Allen POV

Quando saiu do banho, vários minutos depois, finalmente livre de todas aquelas cores em seu corpo, Allen foi inundado por um cheiro maravilhoso que vinha da cozinha.

− Isso está com um cheiro muito bom! – disse se aproximando de Kanda, enquanto ele colocava uma assadeira no forno.

− Espero que você não se importe por ser algo simples. – Foi a resposta que recebeu, enquanto o moreno lhe encarava. Ele realmente parecia muito cansado e mesmo assim deve ter se esforçado ao máximo com os poucos ingredientes que havia em seus armários e geladeira.

− Nada que você faz pode ser classificado como simples, Yu. – Sorriu de forma verdadeira, vendo o chef corar ligeiramente. Estava amando conseguir arrancar todo tipo de reações do mais velho. Parecia que nesse fatídico sábado, em que queria que algo acontecesse para que não precisasse voltar para casa tão cedo, todo o desenrolar dos fatos haviam feito com que ele descobrisse esse novo Kanda Yu, mais humano e sincero. Claro que haviam se aproximado nesses dois meses em que trabalhavam juntos, mas ninguém passa por um momento tão crítico de crise como eles haviam passado, sem se entenderem mais.

− Eu vou tomar banho agora, se não se importa. – Riu ao perceber que o chef estava todo polido e tentando fugir de alguma coisa.

− Achei que você já estava se sentindo em casa. – Aproveitou para alfinetar um pouco, tentando deixar o clima mais leve – Eu tenho um vinho tinto seco guardado, acha que vai harmonizar?

− Estou me sentindo sim, por isso deixei a louça para você lavar. – Riu ainda mais ao ver a piscadinha de lado que o outro lhe deu – O vinho vai harmonizar bem. Já pode abrir a garrafa para ele respirar um pouco. A torta vai demorar um pouco ainda, mas é melhor ficar de olho até eu voltar.

Assim que Kanda se dirigiu para o banheiro, começou a arrumar as coisas. Não havia praticamente nada de louças para lavar, já que Yu era extremamente organizado e sempre ia lavando as coisas enquanto cozinhava. Abriu a garrafa de vinho e deixou em cima da bancada, já que não tinha um decanter para acelerar o processo de oxigenação.

Ao invés de arrumar os pratos no balcão que usava para fazer suas refeições, preferiu organizar tudo na mesa de centro que tinha na sala. Colocou a mesa de frente para a sacada, já que estava frio demais para comerem lá fora, podiam pelo menos apreciar a vista do céu noturno.

Quando terminou de arrumar tudo, ouviu a porta do banheiro ser aberta, e precisou se controlar muito para não colapsar ali mesmo. Que Kanda era um homem muito atraente, não havia dúvidas. Evitava ter qualquer tipo de pensamentos desse tipo, já que ele era seu chefe, filho do seu padrinho e apenas recentemente começaram a ter um relacionamento amigável. Mas era impossível não corar dar cabeça aos pés ao ver aquele homem saindo do seu banheiro, usando apenas uma calça leve de moletom e uma camiseta e com os longos cabelos negros completamente soltos. Claro que ele ficava impecável com sua doma branca, mas havia uma magia diferente envolvendo Kanda nesse momento. Como se o fato de que estar usando roupas casuais, com o cabelo solto, recém saído do banho trouxesse o moreno para algo mais próximo de si, algo alcançável. Tinha plena consciência de que uma parte sua passou a admirar o moreno desde o momento em que pôs os olhos nele, e que essa parte aumentava a cada dia conforme eles se aproximavam. Mas aquilo, uma simples cena que poderia ser considerada cotidiana, foi o estopim.

Percebeu que estava a tempo demais encarando Kanda quando o mesmo sorriu de forma convencida, mesmo que ligeiramente envergonhado.

− Você ficou de olho no forno? – Ele perguntou passando por si e indo para a cozinha.

− Forno... eu... ficar de olho no forno... – Ainda estava tentando processar a visão que tivera e estava lutando para fazer seu cérebro pegar no tranco e voltar a funcionar – A torta! – Saiu correndo na mesma direção que o moreno.

− Ainda falta algum tempo. – Kanda disse assim que adentrou o cômodo, ainda olhando dentro do forno.

− Que bom. – Suspirou aliviado. Teria se odiado se tivesse deixado o jantar queimar – Enquanto nós esperamos podemos... – Perdeu a linha do raciocínio mais uma vez, ao encarar o chef. Por que ele tinha que ser tão malditamente atraente sem a sua carranca costumeira? Não que ele não fosse bonito normalmente, mas aquilo beirava o absurdo – Seu cabelo... – Não sabia o que dizer, apenas queria desesperadamente poder tocar naqueles fios.

− O que tem meu cabelo, Allen? – Arregalou os olhos. Não era para ter dito aquilo em voz alta. Fez seu cérebro trabalhar furiosamente para poder arrumar alguma coisa lógica para falar sem que parecesse um idiota.

− Ah... – O olhar inquisitivo e desafiador do mais velho não ajudavam em nada – Ele está molhado! – Disse aliviado por não ter dito nada estúpido – É melhor secar, ou você vai ficar doente.

Não dando chance para que Kanda pudesse dizer qualquer coisa, pegou sua mão e o arrastou até seu quarto, colocando-o sentando em um pequeno pufe, de frente para o espelho do guarda-roupa. Enquanto pegava o secador no banheiro, notou que havia feito muito isso durante as últimas horas, pegar na mão de Kanda e o arrastar por aí. Sorriu ao perceber que em nenhuma das vezes o moreno havia reclamado ou tentado negar seus comandos silenciosos. Não sabia o que fazer com essa constatação, mas estava feliz.

De volta ao quarto, colocou o secador na tomada e se posicionou atrás do moreno. O pufe fazia com que a diferença de altura entre eles ficasse menor, possibilitando que ele enxergasse o reflexo de Kanda no espelho, mesmo por cima da sua cabeça. O maior parecia curioso com suas ações, mas não fez nada para impedir que começasse a secar seus fios suavemente.

Tentou se concentrar ao máximo no que estava fazendo, aproveitando a sensação dos fios cheirosos e sedosos em suas mãos, mas não conseguiu evitar encarar o espelho algumas vezes, para observar as expressões de Kanda. Ele parecia relaxado e depois de alguns minutos, fechou os olhos, como se apreciasse o contato.

Vários minutos depois, quando estava satisfeito com seu trabalho, desligou o secador e não pôde evitar de deixar um leve selar de lábios no topo da cabeça do moreno, aproveitando para apreciar mais um pouco a fragrância suave que os fios exalavam. Como se por magnetismo, seus olhos foram atraídos para o espelho e se encontraram mais uma vez com as orbes azuis de Kanda. Sentiu uma pequena corrente elétrica percorrer todo o seu corpo. O olhar de Kanda estava intenso, cheio de sentimentos que não soube identificar. Ao contrário do que pensava, o clima não ficou desconfortável, eles apenas ficaram ali, se olhando, como se fosse a coisa mais natural do mundo para se fazer.

Foram retirados da sua bolha apenas com o barulho do timer na cozinha, indicando que o jantar estava pronto.

Kanda POV

Estavam sentados confortavelmente no tapete felpudo que Allen havia arrumado de frente para a sacada, apoiados em almofadas e bebendo o restante da garrafa de vinho. Tudo sobre o jantar formava agora um borrão na cabeça de Kanda. Lembrava-se de ter tirado a torta do forno, de terem se sentado para comer, de ter achado a arrumação que Allen havia feito na mesinha de centro bastante fofa. Sabia que a torta estava saborosa, porque o menor dizia isso a cada mordida, embora tivesse que admitir que ele próprio não lembrava do sabor. Tinha a vaga impressão de que quando terminaram, Allen retirou a louça da mesinha e foi até a cozinha lavar a louça, e que o havia ajudado na tarefa e que depois disso o albino sugeriu que aproveitassem um pouco mais a vista noturna, trazendo almofadas e cobertores para que eles se acomodassem no tapete. E por mais que todo esse processo tivesse sido extremamente agradável e que eles tivessem conversado bastante durante esse tempo, ainda não conseguia se focar completamente no que estava acontecendo, pois, sua mente havia ficado presa naquela troca de olhares mais cedo, quando Allen o beijou. Podia sentir o topo da sua cabeça formigando no local do beijo e ainda conseguia sentir as mãos do seu assistente percorrendo seus cabelos, enquanto o secava. Quando havia sido a última vez que alguém, além de seu pai e seu irmão, tocara seu cabelo com tanto carinho? Provavelmente nunca. E isso somado com as malditas borboletas recém descobertas e a eletricidade que corria pelo seu corpo a cada toque do menor, apenas o deixava mais e mais perdido dentro da sua própria mente.

− Você está ouvindo, Yu? – Ouvir o seu nome o trouxe de volta a realidade.

− Desculpa, acho que me distrai. – Respondeu sincero, olhando para Allen. Ele tinha as bochechas adoravelmente coradas por causa do álcool e em algum momento haviam se aproximado o suficiente para que estivessem com suas pernas encostadas embaixo do cobertor.

− Eu estava te perguntando o motivo que te fez querer se tornar um chef. – O menor mantinha um sorriso nos lábios e um olhar suave. Ele parecia genuinamente curioso sobre isso.

− Eu sei aonde você quer chegar com isso, moyashi, mas eu não ingeri álcool o suficiente para falar sobre meus assuntos particulares. – Rebateu com um sorriso de lado. Se Allen achava que seria fácil arrancar respostas suas, estava muito enganado.

− Vamos lá bakanda, por favor! – O bico adorável que ele mantinha nos lábios ao falar o fazia parecer uma criança. Isso somado com os olhos pidões e a voz meiga, quase fizeram com que Kanda cedesse. Quase.

− Não. – Tentou soar mais firme do que realmente estava. Quando foi que havia abaixado suas barreiras o suficiente para que Allen se aproximasse tanto de si?

− Por favor Yu! – Aqueles malditos olhos brilhantes! O que aquelas orbes prateadas tinham que o desarmavam tanto? – Se você me contar eu te conto qualquer coisa que queria saber sobre mim!

− E o que te faz pensar que eu quero saber algo sobre você? – Tentou soar zombeteiro, mas talvez por causa do vinho, ao invés de irritado, Allen murchou de forma triste. “Droga, Yu! Agora você vai fazer o menino chorar por causa da sua grosseria, parabéns!” — Tudo bem, eu te conto. Mas depois não vá ficar desapontado por não ser grande coisa como você espera.

Precisou conter um suspiro irritado ao ver Allen virar o corpo todo em sua direção, com um grande sorriso nos lábios e expressão cheia de expectativa, como se fosse ouvir uma história empolgante. “Dois malditos meses e eu já sou completamente manipulado por ele. Eu sou mesmo um idiota.”

− Como eu disse não é grande coisa. – Começou, desviando os olhos do menor e encarando o céu noturno lá fora – Eu venho de uma família de artistas, e apesar de nunca ter sido cobrado sobre isso, eu sentia que de alguma forma eu precisava encontrar alguma coisa na qual eu seria tão bom quanto meu pai e meu irmão. Por um tempo, quando criança, tentei aprender a desenhar e a tocar alguns instrumentos, mas descobri que não tenho paciência para isso. Passar horas sentado na mesma posição para terminar um desenho era uma tortura, e sinceramente o resultado final não valia o esforço. Quando Marie resolveu me ensinar a tocar piano, eu achei que poderia ter encontrado meu estilo de arte, mas estava enganado. Nos primeiros meses houve a empolgação, a felicidade por Marie me elogiar e dizer o quanto eu aprendia rápido, mas faltava alguma coisa e em menos de um ano eu já estava desanimado, sentindo que faltava algo. Ainda continuei tocando por vários anos, mas apenas para ter mais tempo com meu irmão e foi só quando eu fiz 12 anos que finalmente entendi o que faltava.

“Meu pai era um homem muito ocupado naquela época, mas mesmo assim sempre reservava os domingos para meu irmão e eu. Costumávamos levantar cedo e preparávamos todas as refeições juntas. Foi assim que eu descobri que gostava de cozinhar, porque cada momento na cozinha me lembrava daquela felicidade de ter minha família por perto. Então quando pela primeira vez eu fiz uma refeição inteira sozinho, no jantar de aniversário do meu pai daquele ano, e o vi ficar tão emocionado a ponto de chorar enquanto comia, que eu encontrei o meu tipo de arte. Eu queria cozinhar e tocar as pessoas com a minha comida da mesma forma que Marie toca as pessoas com as suas músicas e meu pai toca as pessoas com suas telas.”

− Uau, Yu, isso é realmente emocionante. – Allen disse quando parou de falar e tentava engolir o bolo de emoções que se formou em sua garganta com o restante do vinho e sua taça – Você tem uma motivação linda e eu tenho certeza de que eles estão muito orgulhosos do chef que você se tornou. – Ele estava sendo sincero, sabia disso, e por isso não conseguiu conter o rubor em suas bochechas. Não estava acostumado a falar sobre isso com ninguém. – E eu não sabia que você toca piano, isso é incrível!

− O piano que você tem aqui costumava ser o meu. – Disse dando de ombros. Já fazia muito tempo que não chegava perto do instrumento – Quando eu entrei na faculdade e meu pai abriu a cafeteria, não tive mais tempo para tocar, e como a apartamento que nós moramos não é muito grande, o piano acabou ficando aqui.

− Oh! – Allen estava realmente surpreso. Achava impressionante como ele era completamente transparente com suas emoções, pelo menos para si – Eu nem sei o que dizer.

− Não se preocupe com isso, é bom que alguém esteja aproveitando o piano. – Estava sendo extremamente sincero – É triste ver um instrumento tão bonito largando em algum canto sem ninguém para tocar. Estou feliz por meu pai ter deixado ele aqui para você.

− Muito obrigado Yu, isso significa muito pra mim. – E lá estavam as borboletas novamente. Elas pareciam dar o ar da graça a cada sorriso que Allen dirigia para si, e isso era irritante – Eu entendi a razão do porque cozinhar é tão importante para você, mas eu ainda não entendo o motivo de isso ter se tornado uma obsessão.

− Não é uma obsessão! – Tentou contrariar, mas o olhar sério de Allen o fez bufar outra vez – Talvez seja um pouco. – Suspirou – Você parece minha psicóloga falando.

− Eu não sabia que você faz acompanhamento com uma psicóloga! – E mais uma vez a expressão surpresa. “Há muitas coisas que você não sabe sobre mim, Allen”.

− Eu fazia. – Mais uma vez encarou o céu. Era mais fácil falar sobre coisas pessoais se não encarasse ninguém – Parei quando entrei na faculdade, porque estava sem tempo. Mas fiz terapia desde pequeno, assim como Marie. – Allen não precisou verbalizar sua curiosidade para que entendesse o que ele queria perguntar – Meu pai sempre achou que era importante, principalmente por sermos uma família diferente. Ele queria que nós dois tivéssemos preparo psicológico para lidar com as outras pessoas nos julgando e eu sou extremamente grato por isso.

− Isso foi bem... sensato, da parte do padrinho. – Sorriu com o tom orgulhoso do menor. Ele também tinha muito orgulho do homem incrível que seu pai era.

− Sim, foi. – Suspirou – A terapia me ajudou a lidar com meus demônios, mas algumas coisas ainda ficaram. – Encheu a taça mais uma vez e a esvaziou em um único gole antes de voltar a falar – E um dos demônios que eu nunca consigo derrotar é a insegurança. E se eu não for bom o bastante? Se eu não for o melhor no que faço meu pai vai ficar decepcionado? E se ele se arrepender de ter me adotado? Eu não seria um terço do homem que eu sou hoje se não fosse por ele e Marie. Eu nunca teria a firmeza e a compostura do Link para lidar com tudo isso sem minha família. Eu devo tudo a eles. Por isso me dedico tanto. Quero deixá-los orgulhosos.

Só percebeu que estava chorando quando sentiu os dedos macios de Allen secando suas lágrimas. Arregalou os olhos surpreso. Não costumava chorar, principalmente na frente de outras pessoas. Ainda estava completamente atordoado quando sentiu o toque dos lábios do menor contra a sua bochecha, e então os braços circulando seu tronco. E mais uma vez naquele dia estavam abraçados.

− Me desculpe, eu não costumo ser tão emocional. – Sussurrou contra os cabelos do mais novo, que ainda o abraçava com delicadeza e mantinha a cabeça apoiada no seu pescoço.

− Não se desculpe Yu, nenhum homem é uma ilha. – Allen sussurrou de volta – Você é apenas humano, não tem como lidar com tudo isso sozinho. Eu sei que você sabe que sua família morre de orgulho do homem que você se tornou. – Ele sorriu, apertando Allen um pouco mais contra seu corpo, gostando da sensação reconfortante do contato entre eles – E eles nunca vão te abandonar, Yu. Então por favor, cuide um pouco mais de você. – Allen se afastou um pouco, mas apenas o suficiente para eles se encararem – Essa rotina é insana e você vai acabar ficando doente. Eu sei que não é muita coisa, mas eu estou aqui agora. Me deixe te ajudar. Eu quero te ajudar. – A sinceridade daquelas palavras foi o que bastou para que as últimas defesas de Kanda caíssem por terra.

Seu coração palpitava tanto que parecia um tambor, suas mãos tremiam e sua respiração estava descompassada. Talvez mais tarde culpasse o álcool por isso, mas agora não se importava com mais nada além de Allen. Levou suas mãos, que antes estavam na cintura do menor, até seu rosto, segurando-o delicadamente. Deixou ali um pequeno carinho, antes de se aproximar e colar as suas testas.

− Você é mais do que o suficiente, Allen. – Sussurrou de olhos fechados, aproveitando a proximidade de seus corpos – Eu não sei me aproximar das pessoas. Eu não sei manter elas perto de mim. Eu não quero te machucar.

− Você não vai me machucar, Yu. – Sentiu as mãos de Allen em seu rosto, puxando-o levemente para que ele o olhasse nos olhos – Eu estou aqui. Sei que nos reencontramos a pouco tempo e que tem um monte de coisas sobre você que eu ainda não sei, mas eu não estou com medo. Então por favor, não me afaste, eu quero estar aqui.

Não soube qual dos dois tomou a iniciativa, mas no segundo seguinte seus lábios se encontraram, e nem se o fim do mundo fosse iminente eles se separariam.

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Vários beijos, muitos abraços e talvez um pouco de lágrimas depois, os dois finalmente se separaram, e voltaram a encarar a paisagem lá fora, com a diferença de que agora Allen se encontrava sentado entre as pernas de Kanda, apoiando seu tronco contra o dele, em uma posição completamente relaxada enquanto tinha os braços do moreno lhe abraçando pela cintura.

− Bem, agora é sua vez. – Kanda disse enquanto fazia um carinho singelo na cintura no menor. Era a primeira vez que ficava assim com alguém. Havia saído com algumas pessoas na adolescência, garotos e garotas, mas nunca se envolveu emocionalmente com ninguém. Era sempre encontros de uma noite só, apenas para aliviar a tensão dos corpos. Nunca houve carinho, cuidado, preocupação. Nunca havia se sentido ligado a alguém como estava se sentindo agora.

− Minha vez? – Allen perguntou confuso, agora completamente sóbrio.

− Você disse que se eu te contasse a razão pela qual quis me tronar um chef, iria me contar alguma coisa sobre você. – Pontou com leveza, sem realmente cobrar, mas admitindo que queria saber mais sobre o menor.

− Achei que você não tivesse interesse em saber mais sobre mim, bakanda. – Riu da alfinetada que recebeu. Tinha merecido.

− Eu não vou implorar, se é o que está esperando, moyashi. – Retrucou fingindo irritação.

− Confesso que seria interessante ver você implorar, Yu, mas talvez não agora. – Engasgou com a própria saliva ao ouvir a provocação. Onde diabos estava o Allen bonzinho e inocente que seu pai e irmão insistiam em proteger? – O que você quer saber primeiro? – O menor perguntou em meio a risadas por causa da sua reação.

− Que tal começar pelo motivo que te fez mudar para o Japão? – Perguntou já recuperado da provocação, mas se arrependeu ao sentir Allen ficar tenso em seus braços – Ou pode me contar qualquer outra coisa se isso for difícil de falar.

− Não, tudo bem. – O sentiu relaxar um pouco – Só é uma história um pouco longa, espero que não se importe. – Apenas concordou, apoiando o queixo confortavelmente contra a cabeça de Allen, o puxando mais para si, indicando que ele podia começar a contar.

Allen POV

– Você não deve se lembrar muito da nossa infância, e acho que nem chegou a conhecer a minha mãe, porque ela só veio para o Japão uma vez. – Sentiu a garganta fechar um pouco, mas se forçou a continuar. Queria compartilhar isso com Kanda – Mary Campbell era uma mulher incrível, cheia de vida, generosa e extremamente talentosa. Ela estava em uma turnê mundial quando veio ao Japão e conheceu meu pai, que na época trabalhava como artista de circo. Foi amor à primeira vista. – Não pôde evitar sorrir. Lembra-se detalhadamente dos dois lhe contando a história de como se conheceram – Eles ficaram juntos durante os dias em que minha mãe esteve aqui e voltaram a se encontrar apenas alguns meses depois, quando ela descobriu que estava grávida. Eles nunca chegaram a se casar. Meu pai costuma dizer que ambos eram espíritos livres, principalmente minha mãe, e que seria um pecado tentar contê-la em um relacionamento.

“Até meus cinco anos, Mana passou a maior parte do tempo na Inglaterra, para ajudar minha mãe. Como família dele também é de lá, não foi difícil ele se estabelecer nesse tempo, e também aproveitou para fazer uma faculdade. Ele fez direito junto com o tio Nea, porque achou que seria difícil me dar uma vida confortável sendo artista circense. – Suspirou contrariado. Ainda achava uma pena seu pai ter trocado de profissão. Havia algumas fotos em casa da época em que o pai trabalhava em circos pelo mundo, e ele sempre parecia tão feliz que lhe doía o coração saber que agora ele vivia trancado em um escritório usando terno o dia todo. No fundo, sentia-se culpado por isso - Depois disso eles se organizaram de forma que eu pudesse conviver com os dois, mesmo morando em países diferentes. Porque nessa época o tio Cross estava em uma de suas crises e o padrinho ainda não tinha se estabelecido em Tokyo, então alguém tinha que ficar aqui para garantir que o tio não fizesse nenhuma loucura. – Escutou Kanda estalar a língua. Durante esse tempo de convivência havia percebido que ele tinha essa reação sempre que o nome de Cross era citado, e não o julgava. Se seus pais eram espíritos livres, Cross Marian era um fenômeno da natureza que não podia ser contido. Era normal sempre ter um é atrás com ele – Então ficou decidido que ele passaria as férias escolares comigo em Londres e eu viria pra cá no recesso de fim de ano. Minha mãe ficava chateada por eu não passar meu aniversário com ela, mas como ela ficava comigo a maior parte do tempo, nunca reclamou por eu vim pra cá. – Fez uma pequena pausa, tentando reunir coragem. Sentiu Kanda o abraçar com um pouco mais de força, puxando-o ainda mais contra o seu corpo, lhe dando apoio, e foi o que precisou para conseguir continuar – Para entender melhor a história, você precisa saber que eu nunca tive qualquer contato com a família da minha mãe. Sempre fomos apenas nós dois em casa. Ela nunca falava sobre eles. Nunca mesmo. Eu passei a maior parte da minha infância acreditando que ela não tinha mais ninguém e nem ela ou meu pai nunca falaram nada para me desencorajar a pensar nisso. Eu apenas descobri que isso não era verdade depois do meu aniversário de 9 anos, quando ela morreu.” – Sentiu as lágrimas escorrendo. Era muito doloroso falar sobre isso.

— Você não precisa me contar se for muito doloroso, Allen. – Ouviu Kanda sussurrar contra sua orelha – Nós temos tempo para isso.

— Eu sei, Yu, e agradeço por isso. – Conseguiu sorrir um pouco pelo carinho do outro. Se no dia em que chegou à Tokyo alguém tivesse lhe dito que em tão pouco tempo estaria nos braços daquele chef mau humorado, teria mandado a pessoa procurar um médico, mas agora que estava ali, parecia tão certo. Estava a tempo demais sufocando com essa dor, queria colocar pra fora. Precisava disso – Mas eu quero te contar, se você ainda quiser ouvir.

— Eu sempre vou querer te ouvir. – Foi a resposta que recebeu, lhe dando a certeza de que não estava errado em confiar no moreno.

Mudou de posição, sentando-se de frente para o outro. Queria poder olhar pra ele enquanto falava. Ainda estavam próximos o suficiente para que Kanda lhe abraçasse, então respirou fundo e continuou.

“Nós estávamos aqui, como já havia se tornado uma tradição. Vocês tinham acabado de se mudar para Tokyo, então estávamos comemorando muita coisa naquele Natal. Já estava quase na hora do jantar, quando o telefone tocou. Eu consigo me lembrar de tudo com tantos detalhes que é aterrorizante. Eu me lembro de tudo o que comemos naquele dia, me lembro de ter tentado te chamar para brincar e de como você me ignorou o tempo todo. – Viu a confusão nos olhos do mais velho. Sabia que ele não se lembrava dessas coisas – Eu sempre tentava te chamar, mas você nunca dava confiança. O padrinho costumava dizer que você era muito tímido, com medo de eu achar que você não gostava de mim. – Sorriu um pouco - Naquele começo de noite, eu estava na sala, tocando piano com Marie, você estava sentado em um canto do sofá, meio sonolento, Cross já estava completamente bêbado na cozinha com o padrinho e o tio Nea, que tentavam terminar o jantar e meu pai estava na sala, aplaudindo qualquer coisa que a gente tocasse. – Suspirou, sentiu as lágrimas novamente – Então o celular dele tocou, ele saiu por alguns minutos e depois voltou com um olhar arrasado. – Ainda podia ver a cena claramente em sua mente. Foi a primeira vez que viu seu pai chorar – Ele me disse para pegar as minhas coisas, porque estávamos indo para o aeroporto. Claramente eu fiquei em choque, porque sabia que só voltaria para casa depois do ano novo, mas fiz o que ele pediu. Quando voltei para a sala você e Marie não estavam mais lá. Meu pai me chamou para sentar com ele no sofá e me contou o que aconteceu.

Minha mãe havia saído de casa de manhã para ir na padaria encomendar meu bolo de aniversário. Como eu passava o dia 25 com meu pai, ela havia criado a tradição de pelo menos ir encomendar o bolo na data, mesmo que a gente só fosse comer após eu voltar do Japão. Era a forma dela de comemorar meu aniversário. Só que naquele dia, enquanto ela voltava para casa pela ponte, um carro bateu carro dela. Era inverno, o rio estava congelado, mas o impacto foi forte o suficiente para quebrar o gelo e o carro afundar. O motorista do outro carro fugiu. Nós nunca descobrimos quem foi. Ela desmaiou com o impacto e não conseguiu escapar. Ninguém estava na rua no horário para tentar salvá-la. – Sentiu o corpo todo tremer enquanto o choro vinha com ainda mais força. Os braços de Kanda ao seu redor, puxando-o para seu colo e o aninhando ali era o que fazia com que mantivesse um pouco de controle e não se afundasse naquela dor – Ela apenas ficou lá, dentro do rio, até que alguém passou pela ponte e viu as marcas do acidente. O carro foi retirado do rio e com a placa eles conseguiram encontrar os registros dela e o contato de emergência, que era meu pai. – Precisou de vários minutos para controlar a respiração antes de voltar a falar. O tempo todo se manteve agarrado em Kanda, como se fosse sua âncora – A partir daí as coisas ficaram confusas na minha mente. Meu pai disse que eu bloqueei o resto das lembranças como forma de defesa. Eu não sei. Mas a próxima coisa da qual me lembro é de chegar em Londres. Fomos direto para o enterro. Eu me lembro de dizer ao meu pai que queria chegar rápido, porque não queria que minha mãe se sentisse sozinha, já que nós e o tio Nea éramos sua única família. Então você imagina o meu espanto ao encontrar o lugar cheio. – Estava um pouco mais controlado agora, então se afastou um pouco, mas ainda dentro do abraço – Tinha muita gente, todos muito bem vestidos. E a principal característica deles era que todos eles pareciam nos odiar. Ninguém se aproximou de nós ou dirigiu qualquer palavra de conforto. E o mais impressionante é que todos pareciam odiar minha mãe também, porque ninguém disse nada enquanto ela era enterrada. Depois de alguns dias, um senhor apareceu em casa. Meu pai parecia conhece-lo, o que foi ainda mais confuso, porque eu me lembrava dele no funeral, mas ele foi um dos que nos ignorou. Eles conversaram por algum tempo, e depois ele foi embora, sem nem me dirigir a palavra. Depois de algum tempo e algumas doses de whisky, meu pai finalmente me contou a história inteira.

Naquele dia eu descobri que a família da minha mãe é muito rica, cheia de lordes e essas coisas. Nós tínhamos uma vida razoavelmente confortável, mas ela sempre trabalhou e meu pai também ajudava então foi um choque muito grande pra mim. Além disso ele me disse que ela havia sido excluída da família quando engravidou, e esse era o motivo de eu não conhecer nenhum deles. Enquanto ela estava na turnê em que conheceu meu pai, meu avô, que era o homem que havia ido em casa, arrumou um casamento entre ela e um primo. Mas além de se recusar terminantemente a se casar, ela descobriu que estava grávida. Minha avó, que faleceu naquele ano, tentou convencê-la a abortar, mas ela se negou e fugiu de casa. Depois disso minha mãe construiu sua própria vida longe deles. Como não podia mais sair para fazer shows porque eu era muito pequeno, começou a dar aulas particulares de piano. Ela nunca tocou no assunto de família, nem uma vez sequer. Nunca soube se eles chegaram a entrar em contato com ela. Mas pelo que descobri no último ano, duvido que tenham sequer tentado.”

— Eu não consigo nem imaginar o quão difícil foi para vocês passar por tudo isso. – Kanda disse de forma sincera, olhando em seus olhos – Sua mãe foi uma mulher muito forte. Tenho certeza de que você e Mana sentem muito orgulho dela, assim como ela sente de você.

— Ela era incrível, Yu. – Conseguiu sorri um pouco – Ela teria gostado de você. – E isso era verdade, tinha certeza – Ela era muito gentil e sempre tinha um sorriso e uma palavra de conforto para oferecer. – Viu Kanda sorrir de forma carinhosa e isso aqueceu seu coração – Mas também podia ser bem rígida quando necessário. Sempre brigava com o daddy por ele me deixar comer doces demais e foi a única pessoa além do padrinho, que eu vi colocar medo no tio Cross. – Riu um pouco com a memória – Quando eu tinha uns 7 anos, o tio Cross foi nos visitar e aquela foi a única vez que o vi sóbrio por tanto tempo. Durante os 15 dias em que ele ficou em casa, mamãe o proibiu de beber.

— E ele sobreviveu? – Kanda parecia muito surpreso. Se não fosse Allen contando, provavelmente pensaria que era mentira.

— Sobreviver é uma palavra muito forte. – Os dois riram, aliviando um pouco o clima. Mesmo que ambos estivessem conscientes de que a história ainda não tinha acabado.

“Em julho desse ano - Voltou a narrar – Ficamos sabendo que meu avô havia falecido. Não fomos ao funeral, porque assim como minha mãe, durante todos esses anos nunca mantivemos contato com ninguém da família dela. Alguns dias depois um advogado foi até nossa casa com uma carta. Meu pai não ficou surpreso, mas ainda parecia contrariado. Nós fomos convocados para a leitura do testamento. Eu perguntei para o meu pai sobre o que se tratava, mas ele disse que não podia me contar. Havia assinado um documento de confidencialidade naquela vez que meu avô havia nos visitado que o proibia de me contar qualquer coisa. Eu sabia que era algo muito sério, porque Mana nunca escondeu nada de mim. Não havia muita gente durante a leitura, apenas Mana, eu e mais umas dez pessoas, que consistiam em irmãos e sobrinhos do meu avô. Veja bem, minha mãe era filha única e minha avó já tinha falecido a muito tempo, então todos eles estavam esperando para saberem como a herança havia sido dividida no testamento. E foi nesse momento em que o inferno começou. – Segurou uma das mãos de Yu, fazendo carinhos aleatórios nela para se distrair – Quando minha mãe fugiu de casa e minha avó faleceu, meu avô escreveu um testamento deixando minha mãe como única herdeira. É um documento confidencial, do qual só a equipe de advogados dele tinha conhecimento. Mas quando minha mãe morreu, ele alterou o documento me passando para herdeiro. Isso obviamente foi uma surpresa para todos, principalmente para mim. Eu nunca quis esse dinheiro. Sempre estive mais do que satisfeito com o que Mana e eu temos. Depois que fomos embora, sob ameaças e olhares raivosos, meu pai explicou o que tinha acontecido. Naquele dia, na única visita que aquele homem nos fez, ele mostrou o testamento para Mana. Não havia nada que meu pai pudesse fazer, ele não tinha como impedir meu avô de me escolher como herdeiro. Mesmo assim ele tentou. Meu pai melhor do que ninguém sabia a guerra que isso acarretaria, e por isso mesmo tentou me poupar. Mas a escolha já havia sido feita. Da maneira torta dele, meu avô queria garantir meu futuro. Ele havia se arrependido de nunca ter conseguido minha mãe voltar para casa, mas estava agradecido por eu ter crescido longe de todos eles. Ele fez meu pai assinar o tal documento de confidencialidade que o impedia de me contar sobre a herança, assim como também o fazia ficar responsável por me manter afastado da família da minha mãe até a morte do meu avô.”

— Isso é mesmo muita coisa para se processar, Allen. – Kanda apertou sua outra mão, tentando lhe passar conforto – Como você se sentiu com tudo isso?

— Eu não sei. – Respondeu de forma honesta – Eu não posso sentir falta de alguém que nunca esteve presente. Eu nunca convivi com meu avô, não compartilhamos nenhum tipo de laço, então eu não sei como deveria me sentir.

— E o que eles fizeram com essa informação? – Ouviu Kanda bufar – Por tudo o que me contou, eles não parecem do tipo que aceitariam isso tranquilamente.

— Eles não aceitaram mesmo. – Riu amargo, sentindo toda a raiva corroer seu coração – Poucos dias depois uma das irmãs do meu avô entrou com um processo contra nós. Com o apoio de toda a família eles tentaram provar que eu não era um filho legítimo da minha mãe, já que nem mesmo tenho seu sobrenome. Estão há vários meses na justiça, tentando alegar que eu sou adotado e que meu pai estava tentando aplicar algum tipo de golpe.

— Isso é um absurdo! – Kanda parecia revoltado.

— Sim, mas pessoas influentes e com dinheiro acham que podem controlar o mundo. – Sentia nojo. Não conseguia entender como alguém como sua mãe havia saído de um lugar tão podre – Quando não havia mais como eles continuarem forçando esse processo apenas com documentação falsa, começaram a tentar difamar meus pais, para que nosso lado fosse desacreditado. Então no final de agosto eles começaram a espalhar boatos e notícias falsas. Começaram com coisas mais “leves”, como falar sobre o passado do meu pai no circo, o que não é uma mentira e em nenhum momento nós tivemos vergonha disso. Mas depois de alguns dias as coisas ficaram mais pesadas. Disseram que no período em que esteve no Japão com o meu pai, minha mãe se apresentava no circo e que depois das apresentações ela se vendia para alguns expectadores mais ricos. Falaram que era impossível uma professora de música ganhar o suficiente para sustentar uma família e que por isso ela ainda se vendia em Londres. – As lágrimas de raiva começaram a descer, deixando sua boca seca e suas palavras amargas – Inventaram todo tipo de história sobre ela ser louca, doente, que tinha várias doenças por causa da vida promíscua e até mesmo que o acidente de carro na verdade havia sido culpa dela, pois provavelmente estava dirigindo sob efeitos de remédios e álcool.

— Allen, isso é tão pesado e tão errado em tantos níveis que eu não sei nem o que te dizer. – Kanda estava incrédulo e enojado – Eu sinto muito mesmo que vocês estejam passando por isso.

— Obrigado, Yu. Minha mãe não merecia nada disso. – As lágrimas haviam parado, mas ainda havia o sentimento de impotência – Foi por isso que eu fugi. Não aguentava mais todo esse inferno por causa de um dinheiro que eu nunca quis. Então eu abandonei meu pai e meu tio e vim pra cá. E eu conheci pessoas incríveis, fiz amizades, me aproximei de você, me permiti sentir tantas coisas boas, e enquanto isso eles estão lá, lidando com tudo isso. Eu sou uma pessoa horrível, não sou? – Escondeu o rosto com as mãos, se sentindo um lixo. Repassar toda a história novamente o fez se sentir ainda mais culpado por estar ali, feliz nos braços do moreno, descobrindo tantos sentimentos novos enquanto em casa seu pai e seu tio tinham que lutar todos os dias contra aquelas pessoas que queriam difamar sua família.

— Claro que não Allen! – O tom de voz do moreno soou indignado – Olha pra mim! – Não conseguiu negar o pedido, não depois de tudo o que haviam passado nessa noite – Você é uma das pessoas mais incríveis que eu já conheci, e tenho certeza de que Mana e Nea pensam o mesmo! – Tentou se focar nas palavras de Kanda e sair da sua bolha de autodepreciação, mas isso era difícil – Eles estão no meio de uma briga judicial! Não tem nada que você possa fazer para ajudar nisso. O melhor mesmo era se afastar de toda essa merda. Você não merece ouvir essas barbaridades que eles estão espalhando. Sua mãe não merece que você ouça isso.

— Isso tudo é tão injusto, Yu! – Se agarrou ao moreno outra vez.

— Sim, é injusto. – Ele sussurrou contra seu cabelo – Mas você não precisa passar por tudo isso sozinho, ok. Eu estou aqui agora, então se apoie em mim.

— Eu sinto muito ter despejado tudo isso pra cima de você, Yu. – Suspirou cansado – Tenho certeza de que quando você disse que queria saber algo sobre mim estava se referindo à minha cor favorita ou qualquer coisa assim, e não sobre a história da minha vida.

— Não sinta, Allen. – Sentiu o moreno depositar um beijo no topo da sua cabeça – Eu quero saber tudo sobre você. Das coisas mais simples até as mais importantes.

— Então você não vai fugir agora que sabe na confusão em que está se metendo? – Estava um pouco mais calmo. Sentia-se seguro ali.

— Eu não fugi mesmo sabendo que você é sobrinho de consideração de Cross Marian e afilhado do meu pai. – Sentiu o outro rir – Não é um monte de babacas em Londres que vai me assustar.

— Obrigado bakanda, por me ouvir, por me entender, por me confortar, por ainda estar aqui. – Fechou os olhos. Estava exausto depois de todas as emoções do dia.

— Sou eu quem deveria agradecer, moyashi. – Foram as últimas palavras que ouviu antes de cair no sono.