9

Envolto pela escuridão, Thomas flutuava em meio ao limbo. Nada. Nem um som, sem chão e sem luz. Sentia apenas que estava ali.

Logo, um brisa tocou-lhe o rosto, e imagens foram aparecendo na sua frente. Como um expectador, Thomas assistia a tudo. Alguns sons e imagens, não haviam se tornados nítidos, num primeiro momento. Mas depois tornaram-se visíveis.

Tinha provavelmente quatorze ou quinze anos. Estava num laboratório. Haviam monitores imensos a sua frente e vários outros ao seu redor. O lugar era um pouco escuro, iluminado apenas por algumas poucas lâmpadas espalhadas pelo teto alto de concreto e pelos monitores e computadores que emanavam, ou uma luz azul ou imagens de um lugar. Um lugar que logo Thomas teve conhecimento de onde era: O labirinto.

De pé, com as mãos juntas para trás do seu corpo e em frente àquelas imensas telas, via vários ângulos da Clareira e do labirinto. Alguns ponto mudavam de foco rapidamente. Era bem provável que fossem os besouros mecânicos movimentando-se dentro do lugar. Na Clareira, encontravam-se jovens, alguns da sua idade e outro mais velhos, que pareciam estar ali a algum tempo, mas sem ter a consciência de que estavam participando de um experimento. Dentre todos eles, havia uma figura familiar ali. Era Alby. Sem dúvida era ele. Alguns anos mais jovem.

Os garotos que estavam ali, talvez 6 ou 7, haviam construído pequenas moradias e plantações para sobreviveram. Obviamente todos estavam apavorados com a ideia se estar confinado entre aqueles muros enormes. Mas a preocupação deles não aumentava conforme a noite caia. Era como se eles nem soubessem o que os esperava do outro lado do muro, ou como se os Verdugos nem mesmo existissem.

Toda a concentração de Thomas em tentar obter alguma coisa, que nem ele mesmo sabia o que era, foi interrompida por uma voz que chamava dentro de sua cabeça.

— "Tom. Está ai? Sou eu. Me encontre no refeitório em cinco minutos. Preciso falar com você!"

A voz era serene e feminina. E ele reconheceu a reconheceu na hora. Porém, sem mesmo querer responder àquela voz, como se não tivesse controle do próprio corpo e da própria mente, respondeu telepaticamente:

—"Tudo bem! Estou indo Teresa."

Ele não sabia ao certo de onde veio o impulso de responder. Tentou entender o que estava acontecendo. Logo se deu conta que estava sonhando com suas memórias. Mas que estava num daqueles sonho em que não podia controlar a si mesmo. Apenas interagia assistindo a tudo.

As lembranças deram um salto no tempo. E imediatamente estava num refeitório com paredes amarelo-claro, espaçoso e lotado de mesas, mas com um número insignificante de pessoa. Estava sentado de frente para Teresa. Conversavam baixo.

— Você lembra quando disse que não aprovo muito os métodos deles aqui? — Ela lhe perguntou

— Sim.

— Então, eles estão pensando em adicionar um último elemento agora a esta fase de testes. As biomáquinas. Aquelas criaturas horríveis.

— Isso é sério? Thomas pergunta exaltado. — Porque querem fazer isso? Não há outro jeito?

— Foi o que disse a eles. — Ela desvia o olhar e se entristece com um gemido. — Não sei Tom, já estou cansada disso tudo. Como encarregada desse experimento, sinto que tudo o que aqueles inocentes meninos e meninas estão passando é culpa minha. Por mais que as vezes não esteja ligada a tudo o que acontece lá.

— Eu sei...Também sinto isso. E pensei muito a respeito.

— Eu cansei. Agora estou disposta eu mesma a entrar lá e tirar todos de lá! Por mais que seja só uma simulação, ninguém merece passar por isso.

— Se for assim, eu vou com você. — Diz Thomas segurando sua mão.

Ela o encara e sorri. O sorriso mais lindo que ele já virá. Um sorriso sincero.

— E quanto a Rachel, Aris e o labirinto deles? — Ele pergunta preocupado.

— Não sei. Não tenho falo muito com eles. E o Cruel também não tem facilitado nenhum contato com eles.

— Porque?

Nesse instante, suas memórias saltaram mais uma vez.

Agora tudo estava escuro. Era noite, e Thomas estava no meio de uma floresta. Ainda com a mesma idade, agora em um lugar diferente com roupas diferentes. Camisa Cinza-claro e calça jeans azul. Estava ajoelhado e segurava na mão direita um pincel, e na esquerda uma pequena lata de tinta branca. No chão bem a sua frente havia um pedaço de madeira. O lugar onde estava era iluminado por uma vela que havia deixado ao seu lado, num pires de xícara. Na madeira, ele pintava letra por letra, até formar um nome: Stephen. Por mais estranho que lhe pareceu, o nome lhe soou tão familiar quanto o lugar onde estavam.

Em um segundo a cena mudou. Agora estava de frente para duas imensas portas de pedras. Já era quase de manhã e com a pouca luz que tinha, podia jurar que aquelas portas tinham no mínimo cem metros de altura. De certa forma já sabia que estava na Clareira do labirinto. Tudo aquilo lhe era familiar. Menos o fato de estar discutindo com Teresa.

— De jeito nenhum, você não vai fazer isso!

Foram uma das poucas palavras que conseguiu decifrar antes que suas memórias avançassem novamente.

Agora estava de noite. Estava dentro do labirinto, correndo, e com Teresa ao seu lado. Estavam fugindo de alguma coisa e estava tentando achar outras pessoas. Ele não sabia ao certo quem estavam procurando, mas sabia de que estavam fugindo. Muro após muro, sem parar, eles seguiam um caminho que deveria estar gravado em suas mentes, já que tanto ela quanto ele, não se preocupavam com o caminho que seguiam em maio aqueles imensos muros de pedra cobertos de hera.

Os últimos minutos de seu sonho, se passavam no abismo. Thomas e Teresa estavam encurralados. Eles se esquivavam de três das Biomaquinas que os perseguiam. Eram monstros horripilantes. O corpo bulboso e pegajoso da criatura lembrava uma lesma gigante. Tinham pernas que pareciam ser de aranhas mecânicas e vários ferrões que se projetavam da ponta delas.

Os Verdugos. Eles eram as Biomaquinas criadas pelo Cruel.

Os dois lutavam e se esquivavam ao máximo dos verdugos. Estavam indo cada vez mais para a ponta do penhasco. Chegaram a um momento em que eles bloquearam qualquer chance de Teresa e de Thomas saírem dali. Apenas os empurravam sem nenhum esforço para o que seria a morte certa.

— "É o fim Thomas! Não há outro jeito." — Ela falou em sua cabeça.

— "Não Teresa. Não pra você!" — Ele respondeu por telepatia, fitando-a profundamente.

Ele deu um chute em cheio no rosto sem olhos do verdugo do meio. A fera grunhiu, e em menos de um segundo saltou sobre Thomas, seguida pelas duas outras, despencando do penhasco. A ultima coisa que que ouviu foi Teresa gritar.

— Stepheeeeeen...

Ele foi engolido pela escuridão, e ficou um bom tempo vendo somente a escuridão profunda e vazia durante seu sono. Apenas depois de um bom tempo, Thomas conseguiu abrir os olhos.