Estava em uma sala, branca e infinita. As doze de pé, estavam nuas, com apenas uma venda cobrindo os olhos, com os rostos abaixados. Mas ela conseguia ver como se nada a cegasse.

A Madre as indicava uma a uma para o príncipe, que as observava minuciosamente. Quando ela achava que não havia mais o que observar, ele mudava seu ângulo de visão. Reparava em tudo, em seus lábios, em seus seios, em seus quadris, em suas nádegas, em suas vulvas. Sua atenção aos detalhes parecia infinita, tal como a distância entre ambos, mesmo que ela ainda sentisse sua presença tão próxima.

Mas sua concentração havia sido voltada para a presença que sabia que era o cavaleiro em suas costas. Segurando-a pelo pescoço, ele a puxou para perto e sussurrou em seu ouvido.

— Essa é a pior decisão que já tomou.

E a jogou no chão.

Enquanto sentia pontadas doloridas do verdadeiro significado de luxuria, viu várias das meninas a sua volta incharem até explodirem.

Então Madelyn acordou. Completamente encharcada. Por baixo das cobertas e do fino tecido da camisola, sentia pulsar.

Sonhos como esse estavam se repetindo fazia mais de uma semana. Desde do dia que pegara o irmão do príncipe transando com uma mulher na biblioteca. Deveria ter ido embora assim que viu, mas algo a segurou ali até o final. A primeira coisa que ela deveria ter feito seria se confessar para o cardeal, mas temeu que algo de ruim pudesse ocorrer com o Sor. E principalmente com a moça.

Quem seria ela? Provavelmente era alguma funcionária do palácio, duvidava que deixariam alguém de fora entrar no palácio. Mas talvez o príncipe tivesse autorizado. Ela não sabia.

O silêncio da noite, a porta do seu quarto rangeu enquanto abria. Ela precisava andar. Precisava se livrar daqueles pensamentos.

A luz lua cheia invadia os corredores, o que permita Madelyn enxergar, mesmo com as luzes apagadas. Para onde iria? Não podia ir para os jardins, era estritamente proibido saírem do castelo após o anoitecer, ao menos que o príncipe autorizasse, mas ele também quase não interagia com as meninas desde o ensaio. Mesmo que oficialmente a Rainha devesse ser a regente quando seu marido não estava, boatos corriam por toda nobreza que Celine era pouco apta para isso e quem assumia esse papel era seu filho. Pelo o que ela precisava no palácio, isso era aparentemente verdade. Sebastian ficava muito no escritório do pai. Madelyn se perguntava do porquê disso.

Ela precisava ir para algum lugar. Não podia ficar vagando por aí. Algo a guiou para a biblioteca. Talvez fosse porque lá que começou tudo isso. Talvez seja apenas o destino sendo sádico.

Uma luz fraquíssima saía da pesada porta dupla da biblioteca. Porta de madeira nobre guardando séculos de conhecimento.

Afaste-se dessa porta, Madelyn.

Ela abriu a porta e adentrou o local. Milhares, não, milhões de livros estavam perfeitamente guardados nos dois andares que a biblioteca ocupava. E nem era todo acervo da família real. Tinha ainda a parte restrita no 3° andar. Nem o terceiro andar em si elas podiam ir. Apenas a monarquia e alguns funcionários escolhidos a dedo. Mas só a família real podia entrar nessa parte. Lá tinha tudo o que era documento confidencial. O escritório do rei tinha uma porta que ligava diretamente ambos.

A luz vinha da parte mais baixa do quarto. Tinha alguém sentado em uma da dezena de poltronas lendo algo.

Não desça essas escadas, Madelyn.

Ela desceu. Seus pés descalços quase não faziam barulho quando tocavam os degraus.

A pessoa que ali com ela estava com certeza era um homem. Tinha tronco largo e pernas cumpridas.

Não chegue mais perto, Madelyn.

Aproximou-se e viu que era o irmão do príncipe, Wolfgang. Não estava usando o uniforme da Guarda, mas sim uma camisa de botão branca simples, muito mais folgada do que a azul que usava com o terno. Os primeiros botões também estavam abertos, o que deixava alguns pelos ruivos escaparem. Ele lia “O Amor Do Ser Humano Pela Guerra” de Denker Dichter, filosofo erdês.

Não. Não. Não. Não. Não.

— Não deveria estar dormindo, senhorita? — disse ele quando notou a presença dela. A luz amarelada do abajur no meio daquele breu deixava seus olhos em tom divino, pelo menos ao olhar de Madelyn. Noite desestrelada e sem luar.

Sim, ela deveria estar na cama.

Tão de perto, ela também conseguia ver uma fina cicatriz no canto direito de seu queixo, que tinha alguns curtos pelos acobreados de barba.

Vadia tola.

Então observou seus lábios e não resistiu.

— Mas que porra...? — Ele falou, colocando sua mão entre os dois