Mentiras no Jornal

As Buscas - Parte II


13:22 hrs

Prince e Luna partiram em direção ao sinal que o GPS sinalizava. Após alguns minutos carregando, a sua localização exata foi revelada.

— Ele tá em St. Peter.

— Ótimo… é 1 hora daqui. Se pegarmos um atalho, chegaremos logo.

— O que esse idiota foi fazer lá?? Não tem nada pra ver em St. Peter!

Prince suspirou e balançou a cabeça negativamente. Ia comentar sobre a situação, mas sentiu que o silêncio era a melhor das opções no momento, algo dentro de si dizia para tentar entender os motivos dele antes de formular uma conclusão.

Acelerou e tomou os atalhos que havia dito. Chegaram em exatos 40 minutos. Viram, ao longe, uma picape com cabine dupla estacionada no meio do nada.

— Luna… está pronta?

A garota mordeu os lábios, suspirou para aliviar a tensão que estava sentindo. O apito do GPS acabou os despertando de seus devaneios.

Você chegou ao seu destino!

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"Se sorrir com seu medo e tristeza… Sorria, e talvez amanhã…"

Michael cantarolava baixinho, enquanto se acomodava no capô de seu carro e encostava as costas no vidro da frente. Tentava relaxar os músculos, porém sua mente estava a mil. Já havia se passado mais de meia hora e ninguém, até então, chegou ao seu auxílio. Mexia no celular freneticamente, temia que o seu pai chegasse primeiro, até que notou, ao longe, os faróis indiscretos de um carro em tons de púrpura escuro.

Suspirou, estava aliviado.

— Enfim…

Desceu e foi ao encontro deles. Luna foi a primeira a sair, correu e se jogou em seus braços. Michael parecia surpreso, mas retribuiu o seu abraço.

— Você não faz ideia do quão me deixou furiosa! Aahg!!

— Estou feliz em ver você também, Luna, eu prometo que estou!

Ele brincou, rindo em seguida. Prince veio logo depois, o que foi suficiente para o rapaz lentamente desfazer o seu belo sorriso.

— Você veio mesmo…

— Decepcionado?

— Não, só… surpreso. Eu não queria que perdesse seu tempo.

Prince suspirou.

— Depois você chora, tudo bem? Viemos te levar pra casa.

Ao ouvir aquelas palavras, Michael prontamente deu alguns passos para trás.

— Casa? Qual casa? Se está se referindo ao meu pai, pode esquecer. Eu não vou voltar para ele.

Luna se aproximou.

— Você tem que contar pra a gente o que tá acontecendo, Michael… Tudo isso tá uma bagunça!

— Não!! Olha… eu não chamei vocês aqui pra me dar lição de moral! Eu fugi, é meu direito! Tenho 24 anos, não sou um bebê! Ou vocês me ajudam, ou podem ir embora! Eu me viro…

Por um segundo, Daryl parecia ter tomado conta daquela situação. A dupla ficou em silêncio, aquele comportamento agressivo do Michael acabou por despertar, em cada um, lembranças profundas do passado.

Prince suspirou, pela primeira vez - em poucas vezes - deu razão ao rapaz.

— Não viemos te impedir de prosseguir com o plano, tudo bem? Só queremos entender os seus motivos e o que você vai fazer agora.

— Espera… não viemos?

Indagou Luna. Michael revirou os olhos.

— Não importa os meus motivos. É algo entre mim e ele. Vocês não…

De repente, um bip esquisito pôde ser ouvido de um dos bolsos da calça do moreno. Sua expressão mudou, de irritado para estarrecido, e aquilo acabou por preocupar Prince, que disfarçou os seus anseios com apenas um arquear de sobrancelha.

— O que foi…?

— Prince…

Murmurou Luna, lentamente virando-se e contemplando, ao longe, um carro de cor escura se aproximando. Michael, por um segundo, começou a sentir falta de ar, porém tentou controlar sua respiração o máximo que pôde.

— Olha ali… é ajuda?

— Meu pai…

Michael tirou o celular do bolso e o lançou para longe, o máximo que conseguiu. A dupla observou o aparelho cintilar no horizonte até desaparecer do campo de visão. Todavia, já era tarde demais, ele já havia os avistado.

Eles precisavam tomar uma decisão agora.

— Vai pro carro…

Murmurou o homem. Aquelas palavras fizeram com que Michael o encarasse com espanto, Luna com confusão, mas Prince foi incisivo e as reafirmou, resolveu apostar suas moedas nos medos do seu ex amigo.

— Vão pro carro agora, agora!!

Logo, os três seguiram em direção ao Cadillac XLR roxo do cantor. Prince e Michael ocuparam os bancos dianteiros, com o Purple One como motorista. Luna teve dificuldades em abrir a porta traseira, porém, quando conseguiu, ouviu um barulho de tiro e instintivamente abaixou.

— Ele tá armado??!!

Ela exclamou, enquanto se jogava nos bancos de trás. Com os três dentro do veículo, Prince acelerou o máximo que deu e seguiu em frente.

— Não vou ficar pra descobrir isso, se segura!

— É uma boa, uma boa! Vou procurar o cinto de segurança assim que a adrenalina abaixar!!

Ela ironizou, em seguida tentou se ajeitar no banco. Estavam em uma velocidade absurda, felizmente aquele carro tinha capacidade de entrar em uma corrida nada convencional como aquela, porém isso não isentava Prince de ter que tomar o dobro de cuidado na pista, sabia que naquelas circunstâncias um acidente era comum de acontecer e, sobretudo, fatal.

— Michael, se explique, agora… Agora, Michael!

Pressionou, mas só precisou olhar de soslaio que percebeu como aquela situação estava muito mais complicada para o estado de espírito do rapaz do que para si próprio. Luna reparou em como Michael parecia apavorado, estava sem falar por um bom tempo, nenhuma palavra saía de sua boca. Ela logo se aproximou como deu e levou uma mão ao seu peito, acariciou o seu tórax, sabia como ele gostava daquele afago.

— Shh… calma… vai dar tudo certo…

Sussurrou em seu ouvido e, por um instante, Michael se lembrou dos momentos que passou nos braços de Luna quando eram mais jovens. Ele suspirou e tentou descansar a mente, aquelas lembranças o tranquilizaram em poucos instantes. Prince parecia surpreso, embora novamente estivesse tentando disfarçar.

— Muito bem, Luna…

Não conseguiram comemorar. O carro escuro estava bem perto, o motorista acelerou e atingiu o porta-malas do veículo do cantor, que ficou furioso.

— Esse porra arranhou a pintura!

— Prince!

Ele suspirou e passou uma das mãos nos cabelos, não podia perder a classe agora.

— Não dá pra desviar, é uma estrada reta! Só tem mato nos dois lados!

Seguiram em frente. O motorista atrás avançou novamente, propositalmente chocando-se com o porta-malas mais uma vez. Luna resolveu dar uma olhada em quem eles estavam tentando evitar e notou apenas dois homens desconhecidos nos bancos dianteiros.

— Michael, teu pai não tá no carro…

— São os homens dele!

Exclamou, ainda muito nervoso. Ele esfregou os olhos, tentou reordenar os seus pensamentos bagunçados e, então, encarou o volante.

— Isso não vai dar certo, Prince.

— O quê…?

Sem avisar a ninguém, Michael levou as mãos rapidamente ao volante e puxou para sua direita, fazendo com que o carro deslizasse para fora da pista e adentrasse a mata. Prince e Luna sequer tiveram tempo para reagir, o carro avançou violentamente pelas árvores, surpreendendo até mesmo os seus malfeitores, que rapidamente frearam ao perceber o que havia acontecido.

Deslizaram por o que parecia ser um canavial. Felizmente a alta plantação segurou o peso daquele carro, fazendo com que a velocidade diminuísse naturalmente, todavia, não os impediu de resvalar para um lago no meio daquele mato. O carro adentrou, toda a sua frente mergulhou e apenas a traseira ficou do lado de fora da água. Luna era a única na parte seca do carro, mas estava presa e pouco a pouco a água invadia o seu espaço.

Ela não sabia nadar.

— Socorro!! Arg, Prince!!

Exclamou pelo primeiro que veio à sua mente. Prince e Michael estavam na parte onde mais a água invadiu. Seguraram a respiração e tentaram remover os cintos de segurança a todo custo. O primeiro a conseguir foi o Michael, que, logo após, correu ao auxílio do cantor. Assim que se desvencilharam, Prince foi em direção ao painel de controle daquele carro e buscou o botão que retraía o teto, era o caminho mais rápido e fácil para se libertarem sem muito esforço.

Dito e feito. O teto se abriu e Michael avançou sobre Luna, que estava desesperada no meio de tanta água. A puxou para fora com todas as suas forças e, pouco tempo depois, os três estavam de volta na superfície.

— L-Luna… Luna, você está bem?

A garota tossia freneticamente, estava desesperada por ar fresco. Ele deu algumas batidinhas nas suas costas e a deixou respirar enquanto, um pouco mais distante, Prince tomava consciência do que havia acontecido.

Lentamente levou as mãos até a cabeça ao ver o estado do seu carro. Na traseira do veículo, era perceptível uma pequena marca de tiro próximo ao pneu, pelo visto estavam realmente armados, mas não tinham a intenção de matar. Querendo ou não, Michael ainda era muito rentável para isso.

— Meu carro…

— Prince!

Michael interrompeu os seus devaneios e o puxou, junto com a garota, para próximo de uma plantação. Permaneceram escondidos, em silêncio. Os homens de Joe Jackson se aproximaram para conferir o estrago. Quanto mais se aproximavam, para mais longe Michael discretamente os puxava, os levando para um ponto mais seguro daquele pequeno canavial.

Após estarem longe o bastante, seguiram pela saída daquele matagal e reencontraram a pista.