— Seja lá o que tem a me dizer, não me interessa! — Edward respondeu rudemente, depois de um bom tempo em silêncio. — Não vou me intrometo na vida dos meus alunos, e acho que você também devia fazer o mesmo.

Ele se vira para ir embora, quando Lorraine comenta algo que o para na hora:

— E quanto ao envolvimento dela com o Matt? Não vai fazer nada a respeito?

— Do que está falando? — Falou, virando-se para a garota, que não se desfez do sorriso nem por um segundo.

— Vai me dizer que não soube? Por que acha que os dois estão toda hora juntos? Já estão dizendo que eles serão um casal muito em breve.

Edward fechou os punhos com força, mas então se conteve e falou:

— Eu tenho que sair agora, pode ir embora, por favor? Não tenho tempo para isso.

Lorraine viu como tinha deixado Edward irritado por dentro, e abriu mais o sorriso, dizendo simplesmente:

— Está bem. Conversamos sobre isso depois, se quiser.

Dito isso, a garota saiu da sala. Edward respira pesadamente, e se controla para não quebrar nada. Esse assunto ele tiraria a limpo com a Viviane. Além dela fingir sentir uma atração por ele, ainda está apaixonada por alguém que ele nem esperava! Como pôde ser tão cego? Que motivo a mais teria para ambos ficarem tanto tempo conversando?

Enquanto isso, Emilly visita Viviane no quarto desta, e ambas começam a conversar acerca da sua demonstração mais cedo. Sorrindo abertamente, Emilly pergunta:

— Tem algo que você não consiga fazer? E aquele spotting que você fez?

Viviane ficou corada com o comentário e os elogios da amiga. Mas, realmente, deveria ter algo que não conseguiria fazer, e esse algo era abrir escapate, uma vez que perdera a flexibilidade com o tempo que ficara sem ginástica artística. No meio da conversa, ambas escutam batidas pesadas na porta.

— Nossa. Calma, eu já vou! — Viviane diz, respondendo às batidas na porta, e indo ao encontro de quem estava do outro lado. Ela se deparou com um Edward vermelho de raiva, que entrou no quarto e sem perder tempo, falou:

— Ande, o que tem a dizer, diz na minha cara!

— O-O quê? — Viviane olhou confusa para sua amiga, que também estava com a mesma expressão, tentando achar alguma resposta do que ele estava falando.

— Primeiro, aquela mensagem. E agora esconde seu namoro com o Matt! Se decida, garota!

— Como assim? — Emilly levantou da cama, surpresa, e encarou a amiga. — Vivi, você e o Matt...

— Não! — Viviane interrompeu. — Primeiro de tudo, somos só amigos. E depois...

— Me poupe! — Edward a interrompeu com uma raiva nunca vista. Nem mesmo por Emilly. — A Lorraine falou que...

— Pode parar! — Viviane falou no mesmo tom, fazendo-o parar de falar, e continuou: — Lorraine?! Não acredito que acreditou no que aquela megera falou! Você mesmo já me disse um dia desses que ela não era confiável!

— E isso quer dizer que ela é como você? Alguém que mente e engana o tempo todo?

Aquilo foi quase como um soco no rosto de Viviane. Então ele a achou que ela o enganava? Isso podia explicar o porque ele estar tão irritado. E será que Lorraine pegou o seu celular e mandou aquela tal mensagem para Edward? Ao que tudo indicava, sim. Com a voz mais calma e um tanto abatida, a mulher falou:

— Você acha que...

— Quer saber? Já chega! Não vou querer nem mais saber!

Edward saiu do quarto tão irritado quanto entrou, a passos pesados. E isso deixou as garotas bastante confusas com o comportamento dele. Mas ao invés de querer questionar, Viviane criou teorias na sua cabeça sobre quem estava por trás do mau humor de Edward. Ela, então, fechou a porta e voltou-se para Emilly.

— Acredito que a senhorita Lorraine esteja por trás disso.

— Não podemos tirar conclusões precipitadas, Vivi. Apesar dela ser bem suspeita.

— Quem mais iria querer que eu sumisse se não ela? — Viviane insistiu na sua opinião, tanto que até chegou a convencer sua amiga.

— Bem, vamos ter que tirar isso a limpo, não?

Viviane assentiu, e ambas ficaram decididas a seguir Lorraine. Elas a seguiram vários minutos, e a viram flertando com Edward e com mais um rapaz; o mesmo técnico com quem estava quando as garotas filmaram. Viviane se perguntava se Edward sabia que não era a única pessoa que Lorraine queria conquistar. As meninas agradeciam pelo teatro estar sempre em movimento, então podiam vigiá-la a vontade, sem serem notadas. Não demorou muito tempo e pararam de segui-la, com a certeza de que ela podia estar por trás da raiva do professor, e estavam próximas a concluir que este também queria atrapalhar o caminho, juntamente com Lorraine; em outras palavras, ambos eram cúmplices. Mas Viviane não quis acreditar nisso, e chegou a conclusão de que ele era apenas uma vítima dos truques da sua rival.

À noite, Viviane foi dar uma volta na cidade com Emilly e Matt, tentando esquecer um pouco essa história toda, e aproveitando que o dia seguinte era sábado, não teria nenhum problema em chegarem tarde. O que acabou acontecendo, uma vez que um grupo de rua se reuniu numa avenida não muito movimentada e deram um show de dança, atraindo não só o trio, como também várias pessoas que pararam por ali. Tanto Viviane como muitas outras das pessoas ali presentes resolveram filmar a apresentação.

Chegaram no teatro exaustos, porém empolgados com o passeio que fizeram. Viviane chegou no seu quarto com um grande sorriso, que foi desfeito com a voz do anjo.

— Pensei que não a veria mais esta noite.

A garota não soube por quê, mas sentiu um arrepio ao ouvir a voz dele. Talvez fosse apenas um susto. Calmamente, e no mesmo tom brincalhão do fantasma, ela falou, com um pequeno sorriso:

— Eu teria que voltar pra cá hora ou outra, não?

Ele fez uma pausa de quase um minuto, antes de falar num tom mais sério.

— Soube de sua discussão com o seu professor.

— É. Mas tudo bem, depois ele esquece isso. — Viviane respondeu, sem procurar de onde a voz estava vindo, apenas lendo algumas atualizações de seu celular que não tinha visto antes. E depois saiu um tempo do quarto, indo ao banheiro.

Ela voltou para o quarto com roupas de dormir, e viu na sua cama uma outra rosa, impressão sua ou não, parecia de cores mais vivas e intensas que as recebidas anteriormente. Ela sorriu brevemente, antes de perceber que estava indo totalmente para o lado do anjo, sem hesitar. Ela fitou a rosa por mais alguns momentos, e murmurou baixinho, cantando uma música em sua mente:

There only so much (Há tanta coisa)

That a heart can take (Que um coração pode tomar)

Before it starts to break (Antes de começar a quebrar)

Please don't make me love you (Por favor, não me faça te amar)

Please don't make me need you (Por favor, não me faça precisar de você)

I've no room in my life (Eu não tenho espaço na minha vida)

For something like this (Para algo assim)

Ela acariciou as pétalas da rosa, e sentou na cama, sem tirar os olhos da planta, e continuou a murmurar, sentindo, pela primeira vez, a música se apoderar de si. Vendo-a fazer sentido em cada nota.

Please don't take my mornings (Por favor, não tome minhas manhãs)

Please don't steal my summers (Por favor não roube meus verões)

I know they will vanish (Eu sei que eles vão desaparecer)

The moment we kiss (No momento em que nós nos beijarmos)

Flashbacks desde o primeiro bilhete, até sua última conversa com o fantasma vieram à tona, bem como os toques delicados dele em sua pele.

I grow weak when we talk (Eu enfraqueço quando nos falamos)

I'm confused when we touch (Eu fico confusa quando nos tocamos)

I should just walk away (Eu deveria me afastar)

But that's asking too much (Mas isso é pedir demais)

Please don't make me do this (Por favor, não me faça fazer isso)

Please don't make me want this (Por favor, não me faça querer isso)

All my drams were taken (Todos os meus sonhos estavam feitos) — Enfim resolveu tirar os olhos da rosa, olhando para a parede dourada do quarto, lembrando-a dos olhos intensos do vulto. Com certeza mais fortes do que qualquer tom de dourado que já conheceu.

Until I met you (Até eu te conhecer)

You're the one I think of (Você é quem eu penso)

Soon as I awaken (Assim que eu acordo) — Ela, então sorri de canto.

Funny how the heart (Engraçado como o coração)

Tells the mind what to do (Diz a mente o que fazer)

I'm not sure I can go through all (Não tenho certeza se posso passar por toda)

The joy and the pain (alegria e dor) — Após um breve suspiro, ela deita na cama e abraça a rosa, fechando os olhos.

Much better now (Bem melhor agora)

To let these dreams take flight! (Deixar aqueles sonhos voarem!)

Please don't make me love you (Por favor, não me faça te amar)

Please don't make me need you (Por favor não me faça precisar de você) — Voltou a olhar para a rosa, colocando-a acima do seu rosto, e notou como suas mãos estavam um pouco trêmulas.

Simplify my life (Simplifique minha vida)

Just by setting me free (Só me libertando)

Promise me you'll do this (Me prometa que fará isso)

Only you can do this (Só você pode fazer isso)

Ela sentiu o leve odor da rosa, antes de se levantar e colocá-la no criado mudo.

Please don't make me love you (Por favor não me faça te amar) — De repente, no caminho até a cama, corou com a letra final da música. E mesmo que não tivesse conseguido falar, sua mente não parou de ecoar.

Unless you love me (A menos que me ame)