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Capítulo 4 – Despedidas


Luna estava trancada em seu quarto, abraçando seu travesseiro, enquanto um choro que parecia interminável não parava de escorrer em seu rosto.

As palavras de Mônica não paravam de ecoar em sua cabeça: “O emprego é na Argentina. E nós temos que ir morar lá. “ Aquele era seu pior pesadelo.

Todas as tentativas de Mônica e Miguel foram falhas em tentar convencer sua filha de que não seria tão ruim mudar de país.

“ – Mas você vai adorar Buenos Aires. É uma cidade linda! – Falava Mônica tentando convencê-la.

Mas eu amo Cancún! – Declarou em contrapartida. – Minha escola está aqui, meus colegas estão aqui, meu trabalho... O Simón está aqui, mãe! Minha vida está aqui. Será que vocês não entendem?!

Meu amor, eu tenho certeza de que você vai se adaptar lá. Fará novos amigos, terá uma escola nova incrível, conhecerá novos lugares – Miguel disse com sua maneira terna.

Isso – Mônica concordou. – Além disso é uma oportunidade única para nós. É uma mansão linda, você vai estudar no melhor colégio do país, e seremos muito bem pagos.

Oportunidade única para vocês! Não estão pensando em mim, na minha felicidade... Na minha vida! Eu não quero amigos novos, nem conhecer novos lugares, e tampouco me interessa o dinheiro ou estudar em lugar cheio de mauricinhos e patricinhas! Não posso acreditar que sejam tão egoístas. ”

Ela não podia acreditar no quão egoístas seus pais estavam sendo. Eles não ligavam para a felicidade dela?

Era óbvio que Miguel tinha razão. Ela iria se adaptar à nova cidade, nova escola, nova casa... Quem sabe até farias novos amigos. Mas naquele momento ela não queria pensar nisso. Ela só podia ver essa mudança como seu pior pesadelo.

Para amenizar sua dor, Simón – finalmente – estava retornando as duzentas chamadas que Luna deixara em sua caixa postal. Ela logo atendeu:

“ – Como assim você vai se mudar para Buenos Aires?! – Simón indagou após Luna lhe informar a “bomba”.

Sim Simón, é horrível, não é? E o pior é que eles parecem nem sequer se importar com a MINHA felicidade. Com o que EU quero.

Mas Luna, como você vai embora?! E o colégio, o Foodger Wheels... E nós?!

Simón estava tão indignado quanto Luna. Para os dois, a notícia era simplesmente INACEITÁVEL.

Eu não sei... A pior coisa que eu posso imaginar é estar longe de você. Eu realmente não sei o que fazer, não sei – confessou afundando a cabeça no travesseiro.

Quando vocês vão?

Eu não sei. Fiquei tão brava que nem quis escutar...

E você tem certeza de que não podemos fazer nada para mudar a decisão da Mônica e do Miguel?

Eu acho que não. Eles estão tão cegos com a ideia de que o emprego paga bem, e é em uma mansão enorme e que eu vou estudar no melhor colégio do país...

Espera, o melhor do país? – Simón a interrompeu

Pois é. Mas se esqueceram de que eu não ligo para nada disso. Pode crer no quão egoístas eles estão sendo?

Bom Luna, o melhor que você pode fazer agora é dormir para descansar e se acalmar. Amanhã nós procuraremos uma solução juntos, OK?

Sim. Eu te adoro amigo. Durma bem!

Eu também. ”

***

Uma nova manhã de quinta-feira se iniciou na cidade de Cancún e como de costume, Luna se levantou cedo e se arrumou para mais um dia de trabalho no Foodger Wheels.

Tchau pais! – Falou mal olhando para eles e já se virando em direção à porta.

Ei Luna! Aonde vai? – Perguntou sua mãe

Para o Foodger Wheels, ué.

Mônica ia falar algo, mas Miguel a impediu:

Deixa ela ir, Mônica.

Mas...

É melhor mesmo.

Por que? – Os olhos de Luna se estreitaram.

Para se despedir – falou Miguel quase num sussurro, pois já imaginava que a reação de Luna não seria das melhores.

Por que? Quando nós vamos para Buenos Aires? – Perguntou, mas era óbvio que tinha medo da resposta.

Amanhã à noite.

Miguel abaixou a cabeça, porque quis evitar ver a expressão de decepção que se formara no rosto de Luna. Ela mal conseguiu dizer uma palavra, tudo só estava piorando. Então, apenas saiu correndo atrás de Simón.

***

Simón! Simón! – Ela gritava se aproximando do amigo.

Luna, o que aconteceu? – Perguntou preocupado

É tudo muito pior do que imaginávamos. – Ele não entendeu. – Eu vou embora amanhã, Simón. Amanhã!

Ele ficou estático. Sem reação. Agora não era só o mundo de Luna que estava desabando, mas o de Simón também. Mas ele tinha que ser forte, e sabia disso. Precisava ter a força suficiente para animar sua amiga.

Bom... Não se preocupe. Vamos! – Disse a puxando.

Vamos para onde? E o Foodger Wheels?

Luna você acha mesmo que eu vou perder o meu último dia com você? De jeito nenhum!

Mas e a Soraia...

A Soraia que se vire! – A interrompeu. – Nada e nem ninguém no mundo vai me impedir de disfrutar desse dia com você. Nada!

Com a decisão tomada, ele saiu em um dia de lembranças com Luna. Semelhante ao anterior. Se divertiram, tomaram sorvete, almoçaram... Mas tudo só estava fazendo Luna perceber mais ainda o quanto sentiria falta de Cancún.

Terminaram o dia na casa de Simón, com ele cantando-a “Valiente” de novo.

Mônica ligou e avisou que ela teria que voltar para arrumar as malas.

***

Sexta-feira, 20:30 da noite. Cancún - México

Aeroporto Internacional de Cancún, México

Simón, eu não quero ir, eu não quero te deixar, sério mesmo. – Luna despejava palavras sem parar enquanto segurava com força nas mãos de seu melhor amigo.

Os olhos de ambos estavam marejados, mas Simón lutou para botar um sorriso no rosto para confortar sua amiga.

Não se preocupe, Luna. É como eu te disse ontem, isso não é um “Adeus”, é um “Até logo”. A gente vai se ver mais rápido do que você imagina. Eu prometo.

Eu te amo, amigo – ela o abraçou.

Eu também, amiga – ele disse a última palavra com pesar e afundou o rosto em seus cabelos castanhos.

Querida, é o nosso voo. Nós temos que ir – Miguel chegou fazendo os dois se separarem. – Até mais, Simón.

Até mais Sr. e Sra. Valente – disse apertando as mãos dos dois.

Então, Luna e Simón trocaram um último aceno, e ela subiu no avião.

Uma nova etapa começava na vida de Luna Valente.