— Já acabou? Achei que duraria mais! — Viviane saiu do palco com Emilly e Matt. Ela ficou orgulhosa de si mesma, pelo jeito que dançara.

— Você estava ótima! — Emilly também percebeu como a amiga tinha dançado. — Me deixou até com um pouco inveja!

— Você me ensinou tudo que você sabia. Eu só aperfeiçoei alguns dos passos! — Viviane provocou Emilly, que entortou o nariz, como se estivesse brava com ela, mas o sorriso desfez o fingimento, fazendo os três rirem.

— Bem, quem topa ir àquele restaurante que fomos ontem? — Matt sugeriu, ainda rindo.

— Eu topo! — Emilly disse, animada.

Viviane balançou a cabeça para os lados, antes de responder.

— Ah, vão vocês dois. Estou cansada demais para fazer qualquer outra coisa.

Os três seguiram para seus quartos, antes de Edward encontrá-los pelo caminho e chamar Viviane.

— Até fora dos ensaios você faz exigências? — Emilly virou-se para o irmão, levantando uma sobrancelha.

— Não começa. — Edward olhou de canto para Emilly, antes de voltar à Viviane. — Escute, só quero dizer que foi muito bem! Para ser sincero, esperava menos de você. Realmente me impressionou. — Viviane ficou sem jeito diante o que Edward disse. — Bem, vejo vocês depois.

Quando Edward saiu dali, Emilly sorriu para Viviane, que cruzou os braços, antes de perguntar.

— Posso saber qual é o motivo do sorrisinho?

Emilly só deu de ombros, dizendo que não era nada e fingiu ignorar o assunto. Os três continuaram a andar, com Viviane falando, empolgada, que mal podia esperar pela próxima apresentação, até que chegaram nos seus respectivos quartos. Viviane entrou no seu, logo notando que a rosa que recebera tinha sumido; apenas havia um vaso ali. E uma outra, aparentemente mais vermelha que a anterior, estava na penteadeira do seu quarto, e ao lado, um pequeno bilhete que dizia:

“Estou orgulhoso de você.”

Ela pegou a rosa e, mais uma vez, fixou somente nela. Tudo ali parecia desaparecer, e não ficar mais nada ao seu redor. Mas voz de seu suposto remetente a tirou do transe, e ela quase pula de susto ao ouvi-lo.

— Apresentou-se melhor do que o esperado! Realmente esplêndida!

Viviane respirou ofegante, antes de respondê-lo.

— Onde... Q-quem é você? Qual é... O seu nome? — Ela continuou a olhar para os lados, e um silêncio assustador foi feito. — Escuta aqui, seu maluco! Se isso é alguma brincadeirinha de...

— Você é tão ingênua quanto parece, ao pensar isso é apenas um jogo. — A voz grave interrompe Viviane, e parece rir enquanto fala.

Viviane ficou confusa de onde vinha a voz. Do nada, ela sentiu um toque das mãos dele nos seus ombros; um toque frio e diferente. Que arrepiava completamente o corpo dela, e parecia tocar, literalmente, na sua alma. Suas pernas ficaram bambas. Ela fechou os olhos e levou a cabeça para trás, enquanto a voz sussurrava no seu ouvido que ela era “perfeita”, “magnífica”, “estupenda”, e “bela”. O que fez a garota soltar um suspiro. Ela abriu um pouco os olhos, e nesses poucos segundos, viu dois pontos dourados semelhante aos do vulto que a observava constantemente. De imediato, Viviane se afasta dele, uma vez que percebe quem realmente era o dono daquela voz. E quando virou para onde o tal vulto deveria estar, este tinha sumido. O coração dela ficou na garganta, e quase salta pela boca, com o susto que tomou do toque do celular; era uma mensagem da Vitória.

— Oi, Vivi! E sua apresentação? Como foi?

Apesar de querer falar com a irmã — e muito —, o que acabou de acontecer a deixou confusa demais para falar com Vitória, que estava empolgada para falar com ela.

— Oi, Vita! Foi ótima. Eu te conto os detalhes amanhã, está bem?

— Ah, não! Por favor! — Vitória enviou um emoji triste, com uma lágrima. Isso fez Viviane rir, dando de ombros, e esta logo respondeu:

— Foi mal, mana... É que eu tô muito cansada.

— Entendo.

Passou alguns segundos até que Viviane respondesse alguma coisa. E como não pensou em mais nada, apenas se despediu da irmã, antes de desligar o celular, e deitar em sua cama, depois de dar uma última olhada em todo o quarto, para certificar de que não haveria nenhum par de olhos dourados a observando. Nem por um segundo ela soltou a rosa. Somente quando foi no dia seguinte.

Ela resolveu não contar à Emilly, ou a nenhum de seus amigos sobre a sombra, os olhos dourados, e tampouco a voz desconhecida. No máximo a achariam que estava louca. E aquele toque... Foi o mais diferente que já sentira. Só ao lembrar, o coração da garota bate mais rápido.

Três dias depois, na madrugada, sonhava que estava sozinha, em lugar nenhum, de repente , sentiu o toque do vulto muito além da pele, onde ela, nem ninguém, nunca poderia ser capaz de sequer encostar, além de sentir a frieza das mãos, que corriam pelos braços dela. Todo o corpo dela estava entregue ao vulto, que a virou para encará-lo, mas estava escuro, e não via nada além da escuridão e os olhos dourados, mesmo assim, o sentiu tocar em seu pescoço, braços e chegar na barriga de Viviane. Que acorda logo em seguida, voltando à realidade. Embora o quarto estivesse frio, sua testa pingava de suor.

Assim que se acostumou com a claridade dos raios de Sol que penetravam de sua janela a todo seu quarto, olhou o relógio, ainda com sono, e viu que faltava uma hora e meia até que começasse os ensaios. Ótimo! Daria tempo o suficiente para se arrumar tranquilamente.

Quando chegou na sala, tinha poucos alunos, que conversavam com Lorraine — seu joelho estava com uma parte roxa, mas parecia bem melhor. Esta notou que Viviane a encarava com desgosto, discretamente, então fez o mesmo. Ambas fecharam os punhos, até que Viviane decidiu ignorá-la. E foi falar com alguns colegas da sala. Lorraine andou até a garota, ainda com o olhar de desgosto.

— Você é tão falsa e mentirosa... Eu vomitaria, mas você não vale nem meu vômito! — Lorraine cruza os braços, com uma expressão não muito brava no rosto.

—Do que você está falando? Até onde eu sei, não fiz nada contra você.

— Ah, não entendeu? Estava ocupada se achando boa demais na peça?

Um pequeno grupo de pessoas se reunia ao redor das duas.

— Mas do que é você... — Viviane não entendia o que ela tinha feito para deixar a Lorraine tão irritada. Até que ela lembrou que foi a quem se destacou entre os demais do grupo na peça. — Ah. E vai querer mesmo brigar só por causa disso?

— Só quero avisar que ninguém gosta de gente que se acha como você, querida. — Lorraine disse, fuzilando-a com os olhos e cruzando os braços com mais força.

— Se tem alguém aqui que fica se achando o centro de tudo é você. A mais destacada da sala! — Viviane ironizou, dando ênfase na frase.

Edward entrava na sala com a irmã e ouviu a provocação de Viviane para Lorraine, que a respondeu.

— Mas eu não fico me mostrando só porquê pareço superior em relação aos outros!

— Isso é exatamente o que você faz! Ao contrário de você eu sou mais discreta!

Os irmãos se aproximaram das bailarinas, e Edward foi o primeiro a intervir.

— Viviane, esquece isso...

— Espera aí, Edward! — Com o pouco da paciência que tinha, Viviane o interrompeu, sem ao menos olhar para ele, levantando a mão aberta, como um sinal para que ele parasse de falar.

— Não se mete, seu idiota! — Lorraine disse a Edward, e isso fez a Emilly andar até Lorraine a passos pesados.

— Ei! Cuidado!

— Ah, desculpe. Só você quem pode falar com ele desse jeito, e mais ninguém?

O modo como Lorraine falou com Edward e Emilly deixou Viviane ainda mais irritada com a garota.

— E quem te dá o direito de falar assim com eles?

— Agora é contra a lei eu não poder falar com sua amiga?

— Eu só estou dizendo que...

— Que seja. Tô nem aí pro que você pensa.

— Pelo menos consigo pensar. Nem isso você se esforça. — Viviane disse, enquanto sorria de canto, erguendo uma sobrancelha.

Os cochichos de algumas pessoas ao redor das garotas não paravam, enquanto outras se seguravam para não atiçar ainda mais a briga.

— Quem precisa de esforço, quando se tem todas as vantagens naturais?

— Ah, para.

— Se fosse uma competição, você não passaria nem para ser classificada para a primeira fase.

— Lorraine! Viviane! Vocês precisam se acalmar. Já foram longe demais! Não tem motivo para isso. — Edward disse, já sem paciência. Lorraine se virou para ele, e fala o mais grosseiro que pode.

— Não! Você é que precisa tirar o nariz de onde não é chamado!

— Eu vou é acabar com você já, já!— Viviane dá uns passos para frente, e Lorraine fez o mesmo, a encarando.

— Então a santinha quer brigar? Bom, por mim tudo bem!

— Já chega! Vocês duas! — Edward se pôs entre as duas, afastando-as, e falou no tom mais rígido que podia. — Se continuarem desse jeito, vou por ambas para fora da sala! Além de ficarem três semanas suspensas de ensaiarem! Fui claro? — Diante o silêncio, não só de Viviane e de Lorraine, como de toda a sala, Edward considerou que todos ali entenderam. — Ótimo. Agora, todos em seus lugares!

Viviane, e o grupo de pessoas que estavam na sala, se afastaram do local e iniciaram o ensaio normalmente, apesar da tensão ter permanecido no ar. A aula foi seguida como de costume, e com os questionamentos de Lorraine no meio das explicações de alguns passos novos. Fora isso, nada demais.

Viviane estava certa de que Emilly iria comentar com Matt e ela sobre esse desentendimento com a Lorraine mais tarde. E quando a aula chegou ao fim, Edward quis falar com Viviane, outra vez, mas o tom e sua expressão não indicavam que iria reclamar com ela.

— O que quer falar comigo, dessa vez? — Brincando, Viviane cruzou os braços, sorrindo.

— Bem, como quero poupar seu tempo, serei breve: você será a corista principal a partir de hoje. Parabéns. — Edward sorriu, e começou a andar em direção à porta, até que a mão de Viviane tocou o ombro dele, fazendo-o parar.

— Espera. Como assim “corista principal”?

— Não entendeu? Como você foi mais destacada, alguns dos meus supervisores a consideraram como corista principal. Então, por quê não fazer o que eles pedem?

— Então... Eu estarei em outra sala?

— Não. Na verdade, ainda continuará aqui. Mas, representará o coro, além de ser uma das figurantes. Praticamente, subiu de nível na sua carreira! Vai ser uma etoile logo, logo. — O sorriso de Edward se abriu mais, assim como o Viviane, que o abraçou com força.

— Muito obrigada! Muito obrigada mesmo!

Ela estava muito feliz e empolgada. Tanto que sequer notou o vulto de olhos dourados que viu toda a cena. Mas jurou que não perderia o controle. No fundo, percebia que ela poderia ser capaz de salvá-lo. Ela TINHA que ser!