10

Ele estava coberto de suor. Sentou na cama, logo que acordou. Estava ofegante e desorientado. Olhou ao redor e notou que estava num quarto com as luzes apagadas, mas luz, vida do lado de fora, entrava pela porta aberta e lhe permitia ver o que havia ali dentro: Monitores cardíacos, ferramentas de cirurgia, mangueiras, um saco de soro vazio pendia num suporte de metal acima de sua cabeça. Estava sentado numa maca, que diferente dele, não era a única naquele lugar. Sentia dor de cabeça e tontura. Tinha um dor latejante vindo de sua perna direita. Esticou-se para tocar o ponto que doía na sua coxa e quando passou a mão, sentiu que havia uma curativo cobrindo seu machucado, por baixo do shorts que estava usando.

Não parava de pensar no sonho que havia tido. "Quem era Stephen? Porque o Cruel não queria que falássemos com Aris e Rachel? Já estivemos no labirinto?" No meio de seu pensamento, começou a se lembrar do que havia acontecido antes... Rezou para que tudo, desde o ataque a Clareira, ou até mesmo desde o Labirinto, não tivesse passado apenas de um sonho. Mas quanto mais tentava se enganar, mais as evidencias provavam o contrario. Passou a mão sobre o rosto, respirou fundo e olhou de novo em volta do quarto e localizou uma pilha com roupas sobre uma maca ao seu lado. Levantou-se com dificuldade, vestiu as roupas e saiu caminhando para o fora dali. Por mais incrível que parecia, andava sem nenhuma dificuldade. A medicina tinha realmente avançado muito. Imaginava que daqui a uns dias estaria correndo de novo, quando iria fugir das mãos de quem o capturou.

Saindo, deu de cara com um corredor branco, com piso cinza brilhoso. Haviam mais portas nas laterais, todas fechadas e ao final, duas portas de metal do tipo vai e vem fechadas. Seguiu, parando para olhar pelo vidro das portas e tentar abri-las. Nada, todas trancadas além dos vidros cobertos por algo fosco que não permitia olhar através desta. Seguiu para o final do corredor e atravessar as portas. Quando passou por elas deu de cara com um pequeno corredor, onde dois homens armados guardavam outras duas portas vai e vem de metal.

Thomas se assustou e se preparou para voltar correndo, mas os homens nem se mexeram. Eles não pareciam nem um pouco impressionados com o fato de Thomas aparecer ali. Era como se esperassem que ele viesse até ali. Havia uma sala de cada lado do corredor, cheias de computadores e com algumas pessoas de cinza. Haviam mais dois caminhos, também de cada lado que deveriam ser outros corredores.

— Onde estou? — Gritou Thomas para eles.

Um dos guardas olhou para ele

— Vá para o refeitório — falou ele apontando com o cano da arma para as portas atrás deles.

— Eu quero saber: onde estou? — Insistiu Thomas

— Você não escutou? Ele disse pra você ir para o refeitório!

Assim que outro guarda falou, Thomas êxitou por um minuto, mas decidiu fazer o que eles mandavam, afinal correr não seria uma boa ideia, já que não podia confiar na sua perna e que não conhecia aquele lugar, além do fato de tentar fugir ou reagir a dois homens bem armados.

Seguiu com passos lentos até os dois, passando por eles, que não estavam nem ai para ele.

"Nossa! Eles estão pouco se importando comigo!" Pensou.

Passou pelas duas portas e viu o tal refeitório. Era ligeiramente grande e extenso. O lugar parecia ser subterrâneo, pois o teto era munido de lâmpadas fortes numa laje branca, e as paredes, também brancas, não tinham janelas. As mesas eram de alumínio e os bancos provavelmente também. Um burburinho tomava conta do lugar lotado de pessoas: Soldados, funcionários, e outros rostos dos quais Thomas conhecia alguns.

Mais ao canto, ali perto de onde havia entrado, localizou Brenda, Aris, Sonya, Jorge e alguns outros de quem era mais próximo. Eles também o viram e Brenda foi a primeira a se levantar e ir de encontro a ele. Veio correndo na sua direção e quando se encontraram trocaram um longo abraço. Quando terminaram, Thomas a beijou, sem se importar com as outras pessoas ao redor.

— Que bom que esta bem! Pensei que nunca mais fosse te ver... — Falou Brenda emocionada.

— Thomas! — Jorge se pronunciou ao notar o amigo — Que bom que esta bem! — disse com alívio.

— Como vocês estão? Cadê os outros?

— Estamos bem! Não tivemos nenhuma notícia de Kendra, Gally, Peter ou de Alisson. Algumas pessoas da Clareira estão aqui. E Minho estava conosco até ontem. Mas pelo que ficamos sabendo, hoje de manhã ele discutiu com um dos guardas e está... "pensando no que fez". — Jorge gesticulou as aspas, com um olhar irônico. O que indicava que apesar de Minho ter sido "detido" ou levado para um cela, ficaria tudo bem para ele e para eles. Thomas sentia-se um pouco mais aliviado, até um pensamento vir a tona.

— E quanto ao Caçarola?

Todos se calaram. Alguns desviaram os olhos e Thomas logo soube o que aconteceu com o pobre cozinheiro.

— Eu lamento Thomas! Não tivemos nenhuma notícia dele. Sinto muito... — Falou Brenda acariciando sua mão.

— Todos sentimos. — Sonya completou.

— Pelo que eu fiquei sabendo, os caras que nos salvaram voltaram a Clareira para procura por sobreviventes. Mas não encontraram nada além de ruínas. Levaram tudo. Comida, armas e podem até ter levados pessoas, vivas ou mortas.

Thomas tentou reconfortar-se com a ultima frase de Aris. Pelo fato de terem levado pessoas, quem sabe não salvaram Caçarola? Abandonou esse pensamento logo de imediato. Não podia se arriscar a alimentar falsas esperanças.

— Vamos lá! Sente-se conosco. Você precisa comer, muchacho. Temos muito que conversar.

Brenda se manteve calada durante a refeição inteira, olhando sempre para baixo.

— Está tudo bem mesmo Brenda? Você parece preocupada...

— Está sim. Só estava meio pensativa, Thomas. — Respondeu erguendo a cabeça e sorrindo.

Ele aceitou a ideia de que ela só estava pensando, mas sabia que algo a incomodava. Preferiu não falar mais sobre isso naquele momento.

Depois de algum tempo sentados e comendo, Thomas notou que um homem bem trajado o observava entrecortado, em meio as conversas que tinha com as pessoas que estavam sentadas na sua mesa.

— Quem é aquele cara? — Perguntou para Jorge, sem tirar os olhos do homem.

— Hã? Quem?

— Aquele — apontou fazendo um gesto com a cabeça.

Todos os outros também olharam.

— Não faço ideia.

—Acho que deve ser alguém importante dentro desse lugar — disse Sonya.

Uma sensação ruim percorreu o corpo de Thomas. Ainda não sabia onde estava.

— Por falar nisso, que lugar é esse afinal?

— Não sabemos — respondeu Aris — Eles se recusam a responder. Todos eles. Guardas, enfermeiras, cozinheiros, soldados. Qualquer um se recusa a falar sobre isso.

A sensação fico cada vez pior. Thomas começou a suspeitar do pior: Que haviam caido nas mãos do Cruel, querendo ou não, novamente. Mas preferiu tentar não pensar nisso.

Jorge o cutucou com o cotovelo. Thomas virou-se e viu que o homem que o observava se aproximava, agora escoltado por dois guardas armados, um de cada lado. Ele parou na frente da mesa com as mãos para trás numa postura de autoridade.

—Vocês todos, já podem se dirigir aos seus quartos, menos você senhor Thomas. Preciso que me acompanhe.