Memories

Cap 6: Flashs


–Aqui está.-disse uma mulher de cabelos pretos e longos, presos em um rabo de cavalo e com um sorriso gentil no rosto-Dois sundaes de morango e um milk-shake de chocolate.

–Obrigada.-agradeceu Takigawa sorrindo de volta, enquanto pegava os doces previamente pagos para depois caminhar até a mesa em que Ayako e Mai estavam sentadas, rindo e conversando.

Ele não pode evitar de esboçar um sorriso ao ver a garota que ele via como sua própria filha rindo daquela maneira animada. Era como se ela não houvesse perdido suas memórias.

–Aqui estão os sorvetes.-o monge disse colocando as duas taças de sundaes na mesa, chamando a atenção das duas mulheres.

–Ah! Obrigada Bou-san!-exclamou Mai sorrindo.

–Obrigada Houshou.-agradeceu Ayako esboçando um sorriso para o noivo que retribuiu o sorriso com as bochechas levemente coradas. Por mais que eles continuassem discutindo por coisas idiotas, quando queriam, podiam agir como um verdadeiro casal.

–Sobre o que tanto vocês estavam conversando?-indagou Takigawa se sentando para começar a saborear seu milk-shake.

–Nada demais.-disse a mais nova dos três-Só estávamos lembrando da última vez que fomos ao cinema e eu acabei derrubando todo meu saco de pipoca no senhor que estava sentado na nossa frente.

–Eu me lembro disso!-exclamou o único homem da mesa-E foi hilário!

Os três começaram a rir, e conversas sobre assuntos aleatórios, até que Mai se silenciou, chamando a atenção dos dois adultos que estavam sentados com ela.

–O que foi Mai?-indagou Ayako preocupada com o repentino silêncio da adolescente.

–Eu não sei como perguntar isso direito...-começou a morena encarando o sorvete que começava a derreter-...é sobre Shibuya-san...

Ayako encarou Houshou, que por sua vez a encarava de volta. Eles não haviam contado tudo para Mai a respeito de Naru.

–Por que dessa pergunta agora Mai?-indagou Houshou-Você nunca ficou curiosa a respeito dele antes.

–Ele pareceu familiar pra você?!-exclamou a ruiva esperançosa de que a aparição de Naru pudesse despertar alguma das memórias da garota.

–Não...-respondeu Mai um tanto desconfortável-...eu não me lembrei de nada...

Um suspiro triste escapou pelos lábios da Matsuzaki.

–Então, o que foi?-perguntou o monge budista preocupada.

–É que...ele me chamou pelo primeiro nome.-falou a Taniyama agora voltando seu olhar para a mulher e o homem a sua frente-Qual era exatamente minha relação com Shibuya-san?

Os olhos dos dois adultos demostraram surpresa, como eles explicariam a garota que antes dela perder a memória, ela amava o rapaz inglês?

–Isso...-iniciou Ayako depois de se recuperar da surpresa-...isso é um pouco difícil de se explicar...

–Vocês me disseram que eu conheci Shibuya-san quando ele estava investigando um caso na minha escola, certo?-indagou Mai-E que eu comecei a trabalhar para ele porque eu quebrei uma câmera, certo?

–Sim.-concordou a Matsuzaki.

–E a perna do Lin-san no processo...-murmurou Houshou lembrando-se que a primeira vez que ele se encontrou com o chinês ele estava com a perna engessada e com muletas.

–O que você disse Bou-san?-perguntou a adolescente curiosa.

–Ah? Nada não jou-chan!-disse o loiro sorrindo de forma suspeita, a garota não precisava saber que ela havia machucado o assistente mais velho de Naru, não é?

A Taniyama resolveu ignorar o sorriso do monge e voltou a fitar a ruiva a sua frente querendo a resposta para sua pergunta.

–Bem...-voltou a falar a miko-...pelo o que eu sei, Naru te contratou como assistente porque seu diretor disse a ele que você é órfã, e como o próprio Naru é órfão, provavelmente ele quis te ajudar, já que vocês dois tem esse fator em comum.

–Madoka me contou sobre isso.-falou a Taniyama-Ela disse que Shibuya-san foi adotado por Martim e Luella Davis, dois parapsicólogos donos da sede da SPR e então seu nome passou a ser Oliver Davis.

Ayako ponderou sobre o que a adolescente a sua frente dissera. Madoka havia contado apenas uma parte da verdadeira história para Mai, a nova proprietária da SPR japonesa não havia dito que Naru tinha um irmão gêmeo, que fora morto no Japão, e que Naru havia vindo atrás do corpo do irmão.

Muito pelo contrário, a Mori havia dito que o rapaz inglês havia sido adotado por Martim e Luella porque ele causava muitos fenômenos poltergeist no antigo orfanato (não que fosse mentira) e o único motivo para ele ter vindo ao Japão era para uma pesquisa para um novo livro, e ele havia usando um nome falso era para não chamar a atenção da mídia, já que Naru havia se tornado com o passar dos anos um famoso parapsicólogo.

–Mas isso não explica o porquê dele me chamar pelo meu primeiro nome.-insistiu Mai, que por um segundo ponderou o porquê daquilo a incomodar tanto.

–Isso é porque vocês praticamente nunca foram formais um com o outro.-respondeu Houshou bebendo seu milk-shake enquanto observava uma expressão de confusão aparecer no rosto da morena-Quem você acha que apelidou o Naru-bou de “Naru”?

–Você.-disse Mai apontando seu dedo indicador na face do monge que sorriu levemente frustrado. Era assim que a garota que ele considerava sua filha o enxergava? Alguém que saia apelidado os outros sem ao menos os conhecer.

–Errado!-exclamou Takigawa-Foi você, Jou-chan!

Mai encarou o homem por alguns instantes antes de gritar:

–O QUE???

–Não grite Mai!-repreendeu-a Ayako, o que fez a garota encolher-se de vergonha quando os olhares das pessoas da sorveteria pousaram em si.

–Mas porque "Naru"...?-Mai perguntou para os dois adultos a sua frente.

–Você realmente não se lembra Mai?-perguntou Ayako suavemente, mas o tom de tristeza era evidente em sua voz.

A Taniyama encarou seu sorvete, por qual razão ela apelidaria Shibuya Kazuya ou Oliver Davis de “Naru” se nenhum dos dois nomes não soavam como o apelido?

De repente algo estalou em sua mente. Era apenas um flash, mas ela pode ouvir e ver o que estava acontecendo. Havia uma sala cheia de equipamentos eletrônicos, monitores, câmeras, microfones e vários outros aparelhos que ela via na SPR, a sua frente ela podia ver uma versão mais nova de si e um rapaz usando roupas pretas e por algum motivo o nome “Naru” passou por sua mente.

–Naru-chan...o narcisista...

Os olhos de Houshou e Ayako se arregalaram, eles havia ouvido bem as palavras que Mai havia proferido?

–O que você disse Jou-chan?!-exclamou Houshou esperançoso.

–Eh?-disse Mai piscando algumas vezes como se tivesse acordado de um transe-Eu disse alguma coisa?

–Você disse “Naru-chan, o narcisista”!-repetiu a ruiva sorrindo, talvez Mai estivesse recuperando suas memórias!

–Eu...eu disse?-perguntou Mai incerta, ela nem sequer havia reparado que ela havia dito alguma coisa. Sua mente estava focada na breve visão que tivera. Uma versão mais nova de si mesma e de...Shibuya Kazuya...

–Sim! Você disse!-exclamou Houshou-Você se lembrou de alguma coisa, não se lembrou?!

–Eu não tenho certeza...-confessou Mai, ela até havia se esquecido da primeira pergunta que ela havia feito para suas figuras parentais, sobre a relação dela com Oliver Davis-Acho que um flash...de memória...? Eu pude ver uma versão mais nova minha e de Shibuya-san...eu acho...

–Isso é tão bom, Mai!!!!-exclamou a ruiva se levantando de sua cadeira para abraçar a adolescente que ainda estava perdida em relação ao flash de memória.

–A...acho que s...sim...-disse Mai tentando sorrir quando sentiu o abraço de Ayako.

Takigawa sorriu vendo a cena a sua frente, mas alguns sussurros começaram a chegar aos seus ouvidos, alguns que o fizeram sorrir e alguns que faziam o ter vontade de se levantar e ir atrás do autor da fala.

–Odeio acabar com o momento, mas acho que nossa Jou-chan já foi reconhecida.-disse o monge se levantado de sua cadeira e se controlando para não ir atrás das pessoas que estavam falando coisas...inoportunas para seu gosto.

–Você está exagerando Bou-san.-reclamou Mai-E nós chegamos aqui agora pouco!

–Detesto te contrariar Mai, mas de cada 5 pessoas, pelo menos três já te reconhecem.-disse Ayako segurando o braço da garota que foi forçada a se levantar-E a não ser que você queira repetir a experiência da semana passada, sugiro que nós vamos embora.-sorriu Ayako maliciosamente, fazendo a morena corar.

–Ok!-concordou Mai por fim-Vamos!

Mai saiu da sorveteria às pressas enquanto o casal ria da reação da garota.

...

O silêncio que havia se seguido após a fala de Madoka permaneceu por cerca de cinco minutos, a própria narradora dos fatos queria deixar um tempo para seus visitantes absorverem sua história, mas ela estava mais preocupada com a reação que o jovem inglês sentado à sua frente teria quando completasse seus pensamentos.

–Eu...eu sinto muito...-murmurou Madoka já não aguentando o silêncio.

–Não é sua culpa Madoka.-disse Noll com sua voz calma, algo que a japonesa não esperava.

–Mas...-ela tentou argumentar.

–Não é como se você estivesse desejando que Mai fosse empurrada da escada.-continuou a falar Naru estoicamente-Algumas coisas simplesmente acontecem, e talvez isso tenha sido bom.

–O que?!-exclamou a Mori confusa.

–Do que está falando Noll?-perguntou Lin arqueando sua sobrancelha.

–Talvez tenha sido bom Mai ter perdido as memórias.-esclareceu Naru fechando seus olhos, já estava prevendo as próximas reações em 3...2...1...

–O QUE VOCÊ ACABOU DE DIZER OLIVER DAVIS???

E como o previsto, Madoka havia gritado e Lin permanecerá quieto, Naru só não sabia dizer se era pelo choque que suas palavras haviam provocado ou se seu assistente só havia resolvido se calar.

–Que parte de perder as memórias seria algo bom, Oliver?!-exclamou a mulher irritada, muito irritada, já que ela havia usado até seu verdadeiro nome.

Naru suspirou e voltou a abrir seus olhos para fitar sua ex-professora.

–Mai viu e ouviu muitas coisas que podem ter sido traumatizantes durante os casos da SPR.-disse o rapaz-Perder a memória significa ela não se lembrar mais sobre essas coisas.

–Perder a memória também significa ela não se lembrar sobre as coisas boas que aconteceram durante a vida dela, Noll!-rebateu Madoka-Ela não se lembra dos momentos que ela passou com os pais enquanto eles estavam vivos, não se lembra dos momentos divertido com as amigas e amigos, ela sequer se lembra de como todos nós nos conhecemos!

Oliver não sabia como responder àquilo, e então um silêncio caiu novamente sobre o trio.

Madoka suspirou e se acalmou um pouco.

–Não é que eu não me sinta feliz que Mai-chan tenha esquecido casos como o de Urado, quando ela teve que ver como alguém morreu...-iniciou Madoka novamente-...mas também existem momentos que nós não queremos nos esquecer Noll. Você está feliz de saber que Mai-chan não se lembra mais de você?

Oliver estreitou seus olhos. Era obvio que ele não estava feliz, ouvir Mai chama-lo de “Shibuya-san” novamente não soava bem. Ele realmente queria ter ouvido Mai chama-lo por “Naru”, o apelido que ela mesma havia lhe dado. Queria ter visto ela sorrir para ele ou até mesmo ouvido ela brigar com ele.

Mas...sem as memórias Mai não precisaria sofrer por causa de sua rejeição, não precisaria se lembrar que Gene a pessoa pelo qual ela havia se apaixonado (ou assim ele pensava) estava morta.

Naru sabia que aqueles eram pensamentos egoístas, mas ele acreditava que aquilo era o melhor.

Percebendo a discussão interna que Noll havia travado, Lin resolveu se pronunciar.

–Mas, Taniyama-san continua trabalhando aqui? Pelo que ela disse na hora que ela entrou, eu não acredito que ela trabalhe aqui na SPR.

A questão chamou a atenção de Madoka e tirou Naru de seus pensamentos.

–Não...-respondeu Madoka-...Mai-chan não trabalha mais conosco. Todo o grupo concordou que era melhor para ela não se envolver mais nos casos depois desse acidente. No começo, depois de contarmos tudo para ela, Mai-chan realmente queria voltar a trabalhar na SPR assim que saísse do hospital, mas nós acabamos não deixando.

–E como ela está se sustentando?-indagou Naru-Eu duvido que Mai esteja deixando Matsuzaki-san banca-la em tudo.

–Isso é verdade.-concordou Madoka-Por mais que Mai-chan esteja morando com Ayako, ela pega algumas contas da casa de Ayako para pagar, o que deixa a Ayako furiosa.

–Isso é a cara da Mai.–disse Gene na mente do irmão. Era a primeira vez desde o começo da discussão com Madoka, o espirito havia se pronunciado.

–Você estava escutando até agora?–perguntou o gêmeo mais novo.

–É claro! E por causa disso descobri o porquê de eu não poder me comunicar com Mai!–respondeu Gene orgulhoso.

–É necessário ter tido algum tipo de conexão emocional entre o guia astral e a pessoa sendo guiada, mas uma vez que Mai não tem nenhuma memória em relação a mim, que era o link emocional entre vocês dois, não tem como ela se conectar ao plano espiritual ou a você.–disse Noll estoicamente para seu irmão gêmeo.

–Por que eu não me impressiono mais?–disse Gene ironicamente.

Oliver passou a ignorar seu irmão e voltou sua atenção a Madoka que estava prestes a responder sua pergunta anterior, mas ele pode reparar uma certa...preocupação? Não...parecia mais ansiedade. Mas por que ela estaria ansiosa em dizer sobre o trabalho de Mai?

–Eu tenho uma amiga que estava precisando de novas...ajudantes...-disse a Mori tentando segurar um sorriso malicioso.

–Que tipo de...ajudantes?-perguntou Naru cerrando os olhos, ele tinha uma mal pressentimento.

Dessa vez a mulher não pode esconder seu sorriso malicioso.

–Vocês por um acaso viram algum revista de moda quando chegaram aqui?

–Revista de moda?-perguntou Lin arqueando uma sobrancelha-Por que iriamos ver uma coisa dessas?

–Bem...digamos que Mai-chan normalmente aparece na capa dessas revistas.-sorriu Madoka-Ela está na mira dos flashs agora.

–Madoka...-disse Noll perigosamente.

A mulher sorriu.

–Ela está trabalhando como modelo Naru-chan!

Continua...