Memórias

A União do Amor e da Tristeza


MEMÓRIAS

CAPÍTULO QUATRO:

Entrou em casa. Já estava morta. Mal pode notar o silêncio que todos faziam, porém ouvia choros e gritos, como se alguma urgência estivesse ocorrendo. Entrou na sala de jantar e se deparou com um caixão repleto de rosas vermelhas que o cercavam, quando avistou pessoas estranhas vestidas de preto, e quando bateu a dúvida, eis que surge a sua tia:

- Uma pena você não ter chegado a tempo de vê-lo.

- Discordo. Não gosto de ver as pessoas sofrendo.

- E ainda assim espera ser médica? Desista meu bem.

- Não irei desistir. Não aguento ver as pessoas sofrendo, por isso irei ajudá-las.

- Nesse caso, aconselho você a não ficar com base apenas em seus princípios.

- Tia, a senhora vai mesma discutir comigo, quando não tem o porquê e muito menos a razão, quando o funeral de meu pai acontece?

- Se for necessário...

- Se for necessário, irei embora daqui agora.

E não pensou duas vezes. Aproveitou o tempo em que todo mundo concentrava-se apenas na sala de jantar e ligou para Edgard. Podia parecer meio precipitada, mas estava tão apaixonada e triste ao mesmo tempo, que não soube bem como relacionar órbita com órbita. Ligava, ligava e ninguém atendia. Poderia ser que ele estivesse no hospital, porém estava muito tarde, não sei por que pensou em horas, quando na verdade, queria falar com ele a qualquer instante. Quando na quinta tentativa:

- Boa noite, quem fala?

- Edgard? Quem fala é Julia.

- Srta. Salvatore, não acha que é tarde demais para ficar ligando para os seus conhecidos, não?

- Sim, porém estive... Aliás, estou tão aflita que precisava falar com alguém, e a pessoa mais próxima a mim que encontrei, foi você.

- Palavras confortantes. Boa cantada, porém, preciso dormir.

- Não foi uma cantada, doutor. Preciso mesmo de você. Será que não tem alguma vaga para mim nessa sua agenda?

- Claro. Encontre-me na lanchonete do Chico às sete. Pode ser?

- Sem problemas.

- Tudo bem, agora deixe-me dormir.

Não podia estar mais alegre, considerando que o funeral de seu pai estava a acontecer à poucos metros de distância. Mal podia esperar para se encontrar novamente com Edgard, porém conteve-se. Correu para o seu quarto, se jogou na cama e então abriu o diário de Barnabas, em uma página a qual nunca tinha lido:

“Fazem hoje exatamente 6 anos que você partiu e que escrevi aquela carta. Queria dizer-te que ainda não segui todos os passos ao qual você mencionou a mim, ainda estou na caminhada, mas queria acrescentar que um dia chegarei lá, que um dia serei igual a você, pai. Um homem de se ter orgulho, e ainda, que de onde estiver aprenderá novamente a se orgulhar e amar o seu filho que tanto foi desprezado. Eu gostaria que nunca esquecesse, que você sempre foi minha base, meu apoio, minha cultura e o meu exemplo ao qual nunca deixarei de amar, para todo o sempre”.

Lembrou-se de que seu pai havia falecido. Aquelas palavras não paravam de circular pela sua mente. Ficou pasma quando viu que Barnabas sentia muito amor e devoção pelo pai. Daí percebeu que falaria tudo igualmente, da mesma forma, para o seu também. Uma lágrima desceu de seus brilhantes olhos, e logo foi enxugue por uma mulher que merecia o mesmo respeito, sua mãe.

ARTHUR C.