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Foi inesperado. Eles atiravam com armas sofisticadas. Algumas disparavam balas e outras, luzes azuladas. Cada vez mais e mais soldados apareciam. Começaram a arrastar Thomas e os outros para dentro do lado sul da floresta. Ele se deu conta de repente que Caçarola iria ficar para trás.

— Não... Caçarola! Não! — Ele berrava e se debatia nos braços do soldado.

Os outros faziam o mesmo. Não queriam deixar alguém como ele para trás, principalmente Thomas, ainda mais depois de conhece-lo mais. Gostava de verdade do cozinheiro. Além do seu talento na cozinha, tinha uma simpatia inesgotável, e a necessidade de fazer os outros rirem.

O que veio a seguir quebrou todas as expectativas de todos. De costas, o corpo de Caçarola deu dois solavancos para frente, e na sua camisa azul claro surgiram dois furos sangrando: Um do lado direito, próximo ao ombro e um do lado esquerdo, bem na altura do peito. Ele cambaleou e soltando o fuzil, caiu de joelho no chão cheio de folhas secas, terminando por cair de bruços sobre o chão, e ficar imóvel.

O mundo de Thomas ficou em câmera lenta. Não podia ser. Um amigo acabara de morrer para salvar sua vida. De novo. Era demais para suportar. Sentia que ia desmaiar. E cada vez mais estava perdendo sangue pelo ferimento na sua perna.

Eles estavam se distanciando do corpo sem vida de Caçarola. Cada passo que davam, parecia levar uma eternidade para se locomover, para ir para longe daquele lugar caótico. Diante da situação, Thomas desistiu de lutar. Queria apenas sair dali.

Como se não fosse o bastante, começaram a se aproximar de dois bergs cinza dentro da floresta. Ele estava ficando tonto, mas ainda conseguia ouvir seus amigos relutarem para entrar na aeronave. Eles gritavam, se debatiam, e alguns gritavam por Caçarola.

Passaram pelos degraus inclinados da rampa que conduzia para dentro de um deles. O sons ecoavam nave a dentro, e Thomas sentiu um ar de familiaridade com o local, do qual se lembrava muito bem. Era um Berg do Cruel. Sem dúvida alguma. Diferente da aeronave sofisticada e rápida dos seus inimigos que vira sobrevoar a um tempo sobre sua cabeça, o Berg do Cruel era maior, e consequentemente mais lento. Porém, pelo o que se lembrava dos outros, esse parecia um pouco mais avançado.

Já fazia um tempo que desistira de lutar para se livrar dos soldados de cinza que os capturaram, e agora observava os vultos que o conduziam nave a dentro, em meio a sua visão embaçada. Sabia que estava prestes a ficar inconsciente. Seus amigos sumiram de sua vista.

Foi levado corredores a dentro, ate chegar a um compartimento ambulatório. As pressas, dois homens o colocaram numa maca. Em meio a tanta loucura, sentiu um arrependimento que se acumulava a medida que pensava em tudo. A terrível imagem do amigo sendo baleado e caindo no chão ainda passava na sua mente. "Fui fraco. Como fui fraco. Porque Caçarola? Porque?", pensava revirando a cabeça de agonia, enquanto murmurava palavras de arrependimento. Pessoas trajados de macacões verdes e amarelos, com máscaras escuras e medonhas circulavam em volta dele. Pegavam ferramentas e aparelhos médicos rapidamente, enquanto outros ajeitavam seu corpo e o observavam. Checavam seu estado e seu ferimento. Colocaram-lhe algo que parecia ser uma máscara de oxigênio. As ultimas palavras que conseguiu captar em meio aquela agitação dentro do lugar eram de uma voz feminina que dizia:

— Ele perdeu sangue. Não vai aguentar muito tempo. Rápido!

Depois disso, seu mundo foi ficando escuro. Tinha medo do que viria a seguir. Possivelmente mais um sonho com uma de suas memórias perdidas em meio a tantas outras na sua mente bagunçada. Então, depois de todas as coisas que acabara de passar, ele apagou.