Memórias

Parte I: O Começo - Boas Vindas à Lichfield


MEMÓRIAS

CAPÍTULO UM:


– Filha, você vai ser feliz ao lado de sua tia, tenha certeza.



– Mãe, eu mal comecei o ano e já tenho de me mudar?


– Infelizmente sim, seu pai está em sérias condições, tal que você não pode ficar perto.

– Nem você, não é?

– Eu vou estar bem, mas se lembre, em qualquer lugar do mundo em que você estiver, nunca esquecerei de você.


Julia estava indo para uma nova vida, iria viver em Lichfield, junto com a sua tia, Elena. Ela não tinha muita certeza do que estava fazendo, não queria ficar longe do pai, pois sabia que sua morte chegaria a qualquer momento, a qualquer hora, a qualquer instante, porém as palavras confortantes de sua mãe a fizeram pensar direitamente, não tanto, mas foram o bastante para ela deixar seu pai pobre e doente junto a mãe, pensava que assim, sem perturbação, ele iria melhorar e até quem sabe um dia, comemorar.



Queria se tornar médica, para poder cuidar de seu pai. Julia não conhecia nenhum termo sobre a medicina, e nem as profissões que podia exercer nessa área, mas era a família que a interessava, ninguém mais, nada mais, nada. E com base nesse princípio, ela viajou rumo à Lichfield junto com a sua tia, por um momento, deve ter comemorado que sua tia era viúva e que não tinha filhos, assim ela não teria perturbação, agonia, ou algum sentimento ou estado angustiante do tipo.



– Então é isso, chegamos.



– Que casa grande, tia. Parece até ser rica.


– Pois é, e você moraria aqui se sua mãe não fosse tão cabeça dura.

– Não fale assim, ela é uma boa esposa e uma ótima mãe.

– E uma péssima mulher de negócios.


Riram por um instante. Pararam. Julia começou a conhecer a casa e claro se acomodou no que chamava de seu refúgio, a biblioteca. Não que ela fosse muito estudiosa ou gostasse de ler, porém, aquele lugar a atraiu como se ela fosse um ramo que tivesse sido solto da raiz por um acaso distante.



– Onde irei dormir?



– Onde preferir meu bem, só não escolha o sotón ou o porão. Não sei por que os acho assustadores.



Escolheu os dois, parece meio intrigante, porém dividiu os dias em que dormiria em cada um. De acordo com a tia, tinha uma coragem tremenda, porém não era coragem e sim atração. Julia se fascinava pelo obscuro e pelo fictício, adorava histórias de terror ou mistério, tudo junto era ainda melhor. Um dia que esteve sem sono, decidiu ir a biblioteca e acabou achando um baú, ao qual dentro havia várias cartas escritas por um tal de Barnabas Collins.



Julia passou a noite inteira lendo essas cartas, e não conseguiu entender nada. O considerava um maluco que misturava o terror com romance. Apesar de não gostar muito de coisas melodramáticas, a adolescente achou tudo muito interessante para a época, ao qual vivia esse homem que ela entendia com um escritor. Dizia de época, pois reconhecera que a letra, não podia ser de tempos atuais.


As cartas se acabaram e Julia ainda continuava sem entender a relação de uma frase escrita para a outra, por isso decidiu, ir à Collinsport, cidade fundada pelos Collins, família a qual Barnabas pertencia. Apaixonou-se pelo que achava ser surreal.


ARTHUR C.