“Porque defende ele?! Porque defende Astaroth?!” – Andras bate numa das arvores que o cercam, respirava pela boca e conseguia ver sua própria respiração.

“Porque você não é suficiente para fazê-lo parar.” – Dantalion responde, monótono.

“É o que queria, não é, Dantalion? Que ele usasse você.”

“Oh, então agora não é mais um jogo? Desde quando você se importa com o que eu quero, Andras?”

“Não gosto de Astaroth brincando com o que é meu, Dantalion. Você já devia saber.”

“Não me lembro de ter jurado nada a você, Andras. Não te pertenço, apenas temos um acordo estratégico.”

“Ah, é? Tem certeza?” – ele pergunta, cruzando os braços sobre o peito.

“Claro que eu tenho. Concordamos com isso enquanto falávamos com Alloces, não é? Não preciso de você do meu lado, Andras. E você não me tem, eu apenas conheço os meus limites, Astaroth é o meu... Recomendo que aceite o mais breve possível, assim pode parar de me fazer passar vergonha na frente dele.” – Dantalion enuncia, plácido.

“Eu?Aceitar? Vergonha? Dantalion, se eu pudesse falar estaria rindo.” – ele diz, enquanto atravessa o campo onde estão para pegar Dantalion pelo braço, mas suas mãos atravessam-no como se fosse feito de fumaça.

O que na verdade era.

“Usou suas ilusões? Comigo?” – ele estreita os olhos, fechando ambas as mãos em punho.

“Surpesa.” – Dantalion declara, um sorriso pequeno no canto de seus lábios.

“Você foi atrás dele.”

“Quem sabe.”

“Dantalion, você é patético.”

“Sabe Andras, você já me disse isso tantas vezes, que eu sinceramente já não dou a mínima para o que você diz.” – Dantalion diz, estalando os dedos, evaporando e se misturando com o ar.

“Dantalion... como você se atreve?” – ele diz estreitando os olhos com ódio.

Nesse meio tempo, Dantalion caminhava pela montanha em busca de grandes felinos, como Astaroth havia sinalizado.

Afinal realmente fazia muito tempo que ele não caçava.

“Imaginei que viria, Dantalion.”

Astaroth permanece sentado num rochedo alto, olhando ao redor como se nada realmente importasse.

E de fato, não importava.

“O que faz aqui Astaroth?” – Dantalion pergunta, mantendo-se minimamente alerta.

“Veio caçar, não veio? Vim assistir, passar meu tempo, comtemplar a sangria... Quem sabe não me sinta disposto a caçar também. Vá. Quero te ver coberto de sangue.” – ele sorri, apoiando as costas na rocha fria e áspera.

~*~

Morpheu e Klaus atravessavam a floresta, os pés afundando na neve fofa até quase o joelho, se movendo devagar, os poucos soldados que restaram e alguns dos desenhistas logo atrás, engolindo seco, respirações trêmulas.

– É seguro voltar agora? – Morpheu pergunta, olhando na direção do doutor com os olhos e os ouvidos vagando a esmo pela paisagem perturbadoramente branca.

– Astaroth me deu sua palavra, e isso significa muito. Além do mais, ele precisa de nós para tirar Aleister da Ilha Capital.

Tão logo ele termina a frase, Alloces desce de uma das árvores, a venda escura em frente aos olhos e o cabelo preso na trança frouxa, ele olha na direção de Morpheu, e Morpheu apenas.

“Então é verdade.” – ele suspira, caminhando até eles, parando em frente ao comandante, que olha para baixo, encarando a venda com o cenho franzido.

– É uma pena... – Morpheu principia devagar, como se estivesse vendo essa frase escrita em uma sala escura, e tentasse ler apesar da escuridão.

“Do que está falando humano?” – ele encara o comandante com cuidado.

– Ninguém mais poderá ver esses seus olhos cor de lavanda tão pálidos... tão lindos... – ele completa, com um quase sorriso, apesar das palavras que ele não pode conter.

“Como você...Sabe sobre isso? Você está-”

– Morpheu...

– Hm? – ele para, olhando na direção do doutor, como se estivesse distraído por alguns instantes.

– Do que está falando...?

– Como assim? Estava apenas citando um livro.

– Um... Livro?

– Sim, não consigo me lembrar o nome de cabeça, mas acho que não era nada importante. Me lembrei quando vi ele venda-

Por um instante ele para, vendo que Alloces havia sumido.

– Do que está falando, Morpheu?

Klaus o observava como se questionasse se ele estava alucinando.

– Está se sentindo bem?

– Estou... Estou bem sim.

Agora Morpheu se perguntava o que estava vendo, talvez estivesse realmente alucinando.

Em outro ponto da floresta, Alloces tem o cenho franzido.

“Como ele... ele me viu se eu estava... O único que podia fazer isso, era...” – ele olha em silêncio na direção das muralhas do sul. – “Aleister... Você...”

Ele levanta, se colocando em movimento na direção das muralhas do sul e consequentemente do humano, sentindo o pulso se alterar.

“Aleister... Aleister... ALEISTER!”

Tão logo ele encontra com o pequeno grupo de humanos, ele avança quase que ameaçadoramente na direção de Morpheu, jogando-se sobre ele e fazendo com que ambos rolem na neve alguns metros para frente.

Klaus observa a cena estático por alguns segundos, então seus olhos se abrem em choque e ele volta na direção onde Alloces e Morpheu haviam rolado.

– MORPHEU!

Apesar do impacto Morpheu não parece machucado, apenas estranhamente confuso de como havia parado no chão, então a dor pungente surge em suas costas com a forma qual havia sido arremeçado para frente e ele emite um fraco grunhido de desconforto.

“Como? Como você sabia? Como sabia sobre meus olhos? Como sabe sobre essa frase? Como você sabe sobre o que Aleister me disse?! Ninguém devia saber sobre isso! Só eu e ele!”

Morpheu o olhava com uma expressão confusa, palavras e mais palavras sendo jogadas sobre ele sem que ele soubesse o que estava sendo dito, mimicadas por uma boca sem som, as mãos do estranho tremiam apoiadas em seu peito e ele não conseguia entender qual era o problema.

– Você está bem? – ele pergunta, tentando entender o qual era o problema. – Está machucado? De onde você veio?

Klaus corria na direção de ambos, atravessando a neve na direção dos dois.

Novamente a sensação corrosiva de impotência.

Novamente Morpheu no chão.

Novamente nada estava sob controle.

– Morpheu!

Morpheu volta os olhos na direção de Klaus, apoiando-se nos cotovelos.

“Não, não, não, não! Me responda!”- Alloces urge, com as mãos voltando o rosto de Morpheu na direção dele.

Morpheu olha na direção de Alloces com os olhos estreitados como se estivesse recordando-se de uma memória.

– Não devia tocar no rosto das pessoas como bem entende, Alloces... é muito rude.

"Como... como disse?"

Foi tudo o que foi dito antes de Astaroth surgisse do alto de uma árvore, pousando no meio da neve e sorrindo para todos com um ar amigável, poupando mais do que um rápido sorriso para os soldados que o olhavam numa mistura de medo e raiva, antes de novamente se voltar para Alloces, assegurando os passos amedrontados de Klaus com um sorriso tranquilizador.

"O que está fazendo, Alloces?"