Memórias

A Nova Era na Collinwood


MEMÓRIAS

CAPÍTULO VINTE-DOIS:

Acomodou-se. Barnabas havia feito Elizabeth mudar de opinião em um piscar de olhos, primeiramente ela começou a perguntar-se se ele era uma fraude, uma brincadeira de mau gosto. Ele acabou por conversar com ela, e então, ela mudou os seus conceitos. “Tivemos uma séria conversa sobre os Collins e tratamos sobre o ponto de vista financeiro da família, assim, aceitei tê-lo aqui como hóspede, como ele também aceitou a minha proposta”. Fora tudo o que ela disse. Nada mais. Nenhuma dica ou segredo. Nenhuma invenção, nenhuma intervenção... Simplesmente calou-se, e apesar das ameaças de Roger, continuou do mesmo jeito, sem algum medo.

Julia até tentou descobrir o que de fato acontecera. E então sua pergunta ecoou pela sala, como um vácuo, uma poeira.

- Não direi a ninguém. – Dizia Elizabeth.

Atordoada. Assim que se sentiu. Elizabeth tornara-se sua mulher amiga desde que passou a morar na Collinwood, a acolheu, apesar de ser apenas mais uma agregada, e agora isso? Seria um lance de confiança? Perguntava-se. Os motivos eram tantos. Brigas, acasos, bebidas, cigarros, porém como irmãs, nunca separaram-se. Nem por Roger ou Carolyn... Nem ninguém. Uma vez haviam discutido sobre David, Julia não aguentava mais fazer sessões com ele. Era cansativo, não produtivo, entediante, uma vez em que falou sobre e com os fantasmas, nunca mais parou. E quanto mais falava, mais cartelas de cigarro surgiam, ou mais drinques de uísques. Sendo assim, Elizabeth acabou por anunciar uma vaga para governanta no jornal. Uma “professora babá” para David. E então acabou. Deu-se por papo encerrado. Não mais discussões ou brigas. Não mais erros, não mais distrações. Como te digo, continuaram amigas, irmãs. Mas uma nova era surgia na Collinwood agora. A era da desconfiança.

Todo o desgosto havia novamente retornado. Todos estavam aflitos, perdidos. Com a chegada do suposto Barnabas – “Um terceiro descendente do verdadeiro” de acordo com Elizabeth. – Roger não sabia o que ia acontecer com o pouco dinheiro que restava, Julia assim como David, gostaria de descobrir quem e o quê ele era. Carolyn não se importava desde que pudesse ouvir No More Mr. Nice Guy alto e sem atrapalhações, e Willie preocupava-se com suas abóboras. Então, ao saber disso, o próprio Barnabas convocou uma reunião contando com a presença de todos naquela manhã.

- Não preocupem-se meu caros, tudo ficará bem. – Anunciou ele, enquanto Willie servia waffles mal feitos. – Minha chegada trará apenas boas coisas. Boas novas.

- Jesus! Será que alguém pode fechar essas cortinas? – Exclamou Julia com seu copinho de uísque na mão, interrompendo-o.

Ele olhou de relance, como quem estivesse incomodado, e com certeza estava.

- Bom... Eu farei a antiga glória e o império dos Collins reinar novamente. – Disse, com um sorriso que a todos satisfez. – Viveremos uma revolução. Preparem-se.

- Muito bem Barnabas, como você... Pretende fazer isso? – Perguntou Roger.

- É simples meu caro. – Julia ainda se perguntava por que ele usava esta palavra todo o tempo. – Daremos um baile.

- Um baile? – Elizabeth fazia-se de não entendida. – Um baile... Para quem?

- Para toda a cidade, é claro.

- Você não acha que a cidade meio que nos odeia?! – Disse Carolyn, ironicamente. – E as pessoas não dão mais bailes seu tolo. Elas fazem... Eventos.

- E como se faz um evento? – Perguntou Barnabas, indignado.

- Fácil. – Disse ela, parecendo feliz com a situação. – Primeiro pendure um globo de espelho no centro do teto, depois, encha a lacuna de bebida e... chame o Alice Cooper.

Todos riram, inclusive Julia.

- Carolyn... – Suspirou Elizabeth.

- Seja o que for... Chamaremos esta Alice Cooper. – Disse Barnabas, tentador.

Barnabas levantou-se, fez um cumprimento a todos e então subiu. O café continuou. Julia fumava e Roger afastava a fumaça de si. David tirava sua fantasia – Que já virara um couro, pois não parava de usá-la. – repetida de fantasma que fazia do enxoval egípcio da família. Tenso. Elizabeth subiu em seguida. Claro, Julia foi atrás.

- Barnabas... Como iremos oferecer este baile às pessoas? – Perguntava Elizabeth, com certa insegurança.

- Acompanhe-me querida. – Foi tudo o que ele disse.

Julia seguiu. Quem sabe podia descobrir o que queria. Eles continuaram pelo subterrâneo, em um longo corredor escuro, com janelas, apesar das terras cobrirem a imagem da luz do sol, projetando-se uma por entre cada vidraça. O corredor dava em uma única espécie de grade, com o brasão dos Collins, é claro. Julia a reconhecera de algum lugar, talvez do “mausoléu” que visitou quando foi prestar condolências à Raphael. Sim, apesar de tantos anos depois, lembrava-se.

- Aqui Elizabeth. – Barnabas afastou-se e tomou a liberdade de afastar a própria Elizabeth também. E deu um pontapé fino na tranca. A grade logo cedeu.

- Nossa... Todos estes anos, sentados sobre uma fortuna.

Julia memorizou. Aquele que agora estava visível. Era o medalhão de rubi.

- Quando eu era criança, adorava descobrir esses cômodos secretos... – Afirmou Barnabas.

Aquilo não mais interessava a Julia. Havia algo escondido e ela precisava descobrir. Era tudo. Saiu de lá indisposta a falar com qualquer um.

- E então Julia, o que descobriu? – Roger perguntava, rindo maliciosamente.

- Não te interessa, Roger. – Retrucou.

- Vamos lá querida, demonstre interesse. – Disse ele. – Se nos juntarmos nisso, ganharemos parte, também aproveitaríamos.

- Roger... Sai. – Respondeu impacientemente. – Inescrupuloso. É capaz de trair a própria irmã e até certo ponto, o filho e a sobrinha para conseguir o que quer.

- Ora, não sejamos assim... – Tentou ele.

Julia afastou-se e caminhou até as escadas. De lá pensara em tudo. Em como iria descobrir sobre Barnabas e como se livrar dessas propostas de Roger, da desconfiança de Elizabeth e até como contar a David, que na verdade, ela é a mãe dele. Desconcentrou-se. Focou em Willie, que agora atendia porta, a receber uma garota, uma jovem até arrumadinha. Pelo que parecia, ela procurava por Elizabeth. Willie começou a chama-la, sem medir a força em seus gritos de gente bêbada. Enquanto ela descia pelas escadas, onde Julia encontrava-se, a menina apresentou-se.

- Olá, meu nome é Victoria Winters. – Era o que dizia.

ARTHUR C.