.

— Uau, só, uau... – O moreno estava petrificado – Isso é muita coisa, Allen.

— Sim, e não para por aí. – Na sua opinião, essa era a melhor parte – Como ganhamos também o processo de calúnia, tio Nea exigiu uma medida protetiva. Nenhum deles pode chegar a menos de 500 metros de mim ou de qualquer propriedade no meu nome. Isso significa...

— Que você não vai precisar ver a cara de nenhum deles nunca mais – Kanda parecia genuinamente feliz com essa notícia – E agora, o que pretende fazer? Quero dizer, você está finalmente livre de todo esse caos.

— Eu não pensei muito sobre isso, para ser sincero. – Suspirou – Só o que eu queria era que eles parassem de falar maldades sobre a minha mãe. Todo o resto, todo esse dinheiro, é algo que eu nunca desejei. – Voltou a sorrir – Mas sim, agora que estou livre, posso finalmente planejar um futuro e a única decisão que tomei até o momento é que não vou mais voltar para a Inglaterra.

— Não vai? – Kanda parecia verdadeiramente surpreso e um pouco aliviado, o que o fez rir.

— Não! – Disse de forma simples – Claro que a gente sempre pode ir visitar, quando você tiver férias. Vai ser legal te mostrar todos os meus lugares favoritos e te levar para tomar chá como um verdadeiro britânico. Mas não tenha a intensão de voltar a morar lá, a menos que você me diga que tem o grande sonho de abrir um restaurante lá. Nesse caso eu iria com você.

Ainda estava rindo ao ver o namorado processar suas palavras e entender o que elas significavam.

— Eu pensei que você... – Calou o moreno com um beijo.

— Eu também não estou indo à lugar nenhum, Yu. – O viu sorri com suas palavras antes de se prenderem em um abraço.

— Isso me lembra que eu tenho algo para você. – Kanda rompeu o contato por alguns instantes, se levantando.

Ao ver o moreno ir até a sala de música, aproveitou para ir ao quarto buscar o presente que havia preparado. Quando se encontraram novamente na sala, Kanda tinha um envelope e uma caixinha em mãos. Antes que Yu pudesse fazer qualquer coisa, lhe entregou o seu presente.

Segurou a risada enquanto o namorado abria delicadamente a caixa, mas não resistiu ao ver a cara azeda que ele fez ao ver o conteúdo da mesma.

— Bombons de Nutella industrializados, Allen, sério? – Riu gostosamente ao perceber o esforço que Kanda estava fazendo para manter a expressão fechado.

— Vamos Yu, continue procurando, tem mais coisa aí. – Incentivou, ativando a curiosidade do maior.

Após alguns segundos, Kanda encontrou uma segunda caixa, dessa vez bem menor e delicada do que a primeira. Sorriu ao ver que ele buscou seus olhos como um pedido silencioso, e quando deu a confirmação, Yu abriu a caixinha.

— Eu não acredito que você realmente comprou! – Não conseguiu conter a sua empolgação, olhando para o moreno com expectativa, enquanto ele apreciava o verdadeiro presente.

— Eu sou um homem de palavra, Yu Kanda! – Tentou soar sério, mas sua fachada foi caiu por terra ao ver o sorriso nos lábios de Kanda, enquanto o mesmo tirava o par de alianças de dentro do pequeno estojo almofadado que as envolvia. Os anéis eram de ouro branco, sem nenhum adorno. Simples, delicadas e elegantes. E na parte interior do metal, havia o nome deles entalhado. Ambos riram ao se lembrar do surto que Allen teve no primeiro dia de namoro, em que havia decidido pedir a mão de Yu em casamento, mas estava preocupado com o fato de que não tinha como comprar um par de aliança já que era domingo à noite.

Sem conseguir se conter mais, aproximou-se de Kanda, pegando a aliança maior que tinha o seu nome gravado, e colocou no anelar da mão direita do moreno, deixando um beijo suave na mesma, após esse gesto. Sorriu convencido ao perceber que o tamanho estava perfeito.

Claro que seu coração errou as batidas quando Kanda repetiu a sua ação, colocando a aliança com o nome dele em seu dedo e depositando um beijo no local. Aquilo era um gesto muito íntimo, muito profundo e parecia terrivelmente certo. Obviamente que não era uma simples aliança de compromisso que definia o sentimento de ambos, mas havia aquela grande satisfação em ter o nome do homem que amava marcado em um metal que estava tão próximo da sua pele.

— Agora é a sua vez. – Kanda disse lhe entregando a caixinha que tinha em mãos.

Abriu o embrulho com cuidado, tentando não estragar o embrulho delicado. E não conseguiu conter o sorrido ao se deparar um com estojo aveludado.

— Parece que tivemos ideias parecidas, moyashi. – Kanda também sorria, o que sempre era contagiante.

Dentro do estojo, havia um conjunto de colares de prata delicados, com os pingentes formando o símbolo do yin-yang. Kanda se aproximou, pegando o colar com o pingente yin, e com os olhos pediu permissão para coloca-lo em si. Enquanto segurava o cabelo, para facilitar o trabalho do maior, o ouviu explicar sobre o presente.

— Embora nós tenhamos a vida toda pela frente, e eu espero passar todos os segundos possíveis dela ao seu lado... – Ele começou, enquanto prendia o fecho da corrente – Haverá momentos em que não estaremos juntos. E quando isso acontecer, eu quero que saiba que uma parte minha sempre vai estar com você. – Assim que Kanda terminou de colocar o seu colar, também colocou o dele – E uma parte sua sempre vai estar comigo. – O moreno indicou o próprio pingente – E que quando estamos juntos – O moreno se aproximou o suficiente para que unissem os pingentes – Você é aquele que me completa e me mantém em equilíbrio.

Sabia que Kanda era um homem incrível e romântico, mas não estava preparado para algo assim. Então simplesmente se jogou nos braços dele, enterrando o rosto na curva do pescoço alheio, deixando vários beijos delicados na região.

— Eu te amo, Yu. – Sussurrou timidamente.

— Eu também te amo, Allen. – Kanda sussurrou em resposta, e simplesmente teria se esquecido de todo o resto e atacado os lábios do moreno, se ao se mover um pouco, seu joelho não tivesse esbarrado no envelope.

— Eu quase me esqueci. – Kanda sorriu constrangido enquanto lhe entregava o envelope – Não é exatamente um presente, mas eu queria que você fosse o primeiro a ver.

Abriu o envelope com empolgação, sem a mínima ideia do que poderia ser. E quando finalmente entendeu do que se tratava, não conteve a felicidade.

— Você terminou! – Em suas mãos estava um cardápio. Ainda não era a versão final, mas enquanto o folheava sentiu seu peito aquecer. Todas aquelas receitas, todos os detalhes, haviam sido pensados por Kanda. Estava completamente orgulhoso.

— Eu percebi que estava sendo exigente demais. – Viu que Yu estava um pouco corado ao admitir isso – Não tem como eu querer que tudo fique extremamente perfeito antes de dar continuidade a ideia de abrir o restaurante. Alguns problemas só irão surgir depois que tudo já estiver pronto e eu estiver atendendo os meus clientes. Ficar criando supostas situações de crise na minha mente para tentar me preparar para elas, só ia continuar me atrasando e ia acabar me enlouquecendo.

— Você está certo, Yu! – Sorriu para o namorado, ainda segurando o cardápio e o acariciando como se fosse um recém-nascido – Para algumas coisas dá para se preparar, para outras não. E está tudo bem. – Percebeu que seus dedos estavam traçando inconscientemente as letras do nome gravado da capa do cardápio – Por que Lótus?

— A flor de lótus é uma planta aquática que floresce sobre as águas, algumas vezes lodosas. – Yu explicava de forma leve, enquanto olhava para o desenho da flor que estava abaixo do nome do restaurante – E na maioria das culturas simboliza pureza, elegância, beleza e perfeição. E esses são os conceitos que eu espero alcançar com a minha culinária.

— Isso combina muito com você. – Sorriu com as palavras, porque era verdade. Não era muito apegado ao significado das flores, mas talvez nenhum representasse melhor o namorado do que essa – E quando está pretendendo tirar o Lótus do papel?

— Ainda tem algumas coisas que eu preciso fazer na cafeteria. – Os olhos do moreno brilhavam ao falar sobre seus planos e isso era incrível de se observar – Depois que Link voltar, vamos ter que contratar alguns funcionários e fazer o treinamento. – Allen havia quase se esquecido desse detalhe. Lavi e Krory também iriam se formar no começo do ano, e cada um deles seguiria seu próprio caminho na profissão escolhida – Sem vocês três, as coisas vão ficar um pouco caóticas no começo, mas se tudo correr como o planejado, até o meio do ano Link já vai conseguir lidar com tudo sozinho.

— Sem nós três? – Perguntou curioso – Você está me demitindo, bakanda? – Estava rindo da ideia.

— Não seja engraçadinho, moyashi. – Yu rebateu com uma expressão reprovadora, mas logo voltou a sorrir – Você sempre vai ser meu assistente favorito que precisa de supervisão para não colocar fogo na cozinha.

Enquanto ria da provocação, decidiu guardar o cardápio dentro do envelope, com medo de sujá-lo. Mas antes que pudesse fazer isso, sentiu algo pesado no fundo da embalagem. Olhou curioso para Kanda, que o observava com expectativa. Virou o envelope de cabeça para baixo, e uma chave com um chaveiro com pingente de piano, caiu em sua mão.

— Yu? – perguntou confuso.

— Tem esse lugar que eu vi semana passada enquanto ia para casa. – O moreno explicou com os olhos ainda mais brilhantes – O antigo dono era um amigo do meu pai, então não foi difícil de negociar. O imóvel vai precisar de várias reformas antes de se tornar um restaurante, mas acho que eu consigo deixar tudo pronto até o final do próximo ano. E bem... – Amava mais do que tudo ver o namorado tímido daquela forma, com as bochechas coradas – A melhor parte é que do lado, tinha um espaço sobressalente, que por obra do destino, já tem isolamento acústico.

— Yu, isso é o que eu estou pensando? – Podia sentir sua mente trabalhando furiosamente, tentando chegar a alguma conclusão. E estava gostando muito do rumo que ela estava tomando.

— Eu não sei quais são seus planos para o futuro, Allen. – Kanda estava mais sério agora – Mas sei que você ama sua música. Então independente do caminho que você decidir trilhar, eu queria que você tivesse um lugar apenas seu, para quando quisesse me visitar no Lótus.

— Yu, você está me dando um estúdio de presente? – Não conseguia mais conter a emoção. Céus, como poderia existir um homem tão incrível como esse? E ele ser todo seu?

— Não é um espaço muito grande. – O moreno deu de ombros para afastar o constrangimento – E a reforma e decoração vão ficar por sua conta. E obviamente você não precisa usar sempre, é apenas para você saber que...

Não deixou que mais nenhuma palavra deixasse aqueles lábios macios e convidativos. Lançou-se para cima do namorado, enchendo-o de beijos. Foi correspondido prontamente e mais uma vez ficaram presos dentro da sua bolha de felicidade.

— Às vezes eu tenho medo de acorda na minha cama em Londres e descobrir que isso aqui foi apenas um sonho bom – Sussurrou mais para si mesmo, quando voltaram a se aconchegar comportadamente deitados e abraçados no tapete.

— Isso não vai acontecer, Allen. – Kanda deixou um beijo em seu rosto – Isso tudo é real. Nós, esse apartamento, a neve lá fora, essa sensação de euforia. Tudo isso é real e você merece cada segundo dessa felicidade.

— Sabe Yu, minha mãe me ensinou um costume que ela tinha quando criança. – Olhou nos olhos do mais velho, segurando suas mãos – Toda véspera de Natal, pouco antes de dar meia noite, ela avaliava todas as suas ações durante o ano, para poder saber se era merecedora de todas as bençãos que havia recebido. E eu tenho feito isso todos os anos. Mas dessa vez eu estou preocupado.

— Por quê? – Sorriu ao notar a curiosidade brilhar nos olhos azuis que tanto amava.

— Até agora, minhas ações e meus presentes têm sido balanceados. – Sentiu seu coração palpitar e seus olhos lacrimejarem – Mas sinceramente eu não sei o que eu fiz de tão bom para ser digno de receber alguém como você na minha vida.

— Allen, eu... – A voz de Kanda estava embargada. Podia ver as lágrimas brilharem nos cantos dos seus olhos – Eu nunca acreditei nessas histórias de Natal que meu pai contava. Sempre achei a maior recompensa que bons meninos poderiam ter é um teto para morar, comida na mesa e uma família. Por anos isso foi tudo o que eu quis, e estava satisfeito. Mas em algum momento do caminho, eu me perdi. Por mais que tivesse tudo isso e uma família incrível que sempre me apoiou, me tornei uma casca vazia. Tentei compensar essa ausência de algo que eu não entendia o que era, com horas e horas de trabalho, me focando apenas em objetivos futuros, mas sem aproveitar o presente. Analisando agora, eu finalmente entendi o que o meu pai estava tentando me dizer quando me alertava que eu estava me isolando e me privando da felicidade. Eu nunca tinha entendido, porque nunca pensei em mim como uma pessoa triste. Na verdade, sempre me considerei com mais sorte do que a maioria, vindo de onde eu vim e tendo conquistado tudo o que tenho hoje. – As lágrimas começaram a cair – E então você apareceu, virando minha vida de cabeça para baixo, derrubando todas as minhas barreiras e abrindo meu coração. – Kanda levou suas mãos até seu rosto, segurando-o como se fosse a coisa mais preciosa – E eu descobri que aquelas histórias eram todas verdade. Eu não sei o que fiz, ou como raios me tornei o homem mais sortudo desse mundo, mas você Allen, você é o meu pequeno milagre de Natal e eu estou completamente apaixonado por você.

Não sabia quem havia iniciado o movimento, mas no instante seguinte seus lábios se encontraram em um beijo apaixonado. Quando o relógio marcou meia noite, Allen sentiu um leve carinho em seus cabelos, como uma leve brisa, e sorriu emocionado. Sabia que onde estivesse, sua mãe estava feliz por ele e isso curou de vez seu coração. Então permitiu-se mais uma vez desfrutar dos lábios de Kanda, e entre beijos e carícias, permitiram se amar, com a certeza de que aquele seria apenas o primeiro de muitos Natais que passariam juntos, pois aquele era apenas o inicio de toda a vida que ainda compartilhariam.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.