Depois da conversa com Edward, Viviane parecia ter se esquecido da briga que teve com Lorraine. Como o dia foi bastante longo, ela vai para o quarto, e deita na sua cama, para descansar. E depois de fechar os olhos, ela escuta a voz grave do vulto, a parabenizando por ganhar mais destaque como bailarina.

— Não poderia ser melhor. — O vulto dizia, calmamente. — Está óbvio que se tornará uma bailarina profissional. Deposito esperanças em você.

Viviane corou, e meio sem jeito, agradeceu. Continua a ouvir a voz elogiando-a, dizendo que estava orgulhoso dela. Até que, em certo momento, a provoca, falando entre ela e Edward.

— Está brincando? — Viviane grita, levantando da cama, com a raiva dominando-a.

— Acredito que tenha ficado evidente que não é uma brincadeira, ou algum jogo. — O tom de raiva também dominava a voz.

— O que você quer de mim, afinal? Me deixa em paz! — Viviane estava a ponto de chorar de tanta raiva. Ela anda pelo quarto, procurando qualquer coisa que o revelasse.

— Não perca seu tempo procurando por mim, minha cara. Você verá apenas o que eu quiser que você veja.

— Não! Vai embora! — Os gritos desesperados chamam a atenção de Emilly, que passava por ali. — Cala a boca, e me deixa em paz! — Algumas lágrimas escorreram pelas bochechas de Viviane. Que voltou a si, quando ouviu a voz da amiga, que batia na porta e a chamava. Um pouco ofegante, enxugou as lágrimas e tentou parecer o mais natural possível, enquanto via que estava tudo em ordem. — Oi, Emilly. O que foi?

— Eu quem pergunto. Você parecia estar brigando com alguém. — Emilly falou, entrando no quarto.

— Ah, não foi nada... É que... E-eu estava... Reclamando com o meu tio, no celular.

— Jura que era isso? — Emilly olhou para a amiga, cruzando os braços. — Não está me escondendo nada, não é?

— Claro que não, amiga. Eu estou bem. Juro.

Emilly deu de ombros e deixou o assunto de lado; não queria se meter na vida da amiga. Quando Viviane estava mais calma, sugeriu à Emilly para darem uma volta, já que ambas não têm nada para fazer. Elas andaram um pouco mais longe, chegando próximo à Catedral de Notre Dame, mas já tinham andado o bastante para visitá-la. Então, resolveram voltar, e elas não paravam de conversar. Elas voltaram para o teatro por volta das nove e meia da noite, e Emilly ajuda a amiga com algumas coisas que comprou.

Assim que entram no quarto de Viviane, esta jura que viu uma silhueta de alguém alto de frente à sua janela, mas como estava escuro, não viu muitos detalhes.

— Você viu isso? — Viviane aponta para o local onde estava a tal silhueta, mas assim que Emilly olha, não há nada.

— Isso o quê? Não é melhor ligar a luz, não? — Emilly entra no quarto da amiga e liga a luz. Novamente, olhou para onde Viviane tinha visto alguma coisa, e não viu nada. — Bem, aqui estão suas coisas. Até amanhã.

Emilly sorriu e foi para seu quarto. Viviane trancou a porta, logo em seguida, desligou a luz, trocou de roupa, e deitou em sua cama, mas não dormiu rapidamente. No meio do seu sono, ouviu a voz, grave, cantando para ela, calmamente. O que relaxou sua mente, que estava agitada por conta do estresse que teve ao longo do dia: a briga com a Lorraine, a discussão com a voz desconhecida que atiçava sua curiosidade. Ainda cantando, ele encosta suas mãos frias na pele da jovem, depois desta ter dado sinais de já estar adormecida, e ela ainda chegou a se contorcer e se arrepiar com o toque.

No dia seguinte, o ensaio seguiu normalmente, apesar de Viviane estrangular Lorraine, mentalmente, e estar mais incomodada com o vulto, que se escondia no mesmo lugar. Desta vez, Viviane estava na frente, e no centro, como a corista principal.

Assim que o ensaio acabou, toda a turma foi dispensada, e a garota pensou em falar com Edward sobre o que tinha acontecido com ela nas últimas semanas, contar o motivo por se desconcentrar tanto nas aulas. Temia que isso poderia por em risco sua carreira, afinal, muito pouco sabia do que estava acontecendo, mas estava decidida; mais confusa, essa situação não poderia ficar.

— Edward, espera.

Edward já estava a prestes a sair da sala, quando ouviu a garota chamando-o, então virou-se para ela, com o rosto neutro.

— Sim?

— Eu queria falar com você. — Viviane se aproxima dele, colocando uma mão sobre o cotovelo do outro braço, nervosa.

— Sobre...

Ela olha para baixo, mordendo o lábio inferior, e solta o que queria dizer.

— Tem alguma coisa estranha estranha acontecendo. Não sei direito o que é, mas... — Ela olha para os lados e sussurra. — Parece alguém, com olhos amarelos bem vivos. Ele... Ele fica me observado para qualquer lugar que eu vou! Não sei se é uma brincadeira, mas não estou gostando nada disso.

Edward ouvia cada palavra, atentamente, e demorou um tempo até ele entender o que ela queria dizer. E esse silêncio a fazia pensar que ele a considerava louca.

— Está certa do que está vendo? Pode ser alguma ilusão de ótica, ou...

— Não. Isso está acontece há semanas! E agora eu ando escutando a voz desse cara!

— Calma, Viviane! Você tem certeza de que não sonhou com tudo isso?

Viviane balançou a cabeça para os lados, com força.

— Acho que não tem sonhos que duram tanto tempo. E ainda tem... Aquelas cartas, bilhetes... Não interessa o que sejam! E tudo o que sei é que essa pessoa é a mesma que me deu as cartas, a rosa...

— Rosa? — Edward ergueu uma sobrancelha, com um olhar mais desconfiado e confuso.

— Sim. Ele me deu uma rosa vermelha há alguns dias. E veio com outro daqueles bilhetes!

Edward pareceu nervoso por uns segundos, e antes que Viviane pudesse perceber, ele já estava com uma expressão normal.

— Bem, você já tem algumas amizades por aqui. Talvez alguém tenha entregado, sabe? Para parabenizar seu sucesso, ou algo assim.

— Sim! Pode ser.

— Garanto que não seja nada de outro mundo. No fim, deve ser alguém querendo te irritar.

— Concordo, em não ser nada demais, mas quanto a ser uma brincadeira... — Viviane torceu os lábios — Eu duvido muito.

— Ah, não se preocupe. E me procure, se passar dos limites, está bem?

Edward tocou no ombro de Viviane, tentando confortá-la. Ela assetiu, dando um sorriso tímido. O professor se virou, e saiu, acompanhado por ela.

Lorraine passava pelo corredor, quando o viu conversando com Viviane. Aproveitou que estava com o celular e tirou uma foto deles, sem ser notada por ninguém. Satisfeita com a foto que tirara, continuou seu caminho, normalmente.

Mais tarde, Viviane caminhava pelos corredores mais vazios do teatro, com Emilly, que não parava de elogiar a amiga, por ter sido a corista principal, no mesmo tempo em que criticava Lorraine.

Estavam quase no fim do corredor, no qual tinha dois caminhos, pelos lados direito e esquerdo. Viviane estava tão distraída olhando para a amiga, que quando voltou o olhar para o corredor, jura ver uma sombra, passando para o lado direito. É tão de repente, que ela trava, deixando um grito escapar.

— O que foi? — Emilly tocou no ombro da amiga, preocupada.

— Eu vi de novo! — Viviane sussurra.

— Viu o quê de novo?

— Se eu contar, você não vai acreditar.

— É claro que vou, amiga. O que foi?

Viviane conta a Emilly, em resumo, tudo o que contara à Edward. Diferente do irmão, Emilly não acreditou muito, sendo mais racional.
— Escuta, tem brincadeiras que duram muito mais tempo. E só acabam quando a vítima estiver farta...

— Mas com certeza é alguém daqui! E haja tempo para planejar tudo aquilo.

— Você disse que ouvia a voz à noite, quando você estava cansada. Acho que você sonhou com isso.

— Ah, é? E como explica o fato de sentir ele tocando nos meus ombros? Escuta, eu sei o que vi, ouvi, e senti! E estou quase certa de que possa ser...

— Viviane. Por favor, ignora isso! Não é nada demais!

— Isso, por quê não foi você quem viu! Como se sentiria quando visse alguma coisa, e ninguém acreditasse?

Emilly revirou os olhos, como se fosse uma pergunta simples de ser respondida, antes de falar:

— Primeiro, eu seria realista. Talvez você devesse tentar!

Viviane suspirou profundamente. Ela é sua melhor amiga, não poderia ser tão rude, só queria convencê-la de que não estava errada; não totalmente.

— Eu estou tentando, mas isso está cada vez mais estranho, está bem? Cada dia! Se estivesse no meu lugar, saberia como me sinto!

— Se estivesse no seu lugar, nem ligaria pra isso! Seja lá o que está vendo, não vai fazer nada com você. De novo, ignora isso!

As amigas discutem, até decidirem não se falarem mais. Então, Emilly deu a volta e foi embora, irritada como Viviane, que seguiu caminho pelo corredor, entrando no lado direito; cujo lugar levava às escadas, que guiavam até o terraço.