Depois de alguns minutos de hesitação, Sans deu um longo suspirou e finalmente adentrou o local. Apesar de estar perto de fazerem dois anos da morte de Frisk, ele ainda não havia se acostumado a ir ao cemitério, e provavelmente nunca se acostumaria.

Sans caminhou por entre os túmulos sem pressa, olhou para cima e notou que o céu estava ficando coberto de nuvens, o que deixava a atmosfera do cemitério ainda mais pesada. Quando finalmente conseguiu avistar o túmulo de Frisk, notou que havia alguém lá, conforme se aproximava conseguiu notar quem era a pessoa. Era a mãe de Frisk.

─ Bom dia senhora. ─ Disse para a mulher que se virou em sua direção, dando um sorriso ao reconhecê-lo. Frisk havia os apresentado pouco antes de sua morte e a dor da perda acabou fazendo com que os dois ficassem amigos.

─ Bom dia Sans. Que belas flores, são para a Frisk? ─ O outro assentiu com a cabeça. ─ Que adorável! Aposto que ela ficaria muito feliz em recebê-las....─ Ela acariciou o túmulo, então lágrimas começaram a brotar de seus olhos, ela as secou com a manga de sua blusa. ─ Bem, não irei te atrapalhar, até outra hora.

─ Até. ─ Falou enquanto acenava para a mulher, quando a mesma não podia mais ser vista, Sans se virou para o túmulo de Frisk e depositou o buquê de rosas. ─ Aqui está sweetheart, espero que goste. A propósito, eu dei uma das rosas para uma garotinha que encontrei no parque, espero que você não se importe. ─ Sans tentou ao máximo conter suas lágrimas, mas falhou miseravelmente.

─ A quem eu quero enganar? Eu odeio ter que te dar rosas. Eu odeio não poder mais te abraçar e beijar. Eu me odeio por não ter te salvado. Eu odeio esse mundo por ter tirado você de mim. ─ Ele caiu no chão de joelhos, enquanto chorava. Então as memórias daquele trágico dia invadiram sua mente.

No dia seguinte ao encontro do parque, Sans e Frisk se apresentaram oficialmente como um casal. No começo, alguns de seus conhecidos acharam que seria apenas mais um namoro bobo, que não duraria nem um mês, mas o relacionamento deles se estendeu por bastante tempo, superando as expectativas de todos.

Neste dia em questão, os dois estavam tomando sorvete no shopping, ansiosos para o dia seguinte, pois iriam completar um ano de namoro. Frisk puxou a jaqueta de Sans, na tentativa de obter sua atenção, o mesmo a olhou para ver o que ela queria.

“Ei Sans, quando vai me contar o que vai me dar de presente?”

─ Desculpe sweetheart, mas eu não direi uma só palavra. ─ Frisk inflou as bochechas e ele riu com o ato. ─ Você fica uma graça fazendo isso. E não adianta me perguntar, é uma surpresa. ─ Ela então se deu por vencida, eles tinham passado o dia inteiro nisso, mas não importa o quanto Frisk tentasse, Sans não lhe dizia uma única palavra sobre. A atenção do casal foi desviada para o celular de Sans, que começou a tocar, ele se afastou um pouco de onde ele e Frisk estavam e atendeu a ligação.

─ Alô, quem é?

─ Olá Sans, aqui é o Simon da joalheria. Eu te liguei para informar que sua encomenda já está pronta.

─ Ótimo! Quando posso ir buscar?

─ Pode vir agora mesmo se você quiser.

─ Certo, estarei ai em um minuto. ─ Disse finalizando a ligação, então se dirigiu até o lugar onde Frisk estava.

“Quem era?”

─ Era o meu irmão, sabe. Ele me disse que precisa de minha ajuda com algumas coisas, se importa de irmos agora? ─ Frisk balançou a cabeça negativamente, ele odiava ter que mentir para ela, mas era necessário. ─ Então vem, vou te levar para casa.

“Não precisa se incomodar, eu posso ir sozinha.”

─ Mas-─ Frisk colocou o dedo sobre seus lábios, o cortando.

“Não se preocupe comigo, eu vou ficar bem. E mande um abraço por mim ao papyrus.”

─ Tudo bem, eu mandarei. Então até amanhã. ─ Sans lhe deu um beijo de despedida e saiu. Mal ele sabia que não haveria um amanhã e que aquela seria a última vez que veria Frisk viva.

Ao sair do shopping, Sans se dirigiu até um ponto de ônibus que ficava ali perto, chegando ao local notou que na calçada havia uma garota tocando violão, ele retirou de seu bolso algumas notas e as colocou no case do violão, ela parou de tocar e o encarou por alguns segundos.

─ Sabe, você parece bastante com um conhecido meu. ─ Disse a garota. Sans apenas deu de ombros e se sentou no banco para esperar o ônibus.

[...]

O ônibus finalmente havia parado em seu ponto, Sans desceu dele e entrou em uma loja que tinha a porta feita de vidro e uma luxuosa placa onde estava escrito “Joalheria”. Ao entrar, ele se dirigiu até o balcão onde foi atendido pelo mesmo funcionário que havia lhe ligado mais cedo.

─ Hey, eu vim buscar minha encomenda.

─ Claro, só um segundo. ─ O homem colocou a mão debaixo do balcão e de lá retirou uma caixinha preta de veludo, ele a entregou para Sans que a abriu, revelando um pequeno anel de prata.

─ É perfeito. ─ Falou enquanto fechava a caixa, em seguida a guardou no bolso e retirou de lá seu cartão de crédito. Depois de pagar o anel, Sans agradeceu ao funcionário e foi andando de volta para sua casa. No caminho ele ficou pensando em qual seria a reação de Frisk ao receber o anel de compromisso, mas infelizmente esse dia jamais chegaria.

[...]

Sans acordou um pouco atordoado com o som de seu celular, ele tinha cochilado no sofá. Espreguiçou-se e pegou o aparelho, atendendo a ligação sem sequer ver quem estava ligando.

─ Alô? ─ Disse ainda sonolento.

─ S-sans? ─ A pessoa estava com sua voz tremula, mas ainda assim ele conseguiu reconhecer que a voz pertencia a Sarah.

─ Sarah? Aconteceu alguma coisa?

─ E-eu preciso...que v-você venha ao ho-hospital...─ Ela estava chorando e soluçando, o que fez Sans ficar mais preocupado ainda.

─ Hospital? Você está ferida?

─ Eu t-to bem....mas a Frisk...e-ela...─ Ao ouvir o nome de Frisk, ele derrubou o celular no chão e correu o mais rápido que pode para o hospital.

[...]

Sans chegou ao hospital totalmente sem fôlego, então deu uma parada para respirar e em seguida adentrou o prédio. Avistou Sarah sentada em uma cadeira da recepção ao lado da mãe de Frisk, as duas se encontravam em prantos.

─ O que aconteceu? Onde está a Frisk? ─ Indagou quando chegou perto das duas, Sarah o abraçou e Sans lhe deu tapinhas nas costas na forma de consolá-la. Depois de alguns segundos, ela se soltou do abraço e enxugou suas lagrimas, se recompondo.

─ Sans você tem que ser forte. ─ Disse colocando a mão no ombro do amigo. ─ A Frisk....ela foi baleada em um assalto...e ela....ela pode não sobreviver...─ Nesse momento as pernas de Sans se tornaram geléia e ele caiu de joelhos no chão, estava incrédulo, não podia ser verdade, pelo menos ele não queria que fosse. As lágrimas começaram a cair e logo seus olhos ficaram semelhantes a duas cachoeiras, vendo seu estado Sarah o segurou pelos braços e o ajudou a se levantar.

─ Onde está a Frisk? Eu preciso ver ela. ONDE ELA ESTÁ? ─ Gritou enquanto sacudia Sarah.

─ Sans se acalme, por favor. Não podemos vê-la agora, o seu estado é crítico e os médicos estão fazendo o possível.... ─ Disse enquanto as lágrimas ameaçavam cair novamente. Sans pensou em protestar, mas resolveu se sentar e esperar.

Algumas horas depois finalmente um médico saiu do quarto onde Frisk estava e deu a noticia que era inevitável, mas mesmo assim ninguém ali queria ouvir. Frisk havia morrido, o tiro fez com que ela perdesse muito sangue e não deu tempo para fazer uma transfusão, sua mãe acabou desmaiando com á noticia e teve de ser internada, já Sarah e Sans ficaram totalmente informados.

No dia seguinte aconteceu o velório e enterro de Frisk, o clima era totalmente pesado e de extrema tristeza. Ao final do enterro apenas permaneceu no cemitério Sans e seu irmão. Sans estava completamente abalado, seus olhos estavam mortos e sem brilho, ele estava agarrado ao túmulo de Frisk e não queria sair de lá por nada.

─ Vamos irmão, temos que ir. ─ Papyrus disse colocando a mão no ombro de Sans, o mesmo não disse uma única palavra e pareceu o ignorar. Papyrus suspirou e saiu, resolvendo deixar seu irmão sozinho.

─ Sweetheart...me desculpe...eu quebrei a promessa e não pude te proteger... ─ Ele colocou a mão em seu bolso e tirou de lá a caixa com o anel que iria dar a Frisk, a depositando sobre o túmulo.

Alguns pingos de chuva caíram sobre Sans, o que acabou trazendo-o de volta de seus pensamentos. Ele enxugou suas lágrimas com a manga de sua jaqueta e se levantou do chão.

─ Chuva? Não...São suas lágrimas sweetheart? ─ Falou encarando o céu, então fechou seus olhos, deixando que a chuva molhasse seu rosto. Depois de alguns segundos voltou sua atenção para o túmulo.

─ Sabe, quando você se foi eu fiquei totalmente perdido, larguei aquele emprego e até tentei desistir de tudo. ─ Puxou sua manga revelando um corte em seu pulso e passou seu dedo sobre ele. ─ Mas depois de um tempo, percebi que seria uma covardia desistir de tudo assim. Eu tinha que continuar a viver e seguir em frente, por você, e é esse pensamento que me manteve vivo até hoje. ─ Ele passou sua mão no túmulo, como se estivesse acariciando os cabelos de Frisk. ─ Eu nunca vou te esquecer Frisk, muito obrigado por ter me deixado fazer parte de sua vida. Ah, quase ia me esquecendo, o Paps lhe mandou um oi.

─ SANS? VOCÊ ESTÁ AQUI? ─ Ouviu alguém lhe chamar, ele sabia muito bem a quem pertencia àquela voz.

─ Hehe, falando nele. Ei, eu estou aqui. ─ Disse se virando para o local onde havia ouvido a voz, se deparando com Papyrus que segurava um guarda-chuva.

─ Vem rápido, ou você vai ficar encharcado.

─ Eu já vou, só um minuto. ─ Deu uma última olhada para o túmulo e sorriu. ─ Eu te amo... ─ Sussurrou para o nada, em seguida foi em direção ao seu irmão e ambos fizeram seu caminho para casa.