Paisley Park, Chanhassen - 09:12 hrs

— Não, eu não sei onde ele está. Também não. Eu sei, eu sei, mas não. Nós não estamos grudados, okay?

Prince caminhava de um lado para o outro, no grande estúdio de Paisley Park. Ele adorava iniciar seus trabalhos logo de manhã após um bom chá quente, mas, infelizmente, isso seria impossível naquele dia. Todos os telefones da residência não paravam de tocar, os funcionários estavam agitados e só havia uma coisa na TV: a fuga repentina e misteriosa do mais recente artista pop, Michael Jackson.

— Eu não sei! O que acha que eu sou, o amante dele?! Por que ele me diria o motivo??

— Prince!!

Jones Jr. adentrou ao recinto. Prince só teve tempo de se virar e dar de cara com um homem agitado e alterado, enquanto, logo atrás dele, Joe Jackson o acompanhava, um pouco menos abalado.

— Quem deixou você entrar?

— Você foi o último a falar com ele naquele dia. Vamos, me diga o que vocês conversaram, me diga agora! Isso é questão de vida ou morte!

Prince revirou os olhos, não parecia nada abalado, nada nervoso, ele sabia controlar muito bem suas emoções, embora também estivesse preocupado com o cantor.

— Fazem quantos dias que conversamos? Três? Quatro? Vai me dizer que um artista do nível do “senhor Jackson” não conversou com mais ninguém além de mim?

Jones suspirou, parecia não querer falar muito sobre isso.

— Ele é recluso… bom, Joe me garantiu que ele não conversou com mais ninguém além de você.

— E o senhor Joe poderia nos dizer como tem tanta certeza? Uma vez que o filhinho dele é maior de idade e é um cidadão livre, presumo eu.

Provocou o rapaz, enquanto lentamente inclinava o corpo para observar Joe Jackson, imponente, alguns passos atrás de Jones. Ele não se moveu, não parecia abalado com suas palavras.

— Pare com isso, Prince, deixe de ser infantil. Me diga logo qual foi o teor da conversa de vocês, se há alguma coisa que pode nos dar uma pista, se Michael estava estranho naquele dia, me diga! O que você quer? Que eu implore??

Prince sorriu e cruzou os braços.

— Talvez… seria divertido. Mas, sendo sincero, não tenho nada para falar. Eu o conheci naquele dia, Jones, por favor…

Revirou os olhos.

— Por que você acha que ele ia desabafar comigo sobre alguma coisa?

De repente, a sala ficou em silêncio. Prince podia estar mentindo, mas o havia feito muito bem, não confiava naqueles homens. Jones suspirou, já vencido.

— Me avise se tiver notícias dele.

Se retirou sem dizer mais nada. Prince os observou ir por tempo suficiente para flagrar Joe lhe atirando um olhar assassino antes de deixar a sala. Ele era tão enigmático quanto o filho, mas, diferente do Michael, sua aura era pesada e sua presença era sufocante.

Suspirou e relaxou os ombros. Seu semblante mudou de imponente para preocupado, ele conseguia disfarçar para as pessoas, mas não para si mesmo: Prince estava muito preocupado com Michael. Pensou sobre onde ele poderia estar, quando seus devaneios foram cortados pelo toque ensurdecedor de seu celular.

— Agh!

Exclamou, havia levado um susto. Pegou o aparelho e atendeu, retornou a andar de um lado para o outro.

— PRINCE!!

— Ei, ei, calma! Luna, o que houve?

— Como assim?? Você viu a TV hoje, não viu?? Não se fala de outra coisa!!

Ele suspirou.

— Eu sei, o desaparecimento dele.

— Prince, ele fugiu mesmo. Ele te falou pra onde ia??

— Não, mas disse que já estava com parte da fuga planejada, provavelmente já tinha em mente um lugar pra ficar… Olha, ele me disse umas coisas, preciso me encontrar com você, aqui não é seguro enquanto esses homens estiverem rondando Paisley Park.

— Tem gente rondando sua casa?

— Os homens do Jones e do amiguinho dele. Conversei com eles hoje e… sinceramente, estou começando a pensar que realmente havia motivos pra tudo isso.

— Droga, Prince…

— Ei, sem “droga” e “Prince” na mesma frase, não é bonito.

Luna quase deixou um riso escapar, mas se conteve rapidamente.

— Ah, Prince, não brinca! Olha, tem como você vir aqui em casa hoje? Ou a gente se encontra em algum lugar...

— Eu vou pegar o meu carro e vou te buscar, okay? Quero o máximo de discrição nisso.

— Eu também. Vou te esperar.

Se despediram. Prince suspirou e se sentou na cadeira mais próxima, era acostumado com saltos, mas, naquele dia, havia andado tanto de um lado para o outro que seus pés simplesmente doíam. Mal havia começado o dia e já estava torcendo para encerrá-lo, Michael havia deixado a manhã da América inteira de cabeça para baixo.

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12:58 hrs

Era horário de almoço quando Prince, enfim, chegou à casa da garota. Após isso, passaram em um dos restaurantes de luxo que o rapaz costuma frequentar, dificilmente uma orla de fãs invadiria um local como aquele e eles poderiam comer sossegados.

Todavia, a situação do momento havia embrulhado o estômago dos dois. Luna apenas cutucava a comida, como se estivesse brincando, enquanto Prince se contentava em beber sua taça com água.

— Prince, o que ele disse pra você?

Ele suspirou, finalmente a conversa teve início.

— Michael estava com metade do plano já feito. Acredito que ele já tem um lugar pra ficar, mas não faço ideia se mais alguém está o ajudando ou se ele está dando a cara a tapa.

— Ele sempre foi impulsivo… quer dizer… o Daryl sempre foi.

Agora foi a vez dela soltar um suspiro.

— O que aqueles caras queriam na sua casa?

— Não sei… estavam estranhos. Olha, eu já divergi muito com o Michael nessa vida, mas o jeito que aqueles homens se comportaram me fez ficar um pouco do lado dele. Foi muito estranho…

— Estranho como?

Prince moveu um pouco os ombros e buscou sua taça mais uma vez, parecia estar pensando nas palavras certas.

— Estavam tentando me pressionar, mas sou mentalmente treinado para isso. Tratavam Michael como se fosse um bicho de circo. Por um segundo, realmente me passou pela cabeça que ele vivia acorrentado e só era liberto para fazer os shows.

— Merda…

Murmurou a garota, parecia estar levando todo esse estresse com menos controle emocional que ele. Prince arqueou a sobrancelha, agora tinha outra pessoa com quem se preocupar.

— Fique calma. Ele é adulto, sabe se virar.

— Eu vi nos jornais que ele levou o carro e os cartões do banco. Ele vai ser encontrado de alguma forma ou outra, mas me preocupa…

Ela o encarou, os grandes olhos azuis invadindo o seu olhar.

— E se ele tiver um bom motivo pra fugir? Sabe… e se voltar acabar sendo mesmo… pior?

Aquela pergunta os deixou em silêncio por alguns segundos. Aquilo era uma indagação assustadora de se fazer e Prince sabia muito bem disso. Havia, sim, um lado obscuro na indústria da fama como um todo, um lado que ele se recusava a se aprofundar, apenas lutaria para permanecer o mais distante possível dessas rédeas.

De repente um celular tocou mais uma vez, assustando o casal. Luna suspirou e o buscou em sua bolsa, dessa vez era o seu.

— Odeio esses trecos…

— Alô?

Luna? Oh, ainda bem, você não mudou o número há cinco anos. Fiz bem em tentar você…

Aquela voz suave fez os olhos azuis da garota, que já eram grandes, ficarem ainda maiores. Ela encarou Prince com espanto, que não entendeu o que estava acontecendo até que ela puxasse os fones de ouvido da bolsa e conectasse para ambos ouvirem a conversa. Mesmo em um ambiente particular, era muito arriscado ligar o viva-voz.

— Michael??

Oi, er… desculpa ligar agora, mas foi o único número que eu tinha decorado. Eu perdi toda a minha lista antiga...

— Você acha que eu me importo com isso?? Eu quero saber onde você tá! Me diga agora!

Mesmo Prince se surpreendeu com a forma como Luna estava conduzindo aquela conversa. Ele resolveu intervir.

— Michael, você está encrencado, você sabe disso.

Prince?

Ele suspirou.

— O próprio.

Se eu quisesse falar com você, teria te ligado.

— Vai tentar mesmo me provocar? Você só está perdendo seu tempo.

— Gente, para! Michael, por favor, volta. Tá todo mundo preocupado com você…

Eu sei, eu sei… eu não quero falar sobre isso, tudo bem? Liguei pra você porque preciso de ajuda. Você pode me ajudar?

— Diz…

Meu carro quebrou, e… eu não sei exatamente onde eu estou. Eu posso te mandar a minha localização, mas esse sinal vai chegar no meu pai também, então eu preciso que você me mande ajuda depressa.

— Me diga onde você está, nós vamos aí.

Prince interviu novamente. Luna o encarou com incredulidade.

— Nós??

Você está brincando? Você não tem um álbum novo pra lançar ou uma turnê pra fazer?

— Sim e sim. Me agradeça depois. Estaremos esperando seu sinal.

Prince desligou o celular. Luna quase o estapeou, mas ele foi mais rápido e levou o indicador aos seus lábios carnudos, a fazendo se calar.

— Ele precisa de ajuda, e se ele quer ajuda, ele vai ter do nosso modo. Não podemos deixar brechas para que ele possa escolher as condições.

Luna custou a responder, porém só lhe vieram palavras à mente quando um tilintar da notificação entoou e a localização do cantor apareceu no GPS do seu celular.

— Uau, você é esperto…

— Eu sei. Vamos.

Mal terminaram a refeição. Prince pegou seu casaco, pagou a conta e partiu com a garota em direção ao carro.