Mentiras no Jornal

Let’s Go Crazy - Parte I


Ruas de Rochester - 20:58 hrs

“Queridos amados

Estamos reunidos aqui hoje para passar por essa coisa chamada… vida.

E se o elevador tentar nos levar para baixo

Vá à loucura! Vá para o andar mais alto!”

Prince balançou o cartão uma última vez antes de se juntar às ruas, mas não foi a última vez que os seus amigos viram aquele pedaço de plástico.

O Purple One foi o primeiro a escolher uma loja. Estavam molhados pela chuva, cansados e abatidos, então sua primeira parada foi a um spa. Luna escolheu o segundo lugar, e acabaram indo a uma das lojas de roupas mais luxuosas da cidade. Michael foi o último e os levou para se divertir um pouco nos bares com karaokê.

Naquele momento, eles não se importaram se poderiam ser pegos. Depois de conhecer pessoas novas, passar por chuva, perambular pelas estradas desertas, sobreviver a acidentes de carro, comer besteiras de rua, andar somente com a roupa do corpo e pegar carona com estranhos, não havia mais nada que os preocupasse.

Por alguns instantes, esqueceram os problemas. Por alguns instantes, foram à loucura.

“Vamos lá, baby!

Vamos ficar loucos!

Yeah…”

Prince subiu em uma das mesas do bar, chutou os copos meio vazios que havia lá e iniciou um solo de guitarra intenso e cheio de energia. Michael e Luna brindaram uma cerveja pouco antes da garota puxá-lo para a pista de dança, sabia que ele adorava dançar. Michael deslizou pela pista e não poupou todo o seu gingado, o que fez o público abrir espaço para ele.

A noite perdurou pelas próximas três horas, quando, enfim, começaram a ficar sonolentos. Nenhum dos três estavam realmente bêbados, mas estavam alcoolizados. O pior que a bebida fez foi trazer um sono intenso, estavam ansiosos para descansar.

Foram ao melhor hotel da cidade, marcado por eles quando começaram a explorar as ruas de Rochester. Eram 03:22 hrs quando chegaram, a recepção estava silenciosa. Prince segurava o braço de Luna, que segurava o braço de Michael, e os três tentavam se manter em pé em meio a tantos risos e diálogos desconexos.

— Recusado.

— O quê?!

Exclamou Prince, em seguida tentou passar o cartão mais uma vez e viu com os seus próprios olhos o valor ser rejeitado.

— Deixa isso pra lá, Prince, eu pago.

Murmurou Michael, tirando um punhado de dinheiro do bolso. Pelo visto, agora, só teriam os recursos do moreno para as emergências da viagem, não podiam gastar de qualquer forma.

— Ei, calma aí, calma!

Prince o puxou para um canto, junto com Luna.

— Esse é um puta hotel de luxo, querido, e eu me recuso a dormir em qualquer espelunca. Quanto você tem aí?

Michael revirou os olhos.

— Você vai ter que escolher, porque não dá pra bancar todo o seu luxo por muito tempo. Hotel 2 estrelas com 3 quartos, ou hotel 4 estrelas com 1 quarto?

Prince levou as mãos à cintura e o encarou.

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Kahler Grand Hotel, Rochester - 06:00 hrs

Os raios de sol já estavam se espalhando por todo o quarto quando Prince abriu os olhos.

Notou um quarto de cores claras e neutras, sentiu uma cama macia e espaçosa, reparou na decoração delicada e suntuosa, e então finalmente se lembrou da noite passada. Soltou um suspiro profundo e se levantou, ainda com dor de cabeça, havia dormido por poucas horas. Pensou em voltar a descansar, mas virou-se e enfim percebeu que Luna estava ao seu lado.

Sorriu, levou uma mão ao seu rosto e afastou os seus cachos dos olhos. Luna era linda até mesmo dormindo: o sol tocava em sua linda pele escura e fazia reluzir como veludo, seus cachinhos rebeldes e escuros ganhavam um aspecto brilhante e caramelado na luz do dia. Ele adorava cada detalhe do seu corpo, mas evitava pensar nessas coisas até mesmo por desconhecer se era um desejo recíproco. Ele sabia que Luna era diferente das outras garotas com quem saiu e que ela não se curvaria para o seu status. Era um dos detalhes que amava nela.

Mas então a sua atenção foi tirada da garota após perceber, na sacada do quarto, um rapaz de costas admirando a paisagem. Era Michael.

“Sorria, e talvez amanhã… Você descobrirá que a vida ainda vale a pena se você apenas… sorrir…”

Levantou-se e foi lavar o rosto para cumprimentá-lo. O moreno estava encostado no guarda-corpos da sacada. Embora a luz do sol estivesse visualmente intensa, o seu calor era brando e agradável. Ele estava relaxando e cantarolando quando sentiu uma presença extra e percebeu Prince se aproximando.

— Bom dia.

O moreno sorriu e o encarou de canto.

— Ei… bom dia.

O cantor assentiu e suspirou, enquanto também levava as mãos ao guarda-corpos e se encostava.

— Então… o que achou de Rochester?

— É uma bela cidade… se não tivermos problemas nela, acho que vou ficar aqui. Pelo menos, por enquanto…

— Como assim “por enquanto”?

Michael deu ombros.

— Não sei… ainda estou em Minnesota, lugar onde tudo começou. Eu quero sair desse Estado… queria voltar pra Gary, mas é muito óbvio. Talvez eu saia do centro-oeste, não sei…

Prince ficou pensando naquelas palavras.

— Michael… tem certeza disso?

Agora o moreno virou o rosto em sua direção.

— Digo… uma vez livre do seu pai e da fama, você vai voltar a ser uma pessoa comum.

— Eu sei…

— Mas… eu sei que você gosta de dançar, não gosta?

Michael ficou em silêncio. Lentamente desviou o olhar para o horizonte.

— Você deve gostar de cantar também… e… eu vi como seus olhos brilharam para ajudar aquele abrigo. Você sabe que não teria dado todo aquele dinheiro se não fosse pelo seu talento.

— Eu sei, Prince, eu sei…

— Eu só quero dizer…

Ele lentamente se aproximou, em seguida levou uma mão ao seu ombro.

— … não é sobre padrões de vida elevados, okay? Eu já percebi que isso não faz diferença pra você… mas é sobre facilitar a realização dos seus sonhos. Por um lado, você se sente sufocado pelo pai, por outro, você é a inspiração de uma penca de moleques catarrentos por aí… e você ajudou um deles com mais do que um assalariado poderia ajudar. Você entende a importância disso?

Michael ficou em silêncio. Ele não podia dizer muito, Prince, dessa vez, estava coberto de razão. Aquelas palavras lhe trouxeram lembranças do abrigo, de quando viu Devin eufórico ao vê-lo na TV, aquilo não teria sido possível se ele tivesse desistido de sua carreira bem antes.

— Prince…

Virou-se para ele.

— Me perdoa. Eu não devia ter mentido pra você. Eu… eu fiquei com medo de te envolver dessa forma, de estragar a sua carreira… eram tantos medos…

O cantor logo se aproximou e, sem prévio aviso, o puxou para beijar sua bochecha. Michael se espantou com aquela reação, mas não conseguiu recuar, sentiu suas pernas travarem.

— Ei… esqueça isso, tudo bem? Já passou…

Ele sorriu muito discretamente.

— Você me proporcionou a viagem mais louca e divertida da minha vida até agora. Vamos nos concentrar em te levar para longe do seu pai. Se é isso que você quer, eu só quero que seja feliz.

Disse-lhe, e, pela primeira vez, Michael duvidou do que realmente queria. Não comentou mais nada, não sabia se havia sido pelas palavras ou pela atitude do seu amigo, mas de qualquer maneira teria bastante tempo para pensar, seu pai não o encontraria ali tão cedo.

Suspirou e aquiesceu.

— Vamos acordar a Luna? Ela vai perder o dia todo se deixarmos…

— Hum… não, deixa ela descansar. Nós devíamos ir também, ainda é muito cedo.

Michael concordou, realmente haviam descansado pouco. Logo cedeu e retornou à cama.

— Então… você não liga de dividirmos a cama?

— Céus, eu estava torcendo para você não falar sobre isso.

Michael deixou uma risada escapar.

— O que tem? Eu particularmente não ligo, dividi a cama na minha infância toda…

— Felizmente você está do outro lado da Luna. Eu que não te quero perto de mim, vai que você de repente sonha que está transando ou sei lá o quê…

— Acho que eu sentiria o seu peito peludo se isso acontecesse.

Eles riram e se acomodaram cada um ao lado da garota. Luna se moveu um pouco e suspirou.

— Calem a boca e vão dormir, caralho…

— Bom dia pra você também, mocinha.

Comentou Prince, rindo em seguida. Eles se aninharam nos cobertores, deram espaço em respeito à garota e tentaram descansar mais um pouco.