Menina Delivery

Capítulo 11 – Você vai participar da competição sim!


“O que o mauricinho está fazendo aqui? ”se perguntou. Em sua face parecia estar desenhado um sinal de interrogação. Os lábios de Matteo, porém, desenhavam um lindo – e debochado – sorriso.

— Oi, menina delivery.

— Mauricinho, o que faz aqui? A Ámbar não está e...

— Eu sei – ele a interrompeu. – Por isso eu vim.

A confusão nos neurônios de Luna só piorou. Se ele não estava ali para ver Ámbar, por que estava? Tinha ido ver a menina delivery?

— Então diga – cruzou os braços e voltou a ser a prepotente com Matteo – o que quer? – Ele riu.

— Meu assunto também não é com você – encostou o dedo indicador levemente no nariz da garota. – Com licença – entrou. – Sua mãe está?

“Oi????”

— O que você quer com a minha mãe? – Antes que Matteo pudesse responder, ela continuou – Olha mauricinho você já me causou problemas demais, vai embora – disse já o puxando pelo braço em direção a porta. Ele, entretanto, se soltou e despreocupadamente se sentou em uma das cadeiras que haviam em volta da mesa da cozinha.

— Negativo, menina delivery. Eu não saio daqui enquanto não falar com a sua mãe.

Luna ficou sem reação. Matteo era realmente impossível. Mas antes que ela o pedisse para ir embora outra vez, era tarde demais. Mônica chegara:

— Luna, quem é esse menino? – Ela mal teve tempo de apresenta-lo. Ele mesmo se pronunciou.

— Você é a mãe da Luna? – Respondeu que sim, sem entender muito bem. Balsano apertou sua mão em forma de cumprimento. – Precisamos conversar.

***

Casa do pai de Nina

Ricardo – pai de Nina – e um viciado em vídeo games estava jogando, quando Nina se sentou ao seu lado no sofá.

Ela não conseguia parar de pensar no convite de Gastón. E se perguntava se a decisão de ter recusado tinha sido a certa. O “E se? ”não saia de sua cabeça. E se ela tivesse aceitado? O que aconteceria? Talvez, nesse exato momento, ela podia estar se lembrando de como fora bom sair com Gastón...

Seus pais eram divorciados, então as vezes ela ficava na casa de seu pai e as vezes na de sua mãe.

— E ai, se anima a jogar? – Ela sorriu timidamente. – Mas claro, só se for para perder! – Rindo da graça de seu pai, pegou o outro controle e juntos iniciaram a “Batalha dos Séculos”.

***

Casa do Gastón

Gastón estava em seu quarto. Estava sem fome e por isso não desceu para jantar. Decidiu iniciar uma nova leitura entre os milhares de livros que haviam em sua prateleira. Quem imaginaria que o segundo menino mais popular da escola na verdade gostava de coisas “nerds” como ler? E que não, ele não dedicava todo seu tempo a conquistar o maior número de garotas na escola?

Enquanto passava a ponta do dedo sob seus livros, parou no que tinha visto com Nina e se lembrou da ocasião. “Legal, uma menina que gosta dos mesmos livros que eu ”pensou. Um sorriso se formou em seu rosto.

***

Mansão Benson

— Menina delivery, pode nos deixar a sós? É que essa é uma conversa de adultos.

— Eu não vou te deixar sozinho com a minha mãe, mauricinho. Te disse para ir embora!

— Luna, por favor. Nos deixe a sós querida. Está tudo bem – Luna fez o que sua mãe pedira, contra sua vontade.

— Prazer – estendeu a mão novamente. – Eu sou Matteo. Estudo no mesmo colégio que a Luna.

— Mônica – apertou a mão do garoto ao se apresentar. – E o que precisamos conversar?

— É muito sério – disse com seriedade. – Fiquei sabendo que você não deixou a Luna participar da competição e gostaria de saber o porquê.

Ela sorriu ao escutar aquilo. Que ousadia era aquela? Um adolescente – que ela nem conhecia – ia querer se intrometer em sua vida?

— Eu não tenho que te dar satisfações sobre isso. Eu nem te conheço. A Luna é MINHA filha e eu sei o que é melhor para ela. Ninguém a ama como eu. Eu sei o que é melhor para ela – reafirmou.

— Não parece – a interrompeu Matteo sem a menor delicadeza. – O melhor para Luna é seguir o sonho dela. E quem a ama devia incentiva-la. – Mônica abaixou a cabeça. – Por que não quer que ela patine?

Mônica não podia negar que Matteo tinha razão. E já tinha percebido que ele tampouco iria embora sem conseguir o que quer.

Ele era prepotente, arrogante e mimado. Estava acostumado a não ter suas ideias contrariadas. Ela sabia que o certo era lhe dar uma explicação mesmo que não o conhecesse. Parecia se importar com sua filha... Então o fez.

— Bom – respirou fundo – eu vou te explicar. A Luna é minha filha e ninguém a ama mais do que eu. Acontecesse que... O mundo artístico é um mundo muito perigoso e difícil de se ter êxito. E eu não quero vê-la decepcionada ou frustrada caso não consiga realizar seu sonho. É só isso. Eu quero o melhor para ela, e que seja feliz.

Matteo escutou cada palavra proferida por Mônica atentamente e com os braços cruzados. Seu olhar era reto e sua cabeça nunca abaixava.

— A menina deli... Luna – se corrigiu – é uma menina muito talentosa e que ama patinar. Ela tem que ser livre para seguir os sonhos dela. Tem futuro. Tem tudo o que é necessário para ser uma patinadora de sucesso. É uma patinadora incrível e uma pessoa ótima.

— Eu sei, eu sei – algumas lágrimas começaram a escorrer em seu rosto. – Sei que ela é uma menina muito boa, que ama patinar e tudo, mas... Não quero que ela se frustre caso não consiga.

— A Luna vai realizar todos os sonhos dela e eu vou ajudar. Eu prometo. Você tem a minha palavra, Mônica.

Antes que eles pudessem continuar, Miguel adentrou a cozinha. Não entendeu muito bem a cena. Sua mulher estava chorando e um adolescente com cara de engomadinho estava em sua frente.

— Mônica, está tudo bem? – Perguntou a abraçando.

— Está – ela respondeu.

— Vamos? – Miguel a chamou.

— Vamos – ela respondeu, porém Matteo pôs o braço na frente, obstruindo sua passagem.

— Então a Luna vai poder participar da competição?

— Sim, vai. Cuide da minha filha, por favor – pediu humildemente e ele assentiu.

Mônica e Miguel se retiraram e poucos segundos depois Luna chegou:

— O que você fez com a minha mãe?

Matteo se virou para ela. O garoto sério que estava falando com Mônica a pouco tempo sumiu e deu lugar ao debochado e convencido mauricinho de sempre. Seu sorriso debochado – e irritante para Luna, por enquanto — havia voltado.

— Salvei a sua vida. Ou melhor, o seu sonho, menina delivery.

— O que? Como assim? – Não havia entendido.

— Você vai participar da competição.

Uma emoção tomou conta de Luna. Ela não podia acreditar:

— Como fez isso? Como conseguiu, mauricinho? – Ela parou por alguns segundos e ficou séria novamente, algo ainda não fazia sentido ali. – Por que me ajudou?

Matteo precisava dizer algo. Não podia deixar seus sentimentos transparecerem. Não podia demonstrar que possuía sentimentos. Mas como não conseguiu formar uma desculpa – algo que foi muito estranho já que Matteo era mestre nisso – expôs seus reais sentimentos:

— A decisão da sua mãe era... inadmissível. Esse é o seu sonho Luna – ela se surpreendeu ao vê-lo chamando-a pelo nome. – E ninguém tem o direito de te impedir assim.

O que estava acontecendo com Matteo? Onde estava o mauricinho de sempre? Desde quando ele se importava com os outros?

— Eu te vi patinar, Luna – continuou. – Você ama isso. Já é muito tarde para voltar atrás nisso. A paixão pelos patins já te consumiu. E se não há volta atrás, tem que arriscar tudo.

— Obrigada – quase sem palavras por tudo o que ouvira e tudo o que o “mauricinho” havia feito por ela, foi tudo o que conseguiu responder timidamente com um sorriso.

— Acho que agora – os olhos e a expressão cheia de vida de Matteo voltaram. Luna riu – você pode pensar melhor sobre aquele meu convite. Eu mereço, né? E então, vai aceitar tomar alguma coisa comigo?

Luna estava sem resposta. Como poderia dizer que não? Era o mínimo que ela podia fazer. Ele merecia depois de tê-la ajudado tanto.

— OK mauricinho, eu aceito sair com você.

Matteo sorriu. Satisfeito por ter concretizado suas duas missões, se despediu:

— Até amanhã, menina delivery – disse da porta.

— Até amanhã, mauricinho.

Ambos se despediram com um sorriso. Matteo voltara para sua casa contente e Luna deitou-se com um sorriso no rosto.