Memórias

O Conhecimento Envolvente


MEMÓRIAS

CAPÍTULO TRÊS:

Chegou a estação e pegou seu trem rumo à Lichfield. Estava tão aflita, porém não sabia se era com o seu pai, ou, a situação a qual Barnabas se envolveu e ainda não entendia. Continuava lendo e relendo aquela página. Não quis ler as outras para não ficar mais empolgada, queria guarda-las para quando voltasse a Collinsport, onde poderia investigar livremente, sem problemas para interrompê-la. Mas a curiosidade foi demasiada demais e receio que a própria não aguentou, leu mais uma página, a qual dizia:

“Querido pai, perdoe-me. Perdoe-me por não ser um bom filho, um bom anfitrião... por não ser o filho respeitado o qual o senhor tanto quis, por não conseguir e boa parte, querer amar alguém, por não ter um casamento ou alguma relação normal com alguém da sociedade e ainda, ser o homem que trouxe desonra ao nome Collins. Eu sei que esta não foi a vida ao qual o senhor sempre me desejou, mas acredite, estou bem. Ainda me lembro quando o senhor disse-me que tudo o que mais importava nessa vida era a família, e posso dizer-te pai, estou a correr atrás disso, para o legado dos Collins continuar, e esbravejar honra e fortuna”.

Foi tudo o que conseguiu ler. Continuava sem entender porque Barnabas escrevia no seu diário, coisas pessoais, porém sem ser para si próprio. Não tinha relação e muito menos, sentido. Receio que Julia voltou a pensar que aquele homem fosse um estranho sem noção que misturava terror com drama, e se fosse pensar em Angelique, romance. Gritou por dentro de si mesma. Não sabia o sentimento ou a emoção a qual sentia naquele instante, daí foi que baseada no diário de Barnabas, lembrou-se de seu pai, que estava nas últimas, e voltou a se preocupar. Por um momento chorou.


– Senhorita, nós chegamos.

– Ah, muito obrigada.



– Daqui mesmo você poderá aguardar o transporte que irá levar-te.


– Tudo bem.


Parecia estar cansada, como se tivesse carregando um peso nas costas, sua aparência estava horrível, tinha olheiras, mantinha-se pálida e tudo o que pode dizer, foi perdido em sua mente enquanto caia no chão. Um tempo passou... E nada. Seus pensamentos fluíam, já havia pensado em Barnabas, em seu pai, em sua mãe, em sua tia, até em Joshua, que a pouco soube que ele fora o patriarca dos Collins. Até então, ouviu vozes:


– Ela ficará bem?

– Acredito que sim. Deve ter sido mais uma destas jovens que fazem greve de fome quando são renegadas por algo ou alguém.



– Claro doutor.


Ainda tonta conseguiu pronunciar:

– Mas o que está havendo?

– Apenas uma recaída.

– Já estive na minha casa?

– Acredito que não estará por um bom tempo.

– Por quanto tempo?

– Até controlarmos a sua alimentação regularmente.

– Onde estou?

– É... Parece que irá ficar bem.

– Doutor...

– O quê?

– Meu pai está em fase terminal, preciso vê-lo, por favor.

– Se contenha um instante, voltarei para te dar alta.


Quando o médico disse: voltarei, Julia lembrou-se de Barnabas e a página de seu diário escrita para Angelique. Pensou e repensou como na sequência que fazia quando estava a ler. Quando o efeito do remédio ingerido em sua veia passou, acordou tranquilamente. Estava a beira de um ataque de nervos, quando finalmente aquele estranho chegou:



– Srta. Salvatore?

– Sim.

– Você já está de alta, porém o doutor a espera em sua sala, para dar uma última checada. Acredito que já possa tirar essa bata do hospital.


– Ah, claro. Muito obrigada.


Caminhou lentamente por aquele enorme corredor até chegar a sala do médico, aquelas paredes de cor branca lembravam-na de vários fatos e sonhos estranhos e melosos que tinha tendo desde que ouviu suar o nome: Barnabas Collins. Foi chamada.


– Senhorita Salvatore.

– Doutor... doutor?


Deram risadas. Foi ali, ali que Julia acordou, parecia atraída, não por Barnabas, mas por aquele homem, aquele sentando em sua frente. Aquele ao qual o olho azul piscava a cada vez que abria a boca para rir novamente. Sentiu uma coisa vinda do fundo de seu peito, algo chamado de paixão repentina. Parou de apenas olhar e voltou a si mesma.



– Hoffman, Dr. Edgard Hoffman.

– Muito prazer, Dr. Edgard.

– O prazer é todo meu, menina Julia.


– Como sabe o meu nome?

– Quem se interessa, procura.

Julia riu.

– E então, quer que eu te leve em casa?

– Se não fosse muito incômodo.

– Claro que não. Porém iremos correndo.

– Não tem problema.


Não parava de sorrir, parecia estar mesmo apaixonada por aquele homem. Estava vidrada... Nos seus olhos, em seus cabelos, em sua boca, tudo para ela, era perfeito, apesar de ele ser mais velho. Pensava e pensava, apenas nele...


– E então Julia, porque estava a chorar naquele trem?

– Como soube que estava no trem?

– Fiz a pergunta, primeiro. – disse ele sorrindo.

Como ele poderia ser tão simpático? – pensava ela.

– Tenho pensado muito em meu pai...

– Você acha que me engana? Algum romance não-compreendido?



Pensou em Barnabas e no próprio Edgard, sorriu e respondeu:

– Talvez, talvez.



ARTHUR C.