Memórias

Um Vampiro na Collinwood


MEMÓRIAS

CAPÍTULO VINTE-TRÊS:

Uma nova reunião foi marcada. Barnabas queria fazer sugestões de roupas e também da decoração. Carolyn e Julia queriam discutir sobre que bebidas poderiam ser servidas e Elizabeth queria dar suas opiniões em relação ao arranjo das flores. Roger não falou nada, sinal que ele não se importava, “Desde que minha amiga venha... Tudo bem”. Foi o que falou. David abaixou a cabeça e Victoria voltou a animá-lo. E sim, quase esqueço... Havia mais um detalhe, Willie estava triste. Elizabeth o disse que iriam servir creme de abóbora, então... Ah, você sabe o que irá acontecer.

- Acredito que todas devam usar vestido longo, e todos, um belo smoking. – Disse Barnabas, como se todos ali necessitassem seguir a sua opinião.

- Credo Barnabas! – Exclamou Julia. – Até em nossa roupa queres opinar.

- Ninguém pode estar mal vestido, Dra. Hoffman. – Completou ele.

- Bom... Eu certamente não preciso de suas opiniões para vestir-me de boa maneira. – Afirmou Julia, curta e grossa.

- Isso prova que você tem bom gosto doutora.

Julia levantou-se. Não aguentava mais. Era estranho. Tudo aquilo estava a lhe confundir, quem sabe porque um dia Barnabas era simpático e romântico, e agora, é este homem que fala de maneira irritante e pouco convidativa. Um ser autoritário. Isso o definia atualmente. Seus sentimentos estavam misturados. Pôs-se sobre o corrimão da escada, onde começou a se lamentar.

- Ele não foi muito com a sua cara, não é? – Perguntou Elizabeth.

- Acredito que não... – Respondeu Julia.

- Você devia conversar com ele, sabe? – Disse Elizabeth. – Pelo menos, é o que acho.

- Ah... É... Hm, você está certa. – Elizabeth balançou a cabeça em concordância. – Irei falar com ele.

Elizabeth deu um leve sorriso de satisfação e seguiu. Julia ficou a imaginar coisas. Será que Barnabas concordaria em falar com ela? Será que ele poderia lembrar-se de alguns dos sonhos? E será que estes tinham conexão com a vida real? As perguntas como sempre, ecoavam em sua mente. Elizabeth estava agora a conversar com Barnabas, talvez o forçando a ir falar com Julia, quem sabe convencia...

- Não! – Exclamou Barnabas com certa cara desgostosa. – Ela é uma psicóloga alcóolatra, Deus que livre-me!

- Barnabas... – Suspirou Elizabeth. – Ela é que precisa. Ela está abismada com a sua vinda para esta casa. Certamente, necessita entender o que finalmente houve. – Descansou um pouco a voz e então insistiu. – Por obséquio!

- Tá, tá... Tudo bem então. – Concordou Barnabas.

A tarde passara-se rapidamente, Julia continuava pouco aflita e ainda mantinha todas aquelas perguntas em sai cabeça. Não havia nada com que mais se preocupasse, Ah... Tudo bem, talvez ela podia estar preocupada com David, que estará a gritar com o seu “hamster” – Um gabiru nojento com roupas dos ursinhos de pelúcia de Carolyn – o qual estava a roer as abóboras sobre a mesa central do salão principal. Talvez pudesse ser Carolyn como uma louca, cantando Alice Cooper, mesmo que Elizabeth preferisse Billie Holiday algumas vezes. Porém, continuou em Barnabas e, eu juro a você leitor, ela pôde agradecer aos céus por isso.

Um estalo no piso do andar de cima pôde ser ouvido e com a hipótese de este ter sido Barnabas, Julia foi atrás.

- O que é aquilo? – Perguntou Barnabas com os olhos vidrados em um abajur sob a mesa de cabeceira do quarto de Carolyn.

- É um abajur?! – Resmungou Julia, estranhando-o.

- Parece uma corrente de sangue... – Suspirou Barnabas sonhando, talvez.

- Barnabas... Eu acredito que devamos conversar. – Respondeu Julia e ele balançou a cabeça em concordância.

Mais estalos abaixo do piso puderam ser ouvidos enquanto os dois andavam até o “escritório” de Julia. – Uma biblioteca com livros degradados e móveis cobertos por teias de aranha. – A porta fechou-se.

- Então Barnabas... – Disse Julia colocando mais uísque em seu copo de cristal, enquanto o próprio Barnabas se sentava no empoeirado divã. – Diga-me algumas coisas...

- Ah, cara madame, se tu soubesses o quanto tenho para contar...

- Eu então receio que você deva me contar. – Disse Julia, puxando um relógio do bolso. Certamente, Barnabas com os seus “dons” pôde imaginar que talvez Julia quisesse hipnotiza-lo. – Caso não, poderá se arrepender.

- Isto é uma ameaça? – Estranhou Barnabas.

- Não. – Disse Julia com incerteza. – Aliás, entenda como quiser.

Barnabas riu com desaprovação, e disse algo em seguida.

- E eu receio que isto não seja remotamente possí... – Então foi cortado por algum... Efeito, um efeito terrível que o fez fechar os olhos em segundos. Estava hipnotizado.

- O que aconteceu ultimamente Barnabas? – Perguntou a Dra., Interessadíssima.

- Como assim ultimamente? Você diz antes de eu vir morar aqui? – Perguntou duvidoso.

- Como você quiser dizer-me... – Disse Julia, tomando mais um gole do seu uísque.

- Bom... Eu sai do caixão, matei um tanto de homens na rota nove e então fui confrontado por um gigante dragão amarelo. – Disse ele rapidamente. – Ah... Se aquela bruxa não tivesse me amaldiçoado, não tivesse me deixado preso naquela caixa durante duzentos anos...

- Espere um pouco, diga a última frase. – Pediu Julia, frustrada.

- Que eu fiquei preso num caixão durante duzentos anos? – Questionou Barnabas normalmente.

- E... Isso significa que...

Saiu antes que Barnabas pudesse dizer alguma coisa. Estava a dar voltas no corredor. Subia e descia as escadas. Batia com a cabeça na parede. Sabia muito bem o que aquilo significava, e sim, era o que antes suspeitava. Mais um gole de uísque, agora, acendia um cigarro. Precisava esfriar um pouco a cabeça, aliás, não. Decidida, resolveu falar com Elizabeth.

- Um vampiro! – Exclamou, enquanto abria a porta.

- Shhhh! Fale baixo. – Pediu Elizabeth.

- Francamente Elizabeth... – Disse Julia em bom tom. – Sabes o que ele me confessou?

- O quê? – Perguntou Elizabeth, com certa impaciência.

- Ele matou sete homens na rota nove! – Gritou novamente. – Ele é um assassino!

- Ele é um bom homem, de família e negócios. – Respondeu Elizabeth, fazendo as contas do que gastara no mês. Retirou os óculos. – Ele é um Collins. Ah, Julia! Vai dizer que não o acha fascinante? Com todos aqueles costumes e tudo mais?

- Claro... – Suspirou, como se Elizabeth ainda não tivesse entendido. – Fisicamente, psicologicamente e medicamente, ele é fascinante. Por isso vim até você e não à polícia.

- Então se fascine, Julia. – Propôs Elizabeth. – Se você respeita e quer o bem desta família, mantenha a boca fechada.

Julia estranhou o modo de como Elizabeth tinha falado com ela. Era demais. Não já bastava um viciado em abóboras, um outro que arranja prostitutas em todo lugar, uma outra que vive cantarolando, uma criança que vê fantasmas, e agora isso? Um vampiro? Por fim, decidiu voltar ao seu escritório. E quando lá chegou, pôde acreditar que Barnabas já houvesse confirmado o que pensara várias vezes, foi então que repetiu.

- É doutora... Eu sou um vampiro.

ARTHUR C.