Medo Bobo

Celeste ou Turquesa?


— Como assim o que eu faço aqui, Regina? O que VOCÊS - deu ênfase à última palavra pronunciada - fazem aqui? Vocês sabem que horas são? São quase dez e meia da noite! Eu e Mary Margaret estamos loucas atrás de vocês por esse parque. Disseram que voltariam cedo. Querem nos matar de preocupação? - as garotas se olharam confusas. “Desde quando suas mães se conheciam?” Não se conheciam. A preocupação as fez entrar em contato e acabaram se tornando grandes amigas depois.

— Dez e meia? Eu podia jurar que não passava das oito. Desculpa! Não vimos o tempo passar. Acho que acabei me empolgando ao falar sobre o espaço

— E os seus celulares, onde estão? Nós ligamos e mandamos mensagens como loucas

— Iiih! Colocamos no modo avião pra não nos distrairmos dos estudos

— Era só o que me faltava. Mas pelo menos estudaram né?

— Sim. Isso a gente fez até demais. Aproveitamos o final da tarde pra conversar e acabamos perdendo a noção do tempo

— Tá bom, tá bom. Vi que foi isso - sorriu travessa para sua filha, que sorriu de volta. Nessa hora, Emma não sabia onde enfiar a cara, mas estava feliz por estar escuro suficiente para que não notassem a vermelhidão de suas bochechas, que ela sentia queimarem - Agora vou avisar a Mary Margaret que encontrei vocês. Estávamos quase chamando a polícia - pegou seu celular e discou o número da mãe da loira. A ligação durou pouco, apenas o tempo de avisar que tinha encontrado as meninas e onde ele estavam. Poucos minutos depois e a morena de olhos azuis apareceu. Mostrava estar preocupada. A primeira coisa que fez foi abraçar a filha, em seguida beijou sua testa. Então mudou drasticamente seu semblante e agora estava brava

— Nunca mais faça isso comigo, ouviu? Caramba! Nós ficamos muito preocupadas. Seus pais ficaram em casa pro caso vocês voltarem

— O que? Meu pai apareceu? Nossa! Vocês estavam mesmo preocupados, porque pra Henry Mills resolver sair daquela chácara no meio do nada e aparecer na civilização... - Cora lançou um olhar mortal, como querendo dizer para que não falasse assim de seu pai em frente às outras pessoas. Regina baixou a cabeça e parou de falar. Apesar da distância, ela amava o pai, só se revoltava com a falta que sentia dele. Ainda que pouco presente, ele era muito carinhoso quando se encontravam. Henry e Cora nunca foram casados. Apenas amigos coloridos que tiveram uma filha juntos, então tinham uma ótima relação.

Cada uma seguiu para sua casa e foram recebidas por pais preocupados. Emma ficou presa nos braços de David durante um bom tempo, até que começou a levar esporros. Regina chegou e deu de cara com o pai na porta, ele agiu como David. Depois foi abraçada por Ingrid, a namorada de sua mãe. Ela perguntou como foi o dia e a garota apenas sorriu travessa com o canto da boca e apontou para seu batom levemente borrado. A loira retribuiu o sorriso travesso. Henry ficou confuso com a cena e foi embora cerca de meia hora depois. Tinha uma longa viagem de volta pela frente.

Alguns dias depois, as meninas foram ao cinema e resolveram assistir um filme de terror. Mary Margaret, Cora e Ingrid foram junto, já que precisavam fazer compras no shopping. Durante o filme, Emma demonstrou ser mais medrosa e ficou agarrada em Regina o filme inteiro. Ela se sentia segura assim.

Depois da sessão, elas resolveram caminhar um pouco pelo lugar, entrar em algumas lojas, ver o que tinha de interessante, talvez comprar alguma coisa. Andaram bastante e seus corpos estavam muitos próximos, suas mãos ficavam se batendo involuntariamente devido à pouca distância e Regina queria muito segurar na mão da loira, mas não tinha coragem de tomar a iniciativa. Quando ela menos esperava, Emma tomou e segurou sua mão. A morena abriu um largo sorriso e olhou tímida para garota ao seu lado, que devolveu o sorriso.

Elas passavam pela praça de alimentação enquanto suas mães faziam uma refeição. Em uma mesa para quatro pessoas, Cora e Mary estavam de frente uma para a outra e Ingrid ao lado da namorada. Cora estava entretida com seu lanche e Mary Margaret preocupada com as meninas

— Será que elas já saíram do filme? - falou a mãe da loira

— Eu acho que sim - disse a mãe da morena antes de dar uma grande mordida em seu sanduíche - já faz um bom tempo que começou. Elas devem estar dando uma volta por aí - naquele momento, Ingrid avistou as garotas e abriu um sorriso disfarçado no canto da boca, em seguida cutucou a mulher ao seu lado, que abriu um enorme sorriso. Mary Margaret percebeu a movimentação e se virou para olhar. Também estampou um sorriso em seu rosto quando viu as meninas passando.

— Ah que alívio. Eu já estava preocupada com elas. Vou chamar a Emma - ela começou a pronunciar o nome de sua filha, bem alto - EM… - mas foi interrompida pela mão de Cora sua boca, pedindo silêncio

— Deixe elas. Não vamos incomodar. Temos que deixá-las mais livres - e assim o fizeram, até que as meninas as procuraram, quando andar pelo shopping começou a ficar enjoativo e cansativo. A primeira coisa que Regina fez ao chegar em casa foi contar cada detalhe do seu dia para as duas mulheres com quem morava. Assim como fazia todas as vezes que encontrava Emma, à partir do momento em que a viu pela primeira vez. Cora e Ingrid sempre ouviam atentas e animadas e ainda davam conselhos à filha. Gostavam muito de ver Emma com Regina.

Na segunda-feira, Emma chegou no ônibus de cara fechada e Regina já foi perguntando o porquê

— O que aconteceu? Brigou com alguém?

— Minha mãe está me enchendo o saco. Quer que eu faça uma festa de quinze anos. Eu não me importo com isso, mas decidi fazer isso por ela. Mamãe não teve uma e quer dar isso pra mim. Até aí tudo bem, eu não me importo em fazer isso, mas ela me faz ficar escolhendo temas, cores, músicas e essas coisas de festa. Está me estressando, realmente não importo se vai ser azul celeste ou turquesa - revirou os olhos. A mais velha riu e em seguida falou animada

— Posso ajudar? Eu amo essa coisas de organizar festas. Sempre quis fazer a minha de quinze anos, mas acabou passando e resolvi guardar o dinheiro pro meu casamento

— Casamento? Uau, você gosta mesmo de festa, em?!

— Eu amo! E sonho com essas festas dignas de princesa mesmo. Teria que economizar se fosse fazer no meu aniversário, por isso preferi adiar - riu sozinha - prefiro não fazer nada agora e fazer algo gigantesco depois do que fazer algo simples nos dois. Me desculpe pela futilidade, mas eu sonho tanto com isso, não sei explicar. Então... voltando ao seu dia de princesa, posso ajudar a planejar? Por favooor - fez carinha pidona à lá gato de botas

— Claro, assim facilita pra mim - riram

— Turquesa então

— O que?

— Não tinha que decidir entre celeste e turquesa? Eu prefiro turquesa

— Ah tá. Pra mim é tudo igual, então turquesa será. Ainda preciso decidir um tema. Na verdade, tem que estar ligado à cor. Turquesa e celeste foram só exemplos

— Pense numa coisa que você gosta muito de fazer, assistir, jogar, ler ou sei lá. Qual seu hobbie favorito?

— Ballet - respondeu sem pensar

— Certo. Gosta de algum ballet especialmente?

— O lago dos Cisnes é o meu favorito

— Pronto! Está decidido seu tema. O lago dos cisnes - abriu as mãos como se mostrasse algo no ar, Emma riu

— Nossa! Você é incrível mesmo

— Ainda dá pra usar turquesa como cor, se você quiser, claro!

— Eu realmente não me importo

— Tá bom então. Podemos decorar o salão com alguns “Cisnes” espalhadas e a cor criaria um ambiente que lembraria um lago. Você usaria um vestido branco azulado que teria detalhes lembrando penas, se assemelhando a um cisne. Nada muito exagerado. Poderíamos substituir os 15 casais por apenas 15 amigas do ballet, que fariam uma apresentação representando os cisnes e você seria a princesa Odette. Então teria o príncipe que dançaria com você e tem a dança com seu pai. Vai ser lindo! - falou com os olhos brilhando

— Parece maravilhoso e você é ótima. Gostei da ideia de fazer uma apresentação de ballet, é a minha cara. Mas príncipe? Sério isso?

— Siiiim! É tradicional nas festas de quinze anos e tem na história do ballet. É perfeito!

— Você conhece O Lago dos Cisnes?

— Assisti o filme da Barbie quando criança. Era o meu preferido então lembro de alguma coisa

— Ah tá. Mas o ballet você nunca assistiu?

— Não. Desculpa, mas eu dormiria

— Tudo bem, a maioria das pessoas acha isso. Eu admito que bate um sono quando assisto também. A música calma é quase uma canção de ninar

— Ah que bom. Achei que ficaria brava. - sorriu - Mas me diz, você pretende seguir carreira no ballet?

— Não

— Sério? Eu podia jurar que sim. Você ensaia tanto. Todo dia e a tarde inteira pra ser só um hobbie?

— Sim. Eu amo dançar, não pretendo parar. Mas não quero seguir carreira porque meus pais fizeram isso e não foi exatamente como eles queriam. Sabe… carreira de bailarino dura pouco e quando acaba, o jeito é virar professor. Meus pais são professores e deram sorte de conseguir montar uma academia de dança que deu certo. Mas eu não quero ser professora, eu quero dançar. Então prefiro trabalhar com outra coisa e dançar como hobbie. Minha mãe gosta de ensinar, mas eu, definitivamente, não sirvo pra isso.

— Ah… entendi. Mas espera, sua mãe é professora de dança em que escola?

— The Swan Lake Academy of Dance, em inglês porque quiseram aproveitar e fazer um trocadilho com nosso sobrenome e nosso ballet favorito

— Sério? Eu sabia que conhecia ela de algum lugar. Como não lembrei pelo nome? Ela foi minha professora, por três semanas, mas foi - riram juntas

— Então sua memória não é tão brilhante assim

— Ela falha às vezes, mas talvez seja porque eu tinha só três anos. Não dá pra julgar muito né

— Ah tá, achei que fosse mais velha

— Não… deve ser difícil ter seus pais como professores. Ainda mais de dança, que tem tanta técnica

— Eles não dão mais aula pra mim. Querendo ou não, é melhor. Minha mãe dá aula para as crianças e meu pai dá aulas de dança de salão. Eu tenho outra professora, que é velha amiga deles.

— Ah tá. Melhor então

— Ah que droga! Estamos chegando no terminal. Mas voltando rapidinho ao assunto da festa. Pode ir lá em casa no final de semana pra combinarmos isso?

— Claro, estarei lá

— Ok, tchau

O fim de semana chegou rápido e Regina apareceu na casa de Emma de mala e tudo. Elas haviam combinado, no resto da semana, que ela iria dormir lá.

— Seja bem-vinda - disse Mary Margaret sorridente - soube que teremos uma ajudante nos preparativos da festa

— Terão sim, já que a aniversariante não se dá ao trabalho de escolher - riram as morenas

— Ainda bem, porque se dependesse da Emma, essa festa nem saía - Regina riu com Mary enquanto Emma fez cara de emburrada

Passaram horas a fio decidindo cada detalhe. Reservaram o espaço, escolheram que turquesa e branco seriam perfeitos para O Lago dos Cisnes, fizeram uma lista de músicas que não podiam faltar, escolheram o modelo do bolo, pensaram em cada detalhe da decoração, arranjos, toalhas e tudo mais, decidiram que colegas seriam os quinze Cisnes na apresentação e até montaram uma parte da coreografia em suas cabeças, inspirada na original, é claro. A hora de escolher o príncipe chegou e não foi uma decisão fácil

— O que acha do Killian? Ele é seu par em todos os duetos - disse a mãe da loira

— Não confio mais muito nele, lembra que ela me deixou cair e eu me machuquei?

— Ah é verdade, e o seu primo Jefferson?

— A namorada dele é ciumenta demais, eu que não vou me meter nesse relacionamento confuso dos dois e arriscar minha vida - riram as três

— Humm… e o seu amigo da escola, o Peter?

— Ele dança tão bem quanto um boneco de posto, mãe

— Assim fica difícil. Não lembro de mais ninguém que possa fazer esse papel - um silêncio se instalou naquele momento

— Eu posso fazer - disse Regina simplesmente, quebrando o silêncio do local

— O que? - perguntaram mãe e filha em coro

— Eu posso dançar e fazer o papel do príncipe. Eu não sou pé de valsa, mas dá pro gasto. Não sou tão ruim.

Os olhos de Emma brilhavam. Ela não se importava se teria príncipe ou não, mas amava o fato de Regina se propor a fazer isso por ela. Na falta de opções, decidiram que Regina seria mesmo “o príncipe” e seguiram pensando nos detalhes da festa. Falaram muito sobre como seria o vestido da debutante. Acabaram optando por um modelo que todas amaram e tinham achado em fotos da internet.

Os detalhes estavam decididos “por cima”, ainda precisavam falar com doceiras, buffet, decoradores, estilistas, DJs... bom, todo mundo. Foram resolvendo isso com tempo, se encontraram várias vezes para decidir todos os detalhes do jeito certo, com os profissionais da área que ficariam responsáveis pela festa. Emma passou a ensaiar uma nova coreografia com as colegas do ballet, outra com seu pai, para valsa de pai e filha e ainda, a valsa com Regina, para qual a morena se dedicou muito e não faltou a um ensaio sequer.

O tempo foi passando rápido, o dia foi chegando e elas foram ficando cada vez mais nervosas. Todos os detalhes foram resolvidos com o tempo e alguns poucos ainda precisavam de solução.

O dia finalmente chegou, agora tudo estava resolvido. Mas mesmo sem mais preocupações, não podia-se dizer quem estava mais ansiosa entre as três. Emma seria a “estrela” da festa, Mary sempre sonhou com uma festa assim para sua filha e Regina, além de estar nervosa para a dança, ainda tinha um presente surpresa para a aniversariante.