Mentiras no Jornal

Fuga para Rochester - Parte I


Praça de St. Peter - 15:25 hrs

Prince estava acomodado em um dos bancos da praça central de St. Peter, quando Luna retornou com duas bebidas refrescantes e um bolinho. Ela serviu o rapaz com uma das bebidas e se acomodou ao seu lado para comer o lanche que havia comprado.

— Já procuramos ele em todo canto e nada… A cidade nem é tão grande assim.

— E é isso que me surpreende. Ele não está em nenhuma loja, nenhuma esquina, até mesmo naquele parque de diversões do outro lado da rua.

Murmurou o cantor. Ele desceu seus óculos escuros e deu mais uma olhada à sua volta.

— Não tem como eles terem nos rastreado, o celular do Michael morreu junto com o meu carro, todos os cartões e pertences dele ficaram no lago. Estamos usando o meu cartão, não é possível que meus assessores estejam compartilhando meus movimentos com o pessoal do Jackson, não faz nenhum sentido.

Luna suspirou.

— Prince… você acha que… nós estamos em perigo por estarmos ajudando o Michael?

Ela indagou. Pelo seu tom de voz, Prince havia entendido a gravidade daquela pergunta. A encarou de soslaio, ele estava preocupado, mas sabia que demonstrar isso não iria ajudar em nada, ele sentia que precisava ser o elo forte desse grupo.

— Nada vai acontecer a você, Luna. Não comigo aqui.

— Eu sei, eu… eu confio em você.

Ela o encarou.

— Mas eu tenho medo… por você… pelo Michael… por nós. Eu amo vocês demais…

Disse-lhe, por fim, levando a mão à sua. Prince sentiu um arrepio, não sabia ao certo se foi por causa do toque da garota ou de suas palavras, mas escondeu aquela sensação. Não era a primeira vez que se sentia assim perto dela, perguntava-se se aqueles sentimentos bobos de sua juventude ainda o perseguiam, porém tentava não pensar muito nisso.

Não sabia como reagir àquilo, mas fez o que o seu coração mandou. Virou-se para a garota e segurou suas duas mãos. Olhou em seus olhos.

— Lembra no ensino médio, quando eu era apaixonado por você…?

Ela riu baixinho e assentiu.

— Claro que eu lembro! Você era um grude… eu nunca vou me esquecer daquela época.

O homem sorriu.

— Isso. Lembra como você era esquentada e espantava os meninos? Acho que eu era um pouco desajuizado, eu era o único que continuava investindo em você.

— Lembro… não era só o meu temperamento, a fama do Michael também ajudava nisso.

Ela riu mais uma vez.

— O que tem, Prince?

— O que tem é que não tem problema ter medo, ok? Todos nós temos… ocultos ou não. Mas agora, mais do que nunca, preciso que seja como aquela garota. Você é forte, ouviu? Muito… Você é uma das mulheres mais fortes que conheço, Luna. Eu vou proteger você, não vai acontecer nada contigo… mas eu também preciso de alguém para me proteger e eu confio em você pra isso… entendeu?

Assim que disse aquelas palavras, o que ganhou da garota foi o mais absoluto silêncio. O olhar azulado de Luna fitou os seus olhos castanhos claros, as mãos dela apertaram as suas, ela havia recebido aquelas palavras com carinho. Discretamente um sorriso se formou em seu rosto e ela lentamente aquiesceu.

— Você sempre sabe o que falar…

Disse-lhe. Prince assentiu em concordância, em seguida lentamente se afastou e voltou a tomar sua bebida.

— Termine seu lanche. Precisamos voltar a procurar o bonitão…

— Vamos voltar a caminhar, pelo menos a gente já adianta. Ai, eu não quero passar mais um dia aqui.

— Então vamos…

Se levantaram e retornaram às calçadas. E foi nesse retorno que, no meio do caminho, Luna segurou um dos braços do cantor e o puxou para perto de si.

— Olha, olha!

Prince logo lhe deu atenção, estavam na frente de uma loja de eletrodomésticos e um programa muito intrigante estava passando nos televisores.

— “Michael Jackson fugitivo… mais uma vez”. Já imagino como Chanhassen deve tá uma bagunça agora.

Disse a garota. O homem fez um movimento negativo com a cabeça.

— Ele não está seguro com as fotos dele circulando por aí. Nós temos que encontrá-lo logo.

— Mas nós já fomos a todos os lugares, Prince! Não tem mais nenhum pra ir! A não ser…!

Seus olhos arregalaram ao contemplar, do outro lado da rua, algumas placas com propagandas infantis. Logo lhe veio à mente a cena na premiação. Michael adorava crianças, ela havia descoberto há pouco tempo. Se ele não estava nos lugares que o Daryl estaria, estava na hora de procurar nos lugares que o Michael estaria.

— A não ser o quê?

— Acho que a gente tava procurando errado. Hum… Vem comigo.

Luna o puxou mais uma vez, estava na hora de tirar suas suspeitas a limpo.

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Do televisor do abrigo, Michael tinha a mesma visão que seus amigos.

Estava assistindo à programação nacional, que falava sobre o seu desaparecimento e divulgava sua foto por todo o país. Por lá, haviam muitas crianças e poucos voluntários, o que deixava a Brooke entretida o suficiente para não prestar atenção nisso.

Todavia, no meio de toda essa confusão, Michael sentiu alguém tocar sua perna.

— Ele é muito legal!

Exclamou Devin, sorrindo. Michael arqueou a sobrancelha e encarou o visor novamente, notando que ele estava falando de uma imagem sua.

— Gosta deste artista?

— Sim! Ele anda pra trás, é muito legal! E ele também já dançou com zumbis e já separou uma briga dançando!

Michael riu discretamente e assentiu.

— Se estivesse com ele, o que você faria?

— Hum… acho que eu pediria pra ele me ensinar o passo pra trás. E depois eu iria querer um autógrafo!

O rapaz sorriu, em seguida voltou a olhar a própria foto na TV. Felizmente não era uma imagem muito recente, permitiu que ele não fosse reconhecido de primeira, mas não podia contar com a sorte sempre, sabia que teria que sair dali logo.

Todavia, o pedido que ouviu do garoto ficou em seu coração.

— Olha, esse é o seu comprovante de doação. Eu só preciso que você preencha alguns dados e assine, ok?

Michael assentiu e foi até uma banca, com a Brooke, para assinar os documentos. Quando ia preencher seu nome, pensou por alguns instantes.

— Eu preciso comprovar os dados? Eu não estou com os meus documentos aqui…

— Não precisa, nós vamos conferir depois, no sistema.

O rapaz aquiesceu, já sabia o que ia fazer. Assim que terminou de preencher, devolveu à mulher.

Ela franziu o cenho.

— Hum? Joseph Daryl?

Michael deu ombros.

— É o meu nome de batismo. O sistema te dirá a mesma coisa.

Disse, confiante. A mulher o encarou com um olhar desconfiado, mas deixou essa passar.

— Tá bom… olha, de qualquer forma, eu te agradeço pelo que está fazendo por essas crianças. Ou melhor… pelas pessoas de St. Peter.

Ela sorriu.

— Nossa cidade não é muito grande, então expandir o abrigo vai fazer um bem à comunidade.

— É o que eu espero. Por favor, me garanta que Devin vai ficar com a mãe.

— Eu garanto. Venha visitá-lo quando puder, não tem nada melhor que ver com os próprios olhos.

Ele sorriu.

— Sim… eu…

— Até que enfim!

Exclamou Luna, correndo até o rapaz. Michael pareceu surpreso, mas a abraçou assim que ela se aproximou.

— Luna! Eu… eu só estava dando uma volta…

— A ideia de ficarmos juntos porque eu vou te levar para Rochester e voltar com a Luna para Chanhassen não funciona desse jeito, você sabe disso.

Disse Prince, chegando logo em seguida. Michael suspirou.

— Eu vou explicar tudo…

— Ahg, já chega, Michael! Você sempre diz isso! A gente vai ter muito tempo pra conversar no carro, mas vamos logo antes que as lojas fechem, queremos alugar um carro antes do sol se pôr.

Agora foi a vez de Luna se enfurecer. Michael revirou os olhos e assentiu.

— Tá, droga. Digo…

Seu olhar buscou o da Brooke, estava a fim de cortar aquele papo.

— Pessoal, essa é a Brooke. Ela é uma voluntária no abrigo de St. Peter.

Brooke parecia um pouco chocada com o que estava vendo ali. Como todos daquela cidade os tratavam como pessoas normais, nem Luna, nem Prince entenderam sua reação.

— Sua amiga não fala muito, Michael?

Indagou Prince. A mulher suspirou em seguida.

— D-desculpa, mas eu… er… Prince?

Aquilo fez os demais arregalarem os olhos. Michael ficou tentando voltar no passado e lembrar se havia dito o nome do cantor em algum momento, mas Prince, que tinha uma memória mais treinada, sabia que seu nome não havia sido citado. Precisaria se esquivar dessa.

Rapidamente se recompôs.

— Meu amor, sou um homem comprometido. Não me chame de príncipe sem a minha autorização, certo?

Luna o encarou de soslaio, chocada com como ele conseguia sair de situações constrangedoras com tanta classe. Brooke arqueou a sobrancelha, mas Michael resolveu confessar.

— Prince… eu acredito nela.

Ele o encarou, como se tentasse lhe convencer. Prince lhe deu um olhar matador, mas nem isso foi suficiente. O rapaz se virou para a mulher.

— Brooke… eu preciso que isso fique entre nós.

— Você é o superstar fugitivo da TV?

Eles ficaram em silêncio. Prince suspirou, em seguida comentou com Luna.

— Me lembre de nunca contar um segredo pra ele…

— Eu… sim. Mas isso não pode sair daqui, ninguém pode saber. Me prometa que não vai contar nada sobre isso, por favor! Nem que estive aqui, nem que Prince ou Luna estiveram comigo.

— E-eu…

Michael suspirou e, em um gesto de súplica, segurou as duas mãos da mulher. Ele a encarou nos olhos com seriedade, e ela sentiu todo o peso daquele pedido. Suas mãos suaram ao sentir o toque aveludado da pele do rapaz, eles estavam próximos o suficiente. Brooke nunca havia se sentido tão pressionada.

— Eu não… eu não prejudicaria você.

Prince e Luna se encararam de canto mais uma vez, após contemplar a cena. Michael suspirou aliviado e sorriu.

— Eu sabia que podia confiar em você, Brooke. Ah, uma coisa… você deve conhecer a cidade melhor do que ninguém, poderia nos ajudar?

— E-eu…

— Ela não quer se meter nos nossos rolos, Michael…

— M-mas… eu posso ajudar sim! É o mínimo que eu posso fazer… O que você quer?

— Preciso que nos diga onde ficam os aluguéis de carros e se você sabe se aceitam alugar para uma viagem pra Rochester.

Brooke mordeu os lábios.

— Não existe esse tipo de serviço aqui, pelo menos não que eu saiba.

— O quê?!

Exclamou Luna, enquanto Prince levou as mãos aos cabelos e suspirou.

— Plano B agora.

— Não há nada parecido? Brooke, precisamos sair daqui e não podemos nos arriscar com os transportes coletivos, vão nos reconhecer.

— E o meu cartão não é ilimitado, eu achei que só usaria para almoçar, não dá pra comprar um carro.

Ela suspirou.

— Bom, vocês só querem um carro, não é? Tem um que usamos para buscar mantimentos da cidade vizinha para o abrigo, mas, com o dinheiro que o Michael doou, acho que podemos nos virar sem ele por enquanto…

— Espera aí, que história é essa de doação?

— Depois eu te explico, Prince. Brooke, você pode nos emprestar esse carro?

Ela o encarou mais uma vez e apertou sua mão com carinho.

— Fique com ele. Se você precisa muito ir, então vá. Nós vamos ficar bem…

Michael retribuiu o gesto, apertou carinhosamente sua mão em resposta.

— Eu vou te devolver um melhor… guarde essas palavras, está bem?

— Eu não queria apressar as juras de amor de Romeu e Julieta, mas a sua cara está em todas as TV's de St. Peter, precisamos ir agora.

— Vamos.

Seguiram em direção à garagem do local.