Menina Delivery

Capítulo 3 – Um dia quase perfeito/ O que?!


Luna e Simón estavam caminhando pelas ruas de Cancún naquele ensolarado início de tarde. A jovem estava rindo de uma piada que seu amigo lhe acabara de contar. Simón nunca foi muito bom com piadas, a única pessoa que ria das mesmas era Luna. Este era outro detalhe que a tornava ainda mais especial para ele.

Os dois estavam tomando sorvete quando se sentaram em um dos bancos da imensa praça.

— E então, está curtindo seu dia? – Ele perguntou se esforçando para não deixar o sorvete, que já estava derretendo devido ao calor, cair.

— Muito! A verdade é que o dia está sendo incrível – ela respondeu sincera e sorrindo. – Obrigado Simón, de verdade. Me fez esquecer o dia horrível de ontem.

Depois de alguns segundos em silêncio ela começou a rir sozinha. Simón a olhou curioso, sem entender:

— Escuta – ela falou sem conseguir parar de rir – sabe o que minha mãe me perguntou ontem? – Ele balançou a cabeça negativamente, em resposta. Ele já estava começando a rir, contagiado por Luna – Ela me perguntou... É que é muito engraçado

— Fala logo, Luna!

— Ela me perguntou se entre você e eu rola algo mais. Não é louco?! – O sorriso do mexicano desapareceu, mas a risada de Luna só aumentou.

— Ah, a Mônica perguntou isso? – Se virou para jogar no lixo o papel que veio ao redor da casquinha do sorvete.

— Sim. Como se não fosse óbvia a resposta! Digo – encostou nas mãos do amigo de novo – nós dois somos amigos. Melhores amigos. Você me entende como ninguém, me apoia e é única pessoa que tem o dom de me fazer rir mesmo em meus piores momentos. É a pessoa mais especial que existe na minha vida, depois dos meus pais. Seria MUITO estranho se nós fossemos outra coisa, não? Tipo, de outro mundo! – Como Simón não respondeu nada ela continuou, depois de limpar a boca – Você não acha?

— Claro... É claro, Luna, mas tá ficando meio tarde, é melhor a gente voltar, não? – Perguntou já se levantando.

— De jeito nenhum! – Ela se pôs em pé também. – Nós ainda temos muito a fazer pela cidade e eu quero ouvir aquela música que você fez para mim, de novo!

— Mas Luna, eu nem estou com o violão aqui – argumentou. Mas Luna não era do tipo que se dava por vencida tão facilmente

— Isso não é problema. Ainda estamos no meio da tarde, podemos ir até a sua casa e lá você canta para mim.

Sem nem sequer deixar sem amigo responder algo, já saiu arrastando-o por Cancún. Eles foram em vários lugares, visitaram o museu, tiraram fotos...

Simón estava se esforçando para manter o bom humor e fazer de conta que as palavras proferidas por Luna não o afetaram. Ele queria poder se sentir da mesma maneira que ela, mas não se sentia. Ele já não a via como uma simples amiga há muito tempo. Em compensação, Luna, jamais conseguira olhar ou sequer imaginar Simón com outros olhos. Eles eram amigos, certo? Seria tipo a coisa mais estranha do mundo se fossem outra coisa, não? A princípio, até ele concordava com isso, mas com o passar do tempo, aquele sentimento que lhe parecera irrelevante foi tomando dimensões mais amplas. Amplas demais para poderem ser controladas agora.

***

Ao fim do dia, os dois amigos estavam voltando da casa de Simón para a casa de Luna. Ao chegarem na porta, se despediram com um abraço e um “Até amanhã”.

Quando entrou, seus pais estavam na cozinha:

— Oi papai, oi mamãe! – Os cumprimentou sorridente dando um abraço em cada um – Eu vou lavar as mãos e já venho para o jantar, OK?

Seus calcanhares já até haviam se virado para seus pais e ela se pôs de costas, mas sua mãe a fez voltar:

— Luna! – A chamou.

— Sim?

— Nós temos um assunto muito sério para conversar com você – falou Miguel se sentando. – É melhor você se sentar também. – A menina o fez.

— Como você sabe – ele começou – sua mãe e eu estávamos procurando um emprego melhor, já faz um tempo – ela assentiu. – E agora... – ele olhou para Mônica suspirando e ela lhe passou um olhar confortante – nós conseguimos.

— Sério? Sério, pai? Que bom! Estou tão feliz! – Disse os abraçando alegremente. Sabia da preocupação de seus pais, então ficou muito contente com a notícia. Jamais imaginara que o que viria a seguir, destruiria seu mundo.

— Mas não é só isso. Sente-se por favor – pediu Miguel mais uma vez e ela se sentou confusa. – Para trabalharmos nesse emprego, sua mãe e eu... – Ele não conseguiu dar a notícia. Mônica levava mais jeito para isso – Mônica, pode terminar de contar, por favor?

— Claro querido – ela apertou a mão de Miguel levemente. – Luna, querida, o problema é que... O emprego é na Argentina. E nós temos que ir morar lá.

— O que?! – Exclamou Luna incrédula, se levantando da mesa com certa agressividade.