Memories

Cap 7: Próximo passo


–Chegamos pessoal...?-Houshou abriu a porta da sala em que a SPR atendia seus clientes, mas imediatamente se calou ao perceber um clima irritado por parte de Naru, indiferente por parte de Lin e animado por parte de Madoka.

Ayako que vinha logo atrás do monge conversando com Mai distraidamente não percebeu a súbita parada que o noivo havia feito na entrada da SPR, o que resultou na colisão de seu rosto com as costas do homem.

–Não pare de repente monge idiota.-reclamou a ruiva acariciando o lado direito do rosto que colidiu com as costas de Takigawa, mas percebendo que o loiro não havia retrucado de volta fez com que a mulher arqueasse uma sobrancelha.

–O que foi Bou-san?-perguntou Mai percebendo a estranha reação do monge/músico, e que Ayako estava chocada demais com a estranha falta de reação de Houshou para fazer alguma pergunta.

Sem tirar os olhos da estranha atmosfera que cercava as três pessoas que estavam dentro da sala ele respondeu:

–Acho que...estamos à frente da mais estranha atmosfera já vista na face da Terra...

As duas mulheres se entreolharam por causa da resposta do monge, e graças a curiosidade, Mai e Ayako ficaram na ponta dos pés para enxergar o que acontecia dentro da SPR por cima dos ombros de Takigawa.

De fato, a cena era estranha para Ayako, mas Mai permaneceu meio perdida quanto a atmosfera, já que com suas atuais memórias ela não podia realmente julgar se aquela cena seria estranha.

Madoka finalmente percebendo a presença de Mai, Ayako e Houshou, desviou sua atenção de Oliver para receber os outros recém chegados.

–Bem vindos de volta!-disse a Mori sorrindo-Como estava o sorvete?

–Estava muito bom!-respondeu Mai retribuindo o sorriso-Mas acho que agora eu preciso de chá para tirar todo esse gosto doce da boca.

–Fique a vontade para usar a cozinha Mai.-falou a mulher de cabelos castanhos quase rosados.

A Taniyama agradeceu e rumou em direção da cozinha, deixando os membros da SPR na recepção.

–Você contou tudo?-indagou Takigawa assim que Mai sumiu de sua visão. O monge parecia estar meio nervoso e desconfortável com a situação, assim como Ayako. Uma reação normal já que ambos haviam escondido o fato da ex-secretária de Oliver ter perdido todas as memórias dos últimos anos, o que acabava o incluindo na lista de esquecimentos.

–Madoka já nos contou todo o ocorrido.-falou Naru antes mesmo que a proprietária da SPR pudesse dizer um “A” sequer.

–Naru, nós...-Ayako começou sua frase, mas foi interrompida por Mai que saiu da cozinha com uma badeja contendo um bule de chá e mais algumas xícaras.

–Acabei fazendo chá para todos.-riu a adolescente um pouco embaraçada enquanto adentrava a recepção da SPR que se encontrava em uma atmosfera um pouco tensa (novamente)-Aconteceu...alguma coisa...?

–Por que não serve o chá, Mai?-perguntou a proprietária da SPR sorrindo para tentar disfarçar o nervosismo.

–Ah! Claro!-exclamou a modelo andando em direção dos sofás onde Noll e Lin estavam.

A Mori encarou o casal ao seu lado e sorriu como se dissesse que eles não deviam se culpar de terem omitido a situação atual de Mai, e com um gesto de cabeça os chamou para se sentarem nos sofás.

Naru passou a observar Mai que servia os chás, de fato, sua ex-secretária havia mudado, cabelos castanhos longos, curvas generosas, um rosto mais maduro, mas com o mesmo ar angelical da garota de 15 anos que conheceu.

Oliver lembrou-se da foto que Madoka havia lhe enviado por e-mail há dois meses. Por mais estoico que ele fosse, Naru ainda era um homem, e ele tinha que admitir (para si mesmo pelo menos) que Mai naquela foto estava muito bonita, mas ao vivo não havia nem comparação.

–Não é à toa que ela é modelo.–disse Gene nos pensamentos de Noll, que por sua vez resolveu ignorar o comentário do irmão, e continuou a observar a garota que terminava de colocar os chás.

Percebendo um olhar sobre si, Mai levantou a cabeça procurando pela pessoa que tanto a observava, assim encontrando os belos orbes azuis de Shibuya Kazuya.

As bochechas da Taniyama coraram levemente, mas a vergonha por estar sendo observada não a impediu de sorrir para o rapaz que depois de ser pego no flagra, simplesmente desviou o olhar.

O grupo bebeu o chá conversando sobre coisas banais, ou melhor, Madoka, Mai, Ayako e Houshou conversaram sobre coisas banais, Naru e Lin apenas falavam algo quando uma pergunta lhes era direcionada.

...

–Creio que seja hora de irmos embora para o hotel.-dise Naru colocando sua (enésima) xícara de chá sobre a mesa. Não que alguém fosse reclamar da quantidade exagerada de chá que o jovem inglês havia ingerido, no fundo todos ali presentes, com exceção de Mai, sabiam que Oliver Davis provavelmente estava matando sua saudade do chá que sua ex-secretária fazia e que ele tanto adorava, admitindo ou não.

–Mas já?!-reclamou Madoka com os olhos pedindo para que eles ficassem mais um pouco.

–Já estamos aqui a quase duas horas Madoka.-disse Lin colocando-se de pé. Ele sabia que se ele encarasse a Mori, com toda certeza ele e Naru não conseguiriam ir embora...por culpa dele-E nós ainda precisamos fazer o check-in no hotel.

–Vocês ainda não deram entrada no hotel?-indagou a proprietária da SPR-Por quê? Achei que seria a primeira coisa que...

A Mori parou sua fala, deixando todos da sala confusos. Ela direcionou seu olhar para Mai que estava sentada em uma poltrona de frente para ela do outro lado da mesinha de café.

Um sorriso malicioso surgiu nos lábios da mulher, que por sua vez lançou um olhar de canto para seu brilhante ex-aluno. Ah..., para Oliver, a prioridade não era o lugar em que ficaria alojado, mas sim, a garota que fora sua secretária.

–Naru-bou disse que queria vir direto pra cá, mas nunca falou o porquê da afoba...

–Takigawa-san!-falou Noll lançando um olhar ameaçador para o monge, que calou-se imediatamente-Eu apreciaria muito se você nos levasse a nosso hotel.

–Cla...Claro...-gaguejou o mais velho sorrindo nervosamente. Se um olhar pudesse matar ele com certeza teria morrido. Pensando bem...se um olhar matasse ele nem estaria mais ali...provavelmente teria morrido quando conheceu o rapaz.

Ayako revirou os olhos e se pôs de pé, andando em direção de Mai que terminava o chá e colocava a xícara sobre a mesa.

–Então nós vamos indo.-disse a ruiva-Quer uma carona até sua casa?

–Ah! Obrigada Ayako!-agradeceu a morena sorrindo ainda sentada em seu lugar-Mas não precisa.

–Tem certeza Jou-chan?-perguntou Takigawa-O hotel do Naru-bou e do Lin-san é caminho da sua casa.

–Tenho sim.-respondeu a Taniyama-Eu ainda preciso conversar com Madoka.

–Hum? Comigo?-perguntou a mulher mais velha apontando seu dedo indicador direito para si mesma.

–Está vendo outra Madoka nessa sala?-comentou Naru já direcionando-se a porta da sala.

A ex-professora do rapaz lhe lançou um olhar mortal, mas ao mesmo tempo um pouco surpreso. Desde quando Naru era irônico? A única vez que ela soube de momentos em que o rapaz fora irônico...bem...todos envolviam Mai...e ele zombando da inteligência da garota...

Mas vê-lo fazer isso ao vivo e contra ela mesma...com certeza era algo que não se via todos os dias...

Mai o havia mudado, e talvez nem ele tivesse percebido.

–Bem, então vamos.-disse o monge rumando em direção da porta da SPR, onde Naru estava parado, esperando.

Ayako e Lin despediram-se das duas mulheres que permaneceriam no escritório e saíram da sala. Naru, por ser o último fechou a porta, mas sem antes lançar um último olhar para Mai que também o observava.

Um sorriso apareceu nos lábios da garota quando seus olhos castanhos encontraram-se com os azuis de Shibuya Kazuya ou ela devia chama-lo por Oliver Davis? Ela acenou para o rapaz inglês antes do mesmo terminar de fechar a porta.

–Então...-começou Madoka após alguns segundos-Não se lembra dele...?

Mai balançou a cabeça negando, o que fez Madoka suspirar. Talvez se ela fizesse com que Mai e Naru tivessem mais contato...só talvez...Mai recuperasse as memórias. O único problema é que Noll ficaria no Japão por pouco tempo, a não ser que Luella estivesse realmente seria a respeito de Naru só poder voltar para casa depois de conseguir fazer de Mai sua namorada.

–Mas eu posso criar novas memórias, certo?-disse Mai encarando a mais velha com um sorriso caloroso.

–Certo.-concordou a Mori abrindo um leve sorriso, novas memórias eram coisas boas, mas as esquecidas eram igualmente preciosas-Mas! Não foi pra isso que você ficou, estou certa Mai?

–Sim.-falou a morena deixando com que o sorriso sumisse, e uma expressão séria surgisse em seu rosto, o que de certa forma deixou a mais velha preocupada.

–O que foi Mai?

–Na verdade...

...

Houshou olhou para sua noiva com o canto do olho, e percebeu que a mesma também o encarava. Ambos estavam nervosos, e atmosfera tensa dos passageiros não ajudava em nada.

Os dois sabiam que deviam ter contado a respeito de Mai a caminho da SPR, mas como eles dariam tal notícia?

“-Hey Naru! Sabia que a Mai perdeu as memórias?”

“-Naru, dois meses atrás a Mai sofreu um acidente em um caso e perdeu todas as memórias!”

“Ah! Sabia que em um dos relatórios que o Yasuhara fez, ele escondeu o fato da Mai ter sofrido um acidente e que ela acordou sem se lembrar de nenhum de nós?”

Com toda certeza eles não teriam conseguido falar...

Mas a pior parte com certeza foi quando Mai entrou na SPR e os saudou. O plano de deixar Madoka dar as notícias assim que ela achasse que seria um bom momento, fora por água abaixo.

–Naru...nós...sentimos muito por ter escondido a verdade sobre a Mai...-falou Ayako lançando um olhar para trás.

–Nós não sabíamos como contar isso a você e...-dizia Houshou sem tirar os olhos da rua.

–Não sei porque vocês estão se preocupando tanto com minha opinião a respeito do que aconteceu com a Mai.-falou Naru cortando a fala do monge, que por causa da fala um tanto insensível do rapaz inglês, perdeu o controle do carro por um segundo.

–O que está fazendo seu idiota?!-gritou Ayako-Quer nos matar?!

Entretanto Takigawa ignorou a noiva e pelo retrovisor encarou Naru que olhava para a rua.

–Não a nada que possamos fazer para ela recuperar as memórias.-continuou a falar Oliver-Se com toda a SPR em volta dela as memórias não retornaram, não é como se Mai fosse se lembrar de tudo só porque eu e Lin estamos aqui.

O monge calou-se, mesmo ele querendo gritar que o jovem cientista estava errado. Há algumas horas, na sorveteria, Mai havia tido um pequeno flash de memória, e isso logo depois de ter tido contato com Naru! Mas nada garantia que aquilo voltaria a acontecer.

–Mas mesmo assim, ainda existem chances da Taniyama-san recuperar as memórias, certo Matsuzaki-san?-disse Lin, mais em tom de afirmação do que de pergunta.

–S...sim!-disse a ruiva voltando a olhar para trás-Meu pai é quem está cuidando do caso, e ele diz que pelo fato da Mai ser jovem e saudável aumenta um pouco as chances de ela se lembrar de tudo.

–E quanto a escola e o trabalho?-indagou Lin, surpreendentemente mantendo a conversa.

–A escola está sendo bem compreensiva.-respondeu Houshou-Ela está tendo aulas extras depois da escola de segunda, quarta e sexta, pois até mesmo algumas matérias ela esqueceu. E a noite ela está fazendo um cursinho para ajudar.

–Madoka já deve ter contando a vocês que a Mai está trabalhando como modelo, certo?-indagou a Matsuzaki.

Naru cerrou os olhos levemente a menção do novo trabalho de Mai, e pelo reflexo do rapaz na janela, o chinês pode perceber a irritação de Noll.

–Sim. Madoka mencionou.-respondeu Koujo.

–Bem, como a pessoa pra quem a Mai trabalha é uma amiga da Madoka, ela arrumou a agenda da Mai de acordo com os horários livres dela. Ou seja, terça e quinta depois da aula, e sábado na parte da tarde, já que as aulas de sábado terminam as 14 horas.-falou Ayako-E hoje, por ser domingo é o dia de folga dela.

–A agenda da Jou-chan ficou bem apertada.-riu-se o homem que dirigia-Até mais apertada do que da época que ela trabalhava pra você Naru.

O rapaz ignorou o comentário do monge/guitarrista, seus pensamentos estavam focados na garota da qual os outros estavam falando.

Mai estava vivendo uma nova vida, estudava mais, muito mais do que quando ele a conheceu. Estava morando com a doutora da SPR, trabalhava como modelo, mesmo que a ideia de Mai estar se expondo para o mundo não o agradasse, e bem...ela não se lembrava dele.

O que ele faria agora?

Poderia voltar para a Inglaterra e viver sua vida como se ele não tivesse descoberto nada a respeito de Mai.

Mas...em algum lugar de seu ser, ele sabia que isso era impossível.

Então...qual seria o próximo passo a ser tomado?

Continua...