Memórias

Um "Sonho" Para Lá de Desgastante


MEMÓRIAS

CAPÍTULO DEZESSETE:

Tocante. Foi como esteve durante as horas seguintes. A notícia de ter um filho não era lá tão feliz para Julia. Afinal, mal ela sabia quem poderia ser o pai da criança. A sorte nem sempre estava ao seu favor. Por um curto espaço de tempo pôde observar a mãe e o doutor, sorridentes. Permaneceu vidrada durante alguns minutos e fechou os olhos, devagar. Decidiu dormir novamente. Para novamente conectar-se ao amado Collins. Porém não. Não conseguia manter-se acordada e não ao menos dormindo ou sonhando. Tudo o que podia fazer era ficar parada. Como um vegetal. Uma morta-viva.

– Bom dia. – Dizia o doutor. Enquanto Julia estava lá, horrorizada com sua impiedosa situação.

– Péssimo dia. – Respondeu Julia, ignorante. – Sabe doutor, bem que o senhor podia parar de misturar os remédios. Esses efeitos estão me deixando maluca.

– Isso não vai parar Julia. É realmente um péssimo dia para você. – Respondeu o doutor, encarando-a. – Eu irei pedir outra bateria de exames para você fazer. Além de quê, eu tenho pensado em deixa-la aqui. Até o bebê chegar.

– Mas... Isso é inaceitável. – Dizia, cobrindo o rosto com o cobertor.

– Claro que não. Julia você bebeu enquanto grávida, eu irei precisar acompanhar você diariamente. E você ainda não se recuperou do acidente, está completamente sem força.

Seus olhos que apontavam uma expressão rancorosa em seguida se fecharam. A luz que penetrava sobre o fino cobertor e mantinha sua cabeça confusa ia diminuindo de intensidade a cada instante. Encontrou-se em um nada. De repente a voz de Barnabas, novamente, ecoava.

– Julia. – Dizia ele alegremente.

Não havia o que responder.

– Irei te falar sobre as cartas hoje. – Continuava Barnabas.

– Então... Diga. Por favor. – Dizia ela, implorando.

– Tudo bem, houve uma carta que eu escrevi para a Angelique. Mantínhamos contato com algumas cartas que tinham nomes de antepassados meus que já tinham falecido. Assim ninguém suspeitava. Assim como essa. – Respondeu Barnabas. Entregando um velho papel nas mãos de Julia.

“Querida Angelique, lamento terrivelmente o fato de não ter escrito mais para você. As pessoas têm desconfiado de mim e eu não posso correr o risco. Você sabe muito bem que o nosso amor é muito mais do que os negócios, mas lembre-se, eu não posso deixar a promessa de meu pai para o lado exatamente agora. Uma vez que você puder vir aqui em minha Collinwood. Nunca mais deixar-te-ei sair. Ficarás agarrada aos meus braços para sempre. E poderemos viver o nosso intenso e eterno amor, sem interrupções e sem raiva ou rancor. Nada irá destruí-lo.”

– Uma de suas cartas pequenas, não? – Dizia Julia. Contraditoriamente. Lágrimas queriam sair de seus olhos nesse exato momento. Julia não sabia se a chama do amor que Barnabas mantinha por Angelique fora apagada. Conteu-se.

– Sim, sim. – Respondeu. – Mandei esta carta enquanto eu tive de estar preso aqui na mansão. A situação financeira e moral naquela época não era boa para os Collins e eu não pude sair publicamente. Então ficávamos trocando cartas.

– Claro... – Dizia Julia, ironicamente.

– Sabe Julia... Eu nem sei se ainda amo ela, assim, deste jeito. – Respondia, suspirando saudades. – Eu não a vejo faz um tempo. Um grande tempo.

– Sabe Barnabas... Eu sou viúva. – Dizia.

– Julia, eu sinto muito.

– Não, tudo bem. Eu nem gostava dele. - Respondeu, cortando-o. – Mas se você ama essa Angelique mesmo, vá atrás dela. Não se pode deixar por perder. Corra atrás de seu amor, Barnabas.

Barnabas não sabia o que fazer e tampouco Julia. Acordou-se. Estava nervosa por dentro e calma por fora. Neste momento nada a incomodava, nada a atrapalhava. Manteve-se focada em Barnabas por um tempo. Como ele ainda não havia percebido? Porque ele não revelou logo? Tinha de ser difícil e complicado. Como um Collins. Será que ele fez isso apenas para enganar? Será que foi apenas para deixar Julia ainda mais apreensiva e inquieta? Ou apenas para abalar os seus sentimentos? Quem sabe... Julia aproveitou a oportunidade de sua mãe ainda estar acordada – Por que ela estava exausta. – E então chamou-a a atenção.

– Mãe? – Julia a cutucava nos ombros.

– Diga. – Respondeu a Sra. Salvatore, com um tom cansativo e roco.

– Sabe... Eu estive pensando em Barnabas e nos Collins... – Dizia.

– Sim... E?

– Mãe, sabes o que isso significa. Eu irei voltar para Collinsport.

ARTHUR C.