O fantasma sussurrou no ouvido de Viviane, dizendo o quão feliz estava por ela ter aceitado. Depois, abriu a passagem, convidando-a para entrar por lá. Ela, por sua vez, andou com um mau pressentimento que foi aumentando à medida que chegava na casa do seu "anjo da música". Era certo o que estava fazendo? Devia contar a alguém, não devia?

Viviane mal chegou no lar do fantasma e este a deu as boas vindas.

— É bom recebê-la aqui outra vez. — Não havia um corpo, apenas a voz. — Entre, não seja tímida. Você já veio aqui antes, recorda-se? — Viviane engoliu em seco, antes de entrar. Fitou o piano, curiosa. Percebendo isso, o fantasma logo sugeriu: — Talvez possa tocar para mim? Já a ouvi tocar.

— Tudo bem... — A garota respondeu num tom baixo. Ainda com um pressentimento ruim sobre onde isso podia acabar.

Concentrando-se, Viviane sentou de frente ao velho piano, pondo seus dedos delicadamente sobre as teclas, tocando a mesma música de meses atrás, sentindo-se hipnotizada em cada nota que tocou. Em dado momento, o "anjo" deslizou pelos braços dela até chegar nos seu dedos e sentí-los tocando cada tecla. Então, a guiou para as mais graves, tonificando mais sua música e dando mais vida a esta. A melodia estava tão viva que Viviane murmurou a letra. No segundo seguinte, o fantasma sussurrou no seu ouvido:

— Cante mais alto. Cante para mim.

Em transe e totalmente rendida, ela obedeceu. Começando a soltar sua voz, que era linda. Claro, ainda precisava praticar mais na sua respiração e na coordenação das notas, mas, fora isso, ela cantava muito bem, e isso encantava o fantasma. Que tocava no pescoço, sentindo as cordas vocais dela vibrarem nos seus dedos. Assim que a música acabou, automaticamente a garota saiu da hipnose da música e lembrou do que fez instantes atrás, ficando evergonhada por ter cantado na frente de alguém. Logo, ela levanta:

— Acho.. Melhor eu ir embora.

Rapidamente, o fantasma comentou:

— Tem, realmente, uma bela voz. — Ele conseguiu fazê-la parar de andar, e votar a encará-lo. — O que me incentiva mais a ajudá-la. Mas, claro, se aceitar minha proposta. O que me diz?

Ele apareceu, olhando para Viviane. A garota esteve prestes a concordar com ele, quando uma outra ideia surgiu, e resolveu perguntar:

— Você está mesmo disposto a me ajudar? Ou isso seria só um truque?

— Confie em mim. — Ela entortou o rosto, ocultando o nervosismo, revirando os olhos e respirando fundo, ela assentiu. Sorrindo, o fantasma falou: — Não vai se arrepender de minha ajuda. Agora, é melhor você ir embora. Está tarde, e você precisa descansar.

Aquela sugestão não era um tanto ruim. Sorrindo, ela saiu do lar do fantasma, indo direto para seu quarto. Com os olhos pesados, ela deitou na cama, pegando no sono em questão de segundos, dormindo profundamente.

Na manhã seguinte, a garota acordou com batidas pesadas na porta. A luz do sol brilhava forte no seu rosto, e iluminava todo o quarto. Um pouco tonta pelo bom, longo e pesado sono que teve, ela se obrigou a ficar de pé, indo atender seja lá quem insistia bater na sua porta. Quando abriu, faltava a pessoa que estava do outro lado gritar; pessoa cujo nome era Emilly.

— Anda, Viviane! Vamos nos atrasar! De novo... — Emilly falou apressadamente, e entrou no quarto da amiga para acelerar o processo rotineiro, uma vez que faltava menos de vinte minutos para a aula começar! — Bem, pelo menos hoje é sexta, não é? Não sei se você foi dormir mais tarde ontem, ou por causa do Edward.

— Espera, o quê? Como assim? — Viviane olhou para a amiga surpresa com o comentário. Como ela descobriu sobre o que houve entre os dois? Ah! O Edward deve ter comentado, é claro!

— Bem, se for isso, não a culpo por não sentir vontade de ir pra aula hoje.

— O Edward te contou, não foi? O que ele disse. — Viviane foi a passos largos para perto da amiga.

— Ele não me disse muita coisa. Mas estava muito irritado. Vai saber que bicho o mordeu... — Ambas ficaram em silêncio por alguns segundos, até que Emilly retomou: — Bom, vamos andar depressa, senão, tomamos uma bronca daquelas. E em plena sexta-feira...

Emilly forçou muito tristeza, tirando um sorriso da amiga, que pegou suas coisas, indo até o banheiro, onde rapidamente trocou de roupa, pegou uma fruta do refeitório e foi direto para a sala de aula, terminando de comer o que tinha pego no caminho até lá. Edward chegou minutos depois, olhando de canto para Viviane e depois voltando seu olhar para a classe. Não demorou muito para ele dar início ao ensaio. Desta vez, ele não ficou no pé de Viviane. Muito pelo contrário; ele a deixou de lado muitas vezes, instruindo os outros alunos, e só prestava atenção na aluna principal do coro, quando esta tinha alguma dúvida, que era respondida de maneira simples, curta e grossa da parte do professor.

Vendo-a com um pouco de dificuldade, uma certa voz sussurrou no seu ouvido exatamente o que a bailarina tinha que fazer em seguida. Obedecendo-o corretamente, Viviane conseguiu prosseguir com a aula, e quase todo minuto sussurrava "o que faço agora?". E o "anjo" respondia pacientemente, dando dicas do próximo passo, ou relembrando a posição que teria que ficar em cada um.

— Tente o spotting*, agora.

Viviane fez isso, e ficou satisfeita que os passos se encaixavam com o ritmo da música, e mais: a faziam se destacar do resto do coro. Os outros alunos, e o professor, perceberam os passos ritmados e sincronizados da jovem. Entre esses alunos, estava Lorraine que percebia a performance da rival e quase esqueceu os seus próprios passos. No fim da aula, ela e Edward foram os únicos que não gostaram dos passos que Viviane demonstrou, apesar de saberem que estava muito bom e coordenado com a melodia tocada. Mesmo assim, nenhum dos dois iria adimitir isso a ela.

Lorraine esperou até que a sala estivesse vazia para conseguir por um fim a carreira de Viviane... De algum jeito. Ela cuidaria dos detalhes na hora. Sabia que sua rival costumava ficar até depois da aula para conversar com o professor. Mas isso acabou não acontecendo: Viviane não foi apenas uma das primeiras pessoas que saiu da sala, como também olhou de canto para Edward — devolvendo o olhar que ele dera a ela no início da aula. Isso fez a garota partir para o plano b, o que ela esperou meses para executar: por Edward contra a "boazinha que nunca faz nada de errado". Com a sala vazia, Lorraine aproveitou o momento a sós com o professor para por o plano em ação.

— Edward. Podemos conversar?

Um pouco sem paciência, o professor respondeu:

— Seja breve, por favor.

— Ah, garanto que vou ser bem breve, sim. — No ar mais inocente que podia, mas com malícia no olhar, Lorraine foi direto ao ponto. — Descobri umas coisas sobre a Viviane. E gostaria de falar a você.