Mentiras no Jornal

Retorno a Paisley Park


Exterior do hotel, Rochester - 13:41 hrs

Michael e Luna foram os primeiros a sair, quando se depararam com um estranho Bel Air vermelho estacionado em frente ao hotel. Prince veio logo em seguida, colocou seus óculos escuros e acenou para a motorista.

— O que ainda estão fazendo aí?

Indagou, em seguida desceu as escadas em passos despreocupados. Michael e Luna se entreolharam e seguiram o rapaz.

— Quem são suas amigas?

— Hum… ah, vou apresentá-las. Wendy, Lisa, essa é a Moon. Moon, essas são Wendy e Lisa, as meninas do The Revolution.

Luna voltou a prestar atenção nas garotas, percebeu como elas compartilhavam do mesmo gosto visual do amado, era quase como ver versões femininas do Prince diante de seus olhos. Wendy era uma morena de cabelos médios para a lateral, pele bem clara e porte magro. Estava usando um terninho despojado e extravagante. Lisa, por outro lado, era uma morena mais alta e robusta, também muito bonita. Optou por algo mais arejado, como uma blusa sem mangas e minissaia tão extravagantes quanto os trajes da sua parceira. Desceu os óculos escuros e fez um aceno com a cabeça.

— Oi, Moon.

— Não, você chama ela de Luna. Eu chamo ela de Moon.

Prince sorriu de forma sapeca e logo tratou de buscar o seu lugar no carro. Michael chegou logo em seguida.

— Será que elas são tão fora da casinha quanto o cara de roxo?

— Eu ouvi essa!

Eles gargalharam e seguiram cada um para os seus lugares. Prince já estava no carro quando André o chamou.

— Prince!

— Aguarda aí, Lisa.

Ele se aproximou. Após um breve silêncio, acenou discretamente.

— Boa sorte.

Após ouvir aquelas palavras, o moreno lentamente virou o rosto na direção do horizonte, partiriam o quanto antes.

— Você também. Te vejo na estrada da vida…

Deu duas batidinhas na porta, sinalizando para que Lisa acelerasse. Rapidamente partiram rumo à rota para fora da cidade.

Ao longe, alguém tirou uma foto.

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Demoraria mais ou menos 1 hora e meia até chegar em Paisley Park. Seria uma viagem rápida e sem rodeios. Lisa abriu o teto do conversível assim que saíram da cidade, já não teriam mais a possibilidade de se deparar com algum fã ou paparazzi. O resto do percurso seria ermo e teriam a companhia de uma paisagem natural exuberante.

— E então… o que estão falando de mim por aí?

Indagou Prince, que passou esse tempo todo desatualizado das novidades. As meninas se entreolharam e riram em seguida.

— Da próxima vez que você pensar em sair num rolê aleatório, chama a gente, estamos precisando de um pouco de aventura.

— Você tá famoso, hein? E eu digo isso de um jeito positivo. As vendas do Purple Rain alavancaram!

— E dos outros álbuns também…

As meninas fizeram um “toca aqui” entre elas. Prince deu um sorriso de canto, estava muito surpreso, mas não ia dar esse gostinho para elas, então manteve sua postura a mais tranquila possível.

— Oh, jura? Eu podia acreditar que veria uma multidão de fãs revoltados na porta da minha casa.

— Ué, por quê? Quem é teu fã sabe que você é porra louca.

— Olha a expressão…

Lisa gargalhou.

— Ela tem razão, Prince! Ninguém vai se surpreender se você resolver sumir e reaparecer três dias depois, do nada. Mas você ganhou os holofotes quando ficou no meio da zona que rolou no hotel.

— Ah, nem me fale…

— Prince…

Murmurou Michael, um tanto acanhado pela presença das garotas desconhecidas.

— Nós vamos passar em St. Peter?

— Nós vamos, Lisa?

— Quê? Nem pensar, é um arrodeio do caralho. Vamos pegar a rota 52 que vai direto pra Chanhassen.

Michael suspirou. Prince levou a mão ao seu ombro e tentou animá-lo.

— É aquela menina, não é?

— Eu queria ver como eles estão… mas é melhor resolver isso antes.

O cantor concordou. Viu como Michael parecia meio cabisbaixo, então pensou em mudar de assunto, talvez o distraísse daqueles pensamentos ruins.

— Não se preocupe, nós vamos voltar o quanto antes. Ahm… Lisa, Wendy, esse é o Michael, o protagonista da viagem. Nós nos conhecemos uns anos atrás, em Minneapolis.

— Agora eu quero ouvir essa história!

— É, eu também! Vocês já entravam em confusões como essa?

Prince revirou os olhos e soltou uma risada.

— Quase. Eu queria a namorada dele e ele me chamou pra briga, é basicamente isso.

— Ele levou um chute e ficamos amigos.

Michael complementou, enquanto Luna tentava conter uma risada.

— Ei, ei, não ofusquem o meu brilho.

— Nossa, Prince, talaricagem…

Murmurou Wendy, enquanto Lisa só fazia rir.

— Vocês já estão querendo saber demais da minha vida, só dirijam.

Brincou o cantor. O resto da viagem seguiu sem maiores problemas, estava um belo dia ensolarado e tudo parecia que dessa vez daria certo. Wendy e Lisa faziam piadas o tempo todo com a aventura do amigo, Prince revidava as brincadeiras delas e puxava Michael e Luna para conversar consigo. Comemoraram quando passaram pela entrada de Chanhassen e a motorista fechou o teto mais uma vez para garantir a privacidade deles.

Michael era um dos mais silenciosos no carro. Estava admirando a paisagem enquanto os demais conversavam e foi exatamente por isso que um detalhe chamou sua atenção.

Passaram por um carro preto. Mais na frente, apareceu mais outro estacionado. Logo em seguida, outro. Quando viram Paisley Park ao longe, linda e radiante, notaram que esta estava completamente rodeada por carros escuros. Não eram muitos, mas na visão do Michael era como se fossem um batalhão. Ele tinha péssimas lembranças desses veículos.

— Vamos voltar…

Murmurou o rapaz. Prince arqueou a sobrancelha e, então, notou a gravidade da situação.

— Lisa, só passa na frente…

A garota avançou e os levou apenas para a frente da mansão, para que olhassem de longe.

— O que vocês vão fazer?

Indagou Wendy. Prince sabia que não teria dificuldades em entrar em sua própria casa, não era ele quem queriam e aqueles homens só estavam lá porque Ted muito provavelmente os deixou entrar.

— Prince… e se a gente entrar pelas saídas de emergência?

— Moon tem razão. Lisa, siga pela lateral.

— Okay, chefinho.

Lisa arrastou o carro para a saída alternativa da mansão e os deixou bem na frente dela. Eles se retiraram em seguida.

— Tchau, queridas. Obrigado pela carona.

— Manda lembranças, hein? A gente não quer ficar sabendo de você pela TV.

— Eu ligo pra vocês quando tudo isso passar.

— Tchau, gente! Foi um prazer conhecer vocês.

Disse Luna, sorridente.

— Tchau, gatinha.

Lisa respondeu, em seguida ligou o carro e seguiu viagem para o centro da cidade. Lentamente viraram em direção à grande casa de portões faraônicos e jardins pomposos. O problema da viagem já foi resolvido, agora precisavam enfrentar quem quer que estivesse lá dentro.

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Ted e Jones Jr. estavam na sala principal de Paisley Park aguardando notícias de Nanda sobre o paradeiro do Purple One. Há uns dias Prince deixou de usar o cartão, o que os deixou impossibilitados de monitorar os seus passos, dependendo agora tão somente de denúncias de avistamentos e dos relatos da mídia.

Jones iniciou a conversa.

— E quais são as últimas notícias?

— Joe me disse que o senhor Nelson foi visto em uma praia de Rochester, eu não faço ideia de onde ele tira essas informações, mas agora tudo o que eu sei vem dele.

— Sim, ele está muito empenhado em buscar o filho. Olha, vou te falar… se esse moleque não fizesse dinheiro, eu já teria desistido.

Ted suspirou e concordou, estava quase convencido de que aquela confusão toda era culpa exclusiva do moreno de cabelos ébano e aspecto frágil.

— Ah! Eu nunca mais vou duvidar do sexto sentido dele pra feats

— Ted!

Assim que ouviu aquela voz, o homem quase levou um susto. Não conseguia acreditar que se tratava de seu patrão, mas foi apenas sentir o doce, forte e impregnante cheiro de seu perfume exalando pelos corredores que teve a absoluta certeza.

Ele havia voltado.

— Ted, venha cá, quero falar com você.

As portas se abriram e, ali, estavam eles: Prince, Luna e Michael, acompanhados de um funcionário que os havia deixado entrar. Jones discretamente deixou a sala.

— Prince!! Ah, Prince, Prince!!

— Tá, tá, já deu! Se recomponha ou te troco por uma modelo.

Ted gargalhou, adorava o senso de humor ácido do rapaz.

— Ah, meu astro! Estou tão feliz! Por que você fez tudo isso?

— Isso não importa. Eu preciso que você me consiga um advogado particular. Quero um dos melhores, preciso o mais rápido possível.

Ao ouvir aquele pedido, Ted parecia um pouco contrariado. Prince arqueou a sobrancelha.

— O que foi? Eu te dei uma ordem, vá lá e faça!

— É que… isso não seria para o seu amigo, não é, senhor?

De repente, policiais armados passaram pelos extensos portões. Joe Jackson apareceu logo em seguida, juntamente com Jones Jr. e seus seguranças. Ao fitar os olhos escuros e amargos do seu velho pai, Michael deu alguns passos para trás, assustado, mal prestou atenção naquela penca de homens vindo na sua direção e o mobilizando.

— Me soltem!!

— Parem com isso, soltem ele! Vocês não podem…!

— Ei, ei, o que é isso?! Isso é invasão de propriedade privada! Onde está a intimação?!

— Prince… eu deixei eles entrarem.

Disse Ted, agora mantendo uma postura mais séria.

— Como o senhor ficou fora esse tempo todo, eu fiquei no comando de tudo. Tecnicamente eu ainda estou no comando, o senhor acabou de chegar.

— Pois agora quem manda nessa casa sou eu, Ted. Coloque esses homens para fora agora!

O homem suspirou.

— Prince, eu estou do lado do senhor Joe nessa questão. A minha ocupação é garantir que você não vai fazer nenhuma besteira com a sua carreira e é isso que eu estou tentando fazer! Nós não temos nada a ver com os Jacksons, vamos deixar que eles se resolvam entre si e focar na sua carreira, que por um triz não foi arruinada, está bem?

— Não, você não diz o que eu tenho que fazer. Eu que…

— Prince…

O cantor arqueou a sobrancelha e virou em direção ao seu amigo, que havia o chamado. Michael suspirou e fez um movimento negativo com a cabeça, precisou de poucos instantes para contemplar toda aquela cena, toda aquela bagunça e sentir remorso por tudo aquilo. O havia puxado para aqueles problemas e agora toda a casa do rapaz estava tomada. Prince o estava defendendo com unhas e dentes, ele temia até onde isso o levaria, que consequências traria. Ele não suportava mais torturá-lo com suas próprias inquietações.

— Eu me entrego.

— O quê? Não, não, nós estamos muito perto…

— Prince… vai ser melhor…

Ao longe, Joe Jackson parecia satisfeito. Os policiais conduziram o moreno, que não resistiu, até uma viatura estacionada do lado de fora. O que quer que o seu pai tenha inventado sobre si, se mesmo a polícia acreditou, não havia mais nada que podiam fazer.

Prince ficou observando o rapaz ir embora, sentindo em seu coração uma angústia como se fosse a última vez que o veria novamente, como se as memórias de anos atrás, em Minneapolis, estivessem se repetindo.

Tentou segui-lo, caminhou em passos apressados, mas foi contido por Luna, que segurou sua mão com força e carinho. Com lágrimas nos olhos, a garota percebeu que, agora, o elo forte do trio era ela.

— É a escolha dele…

Sussurrou.

— Bom, é melhor assim. Venham, eu acompanho vocês até a saída.

Disse Ted, se retirando com todos daquela sala. Os únicos que ficaram foram Prince e Luna, ainda chocados demais com o que havia acontecido. Prince não esboçava nenhuma reação, embora estivesse se sentindo mal por dentro. Ele suspirou, se conteve como pôde.

— Vá pra casa…

Foi a única coisa que disse para sua amada. Sem abraços, sem beijos, se retirou da sala até mesmo sem olhar em seus olhos. Era o seu jeito de enfrentar a dor e a raiva, Luna sabia bem disso.

Deu o espaço que ele precisava, o deixou descansar e se retirou.

Haviam perdido.