Menina Delivery

Capítulo 2 – Valiente


— Então, foi isso o que aconteceu – Luna terminou de contar todos os acontecimentos de seu dia para Simón, como de costume. Apesar do tom triste de sua amiga, ele estava rindo. – Ei! Não ria, Simón. Não tem graça... E além de tudo, ainda levei aquela bronca enorme da Soraia por ter chegado atrasada e molhada.

— Luna você não tem que se preocupar, porque a vida é assim. Todos temos dias bons e dias ruins – fez uma pausa. – Além disso, amanhã é nossa folga e nós vamos passar um dia maravilhoso, pra você poder esquecer tudo de ruim que teve hoje. – Viu um sorriso nascer em sua melhor amiga. Nada o deixava mais feliz que isso. Vê-la feliz.

— É sério, Simón? Sério mesmo? – Perguntou entusiasmada e ele assentiu. – Obrigada Simón. Você é o melhor amigo que alguém pode ter – disse de maneira carinhosa enquanto o abraçava.

Qualquer amigo ficaria feliz em ouvir isso, mas ele não. E como poderia? Estava apaixonado por ela.

Sim, Simón estava apaixonado por sua melhor amiga e já fazia um tempo.

— De nada. E agora, eu quero que você escute uma música que eu fiz para uma pessoa muito especial... – Falou pegando o violão.

— Ah, sim?

— Sim. É sobre... É sobre uma garota forte, guerreira, cheia de vida, decidida, boa... – Até então ela não tinha certeza sobre quem era, mas com as próximas dicas era impossível não saber.- Ama patinar – os dois se olharam e riram –, tem sonhos loucos, mas eu sei que vai conseguir realizar todos, porque ela que é tão, mas tão valente, que tem “valente” até no nome. – Ficaram um tempo se olhando sem dizer nada. Naquele momento não sabiam se foram segundos ou horas, mas fora algo. Simón puxou a nota G (Sol) e começou a cantar:

Siempre vas rodando en la vida
Y te ves tan decidida a buscar la luz que hay en todo
A cambiar el mundo a tu modo
Sé muy bien que eres valiente
Y luchas por lo que sientes
Una canción siempre va contigo para abrir nuevos caminos

Vas a crecer, vas a despertar
A descubrir para deslumbrar
En busca de tus sueños
Tienes el valor y vas a volar
Vas a sentir, vas a encontrar
Vas a vivir para demostrar
Que eres tan valiente
Todo lo que quieras lo podrás alcanzar

Ele cantava intercalando os olhares entre os olhos verdes – que mal se dava para notar, já que já era noite – e o braço do violão para ter certeza de que não erraria as notas. Cada palavra era verdadeira e tinha emoção e sentimentos. Os sentimentos de Simón por Luna, como ele a enxergava. Sem nenhuma mentira.

Apesar de olhá-lo com um sorriso, o olhar de Luna não tinha a mesma emoção que o de Simón. Havia carinho, agradecimento... Mas não era como alguém apaixonado.

Ao terminar, recebeu vários aplausos da amiga.

– E ai, gostou?

— Eu adorei, Simón. De verdade é linda – respondeu do jeito dela. Jeito que ele amava.

Antes que pudessem continuar sua conversa, o celular de Luna tocou. Era Mônica sua mãe. Ela atendeu.

— Bom, eu tenho que ir... Mas eu adorei a música, de verdade – pegou as mãos do mexicano um pouco mais velho que ela – E saber que foi feita para mim é incrível. Você é incrível, amigo – disse e deu um beijinho em sua bochecha. – Até amanhã, hein?

— Até amanhã, Luna. Se cuida! – Falou acenando com um sorriso no rosto enquanto a via se distanciar.

***

Casa dos Valente

— Luna, o que aconteceu com a sua roupa? – Perguntou sua mãe, entrando em seu quarto.

— Ai mamãe, é uma longa história... – Disse de maneira cansada.

— Mas você está bem? – Ela assentiu. – E... Estava com o Simón, não é? – Se sentou na beira da cama. Luna mais uma vez assentiu, mas agora com um sorriso.

— Sim. O Simón é um amigo incrível! Ele escreveu uma música para mim, pode acreditar?

Mônica se surpreendeu com a notícia. Ela era mãe e era uma mulher experiente. Já fazia certo tempo que ela começou a perceber os sentimentos a mais de Simón por sua filha.

— Uau. É mesmo? – Ela parou por um segundo e se perguntou se realmente deveria perguntar aquilo. – Tem certeza que o Simón é só um amigo? – Notou a confusão na face de Luna – Digo, tem certeza de que não é nada mais?

— É claro que tenho, mãe! Pode falar pro papai se tranquilizar porque o Simón é só um amigo.

Luna era muito inocente. Principalmente sobre isso. A questão era se isso era bom ou ruim...

— E para ele você também é só uma amiga?

— Como assim? – Ela ficou confusa mais uma vez.

– Nada – Mônica se levantou sorrindo. – Eu estou falando demais. É melhor você dormir, porque amanhã é sua folga e deve aproveitar o dia. Boa noite, filha – disse a cobrindo com o cobertor.

— Boa noite, mãe. Te amo. – Após responder um “Também te amo” para sua filha, foi dormir.

Luna logo adormeceu e mais uma vez sonhou com patinar e com a pista. Ela amava patinar, esse era seu sonho, mas seus pais – principalmente sua mãe – preferiam que ela mantivesse os pés num par de tênis ou no chão.

Simón a incentivava, mas não queria vê-la decepcionada caso não conseguisse, então a incentivava, mas também a ajudava a manter os pés em terra firme e não ficar apenas “voando”.

Horas depois, o dia amanheceu e Luna se levantou com toda a energia para se divertir o máximo possível com seu melhor amigo. Tinha certeza de que seria assim.