Medo Bobo

O Lago dos Cisnes


Estavam as três mulheres em uma espécie de camarim que se encontrava no segundo andar do espaço em que a festa seria realizada. O salão principal ficava logo abaixo, separado por uma escadaria linda, daquelas que lembram castelo de filmes, assim como toda a decoração do salão. Tudo lembrava palácios europeus.

Regina e Mary já estavam prontas e a maquiadora terminava de retocar a maquiagem da debutante. Mary não conseguia parar de sorrir, era um momento importantíssimo na vida de sua filha. Emma estava super nervosa e não parava de pensar em sua entrada. Ela estava com medo de todos os olhares apontados para ela, mesmo sendo bailarina e supostamente preparada para o palco, ela nunca encarou momento assim em sua vida. Regina apenas pensava no presente especial já que havia esquecido em casa, e se sua mãe, que tinha voltado para buscar, conseguiria voltar com ele a tempo, antes que a festa se iniciasse.

Já pronta, Emma começou a vestir a primeira saia do vestido com a ajuda de Mary. O vestido tinha quatro saias diferentes, cada uma seria usada em uma ocasião diferente. A parte de cima era basicamente um collant de ballet. Tudo feito sob medida e para se encaixar nas necessidades da debutante no tão esperado baile. Essa primeira saia era lisa, longa, de caimento e com poucos detalhes, deixando o parte de cima se sobressair. Já essa parte de cima era, como todas as saias, azul, bem clara. Tinha alguns detalhes que se assemelhavam à penas, dando a ideia de cisne que lembrava o tema da decoração da festa.

Emma, pela primeira vez e depois de muito ensaio, usaria saltos, outro motivo que a fazia ficar nervosa com a entrada, ainda mais decendo uma escada e de saia longa. A hora da entrada estava cada vez mais perto. Os convidados iam chegando e se acomodando nas mesas dispostas pelo local. A decoração estava impecável.

Ouviu-se duas rápidas batidas na porta. Emma se desesperou achando que era a cerimonialista e que a hora de sua entrada tinha chegado, mas era Cora chamando Regina de lado. A mais nova das morenas finalmente pôde soltar o ar e relaxar quando sua mãe lhe entregou a caixinha que tanto esperava. Ela escondeu para que Emma e Mary não vissem e colocou em um canto que elas não olhariam. Cora voltou para o salão. Ouviu-se então mais duas batidas rápidas na porta e, dessa vez, era a cerimonialista. A debutante gelou quando a viu.

— Srta. Swan, está quase na hora. Prepare-se e fique calma, vai dar tudo certo - Emma apenas sorriu forçadamente com o canto dos lábios

— Obrigada Kathryn - disse a mãe da garota, em seguida saiu para tirar algumas últimas dúvidas com a loira mais velha. Ficaram no local apenas a morena e a loira mais nova. Elas trocavam olhares tímidos e Regina perguntou:

— Pronta para sua entrada triunfal, Srta. Swan? - soltaram juntas uma leve risada. A morena sabia que com ela a chamando assim, como a cerimonialista fez, iria descontrair um pouco e, por alguns instantes, relaxar a debutante. Ainda sorrindo, a loira disse:

— Obrigada Regina! Obrigada por tudo. Você foi tão importante em tudo, ajudou a decidir cada detalhe que me faziam escolher sem dar a mínima importância. Obrigada por estar aqui ao meu lado em todos esses momentos, por me ajudar a fazer escolhas que eu não sei fazer - apesar de envergonhada, Regina chegava cada vez mais perto de Emma — Obrigada por se manifestar pra dançar comigo e realmente se esforçar pra fazer isso por mim. Obrigada por cada coisinha mínima que você fez e que melhorou meu dia ou minha vida de alguma forma. Obrigada por me fazer rir nesse momento em que estou tão nervosa... - já perto o suficiente, Regina aproximou seu rosto e colou seus lábios aos da loira, em um selinho que a calou por alguns instantes. Emma se rendeu ao contato e depois tentou continuar a falar, mas dessa vez foi o dedo de Regina que a fez se calar.

— Srta. Swan, não precisa agradecer. Esse é o seu momento, apenas aproveite - naquele momento a morena segurava as mãos da loira por baixo, passando confiança

— É que você cuidou de tudo, essa festa é mais sua do que minha. E você quer tanto isso, eu nunca me importei. Você merece tanto. Um dia eu quero retribuir tudo o que você fez por mim.

— Não se preocupe, um dia eu também terei meu dia de princesa. Mas hoje é o seu, aproveite-o e não se preocupe. Eu estarei onde precisar que eu esteja - a porta se abriu com as duas mulheres mais velhas chamando pela debutante, então antes ir ela perguntou

— Promete?

— Prometo! Agora vai, chegou sua hora - já confiante, Emma seguiu Kathryn enquanto Regina e Mary desciam por uma escada nos fundos para que não chamassem a atenção na escada principal.

Quando a cerimonialista avistou que as morenas já estavam no salão, ela desceu metade dos degraus da escada e com um holofote em sua direção e um microfone em sua mão, ela anunciou a entrada da debutante.

Emma era aplaudida por todos no local enquanto descia devagar a escadaria com o holofote agora apontado para ela e ao som da música The Swan do famoso repertório de Tchaikovsky, muito conhecido no mundo do ballet, e obviamente da música clássica também. Ela chegou aos pés da escada antes que a música chegasse na segunda parte.

Durante todo o trajeto, a debutante olhava fixamente nos olhos de Regina, que sorria para ela. Emma não sabia explicar o porquê, mas Regina lhe passava muita segurança. A loira também estava sorrindo, no início era um sorriso forçado pelo nervosismo, apenas para as fotos, mas ao ver a morena sorrindo e lhe passando confiança, ela conseguiu mudar para seu sorriso mais sincero.

Depois da entrada, foi a hora da recepção. Cada um dos convidados foram cumprimentar a aniversariante. Alguns deixaram o presente em um local específico para isso, outros preferiram entregar em mãos para a loira. Acabou que ela não conseguia abrir na hora, pois era muita gente para cumprimentar e tirar fotos. Assim, todos os presentes foram parar no mesmo lugar, uma mesa afastada para onde Kathryn levava os recém recebidos, juntando-os aos outros. Durante todo esse tempo tocava uma música ambiente, baixa, porém audível.

A recepção foi seguida pelo jantar que veio logo depois. Na mesa estavam Regina, Emma e sua família. Eles degustaram e conversaram, até que a hora da apresentação chegou. Emma e as quinze colegas se retiraram para trocar suas vestimentas. Regina aproveitou para fazer o mesmo, em outro lugar, enquanto a debutante estivesse distraída e não sentisse sua falta. A loira substituiu a saia longa por um tutu e as outras garotas fizeram o mesmo, todas tinham o mesmo estilo de vestido. Também tiveram que, rapidamente, trocar seus sapatos para sapatilhas de ponta.

As quinze colegas fizeram uma linda apresentação que era uma adaptação de O Lago dos Cisnes coreografada por Mary Margaret. A apresentação das garotas finalizou com a entrada da “Princesa Odette”, papel da debutante. Todos ficaram boquiabertos com as apresentações das dezesseis garotas, exceto Regina, que ainda estava se trocando, e sua mãe, que a ajudava. Ao contrário das outras garotas, ela não precisava apenas trocar uma saia removível por outra e os sapatos por sapatilhas. Mais do que isso, ela precisava tirar o vestido por completo, e com cuidado, para substituí-lo por um look completamente diferente, que apenas ela, Cora, Ingrid, Mary e Kathryn saberiam que usaria.

Após sua apresentação, Emma novamente se retirou para trocar sua saia e recolocar seus saltos. Enquanto isso, as outras quinze garotas faziam outra apresentação para distrair os convidados enquanto a debutante “sumia”. Dessa vez Emma dançaria as valsas, então sua saia era mais armada, se assemelhando as de princesas como Cinderela e Bela.

A aniversariante estava na segunda troca de roupas depois de uma apresentação, e Regina ainda estava se trocando. Ela encontrou alguns problemas pelo caminho, ou não demoraria tanto para se trocar. Além de ter uma roupa inteira para tirar e outra para colocar com enorme cuidado para não borrar a maquiagem ou estragar o penteado e estar se trocando em um lugar muito mais afastado, ela ainda acabou rasgando um pedaço e Kathryn teve que costurar com o kit de primeiros socorros de costura que a cerimonialista sempre tinha consigo para casos como esse. Regina e Cora ainda tiveram que esperar até que a loira aparecesse para “corrigir” aquele rasgo no tecido.

Nesse tempo, a aniversariante trocou sua saia, voltou para o salão e iniciou a valsa com seu pai. O tempo ia passando, a música e a coreografia acabando e Emma ficando cada vez mais nervosa. Regina tinha prometido que estaria ali pra ela, sempre. Depois de tantos ensaios ela teria desistido? A loira não a via desde sua primeira troca de roupas. Será que teria acontecido alguma coisa? Essas dúvidas se faziam presentes em sua mente, deixando-a cada vez mais preocupada.

Kathryn costurou o mais rápido que conseguiu, estava quase na hora e uma costura mal feita seria menos perceptível que o atraso do “príncipe”. Ingrid, que estava junto com as outras três mulheres, saiu correndo para avisar o ocorrido à mãe da aniversariante.

Durante a apresentação com seu pai, a debutante deu alguns tropeços e se perdeu um pouco na coreografia, devido à sua preocupação ao procurar Regina por todo o salão e não avistá-la. Erros nada bruscos, imperceptíveis para aqueles que não tinham visto a apresentação antes, mas claros para a mãe que além de professora de dança, viu cada ensaio e sabia cada passo. Ela também começou a se preocupar com o sumiço repentino de Regina, já que ainda não tinha sido informada sobre o imprevisto na troca de roupa.

A coreografia acabou e Ingrid chegou a tempo de avisar Mary de que Regina estava a caminho. Ao avistar a morena correndo para se posicionar, Mary Margaret teve uma conversa com seu marido. Uma conversa baseada em uma troca de olhares, mas que eles entenderam cada palavra. Mary apontou para Regina com a cabeça e David aproveitou que era o condutor para fazer Emma rodopiar algumas vezes mais do que deveria no final da apresentação, para que ela não reparasse no ocorrido.

Quando finalmente parou de girar em torno de seu próprio eixo, com múltiplas piruetas seguidas, Emma parou de frente para a escada. O caminho até lá estava aberto e ela pôde avistar Regina. A debutante percebeu que a morena havia deixado de lado seu vestido e saltos para substituir por um terninho feminino e sapatos sociais. Ao mesmo tempo que as duas abriram enormes sorrisos em suas faces, seus olhos se encheram de lágrimas e passaram a brilhar mais do que nunca. Emma não conseguiu evitar de deixar algumas dessas lágrimas escorrerem. A morena em poucos passos se aproximou, fez uma reverência, pegou por baixo a mão da debutante e deu um carinhoso beijo. Em seguida, Regina enxugou as lágrimas que tinham escorrido para as bochechas da loira e sussurrou para que apenas a outra garota a ouvisse:

— Eu prometi que estaria onde precisasse que eu estivesse. Estou aqui - Emma conseguiu abrir ainda mais o seu lindo sorriso. Pela mesma mão que tinha beijado anteriormente, a mais velha puxou carinhosamente a aniversariante, guiando-a até onde se posicionariam para iniciar sua dança.

Ao som de Swan Lake Waltz, com a condução de Regina, iniciaram sua valsa. Elas deslizavam tão lindamente pelo salão, como se flutuassem e como se não precisassem do chão abaixo de si para fazer aquilo. Dançavam com leveza e calma, de acordo com cada nota da música e seguindo cada passo da coreografia.

Ao final, foram aplaudidas de pé por cada uma das pessoas presentes no salão, convidados e profissionais responsabilizados pelo evento. Nesse momento, eram Cora e Mary tinham seus olhos cheios de lágrimas. Mary juntou suas mãos e aproximou-as de seu rosto, num gesto de agradecimento a o que quer ou quem quer tenha colocado Regina na vida de Emma. O destino as juntou, e fez certo, o melhor para elas. David abraçou a esposa por trás e juntos aplaudiram com a multidão. Cora e Ingrid, que também eram convidadas da festa, agiram igual. Depois de tantos aplausos, as meninas fizeram juntas uma reverência ensaiada e Regina se retirou.

Chegou a hora da entrega da jóia. Kathryn entregou, em mãos, para a mãe da debutante, uma caixa de veludo preta. Mary falou algumas palavras bonitas sobre o acontecimento, fazendo uma linda homenagem à sua filha. Falou sobre o que significava aquele momento, mesmo que não acreditasse fielmente naquilo, falou sobre como amava sua filha e mais dah dah dah dah dah e bla bla bla bla bla. Então abriu a caixa e, de lá, tirou um lindo colar de ouro branco com um pingente no formato de um cisne. Mãe e filha, juntas, não conseguiram conter as lágrimas em seus olhos e se abraçaram em seguida.

— Obrigada! - sussurrou a filha no ouvido mãe, Mary apenas sorriu em resposta e depois enxugou as lágrimas de ambos os rostos.

Após a homenagem da mãe, foi a vez do pai. Já em cima do palco, David começou a cantar Filha, de Rick & Renner

“Hoje eu parei pra escrever

Alguma coisa assim sobre você

E simplesmente me deixei levar

Pela emoção de poder lhe falar

No dia em que você nasceu

Vinda do amor de sua mãe e eu

Um lindo presente que o Senhor nos deu

A realidade de um sonho meu

E quando você chorou

Deus me ensinou uma nova canção

Seus olhos de um anjo pequeno

Iam se fazendo minha religião

Coisas que de mim não saem

A primeira vez que me chamou de pai

Vou lhe confessar agora minha filha

Com você eu aprendi que um homem tem que ter família

15 anos faz agora

É de alegria que meus olhos choram

Meu pequeno anjo que agora fascina

Para mim vai ser sempre minha menina

Filha onde você vai

Pode não sobrar um lugar pro seu pai

Mas tenha certeza que eu vou sempre estar

Perto de você onde quer que vá

Não é que eu vá te vigiar

Não é que eu queira ser seu dono

Isso é só um cuidado de pai

Filha eu te amo

E quando você chorou

Deus me ensinou uma nova canção

Seus olhos de um anjo pequeno

Iam se fazendo minha religião

Coisas que de mim não saem

A primeira vez que me chamou de pai

Vou lhe confessar agora minha filha

Com você eu aprendi que um homem tem que ter família

15 anos faz agora

É de alegria que meus olhos choram

Meu pequeno anjo que agora fascina

Para mim vai ser sempre minha menina

Filha onde você vai?

Pode não sobrar um lugar pro seu pai

Mas tenha certeza que eu vou sempre estar

Perto de você onde quer que vá

15 anos faz agora

É de alegria que meus olhos choram

Meu pequeno anjo que agora fascina

Para mim vai ser sempre minha menina

Filha onde você vai

Pode não sobrar um lugar pro seu pai

Mas tenha certeza que eu vou sempre estar

Perto de você onde quer que vá

Não é que eu vá te vigiar

Não é que eu queira ser seu dono

Isso é só um cuidado de pai

Filha eu te amo”

Naquele momento, sentada em uma cadeira, bem de frente para o palco, Emma chorava. Chorava muito. Chorava e agradecia silenciosamente por todas as pessoas maravilhosas que tinha em sua vida. David desceu do palco e abraçou a filha o mais forte que pôde. Chorou com ela e a soltou dando um beijo em sua testa.

O show dele veio seguido de outras homenagens de amigos e familiares. Teve homenagem de alguns avós e tios, outras de colegas do ballet ou mesmo da escola. Todas fizeram a aniversariante chorar, contando histórias e trazendo um sentimento nostálgico para Emma. Mas a homenagem que ela mais esperou, que ela mais queria ouvir, não veio. Regina não subiu ao palco e não falou uma palavra sequer em homenagem à aniversariante.